O jovem esvoaçava, qual ponto luminoso pela floresta. As suas vestes brancas deixavam um rasto claro atrás dele. A busca pelos ninjas que sustinham a barreira revelara-se infrutífera até então, mas nem por isso poderia desistir, afinal, os Genins dependiam dele.
O ramo onde se apoiava quebrou e caiu com um baque surdo no chão. Coçou a cabeça dorida e apercebeu-se de um restolhar revolto na folhagem seca. Baixou-se num reflexo ágil, sem pensar e a perna do inimigo passou-lhe por cima. Ergueu o braço envolto em chakra, flexibilizando os ossos, numa tentativa fútil de chicotear o inimigo. Este afastou o seu golpe com uma rajada de vento que disparou da boca. Com a outra mão tentou cortar-lhe a bochecha com uma faca que parou ao tocar a sua bochecha, da qual caiu somente um fio de sangue. O Chuunin de Suna fitou-o incrédulo.
- Faca de serrilha, deveras? – inquiriu revirando os olhos como que reprovando a estupidez do inimigo.
Afastou a cara da faca e encheu de chakra o punho direito. Puxou uma kunai invertida da manga e envolveu-a numa ilusão. O seu adversário bloqueou a faca, como esperava. O seu braço direito chicoteou o ar e a mão encostada à nuca do adversário explodiu numa tempestade de raios. O adversário caiu, chamuscado e inconsciente, mas Selim também saiu cortado ao longo de toda a palma da mão.
Fechou os olhos por um instante, tentando abstrair-se da dor, apenas para ser atingido por um novo espasmo, desta vez vindo da barriga. Voou de encontro a uma árvore seca que se partiu com um longo estalido sonoro. Tinha sido estúpido ao assumir que estava só, um ponto tão importante. Fechou os olhos e deixou o chakra fluir, tentando detectar o seu inimigo com base na posição da água.
Não gostou do que viu. Eram dois e não um, mas por essa altura já um punho maciço como uma bigorna se dirigia à sua cara. Tinha de escapar, mas não saltaria rápido o suficiente nem alto o suficiente. Com um movimento de mão, as quatro últimas kunais que escondia nas mangas do kimono caíram ao chão, deslizando entre os seus dedos, embebidas em chakra de natureza eléctrica. No momento seguinte saiu disparado em direcção aos céus, escapando por um triz ao seu inimigo. Ainda não ascendera acima das copas das árvores e já sentia todos os músculos presos, enquanto um segundo ninja saltava na sua direcção de katana na mão. Abriu os olhos e cessou o fluxo de chakra.
- Chamas a isso uma ilusão? – inquiriu de novo livre – Uma ilusão a sério far-me-ia crer que estava envolto em dor, assim! – bradou olhando o outro ninja, aterrorizando-o com o seu olhar. Claro que o choque de sensações não foi suficiente para o deixar inconsciente, mas permitiu-lhe retirar por alguns segundos sem que o vissem.
Em silêncio absoluto utilizou um truque que Takashi lhe ensinara para limpar a mente. Precisava de se livrar dos dois shinobi, rapidamente. Era bom a planear, por natureza, mas apenas se pudesse dar um espétáculo luminoso e chamar as atenções. Recordou vagamente os seus primeiros confrontos, quando era fraco. Ou assim julgava. A mente é o maior poder de um homem e tendia a usá-la mais quando não havia tantos jutsus complexos. A sabedoria e a memorização atrofiavam-lhe o raciocínio, mas estava na altura de recuperar.
Colocou uma mão sobre a outra, como os alunos da academia quando aprendiam a concentrar chakra, mas surtiu o efeito desejado. O nevoeiro invadiu a área como fogo no matagal, era talvez o primeiro jutsu de água que tinha aprendido e que melhor forma de recordar senão começando pelo início?
Abstraiu-se da visão fechando os olhos e procurou fontes de água próximas. O seu próprio nevoeiro atrapalhava-lhe a visão, mas encontrou um dos ninjas próximo. Estava constantemente a rodar, como se o procurasse também. Tinha de ser inteligente, estar um passo à frente do inimigo. Poderia usar Schneizel como isco, mas do tamanho que estava agora, chamá-lo poderia partir até a árvore e atrair mais inimigos. Não, tinha de acabar aquilo num golpe. O inimigo tinha tentado atingi-lo com uma ilusão e embora confiasse na sua perícia tinha de pôr a hipótese de não o conseguir prender numa. Um ataque de longo alcance denunciá-lo-ia imediatamente se falhasse e não se podia dar a esse luxo.
E então a solução mostrou-se, assustadoramente simples. Precisava de um isco e quem melhor que ele próprio?!
Espalhou alguma chakra pelo nevoeiro numa tentativa de voltar a controlá-lo. Simultaneamente chicoteou o braço e lançou várias cobras na direcção do inimigo. Este, atentou a qualquer movimento desviou-se e saltou, com o punho envolto em chakra. Enganara-se, este era um sensor, exímio a controlar chakra e não apenas ilusões. Supunha que até os mercenários teriam os seus truques. Mas até aí estava enganado, o golpe não chegara a partir completamente a árvore e o mercenário não seria tão exímio como o julgara, mas chegara para o desequilibrar. Caiu desamparado e, voltando-se rapidamente no ar, lançou duas longas serpentes verdes a um ramo próximo e balançou lentamente até ao chão.
Demasiado lentamente. O seu adversário surgiu de um salto e prendeu-o contra a árvore pelo pescoço. Selim ofegou, aflito, procurando inspirar, sofregamente e conseguiu inspirar de um sopro, o que se revelou um alívio, momentaneamente. Pelo menos até perceber que o vento vinha da mão do adversário, embora não visse nada. Sentiu-se uma vez mais preso pela mão ágil do inimigo e tentou pronunciar algo inteligível. O seu inimigo soltou uma gargalhada de escárnio enquanto aproximava a mão do seu pescoço, perigosamente. Interpôs o antebraço entre ele e o pescoço e não tardou a surgir um longo corte neste.
E então, oh, espanto! O seu adversário caiu a seus pés, com a ponta branca de uma espada a emergir do seu peito. Gorgolejou sangue enquanto olhava Selim incrédulo.
- Estava-te a perguntar para onde tinha ido o nevoeiro – explicou ao cadáver à sua frente, enquanto o seu mizu bunshin se desfazia. – Ainda não acabei contigo – continuou enquanto transmitia chakra ao corpo com alguns selos. O cadáver ergueu-se de novo como uma marioneta – Shikon no Jutsu.
O cadáver soltou um gemido, atraindo o seu anterior companheiro, que foi engolido por um enorme gato enferrujado. Ruídos ensurdecedores fizeram-se ouvir do interior, até o próprio Maneki Neko se abrir com um estrondo. Selim esperava-o no exterior, pronto. Os seus olhos refulgiram enquanto do olho direito disparava um raio de felicidade ilusória em direcção ao adversário, que o fitou aparvalhado. Ele não teria de morrer. Aproximou-se perigosamente e abriu o olho esquerdo, disparando uma segunda ilusão. O seu adversário caiu em coma. Só restava o pilar.
Nota: Cronologicamente isto situa-se directamente antes do resgate dos Genins mas como nessa altura o acesso ao pc era tão difícil que até para postar fillers foi chato, só pude pôr isto agora ^^
Assunto: Treino 24 - Kekkai 
Ter 30 Ago 2011 - 14:19
