“O inverso ou somente o que realmente somos. Um mistério sem resolução aparente. Porque aquilo que lá entra nada mais é do que somente isso. A chave. Um jogo de inversos e reversos.”
A luz intensa do candeeiro escrevia em letras douradas uma frase enigmática, intrigando os dois bravos ninjas que se debatiam com esta charada. A fechadura, emanando um débil luzir de cor azulada acrescentava ainda mais mistério ao já misterioso jogo de perguntas sem resposta. Para que serviria tudo aquilo? Meditavam ambos. Kosshi e Michael, após recuperarem do susto decidiram organizar as ideias.
- Bem, temos uma frase que fala aqui em inversos e em chaves e o caraças, não temos chaves nenhumas e o resto não se percebe ou seja… não sabemos nada. – Concluiu Kosshi.
- Exactamente, chegamos à brilhante conclusão que não sabemos nada… - Ironizou Michael perante a “astuta” conclusão de Kosshi. – Eu estou mais preocupado com o que me aconteceu, parecia uma força invisível a prender-me – Pensava Michael enquanto massajava o braço direito.
- Eu também não vi nada, apenas te vi a contorcer no ar… - Respondeu Kosshi, mais intrigado com a mensagem no espelho.
- Podias ao menos mostrar um pouco mais de interesse pela minha saúde… - Protestou Michael entre dentes.
- “Aquilo que lá entra nada mais é do que somente isso”. – Dizia Kosshi em voz baixa, verbalizando os seus pensamentos. Michael atento, tentava seguir a linha de raciocínio de Kosshi.
- Quando tu estavas ao pé da porta eu vi a luz da fechadura reflectir no espelho, se partirmos do principio que foi a luz a entrar no espelho… - Michael parecia começar a aproximar-se de uma conclusão, apenas não sabia se era a conclusão correcta. – Será que, a luz da fechadura que entrou no espelho não é nada mais que a fechadura em si? – Kosshi olhou para Michael com um olhar pensativo.
- É bem possível, mas mesmo assim, mesmo sabendo que a luz vai formar uma fechadura no espelho tu partiste-o, logo a luz já não pode reflectir lá e abrir o quer que seja, como vamos abrir a fechadura? – Mais uma pergunta sem resposta aparente…
- Temos de pensar, o que mudou na sala? Tem de haver algum truque… - Michael olhou em seu redor, a mobília estava fora do sitio, as janelas, anteriormente abertas, tinham agora os cortinados corridos, deixando apenas a ténue luz do candeeiro a iluminar a sala… candeeiro esse que anteriormente estava apagado!
- Já sei! – Gritou Kosshi, à medida que estalava os dedos, Michael ficou atónito a olhar para ele pela sua súbita mudança de atitude. – A mobília fora do sitio é um disfarce, o que mudou verdadeiramente foi o candeeiro, quando entramos a luz estava apagada e mal parti o vidro ela ligou-se, se reparares a luz que está a reflectir nos cacos è a luz que vem do candeeiro, se conseguirmos arranjar maneira de reflectir a luz da fechadura, como o reflexo que estava no espelho, é nada mais que a própria fechadura, como já não temos fechadura no espelho, temos de cria-la usando a luz da fechadura verdadeira! – Michael ficou momentaneamente confuso com a explicação relâmpago de Kosshi, pois este tinha tendência para falar extremamente depressa quando estava entusiasmado.
- Não perdemos nada a tentar. Mas precisamos de algo para reflectir a luz… - Michael olhou para o chão e viu os estilhaços a reflectirem a luz do candeeiro para o espelho. – Já sei! Usamos os estilhaços para reflectir a luz! – Disse Michael, começando a recolher os vários estilhaços.
Michael colocou-se de frente para a luz que provinha da fechadura e esta atingiu timidamente o fragmento, a luz era tão fraca que o seu reflexo era invisível, e só quando Kosshi colocou outro fragmento por cima é que se notou o débil ponto azul reflectido. Neste momento já havia usado dois fragmentos, o primeiro atado a uma Kunai que estava espetada no tecto, o segundo fragmento estava a ser segurado por um Mizu Bunshin de Michael, fazendo um ângulo de 60º com o chão, fazendo assim o reflexo da luz ir em direcção ao espelho, mas era débil de mais e o espelho estava longe de mais para receber a reflexão. Kosshi colocou um novo fragmento de frente para o estilhaço do Bunshin, apontado este para a esquerda onde já estava um novo fragmento pregado ao tecto com uma Kunai, a apontar para o espelho. Só já tinham 1 fragmento e o reflexo ainda não era suficiente, parecia que a luz só viajava através dos espelhos, e não conseguia reluzir na superfície opaca de madeira do espelho partido. Colocaram o fragmento restante alinhado de forma a aproximar a azulada luz do espelho, mas não conseguiam arranjar um ângulo que permitisse ao último fragmento apontar ao espelho.
- Raios, precisamos de mais qualquer coisa para reflectir a luz… - Protestava Michael, vendo que não conseguiam reflectir a luz no ângulo certo. Kosshi analisava a luz reflectida, era curioso como não se via um rasto da luz ou algo parecido, apenas se via o ponto azul em cada um dos fragmentos, quase como se a luz viaja-se pelos reflexos e não pelo ar como uma luz normal. Kosshi começou a andar pela sala, era ampla mas não se via mais nenhum espelho, apenas aquele e estava desfeito em cacos, como poderiam reflectir a luz? Foi então que sem querer pisou a ratazana que havia matado à pouco, fez-se luz! Kosshi procurou a mesa de onde havia tirado a ratazana e encontrou-a encostada a uma canto da sala, aproximou-se e verificou que a taça ainda lá se encontrava, retirou as ameixas que restavam e pegou na taça, de imediato viu o seu rosto reflectido na base metálica empoeirada da taça, limpou-a com a manga até esta estar brilhante novamente, era a sua única solução. Kosshi colocou-se na direcção do reflexo e colocou a taça a apontar para o espelho, de imediato se viu uma luz azul intensa surgir do interior do espelho, uma fechadura feita de luz começou a surgir, até que ocupou todo o espelho, este, libertando pequenos feixes de luz azul evaporou-se por completo, havia simplesmente desaparecido, tanto numa casa como na outra reflectida, simplesmente deixara de existir. No seu lugar estava agora uma abertura, do seu interior provinha uma luz azul tão forte que impedia de ver o seu interior. Michael e Kosshi entreolharam-se e acenaram afirmativamente, ambos avançaram entrando pela porta.
Esquema já que ficou um bocado confuso - Spoiler:
Uma sala de luz…
Não acreditavam no que viam, ninguém poderia pensar que algo assim existia no interior da casa, parecia um novo mundo, quase como se entrassem numa nova dimensão. Grandes cristais azuis erguiam-se como pilares, reflectindo toda a luz que emanava sabe-se lá de onde, não se sabia se os cristais eram mesmo azuis ou se assumiam essa cor devido ao intenso reflexo da luz. Pasmados por tamanha obra de arte, Kosshi e Michael perdiam-se nos consecutivos reflexos de luz azul, não havia fonte de luz à vista, parecia que toda a luz era reflectida consecutivamente iluminando de forma intensa toda o espaço. Flutuando à sua frente estavam 3 espelhos, nos espelhos podia ler-se:
“ |NVSRL| |ZLZK| |LCRZY| “
Por cima, escrito em falhas num vidro lia-se:
“ O mundo inverso de um espelho, a esquerda é a direita, ao olharmos de um lado, podemos ver o outro, ao ver-mos um 10 podemos ver um 01 e ao escolhermos o Z podemos ver um A.”