Uma semana havia se passado desde o teste mortal. Todo esse tempo ela conversava com seu aliado recém-adquirido sobre possíveis maneiras de agirem melhor juntos. Fujasawa havia lhe prometido em ensinar alguns Genjutsus que conhecia em troca de alguns que ela conhecia. - "Assim ficava mais fácil em confiar-lhe a vida." – Sempre comentava. Então, logo cedo, antes mesmo do sol surgir e já recuperada de seus ferimentos, Ran chama Fujasawa até o campo de treinamento. Este lhe diz que chegará um pouco mais tarde, pois ainda dormia.

Já no campo de treinamento, ela despeja a mochila na margem do lago e, para se aquecer do afiado frio, dirige-se até a área de alvos no declive esquerdo da região. Lá, plantados no solo, dezenas de alvos redondos de madeira aguardavam seus lançamentos. Assim, pondo-se de fronte aos alvos, Ran rapidamente põe a mão na pequena mochila presa à cintura, retirando três shurikens, arremessando-os com força. Acertando os três alvos com destreza, fazendo a madeira estalar.

Arremessou quase todos os shurikens que tinha à mão, eram mais de trinta. E em cada lançamento, um alvo era alvejado. O som cadenciado de todos esses arremessos ecoava na floresta tranquila. E assim, após deixar o último shuriken entre os dedos e o arremessa. E enquanto o projétil se dirigia ao alvo, ela concentrava seu chakra e com rápidos movimentos com as mãos, descreve os selos necessários e grita: - SHURIKEN KAGE BUSHIN NO JUTSU!

Dezenas de shurikens aparecem acompanhando a trajetória do primeiro. Já havia treinado sua precisão anteriormente, então a maior parte dos shurikens de sombra foi certeira. Fazendo isso, ela termina seu treino de arremesso, e como não havia sinal de Fujasawa, ela se dirige ao círculo de troncos pendurados por linhas. Uma vez no meio deles, Ran suspira fundo, põe-se em posição e dá o primeiro soco, com toda força que tinha, na madeira seca. Seu soco fez o tronco balançar para fora do círculo.

Antes que o tronco retornasse a sua posição anterior, ela gira rapidamente o corpo e dá um chute alto no alvo à sua esquerda. E assim foi por uma hora. Socando, chutando. Girando e esquivando-se dos pesados objetos que balançavam. Às vezes um dos troncos a atingia com força, mas isso não a impedia de continuar. Estava começando a achar estranha a demora de Fujasawa, mas antes que começasse a pensar besteira, o ninja aparece pelas folhagens, com rosto sonolento. Ele acena sem falar nada.

Ran ainda possuía energia para treinar. E no momento em que primeiros raios de sol começavam a surgir, ela chama Fujasawa para o aquecimento. Que foi recebido com um forte bocejo, ao mesmo tempo em que o rapaz acenava a cabeça, concordando. Assim, os dois começaram dando trezentas voltas nas margens do lago. Eles alternavam a velocidade da corrida. As vezes muito rápido, a toda velocidade, as vezes apenas num trote, o que fazia seus pulmões queimarem do esforço realizado para manter seus corpos oxigenados.

Após as trezentas voltas, Ran aponta para o carvalho que guardava a pequena ilha no centro do lago. Logo tomando a frente, ela salta agilmente, fazendo-o com braços e pernas abertas, numa estrela em pleno ar, em direção ao grosso galho que ficava à meia altura. Fujasawa a acompanhou, saltando mais forte, atingindo o galho mais alto da árvore. Vendo isso, a kunoichi idealizou neste salto, um desafio feito pelo colega e decidiu entrar na brincadeira.

Girando e saltando mais uma vez de volta a margem do lago. Ela rapidamente olha para o galho onde Fujasawa se encontra, pega impulso e, usando toda sua força nas pernas, salta de volta perfazendo uma grande parábola, até que atinge com os dois pés no galho que desejava, repousando ao lado do sorridente ninja que a olhava ao fazer as suas peripécias. Assim, concentrando seu chakra nos pés, Ran gira no eixo do galho, ficando de cabeça para baixo.

Logo acompanhada por Fujasawa, ele sorri com aqueles dentes serrilhados e começa a fazer abdominais. A ninja não se faz de rogada e imita seu colega. As abdominais eram difíceis, pois o sangue corria todo para parte superior de seus corpos, exigindo mais esforço de seus corações para bombear sangue às extremidades inferiores. Os jovens ninjas se entreolhavam enquanto se esforçavam nas abdominais. Subindo e descendo, suando e esforçando-se, ela evitava pensar em outras coisas, pois qualquer deslize em seu controle de chakra a faria cair de uma altura considerável.

