Entrega
A fraca iluminação proveniente das moradias, em união com a lua eclipsada pelas nuvens densas, mal permitia que ela visse algo além dos seus pés, fazendo o acto de entregar o pedido bastante mais desagradável do que o normal. Soprou pesadamente, fazendo os fios de cabelo, que teimavam em atravessar-lhe o rosto, saírem do seu campo de visão. Eles têm que arranjar alguém para fazer entregas.
Fitou de novo o pequeno papel amarrotado com a morada escrita à pressa, confiando no seu fraco sentido de orientação para chegar ao local, o envelope a ser entregue guardado no bolso. Estava distraída com o discurso que iria dedicar aos pais, denominado por “101 razões para eu não ter que fazer tarefas não associadas ao mundo ninja”, sendo um dos seus pensamentos a forma de encurtar o título, quando o som de passos atrás de si lhe chegou aos ouvidos.
Olhou por cima do ombro, deparando-se com a rua deserta que presenciara há segundos. Franziu o sobrolho, voltando a fitar o caminho à sua frente e recomeçando a andar, desta vez num passo mais acelerado. Um som de respiração ao seu lado, fez com que ela retirasse uma kunai da bolsa e cortasse agilmente o ar em seu redor, num movimento giratório.
O silêncio mantinha-se apenas quebrado pela sua própria respiração, a luz das casas parecendo mais fraca que antes. Estás a ficar completamente paranóica. Abanou a cabeça, recomeçando o seu trajecto, até que o chão começou a puxá-la, fazendo-a gritar de susto.
Focando chakra nos pés e na kunai que ainda mantinha na mão, desferiu um golpe com a lâmina na terra que lhe envolvia as pernas, e pulando o mais alto que conseguia em direcção ao céu. Deixou-se aterrar suavemente no chão de pedra, antes de iniciar uma corrida rápida em direcção ao local de onde viera. No entanto, viu a imagem das casas diluir-se perante os seus olhos, encontrando-se numa rua de terra batida e pedras soltas, agora sem qualquer infra-estrutura.
Conseguia ouvir o seu batimento cardíaco ecoar nos seus ouvidos, fazendo-a arfar em pânico. Tem calma e pensa. Em movimentos rápidos, fitou todos os ângulos possíveis, mantendo parte da sua atenção no chão de onde viera o ataque anterior. Antes que pudesse respirar de alívio, o som do metal a cortar o vento chegou-lhe aos ouvidos, permitindo-a escapar precariamente à chuva de kunais que se abateu sobre si.
Olhou para cima, não tendo quase tempo de se proteger contra o ataque surpresa. O som do metal a chocar ecoou no local, fazendo a morena sentir os seus braços fraquejarem com a força do impacto. O homem que surgira de cima punha todo o seu peso na espada longa que embatia contra a sua simples kunai, deixando-o em clara vantagem sobre a rapariga, que não viu outra solução senão saltar de novo para o mais longe possível.
Porém, assim que aterrou, sentiu um pontapé acertar-lhe em cheio no estômago, fazendo com que o ar lhe escapasse dos pulmões e que o seu corpo voasse para trás antes de aterrar com força contra a pedra irregular, rasgando-lhe as calças negras.
Com os olhos a lacrimejar, encarou os dois homens à sua frente, não conseguindo distinguir nenhum dos seus traços. A luz continuava precária e provinha de pequenas fontes de luz que pareciam ter sido colocadas estrategicamente pelos seus oponentes. Não que isso importasse. Afinal, ia estar mais ocupada a tentar não morrer ali do que a decorar as caras deles para os denunciar.
— Tens a certeza que é ela? É uma fraca do caraças!
Sentiu o orgulho ser ferido naquele preciso momento, mas a dor do último ataque impedia-a de dar muita importância ao assunto. O som de um deles a aproximar-se tornou-se uma descarga de adrenalina, obrigando o seu cérebro a funcionar. E faz figas, ordenou a ninguém em particular, antes de se levantar de repente. Num movimento rápido, deu um pontapé em direcção à cabeça do estranho, obrigando-o a agachar-se. Colocando-se num flash na posição correcta, desferiu uma rasteira aos pés do oponente que não teve tempo para se desviar. Sorriu. Konoha Senpū perfeito.
Para seu choque, antes das suas costas atingirem o chão, o homem de negro rodou o corpo, obrigando as mãos a amparar a queda, permitindo-lhe elevar o corpo e fazer o pino, antes de cair para a frente sem qualquer dificuldade. O riso do seu companheiro de equipa foi acompanhado por palmas entusiastas pelo número de acrobacia.
— Parece que ela é uma masoquista. — deduziu o homem de cabelo negro que recuperava a sua postura e doava de novo, a sua atenção à rapariga que se mantinha agachada.
