Uchiha Takeshi

Acima de tudo, Katsu considerava esta tarefa como uma missão pessoal. Tinha de viajar para o País do Fogo, com Gaina e Sekima a frisarem para ele ter cuidado visto ser um criminoso procurado, encontrar um tal de Uchiha Takeshi, obter todas as informações que o rapaz tinha e reaver o seu passado. Era simples e talvez nada difícil, mas o Imagawa tinha medo do que podia encontrar. Ele achava engraçado, se calhar irónico, que outras pessoas que nem conhece saberem muito mais sobre ele do que ele próprio, e que ele agora tinha de encontrar esses desconhecidos, com imensas perguntas a fazer. Não ia ser difícil como missão, mas a nível emocional seria demasiado intenso. Arrependia-se agora de não ter trazido Sekima consigo, mesmo que esta insistisse em acompanhar, para ter alguém que o acalmasse na dura jornada em que entrara.
A viagem fora calma e silenciosa. Como foragido, evitou qualquer contacto humano, desde estabelecimentos até vilas rudimentares que nem sabiam da existência de Nukkenin`s. Todo o cuidado era pouco, considerando que a sua cabeça valia o suficiente para proporcionar uma vida de luxo ao felizardo que o conseguisse capturar. A sua alimentação baseou-se em comida agridoce, suficientemente energética para a longa viagem, e ocasionalmente alguns fungos e fruta comestíveis que variavam a dieta do criminoso. O maior problema era à noite. Desde que embarcou na viagem que não conseguiu ter uma única boa noite de sono. Remexia-se freneticamente no saco-cama, quais bichos a infestarem-no de comichão, com a sua mente a moer sempre a mesma farinha. Tsutao Uchiha, Shin no San, o seu irmão...
Para sua felicidade, chegou ao bosque das Folhas Flamejantes, no qual Uchiha Takeshi se havia refugiado. Fora uma decisão lógica, considerando o quão perto estava da estrutura da Shin no San que o Uchiha explodira e de outras aldeias que não tinham contacto com ninjas. O Imagawa deu um passo em frente, depressa se surpreendendo com o peculiar aspeto da vegetação. O bosque ganhara aquele nome pelas estranhas árvores que nele cresciam, estas de tronco levemente chamuscado e as folhas sempre vermelhas, proporcionando um cenário de que o lugar acabara de sobreviver a um incêndio. Essa era a imagem que os estrangeiros concluíam após a primeira vista, se as árvores não partilhassem todas o mesmo aspeto e as pequenas plantas, que cresciam nas suas raízes ou onde houvesse espaço, se mantivessem verdes como se fogo algum tivesse passado por ali. Como Imagawa, nunca vira fenómeno como aquele, árvores a crescerem naturalmente chamuscadas. O cheiro permanente da floresta era o carvão, mas este era pouco intenso, o que não embaraçava os ocasionais lenhadores ou habitantes das vilas vizinhas que seguiam as suas vidas com naturalidade.
Escondido por entre alguma ramagem vermelha, tentando ignorar o cheiro a carvão ao qual ainda não se habituara, o Akatsuki atentou no diálogo entre um dos viajantes com um lenhador que esforçadamente tentava finalizar aquele escasso tronco chamuscado.
- Ei, Makimoro! – Chamou o viajante na sua voz grossa, acenando com a mão para atrair o olhar cansado do lenhador. O homem pousou o machado, aproximando-se enquanto batia com as mãos uma na outra para limpá-las do carvão das árvores – Já sabes da novidade?
- Passo aqui os meus dias, a única coisa que me conta novidades é o meu velho machado, e a única coisa que tem contado são estas malditas farpas nas mãos! – Apesar da resposta algo agressiva, claramente originada das irritantes dores nas mãos do seu amigo, o viajante não parou de sorrir, aproximando-se tenuemente dele como se as árvores além de chamuscadas ainda tivessem ouvidos.
- Ouve! Parece que um rapazola tomou conta da cabana da floresta! – Sussurrou, fazendo Makimoro erguer um semblante espantado – Não sabemos de onde vêm, mas entrou nela como se fosse tudo dele! Nem prestou as devidas homenagens ao guardião da floresta! O nosso cão protetor não para de ladrar à sua porta, insatisfeito com tanta falta de respeito!
