Os primeiros raios de sol já espreitavam pela janela do quarto de Kakushi quando este ouviu alguém bater à sua porta: não era um toque apressado ou rude mas sim um toque formal e educado, aguardando pacientemente que o Uchiha lhe respondesse. No entanto, o rapaz ainda estava bastante sonolento e foi com algum custo que se levantou da cama, arrastando consigo os seus lençóis para ir abrir a porta do seu apartamento.

- Bom dia. - Cumprimentou o Gennin, ao ver o homem mascarado e corpulento que se encontrava à sua frente.
- Bom dia, venho em nome do Hokage. - Anunciou o ninja pertencente à ANBU. - Sua excelência, tem uma missão para ti e pede que compareças no portão principal de Konoha daqui a uma hora. Leva o equipamento necessário e alguma roupa pois a missão durará mais do que um dia. - Conclui ele, antes de desaparecer numa nuvem de fumo.

Qual seria a missão desta vez? Ainda por cima, ia demorar mais do que um dia? Bem, talvez até fosse bom afastar-se de Konoha por uns tempos e Kakushi sempre gostara de viajar e conhecer novos locais, por isso não deveria haver qualquer problema. A única coisa que deixava o rapaz ansioso era a companhia: o simples pensamento de que poderia ter de conviver com um desconhecido durante vários dias não o deixava muito à vontade mas ao mesmo tempo tentava manter um pensamento positivo. O Gennin ia arrumando as suas coisas e preparando-se para sair, enquanto pensava nesses pequenos pormenores: tentando sempre planear o futuro para que tudo corresse pelo melhor, embora a sua experiência de vida já lhe tivesse mostrado que as coisas nunca correm como esperámos. Assim, o tempo passou a voar e, quando deu por si, já estava na hora de abandonar a sua habitação e dirigir-se para a entrada principal da vila de Konoha. Com a sua mochila às costas, o rapaz lá se dirigiu para o local combinado.
Quando começou a avistar o grande portão que defendia Konohagakure, o Gennin reparou em quatro pessoas que se encontravam junto a ele: uma delas era inconfundível e, o facto de ter o seu rosto gravado nas montanhas que circundam a vila, não o deixavam passar despercebido; outro era Uchiha Tsutao, um rapaz que Kakushi já conhecia e com o qual realizara a sua missão anterior; já os outros dois eram completamente desconhecidos para o Gennin e eram compostos por uma jovem e bela rapariga de longos cabelos escuros, com uma indumentária bege e alguns pormenores azuis, acompanhada por um rapaz de cabelo curto e loiro, uma roupa discreta e preta, bem como uma hitaiate de Takigakure, cujo símbolo era atravessado por um risco horizontal, a cobrir a sua testa.