Aruko sentiu o seu sangue gelar, obrigando-se a pôr de pé e a dar um passo atrás. Eles são claramente mais fortes que eu, não que isso seja uma tarefa particularmente difícil… Não é tempo para isto! Ok, evitar combate directo. Viu-os a aproximarem-se ao mesmo ritmo que ela se afastava. Mais fácil em teoria do que na prática.
Rezando a todos os deuses que pudessem estar a ouvi-la, efectuou rapidamente os selos que, para seu grande alívio, construíram uma barreira de névoa espessa entre eles. Inspirou profundamente, tentando ignorar o som da sua respiração de forma a detectar com o máximo de precisão a localização dos seus oponentes. Realizou um novo conjunto de selos, concentrando chakra na palma da mão direita, vendo a Mizu Kuri no Yaiba se formar elegantemente.
O som de passos incertos à sua esquerda, fez com que ela sorrisse. Pelos vistos há alguém que não gosta de nevoeiro. Silenciosamente, correu em direcção ao alvo empunhando a espada de água. Eles devem ter mais uns vinte centímetros que eu, portanto, o coração deve ficar… Trouxe o braço para trás, ganhando balanço, antes de o estender e sentir a lâmina perfurar o alvo. Sorriu. Aqui.
Mas antes que pudesse apreciar a fundo o sentimento de vitória, foi, de novo, pontapeada no estômago, voando para longe. No instante em que se preparava para embater de novo contra a calçada, embateu contra um corpo que não se moveu um milímetro.
— Achas que nos vencias tão facilmente? — perguntou num tom de gozo, erguendo-a pelos cabelos.
A dor impedia-a de distinguir as feições do homem, apesar de estar a apenas centímetros de distância. Sentiu-se a ser curvada em direcção ao chão e o joelho do homem encontrar-se violentamente com a sua barriga protegida apenas pela camisola escura. Um grito de dor escapou dos seus lábios, sendo de imediato seguido por outro quando recebeu um murro violento no rosto, e que fez o seu nariz estalar de forma pouco animadora.
Deixou-se cair no chão, o líquido quente traçando desenhos sem qualquer padrão definido. Olhou em volta, apenas para constatar que a névoa desaparecera pela sua falta de concentração e que o alvo que atingira se transformava num tronco, ao mesmo tempo em que o adversário pretendido se aproximava a bocejar. Kawarimi no Jutsu. Que óptimo.
Dá-lhes o que eles querem, gritou uma voz na sua cabeça, se tens alguma coisa que eles possam querer, dá-lhes, senão acho que o resultado é óbvio.
— E se eu não tiver nada? — perguntou num fio de voz, levantando-se.
Nesse caso, é bom que tenhas um testamento feito. Aruko revirou os olhos, ignorando os protestos do seu bom-senso.
O homem que teoricamente atacara, começou uma corrida rápida na sua direcção, obrigando a morena a aproveitar o chakra acumulado nos pés e a saltar o mais alto que pôde. O que se encontrava a observar, realizou um rápido conjunto de selos antes de gritar “Doton: Doro Hõshi”. Aruko viu o chão onde se preparava para aterrar transformar-se num viscoso rio de lama. Uniu as mãos. Ainda bem que o sensei tem o Doton.
Concentrando uma quantidade significativa no peito, realizou os selos necessários antes de expelir água pela boca, usando o Suiton:Mizurappa. A água chocou contra a lama, tornando a corrente ainda mais forte. Assim que se aproximou do solo, ergueu a espada de água no ar, espetando-a o mais fundo possível no terreno debaixo do rio recém-formado, antes de deixar que as suas pernas fossem engolidas.
Agarrando-se fortemente à arma que a impedia de ser arrastada, aproveitou a oportunidade e concentrou-se em espalhar de forma uniforme o chakra, cada vez mais escasso, pelo seu tronco, pernas e mãos. O autor do jutsu de terra mantinha-se a observá-la, ao contrário do companheiro que, empunhando a espada longa por cima da sua cabeça, ganhou balanço antes de saltar em direcção onde ela estava.
Assim que viu o opositor aproximar-se, deixou que a sua própria arma se desfizesse, fazendo com que o seu corpo fosse de imediato arrastado para longe e que o inimigo falhasse o alvo. Aproveitando a menor viscosidade da lama devido à adição de água e ao chakra nas pernas, libertou-se do rio e saltou em direcção ao oponente, desferindo uma Dynamic Entry certeira, fazendo-o cambalear para trás. Sem desperdiçar a oportunidade, desferiu um murro no rosto do homem que, devido ao chakra presente no golpe, fez mais estragos que o normal. Foi com uma enorme satisfação que viu o sangue deslizar do nariz ferido do inimigo que agora caía no rio, desaparecendo do seu campo de visão.
