Respirando fundo, Kimura olhava do alto de seu telhado, todas as ruas que passavam por sua residência. Entediado com o passar dos dias, resolveu treinar para manter seu corpo pronto para a próxima missão. Conferindo se seu equipamento ninja estava propriamente fixado no uniforme, ele apertou a faixa em seu quimono e saltou numa grande distância do solo, aterrissando na rua num longo rolamento para poupar as articulações dos joelhos e, num só movimento para manter a velocidade, ele começou a correr rapidamente pelos becos e ruas da Vila da Névoa. Kimura procurava utilizar os obstáculos urbanos naturais, como bancados, barracas, carroças para então ultrapassá-los com agilidade. Os transeuntes tentavam acompanhá-lo com os olhos mais não conseguiam, pois o chuunin pulava num rodopio, focalizava seu chakra nas mãos para pendurar-se e, balançando por causa da inércia, ele arqueava o corpo e rodopiava no ar. Muitas vezes, quando os obstáculos se tornavam intransponíveis, como a multidão de comerciantes que se aglomeravam nas ruas principais, Kimura forçava seu corpo e assim, focalizava seu chakra mais uma vez e realizava um shunshin, utilizando a velocidade para ricochetear num ágil baunsubaunsu para cima dos telhados.
Então, enquanto corria pelos telhados, o jovem viu uma calha ideal para realizar uma manobra que há tempos queria fazer. Saltando com toda a força de suas pernas, o chuunin agarrou o início da calha, utilizando-a como apoio, para então girar e descer em alta velocidade. Contudo, antes de chegar ao solo, ele focalizou seu chakra novamente em seus pés, fixando-os diretamente à parede para utilizá-la como trampolim, terminando com um “backflip” para aterrissar na parede oposta, onde deslizou pela altura que restava até o chão, fazendo mais um rolamento ele logo percebeu que já estava fora da Vila, no início da trilha para seu campo de treino. Já estava aquecido depois de tantos saltos e manobras, então resolveu somente caminhar até o local para se poupar, pois seu desejo era treinar pesado neste dia que deveria ser de descanso. -
Não posso parar! - Ele se encorajava. Assim, após dez minutos, não demorou muito para chegar onde queria. Pendurando a mochila no chão, o chuunin se alongou para iniciar os exercícios de força que estava acostumado a fazer. Jogando o corpo no chão, ele parou sua queda utilizando a força de seus musculosos braços, mantendo-se ereto, Kimura começou a fazer flexões lentas para forçar o físico.
Seu corpo subia e descia, enquanto o suor pingava de sua testa, molhando o solo. E em movimentos repetitivos, não resolveu fazer sessões. Ele queria saber até onde ele aguentaria fazendo flexões sem parar. Assim, seguindo o plano, seus braços retesaram e começaram a ajudá-lo na difícil tarefa de aumentar a velocidade nas repetições. -
Trinta, quarenta... - Rapidamente descia e subia enquanto seus braços e abdome começavam a queimar por serem bastante exigidos. Mesmo assim, sentiu-se bem quando conseguiu perfazer quinhentas flexões sem parar. Ofegante e com dormência nos braços, rolou o corpo para então começar as abdominais da mesma forma que realizara as flexões: -
Sem intervalo! - Gritou ao iniciar o movimento que contraiu seu abdome com força. Subindo e descendo ele respirava para não perder o precioso oxigênio. Contudo, apesar de achar o exercício exagerado, ficou satisfeito consigo mesmo quando terminou a milésima abdominal. Exausto, levantou-se com dificuldade para arrastar-se até o lago no centro de seu campo de treinamento. Levando chakra para seus pés, ele deslizou até o lado fundo do lago, quando se concentrou para diminuir os batimentos cardíacos e acalmar a respiração.
Concentrando-se no que faria, Kimura inspirou bastante ar e em seguida misturou-o com seu chakra para então comprimir seu pulmão para garantir-lhe certa demora sem precisar do oxigênio. E quando se viu pronto, mergulhou nas águas geladas até seu leito, onde permaneceu controlando o fluxo de energia para mantê-lo no fundo até que não aguentou a apneia e voltou à superfície ofegante. -
Ufa... Fiquei lá um bom tempo. - Comemorou no momento em que imaginou o próximo exercício. Focalizando chakra nas pernas, o rapaz realizou outro shunshin para a margem, onde vira alguns troncos caídos entre as árvores. Focalizando chakra nas tatuagens, ele invocou seis kunais com linhas-shinobi, três em cada mão, para então arremessá-las com toda força para o alto em direção a um grosso galho do carvalho à frente dos troncos caídos. Precisamente quando os projéteis passaram por cima, o chuunin puxou todos os cabos de uma vez. Seus músculos se contraíram e as kunais desceram com força e cravaram todas no tronco caído. Agora poderia começar seu exercício. AS linhas shinobi se apoiaram no galho do carvalho, utilizando-o como uma roldana, Kimura puxou com força os cabos e o tronco caído se moveu. Seus braços novamente foram exigidos.
