- Citação :
- ─ Então acho que é melhor chamarem-me um médico, porque eu não me estou a sentir bem.
Com isto, os dois shinobis saíram para o corredor à procura do médico que há minutos estava ali. Itari, já mais calmo, levantou-se e recompôs-se.
─ Pois… sobre o facto de eu não existir… mais ou menos…
Mantive-me calada, esperando que Itari continuasse a falar. Parecia que ele estava à procura das palavras correctas para dizer.
─ Eu não sei porque estou aqui, mas… basicamente tem tudo a ver com um amigo imaginário meu, que não afinal não era amigo imaginário, e que depois de eu entrar em coma ele tomou conta do meu corpo e desde lá que estou… nesta forma. Que nem sei bem o que é.
Ele tinha falado rápido. Eu nem estava certa se tinha ouvido tudo correctamente, mas…
─ Estás a gozar comigo, certo? ─ Perguntei incrédula.
─ Ah, e ele também é um corvo. ─ Acrescentou, com um sorriso estranho nos lábios.
─ Certo, assim a tua história já é bem mais credível. ─ Desabafei.
Deixei escapar um suspiro enquanto massajava cuidadosamente as minhas têmporas. Os meus pés levavam-me de um lado para o outro do quarto. Nada disto fazia sentido algum. Sinceramente, estar presa naquela barraca de madeira parecia-me agora uma coisa boa.
─ Mas ‘pera… Então como é que eu agora te consigo ver?
O rapaz pareceu perplexo. Os seus olhos fixaram-se rapidamente num ponto vazio enquanto pensava em algo. Eu ouvia barulhos do exterior, pessoas que claramente estavam a correr devido à forte chuva que se instalara repentinamente. Como eu gostava de estar lá com elas.
─ Porque… não sei?
A resposta era mais do que honesta e isso surpreendeu-me. Estávamos os dois ligados de alguma forma, sem que nenhum de nós soubesse o porquê ou como desfazer isto. Óptimo, perfeito!
─ Mas… por favor, não digas a ninguém. ─ Pediu-me, novamente tenso.
─ Sim, porque até iam acreditar em mim…
Quando os dois shinobis entraram no meu quarto com o médico atrás, eu já me encontrava sentada na cama, como se nada fosse. Tossi calmamente, revelando a minha indiferença
─ O que é que está a sentir? ─ Perguntou-me o médico.
─ Imensas ligaduras atadas a mim. ─ Respondi secamente.
O médico levantou uma sobrancelha. Olhou para os dois guardas, que por sua vez encolheram os ombros. Examinou os meus ferimentos com cuidado. De seguida tirou do bolso da veste branca que trazia uma pequena lanterna. Apontou-me para um dos olhos, vendo a reacção deste. Fez o mesmo para o outro olho.
─ Parece-me que está tudo bem, qual era a emergência?
─ Ah, isso. ─ Comecei por explicar. ─ Foi uma tentativa frustrada de fugir daqui. ─ Apontei para a janela que se encontrava nas minhas costas. ─ Mas aparentemente aquela janela não abre muito bem, então o plano foi por água abaixo. ─ Depois olhei para os shinobis ─ Vamos?
Insultado pelo tom arrogante da minha voz, o shinobi mais velho realizou uns selos. Nesse momento, um pedaço de terra dura envolveu os meus pulsos, mantendo-os juntos e apertados. Seguidamente colocou a sua mão possessa sobre os meus ombros, obrigando-me a andar para fora daquele quarto. Denotei que Itari também nos seguiu, mesmo atrás do chunnin mais novo. Pela primeira vez em três anos e meio, andar com os pulsos presos por um corredor branco sem qualquer decoração não me causou qualquer arrepio.
Olhei uma vez mais para o relógio. Seria impressão minha, ou as mesmas perguntas estavam a ser-me feitas há coisa de uma hora?
─ Então, não queres repetir onde estiveste?
Suspirei mais uma vez, baixando a cabeça enquanto o fazia. Definitivamente, as mesmas perguntas, uma e outra vez.
─ Na terra dos sonhos. ─ Ao ver que o jounin à minha frente ficara frustrado, continuei: ─ Ora, eu já disse que fui raptada ou sequestrada na minha última missão, há mais de três anos atrás. Como deve supor, não fui tratada como uma rainha ao ponto de me dizerem onde estava. Quando fui liberta estava em Kiri… salva por um jounin originário de lá, que tristemente pereceu aos portões de Kumo. Isto é tudo o que eu sei.
─ Pois bem. ─ Disse o jounin não muito convencido. ─ Chama-a.
Um dos chounins que estava atrás dele foi até à porta. Itari seguiu-o com atenção, talvez ansioso de quem pudesse estar do outro lado daquele pedaço de madeira. Eu mesma engoli a seco.
Quando a abriu uma figura feminina entrou na sala. Uma mulher nos seus 17/18 anos aproximou-se cuidadosamente da mesa, caminhando qual felina, e com ela veio o seu perfume característico. O seu cabelo castanho claro estava preso por um fio vermelho de couro. Os seus calções verdes estavam provocatoriamente curtos, assim como o seu top que não se escondia debaixo do casaco de jounin aberto. Os seus olhos de um tom verde-escuro pousaram em mim, e houve um brilho neles que permitiu a reflexão da minha própria imagem. Ora, eu podia ter descrito esta figura de olhos vendados, pois eram poucas as pessoas que a conheciam melhor do que eu.
─ Bom dia, Nami. ─ Ao pronunciar o seu nome, um sorriso largo formou-se nos meus lábios.
─ Bons olhos te vejam, Miyuki.
~Flahsback~
Eu, o meu irmão gémeo e Kuroma estávamos a andar na direcção de um dos campos de treino de Kumo. Tínhamo-nos graduado enquanto gennins da vila e a partir de hoje iríamos formar uma equipa de shinobis
─ Ei, quem será o nosso sensei? ─ Perguntei aos outros dois rapazes que me acompanhavam.
Ryuuji encolheu os ombros. ─ Por mim podia era ser
uma sensei. Sempre seria um incentivo ao treino. ─ Dizendo isto virou-se para Kuroma, esperando que o rapaz o tivesse entendido.
─ Tornarem-se mais fortes para servir a vossa vila… Isso deveria já ser incentivo suficiente.
Uma voz que os três reconhecemos fez-se sentir entre as árvores, do outro lado do rio que se atravessava à nossa frente. Quando olhei para lá, vi a nossa amiga de infância.
─ Ei, Nami, estás aqui para ver também quem será o nosso sensei? ─ Perguntei inocentemente.
Ela suspirou. ─ Não ─ Disse secamente. ─ Serei
eu a vossa sensei.
~End~
Namine Kitamura, a minha sensei._____________
Novamente, agradeço ao J.