A tarde chegou preguiçosa. Não chovia, mas o frio suave era convidativo para meter-se entre os lençóis. Principalmente após o almoço. Ran e Fujasawa descansavam sob a sombra do carvalho central enquanto conversavam sobre as formas de trabalharem juntos. E acabaram por decidir que, se forem em missões, teriam que completar um ao outro, em todas as modalidades de combate.

Levantando-se, os dois se dirigem ao círculo de troncos pendurados. No centro, o espaço era pouco para que os dois se movimentassem, mas era perfeito para simular um combate em que todos os inimigos os cercassem. Olhando para Fujasawa, Ran dispara o primeiro soco com toda força no tronco a sua frente. Em seguida tentou girar para acertar o próximo, mas o corpo de Fujasawa atrapalhava seus movimentos, e os seus os dele.

Quase sem pensar, rapidamente, Ran gira de volta e consegue proteger-se do retorno do primeiro tronco, cruzando os braços a um palmo do peito, usando sua força para manter-se imóvel. O tronco a acerta, mas para em seguida num estalo oco. A ninja faz uma careta de dor ao mesmo tempo em que vê os hematomas nos antebraços.

- Isso não está dando certo. Há essa hora já estaríamos mortos. - Resmunga Fujasawa, sentando-se.
- Vamos fazer o seguinte. Eu cuido do ataque e você da defesa. Eu em cima e você em baixo. O que acha? - Disse.
- Pode dar certo, vamos tentar.

Os dois tomam posição, um de costas para o outro. Ran inicia com uma forte joelhada frontal, fazendo o tronco balançar mais uma vez. Girando o corpo, ela eleva sua perna e, dessa vez, não é atrapalhada por seu colega. Sua perna bate forte no segundo tronco, enquanto Fujasawa, que passara por baixo de sua perna elevada, defendia suas costas do retorno do primeiro alvo.

Mais uma vez, Ran projetava seu cotovelo e acertava o tronco lateral e rapidamente passava por Fujasawa girando suas costas às suas, atingindo um forte soco no tronco oposto. Fujasawa aparava com agilidade todos os troncos que retornavam. Estranhamente, os dois começavam a se soltar. De fora, quem via a cena, parecia estar testemunhando uma dupla coesa e em sincronia.

Ran atingia com a força mais um tronco que balançava. Fujasawa, ora por baixo, girava para aparar mais uma vez o retorno. E assim foram treinando por mais de trinta minutos. Daí, sem avisar, Fujasawa levanta-se tomando a iniciativa no ataque. Ran, rapidamente percebendo a mudança de postura do colega, agacha-se numa posição de defesa, e logo, agilmente, Ran defendia os dois dos troncos, enquanto o outro desferia pesados golpes nos alvos.

E assim foram por mais trinta minutos. As pernas de Ran começaram a doer do esforço, então havia percebido porque Fujasawa havia mudado de postura. Quem quer que esteja na defesa, iria cansar-se mais, pois praticamente teria que ser ágil à poucos centímetros do chão. Mesmo cansada, ela permaneceu com o treino. Girava com velocidade sempre por baixo dos ataques de Fujasawa, as vezes aparando os troncos com as mãos, antebraços, pés em giratória e até com a parte dura da testa.

Mas, quando não aguentava mais, mudou de postura levantando-se. Fujasawa parecia tão concentrado naquilo que não percebeu a mudança de Ran e a acertou com a perna num forte semicírculo, atingindo-a no abdome. Com forte dor, Ran esquece-se dos troncos, que logo os atingiram nos braços, cabeças e joelhos. Caindo logo em seguida, Ran desfere um grande cascudo em Fujasawa que geme coçando a cabeça. – BAKA...! – Grita.

Após alguns minutos de descanso, Ran cobra o seu treinamento de Genjutsu. Fujasawa acena a cabeça em concordância e se dirige ao centro do lago. Lá, ele senta na posição de lótus, fazendo alguns selos, ele sussurra: Kasumi Jüsha no Jutsu. De repente, manchas negras tomam conta da área e das manchas negras, cópias de Fujasawa brandiam espadas.

- Esse é Kasumi Jüsha no Jutsu, e serve para cansar os adversários. - Disse olhando para ela. – Sente-se e me acompanhe.