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Um, dois, três! - Gritava o rapaz, enquanto forçava os braços para puxar o tronco caído para cima e para baixo. Como o tronco era maior que seu peso, não se esqueceu de focalizá-lo novamente em seus pés para não ser puxado de volta pelo peso do objeto. Assim, após dez levantamentos, largou com força a tora e deu dois passos para trás, quando tropeçou numa raiz e caiu sentado. -
Merda!- Reclamava da falta de atenção e da dor causada pela queda. Levantando-se para limpar a sujeira em seu uniforme, decidiu treinar arremessos para melhorar a pontaria. Realizando três saltos mortais num longo recuo, Kimura focalizou chakra novamente e trouxe às suas mãos kunais e shurikens, os quais pretendia acertar a madeira caída através de um estreito buraco que um pássaro havia feito na casca do carvalho. Jogou o primeiro, o segundo e o terceiro projétil rapidamente, e comemorou quando todos eles rasparam dentro do buraco, mas acertaram o alvo. Mais uma vez ele arremessou e acertou, até que se entediou com os movimentos de arremesso. Olhando em volta, ele viu um toco de madeira envelhecida, onde sacou rapidamente sua tanto e num veloz shunshin, chegou ao local jogando sua lâmina num movimento lateral.
Kimura imaginava lutar contra um inimigo que fora substituído pelo toco de madeira, gingava o corpo e girava a tanto, para então saltar e chutar a lateral do objeto, o que causou um hematoma na canela, mas nada que o impedisse de continuar. Seus cortes eram precisos e fortes. A lâmina brilhava ao sol com os golpes de direita e esquerda, depois um giro no alto e uma veloz rasteira, para então realizar um rolamento e golpear a madeira com um corte ascendente. Nisso, a madeira começou a ficar cheia de farpas e irregularidades. -
Justamente como eu quero! - Sussurrou ao parar o exercício. Novamente indo até a mochila, ele retirou duas faixas de couro e as amarrou nas mãos para não se machucar tanto, e quando as sentiu bastante seguras, retornou ao toco com a superfície totalmente alterada e irregular para começar a socá-lo com força. Esquerda, direita, “jab” e cruzado. Suas rápidas mãos golpeavam a madeira que tremia com a força de cada ataque. Atingia a madeira mais uma vez, agora a agarrava com as mãos e a utilizava como apoio para golpeá-la bastante com os joelhos, para então começar a chutá-la. Chute lateral, frontal, descendente e ascendente. Kimura criava combos velozes para surpreender os inimigos.
E quando seu sangue ferveu e as dores adormeceram, seus golpes ficaram mais furiosos. Chutava, socava. Usava os cotovelos com ferocidade, para então cair no chão exausto e ofegante. Kimura estava feliz ao ver que a madeira estava completamente amassada com diversas pequenas crateras pela força que exercia em cada golpe. Contudo, quando começou a descansar, sua ousadia cobrou o preço. Sentindo dores em todas as extremidades, ele desenrolou as ataduras e viu suas mãos ensanguentadas. -
Acho que exagerei. - Brincou no momento em que procurava alguns curativos na mochila, sabendo que não poderia mais treinar fisicamente. -
Só me resta genjutsu. - Pensou ao arrumar suas coisas e caminhar em direção a estrada principal que levava a Kirigakure. Escondendo-se na margem da movimentada estrada, após uma curva acentuada, Kimura se sentou por trás dos arbustos para manter a discrição e procurou possíveis alvos para seus genjutsu. Vendo um senhor que carregava uma cesta de peixes, Kimura focalizou seu chakra no cérebro e após realizar alguns selos, ele enviou para o pescador a ilusão que existia uma moeda de ouro a dois passos dele. O pescador parou e encarou a moeda como se não acreditasse.
Deixando o cesto no chão, ele tateava a região a procura da moeda. Foi então que o chuunin focalizou seu chakra novamente e realizou novos selos para então criar a ilusão de que o cesto de peixes não mais estivesse lá. O pescador coçou a cabeça sem saber por que a moeda sumira e se voltou para o cesto de peixes, quando pasmou em não encontrá-lo. Coçou a cabeça, olhou para todos os lados e não encontrou o que carregava. Kimura tentava controlar a gargalhada, mas preferiu cancelar o genjutsu para que não houvesse confusão. Cancelando o genjutsu, o pescador enfim encontrou a cesta e a levou embora, mas não antes que Kimura realizasse outro genjutsu. Focalizando sua energia mais uma vez, após alguns selos, ele enviou o genjutsu no dekoi para o pescador e correu em sua direção. -
Ei! Cuidado! - Gritou para o homem, que ao se virar, o genjutsu se ativou, fazendo-o acreditar que Kimura iria esbarrar-se nele. O pescador fechou os olhos achando que já era tarde para esquivar-se do desastre, quando não sentiu nada abriu os olhos e Kimura já havia sumido num shunshin, pois Kimura colocara uma moeda dentro do cesto para compensar qualquer transtorno que tenha infligido ao humilde homem.
FIM