– E é por isso que só te posso treinar de manhã.
Michael não estava inteiramente descontente. Podia ter a oportunidade de treinar um pouco com o seu pai na parte da tarde. Talvez fosse desta que lhe ensinasse algo de interessante. Da última vez que tinha pedido ao seu pai para lhe ensinar algo este mostrou-lhe como atirar shurikens… algo que talvez ele se tivesse esquecido da remota possibilidade de já ter aprendido isso na Academia.
Como sempre, ou quase sempre, Michael colocou os pesos que o seu mestre lhe oferecia. Ao vesti-los, sentiu-os mais pesados do que o normal. Sem ser necessário ouvir as ordens, o rapaz iniciou a sua usual corrida de quinze minutos para aquecimento. Fez igualmente os cinquenta abdominais, mas desta vez seguindo ordens, realizou umas quarenta flexões de pernas.
– Hoje irei ensinar-te Douteki Kikku… - Disse Kawasu. Depois de ver o seu aluno com uma cara de quem realmente não fazia a mínima ideia do que tais palavras queriam dizer, acrescentou: – Taijutsu.
Então era para isso que serviriam os troncos de madeira que se encontravam alinhados ao longo do campo. A avaliar pelo número de troncos teria muito a trabalhar. E logo hoje que nem tinha sequer um bom pressentimento em relação ao seu treino.
– É bastante fácil. – Kawasu aproximou-se de um dos troncos. – Apenas focas um ponto mediano no tronco e depois… – O homem levantou a sua perna, rápido, e num golpe seco quebrou o tronco.
Definitivamente estava certo em relação a este treino. Aproximando-se igualmente do primeiro tronco da fila. Só teria de dar um pontapé forte. Só, pensou ironicamente.

Visualizou bem o ponto médio lateral do obstáculo. Com força, Michael elevou a sua perna esquerda e aplicou um golpe no tronco. Nada se tinha movido, nem sequer uma pequena racha na madeira. Ao pousar a perna, o rapaz sentiu algumas dores fortes. Sentia-se agora ridículo ao pensar que talvez, só talvez, fosse necessário usar chakra para tal.
Olhou o mesmo ponto de há pouco. Concentrou o seu chakra para a zona mais inferior da sua perna esquerda. Novamente aplicou uma estocada no tronco. Desta vez tinha formado três pequenos cortes radiais no objecto. A sua perna doía-lhe mais, agora.
Recuou um pouco. O segredo não está só na quantidade de chakra utilizada, pensou Michael, tenho de conjugar também a velocidade e a força do ataque. Se ao menos pudesse tirar aqueles pesos que lhe estavam a reduzir a velocidade.
De novo na posição, Michael canalizou uma quantidade de chakra para a sua perna ligeiramente superior ao que tinha anteriormente. Desta vez com velocidade e força, pontapeou a zona lateral do tronco. Tinha-se ouvido um barulho forte, no entanto, nada mais tinha feito do que amassar uma boa parte deste.
Passando para um novo tronco, visto que este já estava danificado, continuou o seu treino. Chakra, velocidade e força.
Após algumas tentativas, Michael por fim percebeu o que poderia finalmente levá-lo a quebrar os troncos. Não era só uma questão de chakra, velocidade e força… estava igualmente relacionado com a rotatividade do seu corpo. Lembrando-se do seu sensei a exemplificar, tinha reparado que este tinha rodado o seu corpo, para aumentar a velocidade e a força.
Focando o tronco, Michael passou a sua perna esquerda para trás do seu corpo. Concentrou e canalizou chakra para esta perna. Apoiando-se bem na outra perna, iniciou, com uma velocidade que seria superior, o ataque. Enquanto a sua perna esquerda estava no ar, rodou a direita, que fez rodar o seu corpo, aumentando ainda mais a velocidade. Desta vez tinha conseguido quebrar totalmente o tronco.
– Foi bom. – Ouviu o seu sensei a dizer. – Porém o objectivo final é conseguires fazer isso com pedras.
Entretanto, Michael viu o seu sensei olhar para o relógio que trazia consigo. – Pode ir indo, Kawasu-sensei. Eu continuo sozinho.
O homem desculpou-se pelo sucedido e rapidamente saiu do campo de treinos.
Agora sozinho, Michael dirigiu-se a uma das pedras de porte médio que o local continha. De novo canalizou o seu chakra, mas desta vez para a perna direita. A sua perna esquerda já estava coberta de cortes e farpas que tinham conseguido perfurar os pesos. Rodando todo o seu corpo, elevou o seu membro inferior e embateu com toda a força que lhe restava contra a pedra. Nesse mesmo momento, arrependeu-se de o ter feito. Praguejou palavras que jamais teria proferido caso o seu sensei estivesse com ele, algumas das quais jurava ter inventado agora mesmo. Embora tivesse canalizado mais chakra, para evitar sair mais magoado devido à maior consistência que uma pedra tinha, esse factor não pareceu ter feito qualquer efeito.
Tentou novamente. E novamente saiu magoado com o ataque. Não estava a perceber, estava a fazer tudo igual e até tinha aumentado a quantidade de chakra. Se ao menos houvesse maneira de aumentar…
Recuando uns passos, Michael começou a canalizar a mesma quantidade de chakra que usou para os troncos de madeira. Enquanto isso, tinha já removido os pesos que estavam em ambas as suas pernas. Iniciou uma corrida veloz que a ausência daqueles fardos permitia. Quando estava quase a acercar-se da pedra deu um salto. No ar, rodou todo o seu corpo de tal modo que quando embateu com a sua perna na pedra a velocidade e a força eram maiores do que anteriormente.
Michael caiu ao chão pois tinha-se esquecido de se equilibrar depois de realizar o golpe. No entanto, foi desse lugar que observou o estado em que a pedra se encontrava. Não estava completamente desfeita, como tinha acontecido com os troncos, não obstante esta estava com uma cratera considerável.
Mal se conseguiu levantar, com as dores que tinha nas duas pernas. Pelo menos por hoje iria acabar o treino.

