Aprendizagens III
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Gosm trouxera Mamoru para fora do acampamento. Atravessaram a densa floresta de pinheiros e eucaliptos até chegarem a uma falésia. Quem se chegasse à beira do precipício tinha um contraste de cores belo e ao mesmo tempo perigoso. Em baixo uma forte corrente enchia aquele vazio com um misto de azul e branco sarapintado de negro, água e espuma misturavam-se ao embater nas rochas escarpadas. Olhando para cima, o céu antevia o início de uma tempestade com nuvens manchadas por vários tons escuros de laranja e vermelho do pôr-do-sol.
Mas Gosm não trouxera o jovem Uchiha para apreciar a paisagem. Incumbido da educação do moço, decidira ensinar-lhe o que poderia para ajudar a defender a tribo que amava.
— A arte da ilusão. — Começara o idoso. A sua voz rouca era abafada pelo barulho dos rápidos de água que velozes embatiam nas pedras. — Sei que já conheces algumas coisas. Importaste de dizer onde adquiriste esses conhecimentos?
— Um órfão de guerra aprende tudo o que pode em qualquer lugar. Já vos contei a minha história -
A mentira a que chamas história, queres tu dizer... - A minha vila foi uma das muitas que foi apanhada no fogo cruzado desta maldita guerra ninja. - O rapaz fez uma pausa no discurso. - Vi o meu lar desaparecer ao mesmo tempo que me perdia da minha família.
— Não foi isso que te perguntei.
— Pronto. Após tudo aquilo andei a vaguear até à vila mais próxima. Era um conjunto de casas simples, um riacho, um moinho e tinhas ali um local pacato para viver a tua vida descansado. As pessoas ajudaram-me e com um shinobi reformado aprendi o suficiente para me defender sozinho. Desde o início notei que não pertencia ali, não me iria forçar. Mal me vi preparado, despedi-me e voltei a vaguear...
— É tudo?
— O resto foram quase dois meses na floresta em que nos encontramos até encontrar um animal armado em esperto a roubar-me comida a um palmo do meu nariz. - Wyzz parecia entender que falavam dele e saía da manga esquerda do traje de Gosm.
— Muito bem... - Pareceu-lhe que o homem reflectia sobre a verdade de toda aquela história.
Não é totalmente falsa, digamos apenas foi embelezada. Uma expressão de aceitação tomou conta do rosto do velho precedendo o resto da aula. - Nós usamos ilusão para ocultar a nossa presença. Além de pequenas armadilhas e patrulhas, a nossa maior arma é a nossa imaginação e o modo como a usamos. Ir-te-ei ensinar genjutsu e o pouco que sei fora disso para que possas participar nos esquadrões de patrulheiros a cargo do Novo Ancião.
— Patrulheiros?
— Não gostas.
— Não era bem onde me imaginava. -
Preferia-me no meio de uma cama fofinha, coberto por cobertores que me almofadassem a mente para um sono quente e cheio de sonhos. - Mas tudo bem.
Com o seu destino aceite, Mamoru deixou Gosm passar à introdução das três técnicas. A primeira mostrou-se ser uma que Mamoru reconheceu da sua infiltração a Talzar, a cidade dos mil e um maus cheiros. Usando um scroll, o idoso exemplificou a criação de uma armadilha no solo onde estavam. Após estudar as instruções roubadas por ele próprio, Mamoru pegou também num pedaço de papel enrolado e estendeu-o ao longo do chão. Tal como o de Gosm tinha estado inicialmente, o seu estava vazio e sem qualquer kanji nele desenhado. Fez o seu chakra aglomerar-se na palma esquerda enquanto gesticulava os vários selos que o exemplo mostrava. Errou na sequência na primeira tentativa e refê-la para a acertar, só depois espetou a mão com chakra no centro do papel e a sua energia fez revelar todos os kanjis preparados previamente. Passada a fase de execução, teve que testar. Começou pela armadilha criada por quem ensinava e apenas não foi catapultado para os rápidos graças a uma substituição sua por um calhau. O segundo teste mostrou-se mais fácil. Não apenas por conhecimento prévio, mas porque também não teve a mesma força. O pilar de terra não emergiu tanto e o impulso foi menor, oportunidade para o rapaz se enrolar no meio do ar e aterrar em pé após uma cambalhota aérea.
Decidiu repetir o processo para conhecer melhor a quantidade de chakra que uma armadilha daquelas precisaria. Pegou de novo no papel, outra vez vazio e voltou a concentrar chakra enquanto fazia os selos. Todos eles correctos desta vez, a execução foi mais rápida e eficaz que a anterior. Ao testar a armadilha, evitou ser catapultado ao colar-se ao solo com a força do seu chakra concentrado em mãos e pés com o Kinobiri.