- Bom dia, Kakushi. - Cumprimentou Tsutao, sorrindo para o Uchiha de cabelos brancos que lhe retribuiu da mesma forma.
- Visto que já estão todos aqui, podem partir e iniciar a missão. - Informou o Hokage, visivelmente apressado e até mesmo preocupado com outra situação qualquer. - Esta jovem, de nome Kushna, é a vossa cliente e explicar-vos-á os pormenores da tarefa enquanto caminham para o vosso destino. Boa sorte! - Exclamou Loki, fazendo um sorriso algo forçado antes de ser substituído por um redemoinho de folhas.
- Olá, vocês são Uchiha Tsutao e Uchiha Kakushi, certo? Estão preparados para partir? - Inquiriu amavelmente a rapariga.
- Sim. - Responderam os dois Uchihas em uníssono, embora continuassem confusos acerca de qual seria a sua missão, bem como o porquê da presença daquele ninja de uma vila rival.
- Antes de mais deixem-me apresentar-vos o meu guarda-costas: Zanuff. - Afirmou Kushna, apontado para o loiro que se encontrava ao seu lado. - Ele é um Gennin de Takigakure que abandonou a sua vila por não se querer envolver nos conflitos actuais existentes no mundo Shinobi.
- Um Nukenin? - Questionou Kakushi, algo desconfiado com a presença daquele indivíduo.
- Em teoria sim, mas não me comparem com outros Nukenins que por aí andam. Eu apenas quero viver uma vida pacífica. - Respondeu o jovem oriundo do país da Cascata.
- E porque é que o contrataram para esta missão? Não era suficiente a presença de ninjas de Konoha? - Kakushi continuava a lançar perguntas, visivelmente desagradado com aquela situação.
- Isso foi uma opção do meu pai. - Informou a rapariga. - Ele achou que era mais seguro eu ter um guarda-costas durante estes dias e colocou uma oferta nos cartazes junto à vila, a qual foi aceite pelo Zanuff.
- Afinal, qual é a nossa missão? - Perguntou Tsutao, interrompendo a conversa e focando-se naquilo que era realmente importante.
- Daqui a 3 dias, vai ter lugar na praça Reinbou o festival anual do Sake, no qual três vilas competem entre si para ver qual delas consegue criar o melhor Sake. Eu sou a fermentadora de Sake mais famosa da nossa aldeia Burugakure e o ano passado, devido a eu ter sido atingida por uma derrocada, não conseguimos produzir a nossa melhor bebida e a vencedora foi Reddogakure. - Explicou Kushna, tentando colocar as coisas da maneira mais simples possível. - Embora eu duvide, há quem diga que a derrocada foi provocada por essa aldeia e é por isso que decidimos contratar a vossa protecção. No entanto, o vosso trabalho é também ajudar a transportar toda a água necessária para o fabrico do Sake.
- Transportar? Não é só abrir a torneira? - Perguntou Kakushi, não fazendo a menor ideia de qual seria a forma de criar o melhor Sake. Aliás, ele nunca sequer provara aquela bebida nem sabia qual era o seu sabor.
- Se quiseres fabricar um Sake de má qualidade, sim. Mas não quando se quer fazer o melhor possível. - Retorquiu a rapariga, ligeiramente ofendida com aquela questão. - Segundo a receita dos meus antepassados, a melhor água é aquela que corre nas cascatas de Takigakure e nós temos um local secreto onde, há várias décadas, foram armazenados vários litros dessa água.

Os quatros jovens caminharam durante várias horas, indo sempre numa direcção a noroeste de Konoha até finalmente chagarem a um local entre as montanhas onde era possível ver as três vilas e a praça Reinbou, onde se iria realizar o festival. Os três aglomerados habitacionais formavam uma espécie de triângulo, com cada uma das aldeias no local de cada vértice e no seu interior estava a imponente praça: um grande local circular com enfeites bastante coloridos e onde se encontravam inúmeras lojas comerciais, tanto de restauração como diversão. Quanto às aldeias, cada uma delas era coberta por uma muralha branca com cerca de três metros e uma linha horizontal que representava a cor de cada vila: a cor predominante da vila de Kushna, Burugakure, era o azul; Reddogakure era representado pelo vermelho; e a aldeia restante, Guringakure enfeitava o seu local de verde. Cada aldeia tinha de percorrer um caminho de terra batida com cerca de 500 metros para chegar à praça Reinbou e as três entradas da praça eram enfeitadas com a sua respectiva cor.

- Os habitantes das aldeias costumam combater entre si? - Inquiriu Kakushi, ao ver as muralhas que cobriam cada população.
- Durante as restantes épocas do ano, não. Mas o festival do Sake é uma ocasião especial e cada aldeia dá o seu máximo para ser escolhida como a melhor, podendo mesmo haver alguns conflitos durante esta altura. - Respondeu Kushna. - No entanto, as muralhas servem sobretudo para proteger o segredo do Sake e a receita de cada vila.
- Costumam existir ninjas aqui? - Perguntou Tsutao.
- Habitualmente, não. Mas vocês estão aqui... - Retorquiu a rapariga, dando a entender que seria possível encontrarem outros ninjas rivais por ali. - Os nossos habitantes são maioritariamente agricultores, não estão acostumados a combater mas fazem de todos para defender a sua aldeia. Aliás, um pequeno grupo de homens já deve estar à nossa espera com os barris de água para os transportar para a vila. Vamos por ali. - Afirmou a jovem, apontando para uma gruta no meio das montanhas que se encontrava a alguns metros daquele local.