Ran senta e vê os Servos do Nevoeiro se desfazerem, enquanto Fujasawa vai até ela. Ficando em pé em seu lado, ele sussurra em seu ouvido os selos necessários. Fechando os olhos, ela concentra o seu chakra, Ran faz os selos lentamente com receio de errar a cadência. E ao terminar, ela abre uma pequena fresta na pálpebra, na esperança em ver se a técnica havia dado certo. Nada acontecera. Fujasawa então começa a apanhar seus equipamentos, saindo da clareira em seguida.

- Ei! Onde vai?! - Esbravejou ao ver seu colega sumir nas folhagens.
- Só retorne quando conseguires! - Gritou, num suave sorriso.

Dito isto, Ran se enfureceu. Quis logo terminar com aquilo. Impaciente, começava a fazer os selos com mais velocidade. Nada acontecia. Mais uma vez ela aumentava a velocidade em que fazia os selos. Nada acontecia. Até que se lembrou de que o controle de seu fluxo de chakra era o mais importante. Suspirando, ela buscava paz onde antes existia impaciência. Concentrava seu chakra e sentia seu fluxo. E, após alguns minutos de meditação, ela faz os selos necessários e sussurra: "Kasumi Jüsha no Jutsu".

Dessa vez, Ran pôde ver manchas negras formando-se ao seu redor, mas, quando as viu, perdeu a concentração, fazendo-as sumir. "Droga!" - Esbravejou. Novamente começou a sentir o fluxo e concentrou seu chakra novamente. Fazendo os selos sempre atenta ao controle de sua energia, ela consegue manter as manchas negras, mas não construíram suas imagens. Apenas manchas móveis no chão. Ran então resolveu aumentar a liberação de chakra, com isso, começavam a elevar-se no chão, mas logo se desmanchavam e sumiam.

Ran tentou, tentou e tentou. Até que encontrou a quantidade certa para não só manter as manchas negras, mas também ganharem sua altura. Mas ainda continuavam disformes. Resolveu aumentar mais uma vez a quantidade de chakra utilizada, viu algumas das manchas se contorcerem e tomarem alguma forma humanoide, mas logo se desmanchavam.

Isso aconteceu por mais dez vezes até que Ran conseguiu achar a quantidade exata de chakra para que as manchas tomassem sua forma. Assim conseguiu ver suas cópias em movimentos lentos e pegajosos. Entrando e saindo do chão. Por poucos segundos, sua alegria mais uma vez foi posta à prova. E as cópias se desmancharam.

Cansada e frustrada. Ran lembra-se do sorriso sarcástico de Fujasawa. – Se ele consegue, eu também consigo. - Pensou alto, voltando a posição. A tarde já estava no fim e não pretendia ficar aí a noite inteira. Então mais uma vez suspirou, concentrou seu chakra mais uma vez e fez os selos cadenciados, liberando uma quantidade de chakra equivalente à primeira fase. As manchas negras apareceram.

Iniciando a segunda fase do jutsu, ela libera mais chakra, mantendo o primeiro. As manchas tomam altura. Assim iniciando a terceira fase, ela libera mais chakra fazendo as manchas ganharem forma. Continuou mantendo a mesma quantidade de chakra, concentrando-se ao máximo. Seu corpo já dava sinais de cansaço e o suor já ensopava suas vestes.

Então, do nada, um vulto sai das margens da floresta e a ataca. Do susto, Ran abandona o controle e saca velozmente uma kunai a tempo de aparar o golpe que visava seu pescoço. Num estalo, uma lâmina quebrada foi bloqueada muito próxima a seu pescoço. Fujasawa sorria enquanto via seus servidores do nevoeiro se desfazerem. "Você demorou. - Disse ele, recolhendo a espada. – Sua mãe lhe chama para o jantar."

Levantando-se da posição, cambaleou por falta de energia. Foi aí que percebeu que precisava treinar muito mais para conseguir manter aquele jutsu por um longo período de tempo sem se esgotar, como Fujasawa fazia. Pegando suas coisas, ela entra nos arbustos em direção ao acampamento num silêncio fúnebre. Deixando para trás o treinamento, com a promessa a si mesmo que retornaria e se esforçaria mais no dia seguinte.

FIM DO TREINO DE GENJUTSU.