O Sol entrou pela janela aberta batendo nos olhos de Inhem que dormia
tranquilamente. Ao sentir a claridade incómoda cada vez mais forte
colocou a almofada por cima da cabeça abrigando-se da inimiga do seu
descanso. Mas já era tarde, já tinha sido acordado e mesmo debaixo da
almofada começou começou a pensar no seu dia. Estava cansado depois de
uma noite pesada de festejos junto da sua família por ter passado no
exame de genin e esse cansaço, desafortunadamente, não desaparecera
durante as parcas horas de sono que havia passado no conforto da sua
cama agarrado. E isso deixava-o bastante mal disposto. A custo tirou a
almofada da cara deixando os seus cansados olhos habituarem-se à luz
matinal que invadia o quarto como uma visita indesejada. Levantou-se da
cama resignadamente e ao encaminhar-se para fora do quarto ainda lançou
um olhar de tristeza ao seu «ninho». Encolheu então os ombros
dirigindo-se à casa de banho com cara de sono.
Uma hora depois já Inhem caminhava pelas ruas de Konoha apinhadas de gente em direcção a
um sítio calmo onde pudesse treinar um pouco em paz. Atravessou o
mercado, onde era quase impossível caminhar sem ter de se desviar de uma
turba de gente, e discretamente surripiou uma maçã verde de uma banca.
Ao dar a primeira dentada sentiu algo a passar-lhe ao lado da cabeça. "Estranho, parecia mesmo uma faca"
- pensou para si mesmo antes de ouvir uma voz irritada atrás de si.
Virando-se ainda com a maçã na boca quase que a ia engolindo inteira ao
ver o dono da bancada da fruta, vermelho que nem um tomate, a correr na
sua direcção com um monte de facas na mão. Inhem começou então a
correr pelo meio da multidão o que se mostrara não ser uma tarefa fácil
devido à quantidade de gente que aproveitava a solarenga manhã para
fazer comércio o que não impedia que o vendedor atirasse facas em
direcção de Inhem que por sorte ainda não levara com nenhuma no meio
das costas "Onde raio foi ele desencantar tanta faca? Ele só vende fruta bolas" disse para os seus botões enquanto se desviava de uma mulher gorda que levava o filho por uma mão e as compras na outra.
Ao
virar uma esquina o vendedor esbarrou com um homem atirando-o ao chão.
Era pequeno e gordo com um farto bigode e sem pescoço. Atrapalhado o
vendedor ajudou-o a levantar-se "Peço imensa
desculpa cavalheiro. Por acaso não viu um rapaz de uns 13 ou 14 anos a
passar por aqui? É um rapaz alto de cabelo e olhos negros?" disse ainda a arfar devido à corrida. O pequeno homem olhou-o desconfiadamente antes de esboçar um sorriso "Não, infelizmente não o vi"
disse com uma voz nasalada. O vendedor olhou-o com infelicidade no
rosto e após mais um pedido de desculpas e um obrigado virou costas
atravessando o mercado de novo em direcção à sua banca não vendo que no
lugar do tímido homem surgira uma nuvem de fumo e no meio dela saiu um
rapaz de olhos negros aparentando não ter mais que catorze anos com um
sorriso algo arrogante a rasgar-lhe o rosto "Henge no jutsu, o meu melhor amigo" riu-se enquanto acabava de percorrer a distância que o separava dos campos de treino.
Ao
chegar aos campos verdejantes o Sol caminhava para o seu zénite no céu. Inhem espreguiçou-se olhando o céu azul completamente limpo da
influência de nuvens pensando na maravilha que seria dormir à sombra de
uma árvore, porém tinha as suas obrigações enquanto shinobi e essas eram
prioritárias, mesmo mais que a sua adorada cama.
