Hiyama Kyohei
Filler 7
Hitayate
Finalmente, Kumogakure. Terra entre as montanhas, frequentemente assolada por um teimoso nevoeiro matinal, hoje mostrava-se radiosa, em todo o seu esplendor. Podia ser do sol atrás das montanhas, que inundava toda a vila num ambiente alaranjado, realçando alguns pormenores dos edifícios esculpidos na rocha dos montes. Podia ser do cheiro a delicias e doces típicos desta tão conhecida localidade, dos seus caminhos limpos e amplos, onde as pessoas andavam despreocupadas e felizes. Podia até ser dos inúmeros campos verdes e do seu solo fértil recheado de arvoredo e agricultura. Quem estivesse a chegar a Kumo, independente da sua origem ou dos locais que tivesse explorado, bastava olhar para a robusta e alegre vila para parecer que esta o acolhesse com um sorriso enorme. Podia ser por todos esses motivos e mais alguns, mas aposto que a mim, o que me afectava naquela hora de chegada, era apenas as enormes saudades daquele local que me viu nascer e crescer.
Posso parecer estar a exagerar, mas por algum motivo sempre detestei missões longas e me arrependi de decisões que tomaria quando fosse mais velho.
Nesta altura, estava a voltar para Kumo com Ionaz, uma kunoichi com quem fiz uma missão de alguns dias e com três gatos pingados, atados a nós por grossas cordas e que quase arrastámos desde o caminho de terra batida até ao portão da vila.
- O que nos trazes Kyohei? Sheigo, um amigo da minha infância era agora um dos Chunnin que vigiava a entrada da vila. Acolheu-me com um aperto de mão, forte como era hábito dele.
- Tenho estes rapazes para entregar ao Raikage. Por acaso não me queres ajudar? – Ele logo me aceitou o pedido, acenando ao seu colega para avisar da sua ausência. Pegou no rapaz que Ionaz trazia e num dos que eu arrastava e começou ele próprio a arrastá-los pelo passeio de pedra. – Então e novidades?
Ele olhou espantado para mim, como se eu tivesse desactualizado vários anos e tivesse a obrigação de saber o que se passara na minha ausência. – Então não sabes? Da guerra? – Olhei-o algo aturdido com aquela pergunta. – Pelos vistos a tua missão ainda durou algum tempo e não foste informado. Eu ponho-te ao corrente. Finalmente decidiu-se dar cabo da saúde daqueles cães sarnentos de Konoha e Suna. Abatê-los a sangue frio como os animais que eles são e tomar posse do poder com que nos tentaram sempre oprimir. A nós e aos restantes países do mundo.
- O quê?
- Sim, o que ouviste. E não te preocupes. Temos como aliados Kirigakure, Kusagakure e até o próprio País do Ferro. A maior parte dos ninjas capazes e habilitados para tal, saíram já da aldeia, acompanhados pelo Raikage em pessoa, a cerca de dois, três dias. Apenas ficaram os Gennins, alguns Chunnins e Jounnins. Pelo que ouvi, até levaram parte da força militar que tínhamos distribuída pelas prisões no País do Trovão, tudo para esmagar aquelas lagartixas armadas em dinossauros.
- Estás a gozar. Só pode. – Ionaz que vinha ao meu lado parecia também surpreendida, apesar de pouco. Talvez soubesse algo mais que eu, afinal era shinobi de Kumo a mais tempo que eu. Eu ainda nem tinha Hitayate! - Quem ficou agora a gerir a vila?
- Os conselheiros mais idosos, que pela sua idade não puderam ir para a frente de batalha ajudar com as estratégias e um par de Jounnins de confiança do Raikage.
Estava estupefacto. Tinha apenas quinze anos, era novo quando houve a quarta guerra ninja, mas lembro-me bem da maneira como as pessoas da vila comemoraram a sua vitória pelos anos seguintes. Como os sobreviventes, invadiram os bares nos anos seguintes, contando as peripécias de guerra onde os seus próprios companheiros eram as pessoas que agora íamos tentar atacar.