O sol encontrava-se no seu pico quando Kakushi e Tsutao entraram em Burugakure. Com a ajuda de uma roldana um grupo de agricultores, cuja função era vigiar a aldeia durante aqueles dias, fizeram com que o portão de madeira se erguesse e permitisse a entrada dos ninjas e habitantes que transportavam a água para a confecção do Sake. A aldeia não era muito grande, teria cerca de 20 habitações e mais algumas lojas, mas as pessoas pareciam estar todas numa grande agitação, caminhando em passo acelerado de um lado para o outro. Entretanto, os dois Uchihas, que já haviam deixado os paus para trás e carregavam agora apenas os baldes, esforçavam-se ao máximo para transportar a água pelo meio dos transeuntes, chegando mesmo a ter de recorrer a todo o seu equilíbrio e agilidade para que não entornassem os recipientes. Passando pelas ruelas pouco largas que davam forma à vila, ambos os Gennins recorriam às suas últimas forças e resistiam à dor que sentiam nas mãos e braços para chegarem ao seu destino: um edifício maior do que todos os outros e repleto de enfeites azuis encontrava-se no interior daquelas muralhas. Era o local onde Kushna se iria fechar durante os próximos dias com o objectivo de preparar a melhor bebida possível. O seu interior assemelhava-se a um pequeno palácio, com uma grande sala de jantar e, caminhando alguns metros para esquerda encontrava-se a divisão mais importante: uma bela cozinha onde dominava os tons azuis e uma dispensa com todos os ingredientes que seriam necessários para criar aquela maravilhosa bebida.
Mal entrou na cozinha, Kushna começou logo a preparar tudo, contando com a ajuda de Kakushi e Tsutao para lhe passarem os ingredientes que ela ia pedindo enquanto que Zanuff fora encarregue de se juntar aos dois guardas que se encontravam em frente à porta daquele grande edifício, com o objectivo de impedir a entrada de pessoal não autorizado. Os rapazes de Konoha pareciam divertir-se bastante, ajudando a rapariga ao mesmo tempo que apreciavam o seu belo corpo, o qual era até capaz de satisfazer o gosto exigente de Kakushi. A este ritmo, o sol não tardou em chegar e os três jovens que trabalhavam na cozinha só se aperceberam das horas quando um dos habitantes os fui chamar para irem jantar. Na sala de jantar, encontrava-se uma grande mesa já posta e com vários tachos e panelas com comida à espera dos convidados. Sentados à mesa encontravam-se Zanuff, os dois guardas e os homens que tinham encontrado nas grutas.

- Espero que apreciem esta refeição, esta comida preparada pelo melhor restaurante de Burugakure! - Anunciou o mesmo homem que antes lhes dissera para transportarem os baldes quando estavam nas grutas. Este indivíduo era o pai de Kushna, um senhor de meia-idade, cabelo preto e físico robusto.
A refeição estava divinal e toda a gente a devorou num ápice, continuando depois sentados à mesa a conversarem. No entanto, este tempo de descanso não durou muito pois foi abruptamente interrompido por um homem que se tinha levantado para ir à cozinha e voltava agora para a sala aos gritos:
- Ladrões, ladrões! Apanhem os ladrões! - Berrava o sujeito enquanto apontava para a cozinha. Os dois Uchihas foram imediatamente ver o que se passava e repararam que três garrafas de Sake que já estavam prontas haviam sido roubadas e a janela daquela divisão encontrava-se completamente aberta.
- Rápido, eles ainda devem estar na aldeia! - Exclamou Kakushi, saltando da janela para a rua e sendo seguido por Tsutao e Zanuff. Por entre a escuridão da noite, os ninjas conseguiram avistar três vultos a correrem e seguirem em direcções diferentes.
- Eles dividiram-se. - Constatou Tsutao. - Vamos nos separar também e, assim que recuperarmos as garrafas, voltamos aqui.