Não confiando muito mais na sua capacidade de manter uma quantidade suficiente de chakra nos locais devidos, saltou agilmente para um pedaço de terreno que ainda se mantinha sólido debaixo dos seus pés.
A sua respiração estava extremamente acelerada e o cansaço começava a afectar-lhe os sentidos, mas recusava-se a deixar que aqueles filhos da mãe vencessem. Limpou o sangue que escorrera do nariz à manga da camisola, enquanto o seu adversário interrompia o jutsu e a corrente de lama cessava. Estava prestes a encaminhar-se na sua direcção, quando ele apareceu mesmo à sua frente, pontapeando-a no peito com força suficiente para a fazer cair para trás, as costas embatendo fortemente contra o piso irregular.
Cerrando os dentes, viu o clone longínquo desaparecer, há medida que o original se aproximava, desembainhando uma espada esguia que até agora ela não reparara que ele possuía. Deve-se ter clonado enquanto eu me preparava para entrar no rio. Ainda bem que protegi o tronco com chakra, senão já estava fora de combate.
Sentiu o chão debaixo de si começar a sugá-la, obrigando-a a levantar-se rapidamente e a dar um mortal para trás, escapando à tentativa de ataque. Assim que deu um passo atrás, sentiu a sua perna chocar contra uma linha. Viu-o sorrir, fazendo-a engolir em seco assim que o som do metal a cortar o ar lhe chegou aos ouvidos. Ignorando as dores que o seu corpo frisava, fintou habilmente as dezenas de kunais que se abateram sobre si, sentindo, contudo, a última delas rasgar-lhe a pele do braço, dando origem a um golpe profundo.
Porém, antes que tivesse tempo de reclamar, foi obrigada a saltar de novo à retaguarda, de forma a escapar do golpe da espada do ninja que se aproximava velozmente. Mal tendo tempo de se concentrar, realizou os selos para formar de novo a Mizu Kuri no Yaiba. Não se surpreendeu quando ao primeiro embate contra a arma opositora, o seu tamanho diminuiu. Estou mesmo a ficar sem chakra. Defendeu-se de uma nova série de ataques, até que sentiu o metal chocar contra o seu abdómen, rasgando o tecido, a pele mantendo-se intacta apenas pelo escudo frágil de chakra que Aruko conseguia manter. Mais uma destas e estou morta. Merda, merda, merda!
A cada choque entre armas, mais a sua respiração acelerava e menos era o chakra que conseguia manter. A sua armadura agora limitava-se à área do coração e à mão, dando alas a ataques do adversário que parecia estar apenas no aquecimento. A forma como ela era inferior era quase degradante e, tal como o seu corpo, o seu ego estava a levar a maior tareia da sua vida.
Defendeu-se de uma nova investida, tentado fracamente desferir um ataque que foi facilmente interceptado. Aproveitando a abertura, o homem de cabelo castanho penetrou a lâmina gelada na barriga da morena. Os seus olhos abriram-se em choque e a sua mente perdeu qualquer foco que ainda conseguia manter. Sentiu-se cair no chão no instante em que a arma saiu do seu interior, fazendo-a gritar de dor.
O líquido quente e viscoso não fez cerimónias antes de ensopar o tecido negro. Levou as mãos ao local, na tentativa de parar a hemorragia, os seus olhos presos no vulto que se aproximava ainda mais, a arma decorada a sangue baloiçando ao seu lado.
— Que pena isto acabar tão depressa.
— Que pena o caraças!
Sentiu-se gelar quando o som doentiamente familiar se aproximou, permitindo-lhe ver o homem que limpava o sangue do nariz que quebrara antes.
— Esta cabra partiu-me o nariz! — reclamou, antes de desferir um pontapé na zona esfaqueada, fazendo-a ver nada mais que preto durante uns segundos, enquanto que a dor a dilacerava de alto a baixo.
— Ela não tem culpa que estejas a perder qualidades. Mas enfim, a missão é matá-la certo? Então diverte-te a fazê-lo, pode ser que o teu orgulho recupere. — permitiu o outro, limpando a lâmina à camisola, antes de a voltar a guardar — Quero-te daqui a cinco minutos. — anunciou, antes de desaparecer.
Antes que pudesse assimilar a informação, sentiu o punho dele embater contra o seu rosto, a sua cabeça embatendo contra o chão. Sabia que devia estar aterrorizada com o que se iria passar, mas estava por momentos ocupada a agradecer a Kami-sama que, ao fim do segundo golpe na zona da hemorragia, a deixou desmaiar.
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Assunto: [Treino 9]Entrega ![[Treino 9]Entrega Icon_minitime](https://2img.net/i/fa/icon_minitime.gif){kind=icon}
Qui 4 Ago 2011 - 22:03
