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A primeira jogada era minha. Era a primeira vez que joguei contra o Ryuku, mas estava feliz por fazê-lo. Não era hábito jogar xadrez, aliás, eu pouco havia jogado na minha curta vida… e quando joguei, joguei mal.
Movi o peão que esta na casa E7 para a casa E5, ao qual Ryuku me respondeu movendo o seu cavalo de G1 para H3, não criando nenhuma situação que me incomodasse. Como era habitual quando jogava xadrez, movi depois o meu bispo de F8 para B4. O jogo ia decorrendo normalmente, consegui comer-lhe um ou dois peões encurralando com um bispo e uma torre. Entretanto, comi-lhe uma rainha que ele havia movido para F3, não reparando ainda que eu não tinha movido o meu cavalo situado em G1. Estudei a jogada que fez, mas estudei mal. A rainha era apenas uma distracção para poder avançar com o bispo dele até à minha rainha, que retirou do jogo com uma pequena pancada. Percebi que estava a tentar levar alguns dos seus peões até à casa, e raciocinando, arranjei uma maneira de contra atacar. Regressei com a minha torre de E5 para E4 e ele moveu o seu peão para H5. Levei um peão meu que estava em G2 e transportei-o para G4, tentando-o a comer aquela peça. Ele assim o fez e eu fiquei livre para lhe derrotar aquela peça que lhe traria a rainha de volta. Entretanto, reparei que o meu cavalo estava prestes a ser comido por um bispo, mas interceptei com um peão, sacrificando-o mas salvando o meu cavalo, que se posicionava agora mais afastado. Deixei o jogo passar até conseguir novamente a minha rainha. Haviam passado alguns vinte minutos, restava-me a rainha, um peão e o meu rei. A ele, o rei, uma torre, um bispo, um cavalo e dois peões. Estava em parafuso. Sabia que iria perder, mas tinha a vantagem de ter uma rainha do meu lado e estar a proteger os peões com a rainha. Comi um quando ele movimentou um cavalo de longe, e comi outro quando voltou a movimentar o bicho. Movi a minha rainha para proteger o rei, mas ele conseguiu-me comer o meu último peão. Estava lixado, ele distraiu-me com o cavalo e movimentou a torre, o bispo e mesmo o próprio rei para me fazer um xeque-mate… bonito. Poucas peças, o meu rei no meio e o rei dele a intervir. Fiquei um bocado chateado, mas nada que não se resolvesse com um bom almoço pago por ele.
- Muito bem pessoal, paguei-vos o almoço por isso vão ter que se esforçar um bocado mais hoje, ok? – disse-nos Ryuku. Eu sabia que ele hoje iria ser duro connosco… afinal, nós estávamos a crescer e precisávamos de ver que as coisas não seriam sempre agradáveis. Quase que tivemos que matar dois homens na nossa última missão, mas conseguimos não o fazer.
- Hai, sensei – disse eu com um tom sério.
- Bem, eu hoje quero começar por te fazer uma coisa que já fiz com a Akane… - começou o sensei, olhando para mim. Entregou-me um pequeno papel para a mão esquerda, com a qual eu segurei e fiquei com cara de parvo – muito bem, agora concentra chakra nessa tua mão.
Eu assim o fiz, e nada aconteceu. Concentrei-me mais um bocado e uma chama desfez imediatamente o papel, tornando-o em cinzas.
- Sugoi! O que é que foi isto? – disse eu surpreso. Akane sorriu, já devia ter percebido o que se passava ali, ao contrário de mim.
- Isso foi o teu chakra de fogo a manifestar-se quando concentraste chakra na tua mão. Agora, quero que segures neste papel com a outra mão – eu assim o fiz – e concentra chakra – fechei os olhos e concentrei chakra na mão, fazendo com que o papel se dividisse a meio.
- Nani? O que quer isto dizer?
- Quer dizer que tens chakra de vento, parabéns – disse-me ele. Eu fiquei surpreso, tanto por ter aquela natureza de chakra, tanto por Ryuku me ter dito “parabéns”… porquê? Perguntei-me eu – esse tipo de chakra vai-te dar imenso jeito, eu vou-te ensinar um jutsu que consegui copiar numa batalha com o meu pai e depois ensino-te a fazer uma coisa que ele costuma fazer. Vais conseguir cortar por quase todos os materiais que existem… é um bom elemento, o melhor, para combate curto e médio. Akane, vais treinar a tua constituição e agilidade, vais ter que desviar dos nossos jutsus, ok?
- Hai, sensei! – disse ela afastando-se de nós.
- Hayato, fazes assim – disse-me ele executando os selos – depois, concentras chakra nos pulmões – disse ele enchendo o peito de chakra – Atsugai! E expeles todo esse teu chakra na forma de… como te hei-de explicar… explosão de vento – disse ele após lançar o jutsu para Akane. Não disse nada e comecei a manipular o chakra dentro do meu corpo. Conseguia senti-lo, era muito diferente do chakra de fogo, era mais fresco e mais… rápido. Canalizei esse chakra para os pulmões e fiz os selos necessários. Projectei o chakra mas de forma demasiado fraca.