Com a aprovação de Gosm, o rapaz passou para o nível seguinte. A ilusão que iria aprender era das mais usadas pelos patrulheiros. Segundo o velho, dava-lhes opções estratégicas e tempo para recuperar de alguma emboscada pelo seu próprio funcionamento. O velho começou por exemplificar, tal como fizera com o jutsu anterior. Deitou da sua boca uma nuvem de cinza que ocultou céu e terra.
— Põe apenas parte de ti dentro dela. - Ordenou em jeito de pedido. O rapaz obedeceu sem grandes problemas. - Repara. - Ao fechar da sua mão, a cinza aglomerou-se em roda de Mamoru e o braço esquerdo era capturado por uma massa negra como bréu.
— Oi! Não consigo mexer o braço. - Concluiu. - É um genjutsu de paralisia?
— Certo. O que entrar no campo de acção da cinza é o que ficará paralisado.
— Mas como a nuvem de cinza afasta a maior parte dos oponentes, teremos uma maneira de levar o nosso inimigo para a posição desejada para o encurralar ou fazê-lo tomar um risco desconhecido. - O rapaz concentrava chakra a nível cerebral e quebrava a ilusão. Fechou e abriu a mão esquerda para se certificar. - Ensina-me.
O homem mostrou-lhe os selos e descreveu como se devia concentrar e imaginar a ilusão. Já tinha o ponto de vista da vítima e sabia como devia ser visualizado, metade estava feito. Fez os selos e concentrou o seu chakra. Aproveitou o facto de Wyzz estar entretido a meter-se com um louva-a-deus e atirou ao animal toda aquela cinza fantasma. O pobre bicho só viu a cinza quando já estava em cima dele e deixou-se apanhar por ela. O fechar da mão de Mamoru foi o suficiente para apanhar Wyzz nas patas traseiras e prender-lhe os movimentos. Soltou-o após gozar um pouco com ele, erguendo-o no ar pela cauda e dando-lhe cócegas enquanto estava meio indefeso.
— Chega. Já vi que tens jeito para isto. Mostra-me que ilusões sabes fazer antes de te ensinar o terceiro e último do dia. - O erudito tirava Wyzz das mãos de Mamoru com um movimento rápido para um homem daquela idade e retirou-o da ilusão do Uchiha.
— Sem problemas. - O moreno fazia com rapidez os selos a que estava mais habituado. O chakra fluiu naturalmente e sem problemas para criar uma kunai no meio do chão. - Tenho este... E sei complementá-lo com isto. - Pegou na kunai imaginária e lançou-a na vertical. A arma vou para cima, mas com o uso do seu chakra, o rapaz fazia-a voltar acompanhada de quatro irmãs idênticas em tudo, até na sua inexistência, para desaparecerem ao colidir com o solo.
— Excelente. Mostra que sabes o básico necessário para ele. Este último jutsu é-te mais útil em combate contra um shinobi. - Iniciou Gosm. - Ele irá ver-te fazer um jutsu que tenha visto anteriormente, não importa quando ou como. Apenas que o tenha presenciado.
— Então qualquer pessoa que tenha visto um duelo entre shinobis pode ser afectado.
— Sim, mas os shinobis têm um maior conhecimento de Ninjutsu e maior terror pelo seu uso incorrecto. Não esperarão que um rapaz como tu saque de uma arma criada e dedicada para a sua profissão. O factor mais importante é que não carregas nada em ti que te identifique como um deles ou como um inimigo deles.
Passado o longo discurso sobre o seu funcionamento, Mamoru teve oportunidade de o experimentar. Concentrou o seu olhar no velho e fez os selos pela ordem que lhe tinha sido dada muito vagarosamente. Detestava enganar-se e trocar algum dedo. Concentrou o seu chakra e sentiu-o a desaparecer com alguma brutalidade quando o jutsu fez efeito. O velho não se mexeu, mas a sua expressão de agrado disse ao moço que tinha conseguido.
— O que viste? - Questionou ao sentar-se. Estava cansado e com alguma razão. O corpo não aguentava aquele nível de esforço quando tinha que trabalhar todos os dias.
— Lançaste cinco bolas de água contra mim.
— A sério? - Excitou-se. Podia ser falso mas era algo que ele queria aprender, Ninjutsu!
— Mas falhaste-os a todos. Acertares-me terá que ficar para uma outra altura.