Quando entrou em casa fez um enorme esforço para se arrastar até à cadeira mais próxima. Felizmente sentiu que a sua mãe estava em casa.
– Mãe. – Disse prolongando a sua voz para demonstrar um pouco de sofrimento.
A aparente jovem mulher saiu da cozinha para o corredor. – O que andaste tu a fazer hoje? – Perguntou enquanto o levava para a sua pequena sala onde tinha o equipamento para tratar de feridas.
Enquanto a sua mãe procedia à cura, Michael rapidamente interrompeu-a. – Ensinas-me?
A mulher de cabelos negros sorriu e abanou a cabeça em sinal afirmativo.

Depois de ter ouvido uma breve explicação, Michael focou-se na sua tarefa. Começou pela sua perna direita, que era a que estava em melhores condições. Concentrou uma quantidade de chakra avantajada nas suas mãos, até começar a ver que este adquiria uma tonalidade verde à volta das mesmas. Aproximou-as da sua perna e fez o seu chakra fluir pelas suas feridas, acalmando a dor que sentia. Sabia que esta técnica não curava de facto os ferimentos, no entanto iria ser bastante útil em combates rápidos.
De novo canalizou chakra paras as suas mãos até achar suficiente. Acercou-as da outra perna. Desta vez aumentou a corrente de chakra constante que mantinha para cessar a saída de sangue que ainda se denotava. Felizmente o corte mais profundo tinha só atingido um músculo e nada mais. Enquanto orientava o chakra para novas feridas, mantinha sempre um fluxo de uma quantidade certa de chakra. Aquando do exercício, ia sentido o sangue parar, assim como as dores.

Sabendo que esta técnica não curava de facto os ferimentos, deixou depois a sua mãe continuar o tratamento.