Sou-vos sincero. Não tinha nada contra a guerra naquela altura, apesar de também não ter nada a favor. Tornei-me shinobi por mero acaso, mas quando o aceitei, sabia e ainda hoje sei que era para servir o meu país que me depositavam toda a confiança. Quem era eu no meio daquilo tudo? Um zangão apenas a defender a sua colónia de irmãos e irmãs, segundo as decisões da nossa abelha-mestra, ou neste caso, Kage.
Logo nos despachámos com a entrega daqueles aspirantes a vândalos e recebemos a nossa recompensa. Estava a despedir-me de Ionaz e Sheigo quando o mesmo ninja que nos tinha recebido e entregue o dinheiro da missão me chamava enquanto olhava para uma pasta amarelada de papel.
- Tu és Hiyama Kyohei, correcto? – Reparei na maneira como ele lia a ficha, percorrendo com o dedo linhas de texto que eu imaginava. Com certeza seria a minha ficha de informações.
- Correcto. Em que o posso ajudar?
- É preciso que me acompanhes ao escritório de Denkou-sama. – Estranhei o pedido, mas acatei-o. Segui o homem pelo corredor até entrar no gabinete que já conhecia. Vi-o pôr-se detrás da secretária do Kage e mexer numa das suas gavetas.
- O Raikage queria dar isto em pessoa a todos os Gennins formados na última prova de graduação, mas como já deve saber partiu para ajudar na guerra. Assim, foi-me pedido que tratasse deste assunto pessoalmente. Aqui tem a sua hitayate. É oficialmente um shinobi representante de Kumogakure.
Agarrei naquele pedaço de metal preso a um pano cinzento. Na altura fiquei contente ao ponto de ainda não ter palavras para descrever o momento, apenas me fui embora com a permissão do shinobi e corri edifício fora com a hitayate nas mãos. Com um shunshin, desapareci da rua para ir parar a um pequeno telhado. Passei ali o que restava daquela tarde, a admirar aquele pedaço de metal moldado para no seu centro ter o símbolo da minha vila. Acho que a única palavra que soltei durante todo esse tempo foi um simples, mas fantástico “Uau”.
Apenas quando começou a escurecer é que me lembrei de voltar para casa. Não posso dizer “lembrei-me” foi mais “fui obrigado”, já que sem luz não podia admirar aquele objecto de proporções quase míticas para mim. Com saltos entre os telhados já banhados pelo escuro da noite, depressa cheguei à minha casa. Estava no mesmo estado em que a deixara cinco dias antes. Desci do telhado para o chão, aproximei-me da porta e estendi a mão à maçaneta quando parei. Fiquei estático ao olhar para o meu braço e via o pano que fazia o meu uniforme de Kumo.
-
Porra! Eles não sabem que eu virei ninja. Além disso, desapareci por quatro dias sem dar explicações a ninguém. Se atravesso esta porta, estou feito! – Congelei ali, numa tentativa de talvez conseguir canalizar a energia toda no meu pouco exercitado cérebro e assim arranjar uma maneira de me desenrascar daquela enorme embrulhada. –
Pensa! Pensa! Pensa! – Respondi enquanto me batia a mim mesmo com o punho esquerdo. Só tinha dor a chegar à cabeça e nada de ideias…
- Mano!
- Eh? – Olhei para trás. Era Aki que me cumprimentava calorosamente, abraçando-me mesmo antes de eu lhe conseguir atirar uma frase decente.
- Anda. Vem por aqui. Eu tratei de tudo enquanto estavas fora. O papá e a mamã estranharam o facto de não teres aparecido e então eu tratei de inventar algo. – Explicava-me aquilo enquanto me arrastava à volta da casa.
- O que disseste?
- Disse que Tohma-san te tinha mandado a uma vila a alguns dias daqui buscar livros para a biblioteca. Não te preocupes, falei mesmo com Tohma-san e ele aceitou esta mentirinha para te safar o couro. – Chegávamos a uma das janelas da casa. – Vá, entra. Tens uma muda de roupa suja lá dentro, por cima do roupeiro. Veste-a para depois voltares a entrar pela porta da frente, assim a história faz sentido e não levas sermão.
- Ok. Obrigado. – Não podia dizer grande coisa na altura. A maneira como fui safo pelo meu irmão mais novo surpreendeu-me. Estava mais esperto e parecia começar a aprender a lidar com os meus pais. Uma arte que tanto eu como Sona demorámos a mestrar.