- Adolescentes... – Suspirou o lenhador, virando costas ao viajante e voltando para a árvore que estava tão próximo de abater, agarrando, com alguma dor devido às farpas, o machado pelo cabo – Dá-lhe algum tempo, ele vai acabar por sair. Aquele cão consegue ser tão irritante e persistente que ninguém dura muito lá. – E com um grunhido, retomou o seu trabalho.
O viajante deu uma leve gargalhada, sobreposta pelo som do machado a bater violentamente na árvore e os grunhidos de insatisfação de Makimoro perante uma árvore tão resistente. Aparentemente o viajante não saíra logo dali, continuando a conversar com o lenhador sobre outros assuntos, desinteressantes a Katsu Imagawa e à sua missão. O jovem desrespeitador devia ser Uchiha Takeshi, que conseguiu encontrar abrigo numa espécie de santuário daquele bosque chamuscado.
Com sucessivos saltos ágeis entre as árvores, demorou consideráveis horas a achar o maldito santuário. Aquele bosque podia ser maior e mais confuso do que aparentava. Era complicado orientar-se nele devido ao constante cheiro a carvão e às árvores serem todas demasiado parecidas. Mas, com o luar a atingir o seu pico de luminosidade, Katsu deu com a cabana, na qual estava precisamente o dito “cão protetor” a ladrar incessantemente. O Akatsuki pensou em ignorá-lo, mas aqueles latidos não eram normais... Cada grunhido animal soava como se houvesse um sino na sua cabeça, badalando bruscamente, vibrando cada um dos seus nervos, tomando cada ação incontrolável. Sem justa causa, Katsu começou a sentir-se culpado de algo que não fizera, trazendo à tona todos os pesadelos que todas as noites tinha, Tsutao Uchiha, a maldita Shin no San, o seu irmão... Quando abriu os olhos, suava compulsivamente e estava ofegante, mas o sino na sua cabeça extinguira-se para sua felicidade. Claramente satisfeito pela sensação ter desaparecido, depressa se transtornou ao observar ácido a pingar do seu braço direito, que estava muito próximo a um cão com uma poça esverdeada a borbulhar no lugar da sua cabeça.
Um rosto surgiu à janela, olhando para o cão morto deitado sobre uma mistela de sangue e ácido. Assustado, percebeu pelo reflexo da janela e do luar que alguém o observava por detrás, virando-se subitamente.
O rapaz era igual à fotografia que Gaina lhe dera. Alto, magro mas com um físico bem toneado. Os seus cabelos ruivos pareciam o fogo que se apagara nas cinzas dos seus olhos. A sua cara, de ainda um adolescente que não sabia nada sobre a vida, fitava-o, atento e assustado. Talvez o Imagawa não devesse ter aparecido com a capa Akatsuki, mas agora era demasiado tarde para qualquer correção da primeira impressão que tiveram um do outro. Apesar da morte do cão ainda estar presente na sua consciência, foi com um semblante sério que o Akatsuki fitou o Uchiha. Era tão franzino e tremia como um animal enjaulado, o que poderia sequer fazer? A sua atenção desviou-se do adolescente para uns pergaminhos numa mesa próxima. Desligado a qualquer ação do fraco ruivo, aproximou-se da mesa e agarrou no primeiro pergaminho que veio à mão.
- Quem és tu? Foi Konoha que te enviou para me matar? Algum mercenário? – O tom de voz do rapaz tentava ser grosso e confiante, mas falhara redondamente quando Katsu se limitara a afastar um dos braços do manto e revelar a sua bandolete de Kirigakure com um risco traçado por cima. O movimento pareceu suficiente para que Takeshi se calasse.
À medida que ia lendo, os nervos em Katsu afloravam gradualmente. O documento retratava uma longa lista de nomes, todos eles com o sobrenome Uchiha, com diferentes informações sobre essas pessoas, desde idade, progenitores e outros dados pessoas. No entanto,o que mais interessou ao Imagawa foi o primeiro nome na lista, Tsutao Uchiha, com uma palavra verde à sua frente “Viável” enquanto que a restante lista todos tinham “Não Viável” a vermelho. Pousou a lista e começou a remexer nos outros pergaminhos, procurando pelo seu nome, nunca o encontrando. Vasculhar o seu passado parecia deixá-lo emocionalmente instável, pois estava a ficar irritado por não conseguir saciar a sua fome de saber mais sobre si. Só depois de uns longos minutos é que se recordou que Takeshi ainda estava presente, a fitá-lo assustado. Os dedos do Imagawa pousaram sobre a mesa, batendo nervosamente na mesma.
