- Spoiler:
Havia dias que eu não passava um tempo com minha mãe. Sendo assim, tirei um tempo apenas para ficar com ela e minha pequena Yumi. Preparamos uma cesta com diversos tipos de comida optamos por ir à parte mais selvagem da vila, onde a grama massageava nossos pés e as brisas brincavam com nossos cabelos. Estávamos sentados quando me permiti admirá-la um pouco. Seu rosto continuava jovem como sempre. Seus cabelos soltos sobre o ombro. Seu olhar brilhante estava concentrado no que fazia (ela servia bolinhos à Yumi). Mas havia algo mais. Uma felicidade se escondia por trás do seu sorriso tímido. Fazia algum tempo que não via aquilo.
– Se não se apressar, comerei tudo sozinha. Que fique claro, Kou – a mulher falou num tom descontraído. Kou apenas sorriu.
– Mãe, posso te perguntar uma coisa?
– Claro que sim. Pergunte.
– Você não tem vontade de se tornar novamente uma ninja? Quero dizer... Voltar a trabalhar no hospital. Salvar vidas, sabe? – disse o garoto, macio. Tomava cuidado com suas palavras. Sabia que tinha muito mais por trás de algumas simples perguntas. Havia a morte de seu pai.
– Eu realmente estava pensando nisso nos dias que você estava longe, meu Kou. Quando você estava na academia, eu me preocupava apenas em cuidar de você e da Yumi, mas agora você é um ninja! Quando sai em missão e Yumi está na escola, não tenho muito a fazer. E sinto saudade de tudo aquilo. Sabia que não era apenas uma ninja médica? Saí em missão de campo algumas vezes. Fui uma jounin.
Era verdade. Kou chegou a esquecer de que sua mãe já tinha sido uma vez jounin. Mas nunca chegou a ver as habilidades da mulher numa batalha. Nunca precisou.
– Então volte, mãe! Valerá a pena! – afirmou o genin.
– Eu não sei, estou um pouco enferrujada nessa coisa toda de ser ninja. Mas, sendo sincera, sempre sonhei em voltar. Trazer novos objetivos à minha vida. Novos sonhos. Tirar toda essa poeira... Quer praticar agora? – perguntou Yukiko.
– Lutar com você? Eu não sei... – titubeou Kou.
– Não vejo problemas. Somos ambos ninjas médicos. Qualquer coisa só utilizarmos nossas técnicas, não? Venha – a kunoichi experiente levantou-se, pegou algumas coisas na bolsa que havia trazido e caminhou até uma área aberta, seguida do filho. Enquanto se organizava, prendendo alguma coisa em seu braço esquerdo, por baixo das longas vestes que trajava e arrumando seu cabelo num rabo de cavalo, voltou a falar – Sabia que me chamavam de Lírio de Kumo?
– Sério? Por que isso? – indagou o pequeno.
–Você já vai saber.
Yukiko sacou seis senbons de suas vestes, posicionando-as em suas são de modo que ficassem semelhantes a garras entre os dedos e partiu para cima do filho, que sacou uma kunai de imediato. Investiu o primeiro soco, um gancho de direita, do qual Kou esquivou-se dando um passo para trás, mas fora arranhado no rosto pelas agulhas.
– Tem que tomar cuidado, filho. – falava Yukiko, enquanto continuava a desferir os socos. O genin então girou o corpo esquivando-se de um ataque e aproveitou para projetar um chute lateral, mas sua oponente desapareceu com um shunshin, reaparecendo atrás do garoto, com outro ganho que raspou-lhe o ombro, fazendo-o sangrar. Sua mãe não lhe abria margem para nenhum golpe. Ele cambaleou para frente, mas virou-se rapidamente, pondo-se em guarda.
– Desculpa, Kou, mas vou te atacar com tudo.
– Pode atacar – falou o genin, concentrando chakra em suas mãos e usando o Chiyute no Justu para curar o ferimento. Nem esperou a oponente se aproximar e, usando sua agilidade natural, canalizou um chute à altura da cabeça, fazendo-a abaixar. Em seguida girou o corpo e projetou um pontapé rasteiro. Mas Yukiko não havia abaixado a guarda uma vez sequer. Bloqueou o chute com suas mãos fechadas, e três das senbons fincaram-se na perna do genin, que gritou de dor. Não era um ponto qualquer. Sua perna havia ficado um pouco dormente. Ela continuaria atacando, porém Kou, fazendo alguns selos, concentrou seu chakra Suiton e expeliu uma violenta rajada de água – Suiton: Mizurappa – que empurrou Yukiko para longe.
Aproveitando a brecha, resolveu cuidar logo do ferimento. Tirou, uma a uma, as três agulhas enquanto canalizada seu chakra e tocava delicadamente a região usando novamente o Chiyute no Justu, mesmo assim o movimento não havia recuperado por completo, e a perna ainda doía. Vendo que sua oponente voltava correndo em sua direção, levantou-se rapidamente e tirou de sua bolsa três kunais e alguns papéis.
