Filler 3 – A ajuda chega sempre atrasada
Ouvia vozes de pessoas, estavam perto, mas ao mesmo tempo longe, não percebia o que diziam. Foi assim que acordei. Abri os olhos muito lentamente tentando descobrir onde estava, olhei em meu redor e constatei que deveria ser uma espécie de jaula, que estava tapada por uma cortina, não deixando ver nada para fora. A minha cabeça latejava fortemente, como se um martelo estivesse decidido a perfurar até atravessa-la por completo. Estando deitado de barriga para baixo no frio chão da jaula tentei levantar-me, fazendo força nos dois braços contra o chão… mas senti uma dor agoniante que me fez parar e voltar á posição em que estava anteriormente. Levei a mão às costas e senti o irregular relevo da minha pele naquela zona. Então lembrei-me do sucedido do dia anterior. Chorei… chorei pelas minhas costas, chorei porque nunca mais iria poder andar, chorei pela alcateia e também pelas diferenças que eles me apontavam e acima de tudo senti uma enorme raiva por os membros da minha equipa me terem abandonado. Fiquei ali durante longos minutos, com as lágrimas a escorrerem-me pela cara.
Finalmente cessou. Recuperei-me e ainda tristonho tentei afastar aqueles pensamentos para outra parte da minha mente, onde podia tranca-los e mais tarde quando quisesse, abri-los novamente. Começando a estudar onde estava, escutei atentamente, então consegui ainda ouvir as vozes dos homens que estavam a falar atarefadamente. Parecia uma discussão.
- Pronto 5000 ryos! – Disse a voz de um homem, que começava a perder a paciência. Ouvi um saco com muitas moedas a mexer-se e a cair na mão de uma outra pessoa. Essa pelo que percebi disse.
- Muito obrigado senhor, foi um prazer negociar consigo. É todo seu! – Reconheci a voz como sendo a do velho do dia anterior, queria deitar-lhe a mão pelo que me fizera. Comecei a ranger os dentes em sinal de protesto, mesmo não o vendo.
O pano sobre a jaula foi levantado e vi um humano, que desconhecia. De facto não conhecia nenhum humano, os membros superiores da alcateia não queriam que nós nos integrássemos com eles, diziam que traziam má sorte. Mas este sorria para mim, como se tivesse encontrado um tesouro. Tinha cabelo castanho-escuro e os seus olhos do mesmo tom. A sua face era quase quadrangular e tinha um pequeno bigode. Na sua testa tinha uma fita apertada atrás. Nessa fita havia um símbolo, que era constituído por quatro traços na vertical. Não parecia inimigo, então não fiz nada esperando que ele demonstrasse mais de si. Ficamos ali, alguns minutos a olhar um para o outro. De repente ele disse algo.
- Bom, não tens fome? – Disse sorrindo abertamente enquanto remexia na sua bolsa procurando algo, mas sem desviar o olhar de mim, como se tivesse medo que eu fugisse. Não percebi o que ele disse, mas fiquei contente quando da sua bolsa tirou uma embalagem que nunca vira antes, soube logo que dentro dessa embalagem havia algo muito delicioso, pelo cheiro que emanava dele. Retirou a tampa e estendeu-me a embalagem, atravessando as grades de ferro. Muito lentamente para não me voltarem a doer as costas, sentei-me com as pernas cruzadas e aceitei a oferta. Olhei para aquele delicioso menu e levei logo a boca ao pacote, mas um pensamento que invadiu a mente fez-me parar. Na alcateia sempre tínhamos sido ensinados a testar alimentos antes de os comermos para o caso de estarem envenenados. Assim cheirei a embalagem durante uns minutos e detetando que não havia problema, comecei a comer como se nunca o tivesse feito. De verdade estava com muita fome. A última vez que comera fora no dia anterior por volta do inico da tarde. Agora que olhava para a posição do Sol vi que o dia já deveria ir a meio.
Acabei de comer a refeição e senti-me com uma nova força dentro de mim. O individuo abriu-me a porta da jaula e muito lentamente consegui sair e levantar-me. Ainda pensei em fugir, e correr para junta da alcateia mas que hipóteses tinha, com as costas naquele estado. Abri os braços espreguiçando-me e bocejando. Tentei abaixar-me, mas como senti as costas a começarem a doer-me parei logo. Tinha permanecer em pé como os humanos, detestava isso, na alcateia sempre fui abrigado a andar com as 4 patas no chão. Agora que olhava para o humano, vi que ele era mais alto que eu.
- Hã, vou levar-te para a minha vila, para que os teus ferimentos possam ser tratados. – Disse tocando com o dedo na fita que trazia na testa enquanto dizia a palavra “vila” que eu desconhecia o seu significado. Mais uma vez não percebi uma única palavra do que dissera, mas pareceu que não era para me magoar, assim quando ele começou a andar eu segui-o, nas suas costas em rumo ao desconhecido.
Continua...