Tudo correu como Aki havia planeado. Mudei de roupas e entrei pela porta da frente. A minha mãe mal me vira, abraçou-me e perguntou-me como tinha sido a viagem. O meu pai, sempre metido no seu sofá, não se deu ao trabalho de sair dele, cumprimentando-me da sala e dando-me os seus parabéns.
- Ser enviado para ir buscar livros, significa que eles confiam em ti! Bom trabalho Kyohei.
O meu avô manteve-se a ler o jornal, apenas tendo estendido a sua mão e lançado um “Oba!” quando eu passei pela sala.
Lembro-me que aquela noite foi apenas cair na cama e dormir. Acordei a tempo de almoçar e ir para a Biblioteca, onde me desculpei pelo transtorno ao velho Tohma. O pobre do homem teve que cobrir os meus desleixos tanto dos meus pais como de Ermegildo, para que eu não fosse despedido. A pedido dele, contei-lhe a missão que fora fazer e enquanto contava, apercebi-me das falhas que eu próprio tinha cometido. Apercebi-me de como a minha fraqueza fora sempre encoberta pelas chegadas oportunistas de Ionaz e por uma estranha sorte. Acho que acabei por ficar mesmo desapontado comigo próprio e que isso se mostrou na minha cara e motivação.
Tohma-san perguntou-me o que se passava, era já quase hora do fecho da biblioteca e sem hesitar expliquei-lhe as minhas dúvidas. Como me achava fraco e como, apesar de serem garotos, aqueles rufias tinham caparro e cabeça suficientes para me dar uma coça não fosse o facto de Ionaz ter sempre aparecido para me ajudar.
- O que eles tinham a mais que tu? – Perguntou-me o velho. Coçava a sua esbraquiçada barba por cortar. – Força? Inteligência? Ou apenas conhecimentos?
Tentei analisar cada um dos três capturados pelos três parâmetros que ele me deu. Nenhum deles era mais forte que eu. Pelo menos de maneira significativa para me vencer só com isso. Inteligência, também não. Foi o que me ajudou a bater um deles, onde usei as suas próprias armas e peso para o derrotar. Conhecimentos… Todos conheciam artes ninjas, mas vendo-as bem, usaram sempre ninjutsus elementais. Raiton, Katon, eram os elementos dos dois que eu enfrentei e com quem me lixei. Talvez fosse isso…
- Eles sabiam Ninjutsu elemental… - Pensei em voz alta. De propósito claro, respondendo às perguntas de Tohma. Ele virou-se na sua cadeira de pele e saiu do pequeno balcão onde atendemos as pessoas. Demorou exactamente cinco minutos, marcados pelo relógio do edifício e voltou com um livro fino e relativamente novo para aquele local.
- «Existem poucas maneiras de um shinobi descobrir o seu alinhamento elemental. Apesar da maior parte delas ser através das reacções do próprio corpo do shinobi, um ninja que queira aprender qual o seu elemento costuma usar o método de tentativa e erro. Tentando usar jutsus de todos os elementos básicos, o que melhor resultar costuma ser a sua melhor afinidade e por isso o seu elemento dominante. Apesar disso, em Konoha, usam-se pequenos papéis que conseguem ter reacções diferentes consoante o chakra canalizado por eles, tornando-a numa das poucas vilas com este método de treino (a não ser quando outras pessoas importam isso para os seus países).»
- E por mero acaso, você não tem desses papéis milagrosos? – Gozei eu.
- Não, mas tenho outros papéis interessantes. – O velhote desapareceu outra vez no meio das estantes de madeira para voltar passado algum tempo. Desta vez trazia cinco scrolls, cada um de uma cor diferente. – Aqui tens. O teu “conhecimento”!
Abri-os um a um e reparei no que ele queria dizer. Cada scroll era de um elemento básico, explicando algumas das técnicas mais básicas daquele tipo de ninjutsu. Eu apenas tinha que ser como todos os ninjas que me antecederam e trabalhar para melhorar.
- Está decidido Tohma-san! Amanhã de manhã, descubro a porra do meu elemento!
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Enche-chouriços necessário. Por agora o Kyohei não terá grande história. Preciso que se torne mais forte e de desenvolver outros aspectos da história que não envolvem de inicio o rapaz. =/