Sem mais rodeios
começou a correr em volta do campo para aquecer os músculos ainda
adormecidos e preguiçosos. Após vinte voltas que lhe valeram um coração a
palpitar fortemente no peito retirou um cantil feito em bambu de uma
bolsa no braço bebendo sofregamente o fresco líquido cristalino. Depois
de arrumar a garrafa desembainhou a sua katana atirando a baínha para o
chão. Colocou-se em posição de defesa e então começou a executar uma
série de movimentos básicos de ataque, defesa, corte vertical, corte
horizontal, defesa baixa.
O Sol aquecia-lhe os músculos que pareciam
inchar à medida que eram esforçados e no ar nem uma leve aragem soprava
fazendo com que o esforço fosse bastante maior para o jovem adolescente
que agora se encaminhava de encontro aos bonecos de madeira feitos
propositadamente para treinos de armas e taijutsu. Com um alvo à frente a
motivação de Inhem parecia outra. Estocava com bastante mais força,
com mais raiva quase como se à sua frente estivesse mesmo uma pessoa e a
sua vida dependesse da forma como lutava. Aliados aos movimentos e
ataques de espada estavam alguns movimentos de taijutsu, murros,
pontapés e, num derradeiro ataque que consistiu num corte vertical de
cima para baixo a um braço do boneco que se dividiu em dois, numa
cabeçada à cabeça de madeira do alvo que saltou alguns metros para trás
enquanto Inhem caía no chão desmaiado.
O vento soprava de
maneira moderada abanando as folhas das árvores. Inhem estava deitado
na relva alta olhando para o céu que ia perdendo a sua cor azul viva
para um azul mais escuro. Finalmente as tonturas tinham acabado desde
que voltara a retomar a consciência. Da testa, debaixo da bandana azul
com o símbolo de Konohagakure no Sato, escorria um fino fio vermelho em
direcção à sua boca dando-lhe a provar o sabor férreo do seu próprio
sangue. Aquilo tinha sido uma loucura perfeitamente dispensável mas como
sempre acontecia em cada treino, não conseguiu controlar a adrenalina
que o fazia actuar quase como um animal.
Levantou-se a custo ainda
com as pernas a tremer ligeiramente. O Sol começava a pôr-se, o que
significava pelo menos quatro horas desmaiado. caminhou até um outro
boneco de madeira e fechou os olhos. Sentiu então aquilo que queria
dentro de si. Ali estava ele, fluindo como o sangue no sistema
sanguíneo, o chakra corria livremente pelo seu próprio sistema. Começou
então a concentra-lo nos pulmões preparando-se para a execução do jutsu
mais forte que aprendera até então. Sentindo que tinha chegado ao ponto
exacto de chakra concentrado ergueu as mãos à frente do peito desenhando
com ela os selos do dragão, bode e do cavalo expeliu um longo sopro mas
em vez de ar saiu uma pequena bola de fogo que se precipitou de
encontro ao boneco de treinos explodindo no impacto com este, porém o
jutsu foi mal feito e os danos não passaram de pequenas queimaduras no
corpo de madeira maciça. Frustrado Inhem procedeu da mesma forma,
desta vez concentrando mais chakra nos pulmões do que antes. Desenhou de
novo os selos com as mãos e expeliu a bola de fogo maior e mais rápida
que a anterior que se estilhaçou de encontro ao manequim de madeira
explodindo com o impacto. Ryuga levantou os braços para se proteger de
algum estilhaço solto e ao baixa-los reparou que no lugar do boneco
apenas estava um tronco no qual ele assentava "Mas afinal quem é que manda aqui?!" perguntou para ninguém com um sorriso de vitória no rosto.
O
estômago de Inhem rosnou de fome doendo enquanto o fazia. Ao olhar
para o céu Inhem percebeu que a noite se aproximava a passos largos e
então virou costas ao campo de treino passando pela espada que ainda
estava espalhada pelo chão embainhando-a atrás das costas.
No pensamento uma pergunta dançava à sua frente "Será que o homem da fruta ainda tem a bancada montada?!"