- Como te chamas? – Foi a primeira coisa que se lembrou de perguntar, embora tivesse bem presente o nome do rapazola.
- Ki...ri...on...yang. Kirionyang....
Aquela resposta idiota provava que Takeshi não tinha cara de saber mais do que aquela papelada. De acordo com Gaina, ele era apenas mais uma das cobaias da organização, uma das poucas que teve a feliz oportunidade de escapar às experiências loucas que faziam nos jovens Uchiha`s. Acalmou o bater de dedos enquanto tentava tornar a respiração menos ofegante.
- E és de que clã, Kirionyang?
- Uzumaki!
Que asneira mais disparatada. Até Katsu conhecia os Uzumaki e Takeshi não tinha nada a aparência de um. Riu-se tenuemente, acompanhado pelo Uchiha que estava nervoso com a situação, sem saber o que fazer. Num movimento veloz, o metal frio de uma Fuuma Shuriken encostou-se em ambos os flancos do pescoço de um adolescente verdadeiramente aterrorizado.
- Eu vou repetir as minhas perguntas e tu vais responder-me com a verdade, porque eu sei quem tu és e posso esmagar-te com um só dedo. Como te chamas e de que clã és? – A irritação continuava a apoderar-se do tom do Imagawa, fazendo o ruivo engolir a seco.
- Takeshi, do clã Uchiha....
Por fim, a verdade. Satisfeito com a sinceridade do rapaz, o Akatsuki guardou a Fuuma Shuriken nas costas, retomando a proximidade com os pergaminhos. Depois de alguns segundos, como se planeasse o que fazer a seguir, virou-se para Takeshi.
- De que organização são estes pergaminhos?
- Shin no San. Uma organização feita exclusivamente por Uchihas. – O seu tom de voz ia diminuindo gradualmente, mostrando insatisfação e desconfiança ao falar sobre o assunto com alguém que não fosse Uchiha.
O Imagawa agarrou num dos pergaminhos, abrindo-o para constatar que nem aquele tinha as informações do seu passado, brincando com ele. O rapazola devia estar com o único pergaminho que o Akatsuki viera buscar, justo o que continha tudo o que ele precisava de saber.
- Soubemos que o complexo da Shin no San de Konoha explodiu e conseguimos chegar até ti num instante como podes ter reparado. Sabemos também que trouxeste alguma...."informação" do complexo antes de desapareceres na noite. Eu estou à procura de um pergaminho específico que tenho a certeza estar na tua posse, rapaz. Dá-mo e eu deixo-te em paz ou eu vou ter de tirar-to à força e isso não vai ser nada bonito....
Takeshi demorou alguns segundos a devorar toda a informação, matutando nervosamente sobre a mesma. Algo relutante, rendeu-se à imensa superioridade de um Akatsuki, retirando o pergaminho em questão do bolso e entregando-o na mão do criminoso.
- Está aqui. Mas antes de dar-to responde-me a uma simples pergunta.
Enquanto o adolescente falava, Katsu abriu o pergaminho, não sabendo o que sentir quando viu uma fotografia sua de quando era mais novo e o nome Tsutao Uchiha como título do largo papel. Fechou-o, cada vez mais instável, aproximando-se em largas e rápidas passadas da porta. O Uchiha teve intenção de impedi-lo, mas reteve-se a tempo de lembrar como aquele homem podia esmaga-lo como uma formiga.
- O meu nome é Katsu Imawaga. Este não foi o nosso último encontro, Uchiha! – Apresentou-se antes de desaparecer na escuridão daquele bosque chamuscado.
Sentado numa árvore relativamente longe da cabana, Katsu embrenhou-se na leitura do documento, absorvendo tudo o que diziam sobre si. De tão submerso e pensativo que estava, nem ouviu a explosão que se sucedeu à sua partida do santuário...