“Ela não me dá brecha para nenhum ataque, fazendo com que eu sempre acabe apenas esquivando de suas agulhas. Tenho que mantê-la ocupada enquanto penso. Distraí-la. Ficar o mais distante possível.”
Amarrou os papéis na base de cada Kunai. Quando percebeu que ela estava próxima, atirou a primeira, que passou raspando pelos cabelos da kunoichi e alguns segundos distante, explodiu devido a um selo feito por Kou. Quando Yukiko entrou numa jarda de dez metros, esta atirou três senbons, que foram desviadas pelo genin utilizando um shunshin. Este então atirou a segunda kunai, se fixou no chão bem aos pés da ex-jounin. O papel começou a queimar, e ela não teve alternativa se não receber o ataque. Quase que por instinto bloqueou a região do tórax e do rosto, dando um passo para trás, esperando a explosão.
Mas a explosão não veio.
O que veio foram quatro shurikens que foram projetadas a ela pelo filho. Não teve tempo de se esquivar, devido à guarda baixa, então teve o braço esquerdo, a manga da veste, o rosto e a perna direita cortados.
– Belo movimento, meu lírio. – falou, sorrindo.
Ela parou para se curar, e Kou aproveitou a brecha para atacá-la com tudo. Correu até a kunoichi, mas sua perna machucada o impedia de realizar movimentos bruscos. Chegou perto e projetou um soco destro, em seguida um canhoto, girou o corpo e canalizou um chute. A mulher, no entrando, esquivava-se de todos os golpes. Kou então tentou outro ganho de direita, mas seu punho foi segurado com força. Com a mão livre, Yukiko tirou da bolsa três senbons e as projetou para o abdômen do garoto. Ele seria atingido em cheio.
Então num movimento rápido, ele atira a última kunai com selo que estava em sua mão esquerda para o chão, causando uma média explosão que arremessa ambos em direções opostas.
Kou cai rolando perto de uma árvore seca. Suas pernas agora estavam um pouco queimadas, o que causava uma dor lancinante. Seu braço esquerdo e bochechas também. Tentou se levantar uma, duas, três vezes, mas não conseguia. Sentia que tinha energia, mas seu corpo não obedecia. Exercendo então um fluxo preciso de chakra na mão direita, curou a mão esquerda com outro Chiyute no Justu. Repetiu o processo nas pernas. No rosto usou apenas o Pacchi no Jutsu para cessar a dor, pois queria poupar o pouco que lhe sobrou para o próximo ataque.
Levantou-se, ainda bambo. Olhou em sua bolsa e percebeu que lá só havia um pergaminho, uma kunai e linhas shinobi. Nada mais. Não tinha ideia do quanto sua mãe era boa.
Um pouco cansado, sacou sua kunai e ficou atento em sua volta, mas nenhum sinal de Yukiko. Onde ela estaria? É quando, onde apenas se ouvir o barulho da brisa, uma pétala de lírio branco aparece em volta de Kou. Depois mais uma. E outra. Ele observava aqui com certo receio, mas pegava-se por vezes distraído com a beleza do espetáculo. Viu-se rodeado por várias pétalas, que não paravam de surgir, e começaram a rodopiar a sua volta em alta velocidade. Seria Genjutsu? O genin então fez um único selo de mãos e prendeu seu fluxo de chakra normal, para liberá-lo depois todo de uma vez: Genjutsu Kai! Mas não teve efeito algum. Olhou por acaso para cima, e se deparou com a cortina sendo rasgada e de entre a brecha, um par de pés vindo com toda potência em sua direção. Num movimento rápido executou alguns selos e por pouco um tronco recebeu todo o ataque destrutivo de sua mãe. Havia usado o Kawarimi no Jutsu.
Cambaleou para o lado e pôs-se novamente em guarda, mas nem percebeu Yukiko chegando por trás. Com uma agulha mirada agora no pescoço de Kou, dava a luta como terminada.
As pétalas agora caiam suavemente por todo o campo. O garoto arfava cansado, e acabou por cair de joelhos no chão. Sua mãe se ajoelhou ao seu lado e passou a curar seus ferimentos.
– Foi um bom treino – disse a kunoichi, com sua roupa bastante poída devido à explosão, mas já sem ferimentos – Estou orgulhosa de você.
– Eu vou melhorar bastante ainda. Não possuo muitas técnicas de batalha...
– Se quiser, posso lhe ensinar esta Arte Ninja da Flor. É útil principalmente para distrações.
– Sim, mas outro dia. Agora vamos aproveitar nosso passeio. Acho que Yumi gostou do espetáculo. – deduz Kou, rindo gostosamente, observando de longe a irmã, que admirava suas duas referências ninja.
***