Papiro I
Perseguindo fantasmas
“Morto?!”
Era apenas mais um dia em Kirigakure, o sol brilhava no céu, a névoa tinha-se dissipado e as ruas anteriormente vazias estavam agora cheias de pessoas. Haviam comerciantes a gritar tentando vender os seus produtos, ninjas patrulhavam as ruas em busca de arruaceiros e como o sol já ia alto no céu as pessoas começavam a entrar nos pequenos restaurantes e tascas em busca de alimento. Zef andava por ali, todas aquelas pessoas á sua volta deixavam-no desconfortável, ele não era lá muito social e todo aquele ambiente era estranho para ele. Mas como todas as outras pessoas a fome também o afectava e como não podia passar sem comer decidiu entrar num pequeno estabelecimento que se encontrava na rua por onde ele andava.
O clima era um pouco acolhedor, haviam várias mesas de madeira bem polida e envernizada, e por aquela hora grande parte já estava cheia de pessoas a comer, outras á espera do seu pedido. Haviam uma grande variedade de pessoas por ali, uns quantos ninjas, pessoas comuns e até alguém muito importante rodeado de guardas. Zef sentou-se numa mesa afastada o mais possível de toda a gente. As cadeiras eram confortáveis e a iluminação da sua mesa também era excelente o que lhe permitiu escrever algumas linhas no seu caderno enquanto esperava para ser atendido.
“Sendo o ser humano um ser social, será que eu devia ser social? Ou isto será apenas uma fachada para todos os problemas que aborrecem o ser humano?”
Quando pousou o caderno já tinha a carta daquele estabelecimento com toda a comida disponível. Zef deu uma vista de olhos pelo papel enquanto lia tudo, não tinha muito tempo para esperar por isso escolheu uma coisa rápida e quando foi atendido pediu um simples Ramen Tyashu. A empregada pegou na carta fez uma leve vénia e partiu para a cozinha.
O pequeno restaurante já estava cheio, havia agora algumas pessoas que entravam e se dirigiam ao balcão onde pediam comida para levar saindo minutos depois com sacos nas mãos. O barulho também se tinha intensificado, os ninjas soltavam gargalhadas enquanto olhavam para uma das empregadas que os serviam e daquela mesa emanava um forte cheiro a suor, não deviam ser ninjas de alto rank, talvez nem chunnins seriam, mas Zef também não o era, tinha falhado no seu ultimo Chunnin Shiken mas não pretendia falhar novamente. Mas de todos os cheiros houve um em particular que despertou a atenção de Ichinose, um homem estava sentado junto da janela, tinha o corpo coberto por uma espécie de manta desbotada e rasgada pelo tempo, a mesa dele estava vazia o que indicava que ainda não tinha sido atendido. Zef ficou a olhar o homem durante algum tempo até a pequena empregada aparecer com o seu pedido na mão, por segundos olhou para a cara desta e quando voltou a olhar para a sua frente o homem estava sentado na sua frente.
-Tu. - Disse o homem apontando para Zef. -És uma pessoa observadora tu.
O homem tinha a cara coberta com uma máscara dourada com uns estranhos arabescos e apenas tinha a parte da boca destapada. Os lábios dele estavam secos e enrugados e toda a parte em volta deles estava cheia de rugas, o que indicava que o homem já tinha uma certa idade.
-Eles estão atrás de mim, tu, tu vai ter de me ajudar. Tu vais ter de ir até ao deserto, preciso da tua ajuda, eles não me podem encontrar. - O homem parecia um pouco maluco, não parava de dizer tu e que o iam encontrar, Zef começava agora a achar que ele estava a sofrer de desidratação e que não passava de um mendigo qualquer, mas a máscara que ele tinha contava outra historia.
O restaurante parecia alheio a tudo aquilo, todos pareciam ignorar aquele velho maluco que continuava a apontar para Zef com o seu dedo enrugado e seco. A unha era amarela e a maior que ele já tinha visto, tudo aquilo começava a assustar Zef e tudo ficou mais estranho quando o velho tirou dois objectos da sua algibeira.