Assim, Kakushi dava início à sua perseguição do vulto que se tinha enfiado pelas ruelas do lado esquerdo. O Uchiha de cabelos brancos concentrou chakra nos seus pés, recorrendo ao Shunshin para aumentar a sua velocidade e não tardou a estabelecer contacto visual com o seu alvo: era um rapaz que aparentava ter a sua idade, os seus cabelos eram pretos e curtos e a sua indumentária era composta sobretudo por tons de preto e castanho. No entanto, havia algo que contrastava com essas cores: a sua hitaiate com o símbolo de Iwagakure e cujo tecido era de um intenso vermelho vivo.
Kakushi focou-se no fluxo de energia que passava pelos seus pés, fazendo com que estes recebessem uma maior quantidade de chakra e, saltando por entres as casas que circundavam aquelas vias estreitas, conseguiu derrubar o adversário com uma investida e atirá-lo ao chão, fazendo com que este largasse a garrafa de Sake, a qual rolou até se encostar a um molho de palha que por ali havia.

- Finalmente apanhei-te, quem és tu? - Perguntou Kakushi, fazendo força sobre o rapaz que se encontrava debaixo de si.
- O meu nome é Takumi e sou um Gennin de Iwagakure. - Respondeu o rapaz, que parecia não se importar por revelar aquela informação.
- Que estás aqui a fazer?
- Eu e os meus companheiros fomos contratados pela vila Reddogakure... até nos ofereceram estas hitaiates vermelhas como forma de agradecimento por termos aceite o seu pedido. - Disse o rapaz, começando a agora a fazer alguma força para que o Gennin de Konoha o largasse. - A nossa missão é roubar algum deste Sake e vocês não nos vão impedir! - Assim que terminou de falar, Takumi usou toda a sua força para que Kakushi o largasse e, devido ao impacto, o Gennin acabou mesmo por largar e ser projectado contra a parede de uma das casas, danificando um pouco as suas costas.
- Sendo assim não me deixas outro remédio a não ser derrotar-te. - Declarou o ninja de Konoha, levando o seu tempo para fazer um série de selos enquanto fazia o chakra fluir para o seu peito e enchia os seus pulmões. - Katon: Goukakyuu no Jutsu! - Uma bola de fogo era agora expelida da boca de Kakushi e projectada na direcção do adversário, o qual decorreu ao Doton: Doroku Gaeshi para levantar uma parede de terra e assim proteger-se das chamas.
- Se não posso atacar pela frente, vou atacar por cima. - Pensou Kakushi, executando mais uma sequência de símbolos com as suas mãos e concentrando novamente uma quantidade razoável de chakra nos pulmões, para depois a expelir na forma de uma nuvem de fogo que sobrevoou a área onde Takumi se encontrava e depois começou a desintegrar-se numa espécie de chuva de fogo. Contudo, o Gennin de Iwa já estava preparado e usando o Doton: Moguragakure no Jutsu escapou ao ataque de fogo e viajou por debaixo da terra para depois emergir na retaguarda do Uchiha, apanhando-o desprevenido e acertando-lhe com um forte pontapé nas costas, o qual o projectou de cara contra a parede terra que ele criara anteriormente. Para além disso, o jovem de Konoha entrava agora na área que estava a ser atingida pelas pequenas bolas de fogo e não foi capaz de evitar se atingido por elas: ao mesmo tempo que sentia uma dor intensa na zona lombar, sofria ainda pequenas queimaduras nos braços. Toda aquela dor deixava-o bastante baralhado mas ele esforçava-se por manter a consciência e focar-se na batalha.
- Ahaha, isto é tudo o que tens! - Gritava Takumi, partindo para cima do Uchiha assim que a chuva de fogo parou e esmurrando-lhe a face incessantemente. Kakushi encontrava-se agora deitado no solo, com o seu adversário por cima de si a atacá-lo sem parar mas não podia desistir daquele combate: com bastante esforço, libertou os seus braços da pressão exercida por Takumi e realizou uma série de selos, fazendo grande parte do chakra que lhe restava fluir até à palma da sua mão.
- Katon: Ho Tsuki no Jutsu. - Ao som das palavras de Kakushi, uma bola de fogo formou-se na palma da sua mão e saiu disparada contra Takumi, acertando-lhe em cheio na área do peito e projectando alguns metros para trás. Ambos os ninjas estavam já bastante cansados e foi com muito custo que se levantaram, ficando agora parado a olharem um para o outro enquanto tentavam arranjar forças para mais uma investida. O Uchiha aproveitou este confronto visual para concentrar o chakra que lhe restava na área do cérebro e recorreu ao Kohoki no Jutsu para fazer aparecer um buraco no solo entre ele e o seu adversário, ao mesmo tempo que batia com as mãos no chão para que Takumi pensasse que ele havia criado o buraco com um jutsu. Assim, o Gennin de Iwa, que se preparava para correr até Kakushi, foi surpreendido pelo buraco e ficou indeciso durante alguns segundos, dando tempo suficiente ao Uchiha para correr até ele, colar-lhe um Kibaku Fuda na zona abdominal e terminar com um pontapé nesse mesmo local: isto fez com que Takumi fosse projectado para longe de Kakushi, permitindo-lhe depois explodir o Kibaku Fuda.