- Kuso! – disse, enervado. Fechei os olhos e voltei a canalizar aquele novo chakra para os meus pulmões. Recordei o meu sensei, e fiz grande esforço para lançar o chakra da forma que ele mandou, em forma de vento. Custou, mas mandei e expeli depois um – Atsugai! – que completou o jutsu. Ryuku chegou-se à minha beira, com uma kunai de três pontas na mão. Ele sabia que era uma das armas que mais usava.
- Muito bem Hayato, agora… vou-te ensinar o que o meu pai geralmente faz, mas não vou poder exemplificar, vais ter que ser tu. Fazes o seguinte… concentras chakra à volta da tua arma e fazes com que se divida em dois, raspando um no outro, em sentidos contrários – eu não respondi, e simplesmente o fiz na minha kunai. Concentrei chakra à volta da arma, mas estava muito rebuscado. Concentrei-me mais, até fechei os olhos, e o chakra começava a moldar-se melhor. Pelo menos, segundo as palavras do meu sensei – vá, agora tenta imaginar duas correntes de vento a rasparem uma na outra – assim o fiz, e moldei o meu chakra dessa forma, formando perfeitamente o que Ryuku me tentava transmitir – é isso, é isso! Atira a kunai para aquela árvore! – assim o fiz, e a kunai atravessou não só a árvore, mas também uma pequena rocha que estava atrás dela.
- S-sugoi… - disse olhando para as minhas próprias mãos, como se fosse dono de um enorme poder. E era, ou pelo menos, um excelente poder.
- Bem, primeira parte do teu treino… concluída! Agora… quero que tu e a Akane tenham uma luta de Kenjutsu, com um pouco de recurso a Genjutsu se quiserem, mas pouco.
- Hai – dissemos os dois em uníssono, à mesma medida que nos afastamos um do outro. Sorri, pois sabia que a minha querida “irmã” não sabia que tinha algumas coisas na manga. Explodi em corvos, o meu novo Shunshin, e apareci inesperadamente atrás dela. As nossas kunais embateram soltando faíscas por todo o campo de treinos. Deixei o meu chakra fluir para a arma, fazendo com que a arma dela começasse a rachar ligeiramente. Com um impulso, ela fez-me andar para trás. Lancei a minha kunai e mais uma shuriken que peguei rapidamente da bolsa, e multipliquei-a após fazer alguns selos e concentrar chakra. A rapariga era bem mais rápida que eu, e desviou-se de todos os projecteis agilmente. Enquanto o fez, fiz-lhe uma surpresa quando atirei umas correntes que lhe prenderam o pé e a fizeram cair. Explodi novamente em corvos, mas desta vez, os corvos eram apenas ilusão dela. Quando os corvos se voltaram a juntar ao lado dela, ela assim se apercebeu. Tentei acertar-lhe com a minha ninjaken, mesmo à queima-roupa, mas ela rebolou um para o lado e desapareceu em fogo.
- Estás-te a armar puto – disse-me ela mostrando-me os seus olhos vermelhos com três pintas negras.
- Ai é assim? – disse eu activando também o meu Doujutsu. Lancei-lhe uma kunai com Kibaku Fuuda, da qual ela se desviou. Ela dirigiu-se a mim e deu-me com o cabo da sua kunai na minha cara, fazendo-me um pequeno corte na bochecha. Eu contra-ataquei novamente com a minha ninjaken, mas ela defendeu-se com a sua pequena kunai. Ela sabia que era uma questão de tempo até ceder à pressão que fazia com toda a força que eu tinha. De repente, senti-me preso… após ver a minha morte, violenta, horrenda. Era demasiado conhecido para mim, aquele Genjutsu. Quebrei a minha concentração de chakra e o Genjutsu foi quebrado. Afastei-me e rangi os dentes. Atirei mais algumas shurikens que consegui manipular com linhas shinobi. Apesar de tudo, ela desviou-se de cada ataque eu fizera, devido àquele Doujutsu malvado, mas que eu também possuía e adorava. Quando parou, Akane olhou-me nos olhos e nada aconteceu… nada excepto várias raízes surgirem prendendo os meus pés e formando de seguida uma árvore da qual eu era prisioneiro. A minha “irmã” surgia acima de mim, e começou para lá a citar os grandes escritores que ela gostava, coisas poéticas e filosóficas. Eu apenas me preocupava em sair do Genjutsu. Manipulei o meu chakra de forma a executar o Kai, mas sem sucesso da primeira vez. Voltei a repetir o processo, manipulando o chakra e tentando quebrar a corrente a nível cerebral. Consegui e afastei-me de Akane. Porém, outra Akane apareceu atrás de mim, prendendo-me com a minha própria corrente.
- Apanhei-te, rapazinho – disse-me ela num sussurro gélido. Eu fiz beicinho, e ela libertou-me.
- Parece que o combate acabou… - disse Ryuku aparecendo entre nós os dois.
- Parece que sim – disse, de braços cruzados.
- Vamos mas é para casa, que hoje foi um dia bastante produtivo… gostei do vosso combate!
Quando iam para casa, observaram que em certos telhados, virados para o “bairro” dos Uchiha, estavam alguns ninjas. Não ligaram e continuaram a andar.