Já passava da hora de almoço quando Kakushi acordou do seu sono de beleza. Depois de dois dias de treino árduo com Mitarashi Anko, o Gennin estava completamente exausto e todos os músculos do seu corpo doíam com o mais simples dos movimentos. Foi com bastante custo que o rapaz se levantou e se preparou para sair da casa: tinha um encontro marcado com Anko para as 15h e não tinha intenção de a fazer esperar, sobretudo por recear as consequências que daí poderiam advir. A kunoichi tinha um ar feroz e o seu feitio conseguia ser ainda pior mas a verdade é que no fundo Kakushi lhe estava grato por o ter ensinado a invocar serpentes, bem como mais um par de técnicas. Para além disso, a Jounin tinha ainda combinado aquele encontro para lhe entregar um livro que, segundo ela, lhe poderia ser útil: o Gennin estava curioso mas também assustado com o que poderia ser, por vezes ficava desanimado ao pensar que talvez fosse um livro sobre o comportamento das cobras ou o seu desenvolvimento em ambientes naturais, enquanto que noutras alturas a sua imaginação voava e fazia-lhe desejar que fosse um livro muito mais agradável e lúdico, como aqueles que Hatake Kakashi carregava sempre consigo.

Quando terminou a sua refeição, o Uchiha saiu de casa e dirigiu-se para o local combinado: "a melhor loja de dangos de Konoha". O rapaz não era grande apreciador daqueles bolos mas já ouvira falar de um local na vila de folha que era bastante famoso por os fabricar. Ao caminhar pelas largas ruas da vila, Kakushi reparou numa ligeira agitação por parte de alguns ninjas. Era possível ver vários indivíduos com os habituais coletes verdes de Konoha a correr de um lado para o outro, apressados para transmitir algum tipo de informação ou talvez executar outra tarefa mais complexa. Contudo, ao passar por uma rua famosa pelos seus estabelecimentos de diversão nocturna Kakushi reparou num Jounin que estava tudo menos agitado: era o seu Sensei, Kurai. O homem de cabelos verdes estava sentado nos degraus que davam entrada para um dos bares que se encontrava fechado àquela hora do dia, tinha a cabeça encostada à parede e um ar bastante cansado.

- Boa tarde, Kurai-sensei. - Cumprimentou o Gennin, aproximando-se lentamente. - Passa-se alguma coisa?
- Ah, Kakushi, olá. - Retorquiu o Jounin, esforçando-se para erguer a cabeça e olhar para o seu aluno. - Não é nada, apenas tive uma noite complicada e sinto que a minha cabeça vai explodir.
- Pois, percebo. - Assentiu o Uchiha, num tom de desaprovação. O comportamento de Kurai ia contra tudo aquilo que um ninja deveria ser e Kakushi sabia que não poderia fazer nada para o alterar. No entanto, também não o podia deixar ali e decidiu pegar nele, colocando o braço do Jounin sobre o seu ombro, e levá-lo consigo até à loja de dangos.
O caminho até lá foi algo atribulado e tiveram mesmo de parar algumas vezes para que Kurai pudesse vomitar. Quando finalmente chegou ao estabelecimento em que Anko o aguardava, Kakushi reparou na kunoichi sentada junto ao balcão mas, ao contrário do que ele pensava, esta não parecia estar minimamente chateada por ele se ter atrasado: em vez disso, a Jounin estava toda satisfeita a devorar aqueles bolos coloridos que vinham espetados em palitos de madeira.

- Boa tarde. - Cumprimentou o jovem aproximando-se da mulher, que só reparou na sua presença quando este falou. Anko ia cumprimentar Kakushi mas, antes que pudesse fazer qualquer movimento, foi interrompida de forma inesperada por Kurai.
- Olá, deusa da praia. - Declarou o Jounin completamente revigorado e esforçando-se por fazer um ar sedutor, ao mesmo tempo que colocava sorrateiramente o seu braço sobre os ombros da kunoichi. - Por acaso não estás interessado num belo jovem de 26 anos? - Anko ficou visivelmente irritada com o atrevimento do homem e não lhe respondeu: limitou-se a devorar selvaticamente o seu último dango com uma dentada e espetou o palito na cocha do Jounin, empurrando-o depois para longe e deixando-o num canto do estabelecimento a esvair-se em sangue.
- Devias escolher melhor as tuas companhias. - Afirmou a mulher, voltando a dirigir-se para Kakushi, o qual forçou um sorriso e encolheu os ombros. Entretanto, o empregado da loja atendia aos gemidos de Kurai e tentava perceber se era necessária ajuda médica. - Como prometido, aqui está o livro. - Concluiu Anko, retirando do bolso do seu casaco um livro de capa verde-escura e um desenho a preto de uma serpente enrolada numa cruz.
- É sobre o quê? - Inquiriu o Uchiha, começando a folhear o livro de aspecto antigo.
- Aí tens toda a informação recolhida sobre a kuchiyose das serpentes e, na parte final, encontram-se vários jutsus que poderás aprender quando tiveres habilidade suficiente para tal. - Explicou a Jounin, pedindo depois mais um palito de dangos ao barman. - Eles estão divididos por rank mas provavelmente ainda terás de evoluir mais antes de conseguires aprender a maioria.
- Muito obrigado pela oferta. - Agradeceu Kakushi, mostrando-se visivelmente contente por ter conhecido Anko e por esta se ter disponibilizado para o ajudar. Todavia, havia algo que ainda o deixava um pouco confuso. - Porque é que me ensinou aquelas técnicas e me está a oferecer este livro?
- Como já te disse, o Kakashi pediu-me que te treinasse e eu não podia recusar um pedido seu... - Respondeu a mulher rapidamente, para depois fazer uma breve pausa. - Para além disso, gostei da garra que evidencias-te durante o primeiro desafio que te dei. Fazes-me lembrar o jovem Kakashi e aposto que um dia te tornarás tão forte quanto ele. - Terminou Anko, esboçando um largo sorriso enquanto, na sua cabeça, fluíam recordações dos seus velhos tempos de infância e do seu infame mestre.
- Agradeço muito tudo o que fez por mim, obrigado. - Disse o rapaz de cabelos brancos, fazendo um pequena vénia como forma de mostrar o seu apreço. De seguida, despediu-se da kunoichi e ajudou o seu sensei a ir para casa. Foi com um grande sorriso na cara e uma nova pessoa no seu coração que Kakushi deu o dia por terminado.