Quando o fumo da explosão se dissipou, o jovem de Konoha aproximou-se do seu oponente e reparou que estava se encontrava inconsciente. O Uchiha aproveitou então para pegar na garrafa de Sake e, com muito custo, carregou o corpo de Takumi até à entrada do edifício onde os três ninjas se tinham combinado encontrar. Lá já se encontravam Kushna e Zanuff, o qual também trouxera consigo a garrafa de Sake e outro ninja de Iwagakure. Agora só restava aguardar por Tsutao...

Não tardou para que Tsutao se juntasse ao resto do grupo, trazendo consigo o último ladrão.

- O que fazemos com eles? - Inquiriu o Uchiha de cabelos brancos, olhando para os três Gennins de Iwa.
- Já não são uma ameaça para nós. Deitem-nos do lado de fora das muralhas. - Ordenou Kushna ao grupo de homens que se tinha juntado à volta daquele local. - Já é tarde, é melhor irmos dormir para restabelecer energias e continuar a trabalhar amanhã. - Sugeriu a rapariga. Todos estavam bastante cansados e não hesitaram em aceitar aquela sugestão. Foram-lhes indicados onde seriam os seus quartos: os dois Uchihas iriam ficar num quarto que tinha duas camas de solteiro, enquanto Zanuff tinha um quarto só para si.
Em menos de 10 minutos, os Gennins de Konoha já estavam preparados para dormir e enfiavam-se agora nas suas camas.

- Então, ainda não gostas do Zanuff? - Perguntou Kakushi ao seu companheiro.
- Ele foi eficaz a ajudar-nos mas não gosto dos seus modos e não confio nele... - Retorquiu Tsutao, incapaz de fazer desaparecerem as suas suspeitas sobre o Nukenin. Devido ao cansaço, a conversa não foi muito mais longe e, em poucos minutos, os dois rapazes já estavam a ressonar com toda a força.

