Era dia, mas a escuridão tomava conta da floresta. Pesadas nuvens negras encobrem o sol, deixando cair grossos pingos que faziam a selva rugir ao se chocarem com a densa vegetação. A chuva torrencial atrapalhava os sentidos. Tudo ficava confuso, úmido e barulhento. Olhando atentamente se podiam ver algumas silhuetas nas sombras, observando fixamente para a estrada lamacenta. As silhuetas e suas máscaras tornavam-se quase invisíveis ao se misturar entre os arbustos e copas das árvores. Escondidas como predadores, apenas esperavam. O grupo aguardava a chegada da comitiva principal. Já haviam enfrentado os batedores e silenciosamente os mataram e esconderam seus corpos.
O Macaco repousava em cima de uma mangueira a fim de visualizar melhor o campo de batalha. O Javali carregava uma grande espada, do tamanho de um homem adulto, suja de sangue. Ele a limpava enquanto olhava em direção ao vazio. O Tigre eliminava as pistas do conflito recente, mas vinha ferido, sua perna sangrava com um corte profundo. A Serpente estava mais distante, enfileirando os corpos dos inimigos que haviam abatido, ela realizava um ritual macabro em limpar rapidamente as marcas da luta nos corpos, desenhando kanjis em suas peles pálidas. E quando estava tudo pronto, olhou para cima e acenou. O Macaco respondeu o gesto e apontou para a direção que ele queria que ela estivesse.
Concordando, retornou rapidamente ao local da emboscada. No caminho ela viu o Tigre e seu ferimento. Pegando uma faixa em seu kit de primeiros socorros, ela faz um torniquete na perna e termina de se esconder, esperando o sinal para o ataque. De repente, um galho estala, e a melodia da chuva é interrompida por passos apressados e erráticos. O grupo principal havia chegado. Todos olham para a posição do Macaco, que acena e comanda o início da emboscada. A Serpente rapidamente desenha três selos no espaço vazio e todos veem os corpos dos inimigos ganhando vida e convergindo na direção do grupo que havia chegado.
"O que vocês fazem aqui? Era para vocês estarem muito a nossa frente." - Indagava o primeiro ninja que acompanhava a comitiva. Eram cinco ao todo, apenas crianças. Quatro delas formavam um círculo ao redor do mais velho, que carregava uma espécie de grande barril com diversos kanjis selando sua tampa. Era o alvo que as máscaras queriam. E sem aviso, os corpos ressuscitados iniciaram seu ataque. Sem entender o que estava acontecendo, os jovens fizeram o que podiam para proteger a carga, entretanto, um a um, foram caindo diante de seus antigos aliados de vila e agora se juntavam à eles numa fúnebre tapete que cobria a pequena clareira, até que, após alguns minutos de luta, o garoto mais velho era o único que permanecia de pé, ofegante.
Mais uma vez o Macaco dá o sinal e todas as máscaras saem de seu esconderijo, ansiavam terminar logo com aquilo e retornar à casa. Mas para a surpresa deles, o garoto mais velho pôs o barril no chão e arrancou os dois primeiros selos que o vedava. As máscaras sabiam o que aquilo significava. Ou impediam a libertação do demônio, ou todos morreriam naquele local. Entreolharam-se por poucos milésimos de segundo e, com os dois dedos sinalizando a garganta, o Macaco autoriza o avanço e a morte do jovem rapaz.
O primeiro a chegar foi o Javali. Balançando sua pesada lâmina no ar, ele a gira com grande habilidade cortando tudo em sua frente. Seu ataque foi bloqueado pela espada do rapaz, quebrando-a ao meio e ferindo de raspão o peito do inimigo. O garoto parecia decidido a não lutar contra as máscaras e sim de libertar o monstro aprisionado. Deixando o que sobrou da sua espada cair no chão, ele se agachou e arrancou o terceiro selo, saltando por trás do barril. Uma névoa marrom vazava por entre as brechas do recipiente, enquanto batidas surdas soavam mais alto do que a própria chuva. Vendo isso, o Tigre percebeu que o rapaz fazia menção de retirar o último selo, abrindo a guarda. Sem esperar, acertou suas agulhas envenenadas nas costas do jovem, que lentamente foi caindo, mas antes, num reflexo, agarrou a ponta do pergaminho e foi levando consigo, rasgando-o.
Por um momento se fez silêncio na floresta. Não se sabe se por causa da tensão ou da adrenalina, as máscaras não conseguiam escutar sequer os pingos de chuva. Até que o silêncio é interrompido por uma explosão de areia. A visibilidade e a respiração tornaram-se precárias, algo rastejava para fora do barril enquanto gritava de maneira estridente escárnios para os que haviam libertado. Aquilo que saiu de dentro não era deste mundo. O alvo das máscaras havia fugido de sua prisão, e tinha sede de sangue no olhar. Sem esperar que a areia da explosão baixasse, o Javali tenta agarrá-lo, mas aquilo gargalhou e fez brotar de suas costas diversos espigões de fina areia, atravessando-o, que gemendo, caiu imóvel no chão. Aquilo era muito poderoso para eles.
Vendo a cena, o Tigre, numa tentativa desesperada, arremessou todos os seus explosivos no monstro, mas tudo que conseguiu ver após as explosões era apenas uma maciça parede de areia, que se recompunha mais rápido do que ele podia causar dano. E então, do paredão, diversos tentáculos eclodiram à procura das três vítimas. O Tigre, por causa de seu ferimento, não saltou a tempo e foi capturado. Com seus braços e pernas amarrados firmemente, ele lutava para se libertar, e após um segundo de espera, todos os seus membros foram separados bruscamente de seu corpo, num grito de dor.
Neste momento, o Macaco percebeu que a Serpente estava paralisada de medo. Saltando por entre as árvores ele agarrou seu braço e a puxou para que fugirem, buscando a proteção da floresta densa. Entretanto, sem sair do lugar, aquilo gargalhava ainda mais, seu chakra maléfico havia tomado grande parte da selva e, de repente todo aquele chakra foi reunido num só ponto. O Macaco sentiu isso e jogou a si e sua companheira numa pequena vala esperando obter proteção para o que se seguiria. A besta parou de rir e os dois ouviram-na tomar um profundo ar, o silêncio novamente se fez presente, até que ela cuspiu uma grande rajada de energia em direção aos únicos que haviam sobrado.
O estampido de um relâmpago ecoou por todo o lugar, enquanto pesados troncos eram feitos em pedaços e voavam pelos ares, animais silvestres eram arremessados e toda a vida daquele lugar foi expurgada. O que restou daquela parte da floresta foi apenas lama numa cratera fétida de destroços. Os dois, com o impacto, foram jogados para o alto, caindo inconscientes por entre os troncos esfacelados. E não se lembravam de mais nada. O cheiro de madeira podre era imenso e uma figura rastejava pela lama a procura de seu companheiro, era a Serpente. Sua máscara havia caído deixando à mostra seu belo rosto. Esforçava-se para sair do buraco, quando seu semblante de dor mudou ao ver os braços do Macaco que tentava desvencilhar-se de um pedaço de rocha que prendia sua perna. A chuva já havia parado. A Serpente sorriu dolorosamente enquanto o ajudava, não antes de beijá-lo a boca.
"Vamos! - dizia ela - Você não pode morrer aqui! Será pai da pequena Ran em alguns meses!"