E então, após duzentas abdominais, Fujasawa já dava sinais de cansaço, descendo em seguida. Enquanto isso, Ran ainda permanecia em seu exercício. E somente após mais duzentas abdominais de ponta-cabeça, ela para de controlar seu chakra, fazendo-a cair. Agilmente girando no ar, ela cai de pé, ao lado de Fujasawa, que estava sentado ofegante, sem forças até para falar. Vendo isso, ela o puxa pelo braço e o leva em direção à margem onde haviam deixado todo o equipamento. Lá, Ran bebe um pouco no cantil e o passa até o ninja que termina por acabar com toda a água trazida.

- "Ainda não acabamos." - Disse ela, enquanto pegava algumas amarras na mochila.

Com cara de desgosto, Fujasawa levanta e aguarda o que a ninja havia preparado. Ran então amarra sua perna direita à perna esquerda de Fujasawa e num puxão, ela começa a caminhar levando a perna de seu companheiro junto. O ninja olha para ela a procura de alguma explicação, mas resolveu continuar com o treino estranho. Assim, após algum tempo de caminhada, começaram a andar em sincronia. Ran então aumentou a velocidade, agora num trote. Fujasawa não acompanha e os dois caem dolorosamente ao solo, aranhando as mãos e machucando algumas juntas. Entretanto, a ninja retira a poeira de seu uniforme, reata fortemente o nó das amarras e reinicia a caminhada, dessa vez mais rápida.

Caminhavam, corriam, caminhavam, corriam. Passaram mais de duas horas tentando acertar a passo e a velocidade, caindo e se machucando durante o processo, até que conseguiram o que Ran almejava. Corriam com as pernas presas, como se fossem um só corpo. A sincronia era perfeita até que Ran tentou saltar para uma árvore e Fujasawa não a acompanhou. Os dois caíram novamente. Enfurecida, Ran tenta novamente. Os dois corpos lutam por independência, mas a sua insistência foi vitoriosa e após algumas horas, caindo e levantando por mais de cem vezes, a sincronia mais uma vez é atingida. Agora, saltavam juntos em grande velocidade por sobre as copas das árvores. Desciam e corriam por entre os troncos caídos. Até que se cansaram.

- "E agora, acabamos?" - Pergunta Fujasawa todo suado e arranhado.
- "Sim. Mas ainda temos mais ou menos uma hora até o almoço." - Respondeu, protegendo os olhos ao olhar para a posição do sol.

Fujasawa então a mandou até o meio do lago. Obedecendo, ela observa seu colega sentar-se em posição de Lótus a fazer alguns selos. E então, diante de seus olhos, manchas negras brotam na superfície do lago e crescem até formarem cópias do ninja. - Servidores do Nevoeiro - Pensou enquanto executava rapidamente dois saltos mortais, recuando. Punha-se em guarda, a espera de qualquer ataque surpresa. Não podendo mais ver Fujasawa na margem, já que estava cercada, Ran sabia que a única saída era resistir a esse Genjutsu.

Fechando os olhos, começou a se concentrar no seu fluxo de chakra, começava a sentir a energia fluindo em seu corpo, principalmente na região da cabeça. E então, quando se sentiu pronta, ela rapidamente faz o selo do tigre juntando as mãos no momento exato e grita: - "KAI!". Nada acontece, e os servidores do nevoeiro continuam a fazer sua dança ameaçadora. Fujasawa gargalhava da margem do lago. Gritava que antes de ensinar qualquer Genjutsu ela teria que ser capaz de libertar-se pelo menos desse em que estava.

Aquilo soou como uma facada em seu ego. Novamente, fechou os olhos e concentrou seu chakra, liberando-o de uma vez, ela novamente grita: -"KAI!". Mais uma vez nada acontece. E entre as gargalhadas de Fujasawa e sua exaustão, ela não se entregou. Tentou por mais trinta vezes libertar-se do Genjutsu utilizando o jutsu que aprendera na academia, mas tudo que fazia era cansar-se mais e mais.

Até que, no último minuto para o intervalo, conseguiu controlar sua angústia de não ter conseguido e, concentrando mais uma vez seu chakra, fez novamente o selo do tigre e então: - “KAI!”. Num grito estridente, vindo lá do fundo de suas entranhas, Ran sente o fluxo de seu chakra interromper-se por milésimos de segundo, deixando uma sensação de enjoo no lugar. Então, ainda com náuseas, ela vê as cópias derreterem-se em líquido negro e sumindo, deixando novamente a vista Fujasawa que naquele momento comia todo Ramen do almoço.

Vendo isso, Ran ficou sem saber se havia conseguido libertar-se do Genjutsu ou Fujasawa havia terminado propositalmente para poder comer. Resolvendo deixar a dúvida de lado, dirigiu-se até a clareira e começou a fuçar a mochila atrás de comida. - "Recuperar as energias é preciso, afinal, à tarde teremos mais treinamento." - disse Fujasawa com a boca cheia.

FIM DO PRIMEIRO TURNO DE TREINAMENTO.