A noite passou num ápice e, assim que os primeiros raios de sol entraram pela janela, Kakushi levantou-se e foi-se preparar para mais um dia enquanto Tsutao continuava a ressonar que nem um porco. O Uchiha de cabelos brancos saiu de quarto e vagueou um pouco pelo edifício, parecia que ainda ninguém tinha acordado. Não se ouvia qualquer ruído, nem nos quartos, nem na sala, nem na cozinha. Nada. O silêncio dominava o local e apenas era desafiado pelo feroz ruído que Tsutao emitia.
Passaram 30 minutos... 45 minutos... Uma hora, e tudo continuava igual. Kakushi sabia que Kushna estava ansiosa para começar a trabalhar e achava estranho o facto de esta ainda não se ter levantado. Suspeitando que algo pudesse ter acontecido, o jovem bateu levemente na porta do quarto da rapariga. Esperou, esperou e esperou mas não obteve qualquer resposta. Encostou o ouvido à porta na tentativa de escutar algumas coisa mas nada, apenas o silêncio de sempre. Foi então que o Gennin decidiu abrir lentamente a porta e ficou surpreendido com o que viu: o quarto estava vazia, os lençóis no chão e a janela completamente aberta. Com um olhar mais atento, Kakushi foi capaz de avistar o bilhete que se encontrava sobre a cama:

"Se quiserem a rapariga de volta, levem toda a água e Sake que tiverem para Guringakure. Têm até ao meio-dia para os levarem ou nunca mais verão a rapariga." - Aquilo era claramente uma exigência do raptor e no seu canto inferior direito encontrava-se uma assinatura com o nome: Zanuff. Kakushi percebia que as suspeitas do seu parceiro acerca do Nukenin estavam correctas e foi imediatamente acordar Tsutao para que pensassem num plano para recuperar a rapariga.

Com algum custo, o Uchiha de cabelos pretos acabou por acordar e ouviu tudo o que se tinha sucedido pela boca de Kakushi.

- É melhor não dizermos nada aos habitantes de Burugakure para não criar um grande alarido. - Declarou o Gennin de cabelos claros. - Já tenho uma ideia para os enganar, só precisamos de uma carroça para fingir que transportámos os materiais que eles querem.

Assim, Kakushi e Tsutao puseram mãos ao trabalho para procuram uma carroça, colocaram algumas caixas de madeira vazias lá dentro e cobriram-nas com uma manta branca. De seguida, e visto que os relógios já se começavam a aproximar das 12h, partiram em direcção a Guringakure, fazendo todos os possíveis para que ninguém os visse partir. Então, há hora combinada, os dois Uchihas aproximavam-se das mulheres da aldeia cuja cor predominante era o verde. No cimo da muralha e junto ao portão principal, era possível avistar um homem de uniforme verde que foi logo avisar o resto da população quando viu os ninjas aproximarem-se com a carroça.