-Toma. Vais precisar disto quando os encontrares. Vá pega! - Aquilo começava a passar das marcas e Zef começava a ficar farto daquele velho. Em cima da mesa estava um recipiente de vidro com um liquido negro e amarrado a este estava um pedaço de papel velho enrolado e lacrado com cera amarela.
-O senhor precisa de água. O senhor esta a delirar. - Dizia Zef enquanto lançava algumas moedas para pagar o ramen ainda a fumegar enquanto chamava a empregada e nesse preciso momento o velho também se levantou colocando os dois objectos na mão de Zef enquanto lhe encostava uma adaga ao pescoço e sussurrava para ele.
-Vai até ao deserto, não pares, não olhes para trás eles andam por aí. Procura por ajuda na vila muralhada e o mais importante. Não acredites em fantasmas.
O homem afastou-se de Zef escondeu a adaga no seu manto negro e correu para a saída a toda a velocidade, Zef seguiu o homem até a saída mas assim que pós um pé fora do restaurante o homem já tinha desaparecido, tinha-se esfumado por completo e ninguém parecia ter dado conta daquele incidente, as coisas continuavam clamas dentro do restaurante. Para provar que aquilo não era tudo uma ilusão Zef tinha o pequeno frasco e o pedaço de papel. Zef levantou o frasco de encontro ao sol para tentar observar o seu conteúdo, mas mais negro do que aquilo não havia, este abanou o frasco mas o liquido era espeço e pareceu quase não se mover. Quando colocou o frasco e o pergaminho no bolso teve a ligeira impressão de que estava a ser observado. Zef olhou para todos os lados e apressou-se a seguir para casa, cada esquina que cortava, cada janela por que passava dava a impressão de que estava a ser seguido e observado por alguém. Finalmente tinha a casa a sua frente, azul claro e tinta descascada, nunca antes tinha estado tão feliz de ver a sua casa e antes de entrar voltou a dar uma olha para as suas costas onde encontrou a rua vazia.
Dentro de casa pousou os objecto em cima da mesa da sala e fechou todas as janela e acendeu a luz.
“Tudo o que o velho disse parece uma loucura, mas desde que peguei nisto que sinto que alguém está atrás de mim. Será que estou a ficar paranóico e que aquela historia toda maluca me afectou a cabeça ou será que era tudo verdade”
Ichinose colocou os cotovelos sobre a mesa e juntou as mãos enquanto olhava para o pedaço de papel lacrado, este começou-se a mover e rolou até o selo estar frente a frente com Zef, aquilo fez um arrepio subir sobre a espinha de Zef. O selo estava marcado com um símbolo esquisito que nunca tinha visto antes, nenhuma vila se identificava com aquilo. A mão direita movimentou-se na direção do papel, em parte a tremer em parte confiante até o dedo indicador tocar na cera amarela. E depois arrancar o selo que caiu destruído na mesa, o selo fora quebrado e algo estranho percorreu o corpo de Zef deixando-o com pele de galinha. Com um movimento ligeiro das suas mãos Zef abriu o pedaço de papel rugoso e seco, aproximou-o de si mas não conseguiu entender o que aquilo era, o papel estava preenchido por estranhos símbolos de várias cores e no centro estava uma espécie de mapa a única coisa legível era “Suna”.
“Tens de ir ao deserto”
Ecoaram as palavras do velho na cabeça de Zef. Deserto, Suna, era a única vila onde havia deserto, a cidade muralhada. Zef lembrou-se das aulas de geografia na Academia, e sabia que Suna era protegida por uma imensa muralha de rocha.
-Isto é uma loucura. Porque ia eu acreditar num velho maluco que estava claramente a delirar. Mas vendo por outro lado, este mapa é real assim como o frasco. - Sem dar por si estava a divagar como o velho no restaurante, tinha começado a andar de um lado para o outro e a falar sozinho. -Calma, vamos ter calma, não custa ir dar uma vista de olhos.