- Onde está o Zanuff? - Gritou Tsutao, esperando ver a cara do traidor em vez de ser recebido apenas pelos habitantes da vila.
- Zanuff-sama está atarefado e não vos pode receber. - Informou um dos homens no topo da muralha. - Retirem essa manta e mostrem que trazem os materiais combinados. - A exigência do sujeito já era esperada e Kakushi sabia o que tinha a fazer. Concentrou chakra a nível cerebral e, sem que os Guringakurianos se apercebessem, colocou-os sobre o efeito do Kohoki no Jutsu, fazendo-os pensar que as caixas que estavam na carroça eram água e Sake.
- Já podemos entrar? - Perguntou Kakushi, tapando novamente a mercadoria.
- Sim, aguardem um pouco enquanto abrimos o portão. - Em poucos segundos, o portão de madeira começou a abrir e foi possível observar o interior da aldeia: era bastante diferente de Burugakure, as habitações concentravam-se na periferia e no centro existia uma praça larga com apenas meia-dúzia de lojas de comércio e restauração. Para além disso, ao fundo, era ainda possível avistar um edifício maior do que todos os outros, à semelhança daquele existente em Burugakure.
- Onde está a rapariga? - Inquiriu Tsutao, encontrando-se agora no centro da praça com Kakushi e a carroça. Nesse momento, a porta do edifício mais alto abriu-se e de lá saiu Zanuff, trazendo consigo uma Kushna amordaçada e com cordas que lhe restringiam os movimentos mas salientavam os seus belos peitos.
- Gosto dessa mudança de visual mas ela não parece muito contente. - Murmurou Kakushi ao ver a rapariga de cabelos pretos.
- Pensam que me enganam com esse truque de baixa categoria. Eu fui bem claro quando disse as exigências da troca, não pedi nenhumas caixas vazias! - Exclamou Zanuff, visivelmente irritado com a audácia dos dois Shinobis de Konoha. - Não vão sair daqui vivos, matem-nos! - Gritou o Nukenin, fazendo sinal para que todos os habitantes cercassem os Uchihas.
- Parece que o plano não funcionou... - Constatou Tsutao, vendo-se rodeado por inúmeros Guringakurianos com um ar feroz e carregando enxadas e facas como armas.
- É, eles não são ninjas mas parece que não temos outro remédio se não lutar. - Concluiu Kakushi, quase ao mesmo tempo que um dos habitantes começava a correr na sua direcção de enxada no ar. O Gennin concentrou chakra nos pés e utilizou o Shunshin para se desviar do ataque, ao mesmo tempo que armazenava algum chakra nos pulmões. - Katon: Endan. - Agora uma pequena bola de fogo era projectada da sua boca e atingia o homem pelas costas.
- Karasu Bunshin no Jutsu! - Exclamou Tsutao, depois de concentrar chakra e realizar uma sequência de selos para formas três clones. Com a protecção dos clones, o Uchiha de cabelos escuro aproveitou para concentrar chakra a nível cerebral e utilizar um Genjutsu - Magen: Narakumi no Jutsu. - O Genjutsu foi forte o suficiente para envolver cinco sujeitos e, dada a sua nula experiência a lutar com ninjas, colocou-os inconsciente em pouco tempo.
- Katon: Sangeki Ame! - Kakushi concentrava novamente chakra ao nível do peito e, após uma série de selos, expeliu uma nuvem de fogo que ficou a pairar sobre o amontoado de Guringakurianos, até finalmente se dispersar em inúmeras bolas de fogo minúsculas que lhes causaram leves queimaduras. - Tsutao, tive uma ideia. Tenta colocá-los próximos uns dos outros. - A pedido de Kakushi, Tsutao ordenou aos seus clones que atacassem os habitantes de forma a juntá-los a todos num só local e, em pouco tempo, havia já um grande aglomerado com cerca de vinte Guringakurianos. De seguida, o Uchiha de cabelos brancos concentrou uma grande quantidade de chakra nos pulmões ao mesmo tempo que executava lentamente alguns selos. - Katon: Goukakyuu no Jutsu! - Uma grande bola de fogo foi expelida da boca do Gennin e foi projectada na direcção dos adversários, aumentando drasticamente o calor daquele local e fazendo com que cerca de metade desmaiasse.
- Kasumi Jusha no Jutsu. - Concentrando novamente chakra a nível cerebral, Tsutao criou inúmeros clones ilusórios que rodearam os indivíduos restantes e fizeram com que estes se aproximassem ainda mais, colocando-os na posição exacta para o ataque seguinte.
- Katon: Ho Tsuki no Jutsu. - Desta vez, Kakushi realizou alguns selos e fez o chakra fluir até à palma da sua mão de forma a criar uma bola de fogo e lançá-la depois contra os Guringakurianos, como se estivesse a jogar bowling. - Strike! - Gritou ao rapaz alegremente, ao ver que tinha derrubado os "mecos" todos.

Finalmente, todos os habitantes da aldeia que mostravam interesse em combater tinham sido detidos e a única pessoa que se colocava entre os Uchihas e Kushna era Zanuff.

O dia do festival aproximava-se cada vez mais e Kushna tinha apenas um dia e meio para confeccionar o melhor Sake da região. Foram umas horas de trabalho árduo sobretudo para a rapariga mas também para os dois Uchihas que estiverem sempre a seu lado, quer fosse a dar apoio moral quer fosse a fazer algum trabalho físico.
No entanto, com a ajuda de todos, quando o dia mais esperado do ano chegou todo o Sake já estava pronto e as pessoas começavam a sair da vila e iam em direcção à praça Reinbou para fazerem os últimos preparativos. De forma similar, o trabalho de Kakushi e Tsutao agora era transportar os baldes de Sake para a praça. Tal como haviam feito anteriormente com a água, os dois Gennins arranjaram um pau de forma a colocarem dois baldes em cada ponta e depois caminharam em direcção do festival. Os baldes eram bastante pesados e aquela tarefa exigia que eles fizessem uso de toda a força existente nos seus troncos e membros superiores. Por vezes, um dos braços ameaçava começar a ficar dormente ou as dores nos ombros e pescoço eram tantas que os rapazes tinham de fazer pequenas alterações na forma como transportavam o pau. Assim, carregando o Sake nos ombros como se estivessem presos na cruz, acabaram por conseguir chegar à praça Reinbou. Aí, pousaram o Sake e ajudaram a montar a loja onde iria ser feita a prova da bebida, bem como a sua venda ao público.
Olhando em volta, era possível ver uma grande mistura de cores e pessoas com caras alegres e sorrisos rasgados a caminhar de um local para o outro. Era realmente um grande espectáculo mas o melhor ainda estava para chegar: à noite iria ser realizada a prova do Sake das três vila por um júri especializado no assunto e, para terminar, iria ser lançado fogo-de-artifício em honra do vencedor.
O dia correu assim sem grandes percalços excepto um pequeno incidente que ocorreu quando Tsutao e Kakushi vagueavam pela praça: um homem carregado com várias caixas de madeira com garrafas vazias que iam para o lixo, não conseguiu ver que os dois rapazes iam na sua direcção e acabou por ir contra eles, fazendo com que as caixas caíssem sobre eles. Tsutao, graças aos seus bons reflexos, ainda conseguiu empunhar a sua katana e fazer um movimento rápido de baixo para cima, cortando assim a caixa que vinha na sua direcção e evitando ser atingido. Todavia, Kakushi não teve a mesma sorte, o rapaz ia um pouco distraído e só se apercebeu do sucedido quando foi atingido em cheio por uma das caixas na nuca, projectando-o contra o solo e ferindo-lhe a face: o resultado foi alguns arranhões nos braços que tentaram amparar a queda e uma pequena ferida no lábio, de onde escorria um pouco de sangue.

No final de noite, Burugakure foi dada como a aldeia vencedora do festival devido ao seu magnífico Sake e, após o término do fogo-de-artifício, os dois Uchihas preparam-se para regressar a Konoha.

- Já vão regressar à vossa vila? - Perguntava Kushna com um ar triste, em frente ao portão de Burugakure quando os dois Uchihas já tinham as suas malas consigo.
- Sim, temos de voltar mas gostámos muito de te conhecer. - Respondeu Tsutao com um grande sorriso.
- Tomem, fiquem com isto como recordação. - Disse a rapariga rasgando um pouco do tecido azul do seu vestido, o que fez com que as suas coxas ficassem mais visíveis, e entregando as duas "fitas" azuis aos ninjas.
- Muito obrigado. - Declaram ambos os rapazes em uníssono, fazendo com que algumas lágrimas surgissem nos olhos de Kushna. De seguida, viraram costas e partiram em direcção a Konoha enquanto a rapariga lhes acenava ao longe em forme de despedida.

Os Uchihas caminharam alguns metros e Tsutao percebeu rapidamente que Kakushi estava com uma cara estranha, como se estivesse a pensar em algo ou alguma coisa lhe estivesse a perturbar.
- O que é que se passa, estás com saudades da Kushna? - Perguntou o Uchiha moreno, preocupado com o seu amigo.
- Ah, não é isso. Apenas fiquei desiludido com uma coisa. - Respondeu Kakushi, continuando a olhar para o vazio.
- O quê?
- Ela tinha um bocado de celulite nas coxas...

A viagem até Konoha durou algumas e, quando finalmente avistaram os portões da vila, já o sol começava a aparecer no horizonte. Assim que chegaram, dirigiram-se ao escritório do Hokage, onde lhes foi entregue a sua merecida recompensa.