Zef estava claramente a delirar, a distancia era enorme dali a Suna, tinha Konoha pela frente e Amegakure, aquilo era uma loucura mas havia algo de misterioso naquilo tudo que o fazia avançar. Depois de um bom banho, Zef envolveu-se nas suas habituais ligaduras, e começou a fazer a mala, nada de excessivo, apenas o básico, mapa, comida, armas ninja e a sua katana. Foi ao seu armário e encontrou a sua capa negra com o símbolo da Ika e por momentos voltou ao mundo real, o que estava a fazer, ir a Suna em busca de nada em concreto. Ele tinha uma missão e aquilo não fazia parte dela, mas mesmo assim não recuou, pos o manto sobre o seu corpo e a pequena mochila nas suas costas dentro do manto deixando a pega da katana de fora em caso de luta. Desceu as escadas e levou a mão a maçaneta e por momentos o ar ficou gélido, tão gélido que a sua expiração saiu branca como uma névoa e do nada ecoou uma voz.
-Não acredites em fantasmas.
Zef rodou a cabeça de vagar dando uma olhada para as suas costas mas não encontrou nada além da escuridão da sua casa e os pedaços de cera amarela em cima da mesa da sala. Este fez estalar o seu pescoço e rodou a maçaneta da porta. Kiri estava agora mergulhada na noite, o céu estava limpo e estrelado e as ruas estavam muito mais vazias, as pessoas começavam a fechar os seus estabelecimentos e os pequenos candeeiros começavam agora a acender dando um ar sinistro a todo aquele clima. O objectivo de Zef era chegar ao porto e apanhar um barco para Konoha, era possível chegar na manhã seguinte, mas não podia perder o barco.
Os edifícios passavam a correr por ele, enquanto corria pela rua, nas suas costas o seu manto negro e dourado voava a tal velocidade, o porto estava próximo e já conseguia cheirar o sal do mar. Por momentos a temperatura voltou a baixar, uma brisa gélida passou por ele, vinda de um beco á sua direita e por momentos a sua visão olhou para esse lado, um vulto negro saltou para ir contra ele derrubando-o. Frente a frente estavam Zef e uma criatura negra de olhos vermelhos, uma espécie de cão com orelhas pontiagudas e uma boca cheia de dentes afiados, o ninja limitou-se a olhar para aquela besta enquanto levava a mão a sua katana preparado para atacar a qualquer momento. E no momento em que a besta começou a correr para ele outro vulto apareceu indo contra a espécie de cão, tinha um manto negro nas costas e uma máscara dourada na cara, este virou-se para Ichinose e gritou.
-Corre! E não acredites em fantasmas! - Gritava enquanto fazia a sua adaga aparecer na mão e esventrava aquela besta negra.
Zef ficou surpreso com aquilo tudo, tão surpreso que demorou alguns minutos a processar, minutos esses que foram interrompidos pelo som distante de uma buzina.
“O barco”
O ninja guardou a sua katana e começou a correr o mais que podia para o barco, o ar passava a correr pela sua cara coberta de ligaduras, ar gélido, será que haveriam mais criaturas como aquelas, ou melhor o que eram aquelas criaturas. Fantasmas, será que eram fantasmas, mas o homem disse para não acreditar neles, será que aquilo tudo não passava de uma ilusão , de um sonho. Não podia ser o barco estava já a sua frente pronto para partir quando Zef deu um pequeno salto caindo na coberta do navio. Um imediato foi de encontro a ele, pois não é todos os dias que temos alguém a saltar para a coberta de um navio.
-Quem és?! - Perguntou o homem sobressaltado mantendo a distancia de Zef.
-Sou um ninja de Kiri. Este barco vai para Konoha? - Respondeu Zef levantando o seu manto e mostrando o símbolo da vila colocado na cinta que segurava a katana as suas costas. E atirando um pequeno saco de moedas, suficientes para pagar a viagem. -São para pagar a viagem.
-S-sim senhor, o barco vai para Konoha.
-Boa… - Finalizou Zef olhando para o cais que se ia afastando, mas não o suficiente para esconder doispares de olhos vermelhos. -Boa…