Setsuna, que já estava de pé, voltou a sentar-se e olhou para o marido, na esperança que este tirasse a dúvida. Afinal, ele é que era Sakuragi de sangue e ela apenas casara na família. Ele saberia responder melhor do que ela.
- Quanto a isso… Segundo consta, foi uma sugestão de uma família dita menor para tentar ganhar a paz entre os países e as vilas. Nem sempre houve paz entre as famílias da Kugeka. Aliás, nem sempre existiu a Kugeka. A Kugeka surgiu na altura em que se iniciou o suposto torneio. O objectivo do torneio era decidir assim as influências das famílias entre si para que terminassem as invasões de território e as guerras. Era um objectivo nobre, de facto, e as famílias poderosas não tinham nada a perder. Não iriam perder a sua influência se perpetuassem a boa educação dos seus descendentes. Só que isto se perdeu, como bem sabem… - e a voz do senhor esmoreceu, desiludido com ele mesmo.
- E sempre foram só estas 8 famílias? – questionou a Ayame. Poderia haver algo ali… Algo lhe dizia que poderia estar ali alguma informação. – Digo isto porque há mais que 8 países e, com um objectivo assim, de certeza que, mesmo que não fosse um beneficiário directo, poderia querer tirar vantagem disso.
Kazuhiro encarou a neta por momentos. Ela era perspicaz. Soube a pergunta que deveria fazer depois de ouvir aquilo. Sorriu discretamente, agradado com a característica da rapariga.
- Não, não foram. Aqui devo dizer que a lenda dos filhos da Natureza tem um fundo de verdade. As famílias estavam em guerra. Algumas famílias acabaram dizimadas ainda antes do torneio. Não há muitos registos dos nomes, apesar de haver o registo bélico. Outras foram expulsas do torneio pelas outras famílias por alguma injustiça que considerassem haver. Essas famílias acabaram por perder a sua influência por causa desta decisão e entraram no esquecimento.
O Midori presente interpôs. As outras famílias condenavam as outras se se achassem injustiçadas? Que tipo de injustiças seriam essas? Eles não tinham o direito enquanto envolvidos de julgarem qualquer situação. As opiniões deles seriam tendenciosas.
- Bem, Kazuma… Não posso dizer que reine o bom senso nessas decisões – confessou o avô. Sacudiu a cabeça, como que a separar-se da responsabilidade da ideia. – Dizem que houve quem fosse expulso por não ter descendentes. Por terem equipado os seus descendentes com truques baixos. Até mesmo por terem trazido supostos descendentes com kekkei genkai quando, anteriormente, não havia qualquer registo dessa presença e achavam que eles tinham feito cruzamento de sangue com famílias não influentes. Foi o que aconteceu à última família expulsa. Ainda era eu muito jovem… Teria uns 7 anos, no máximo. Não sabia o que se passava… E não sabia o motivo de ter deixado de ver aquela família, que tinha estado presente no primeiro torneio a que assisti, mas não no primeiro em que tive que participar e que nunca mais marcou presença. Só vim a descobrir mais tarde.
O senhor Sakuragi não precisou de explicar o que eram “famílias não influentes”. Na óptica das famílias nobres, era qualquer família que fizesse o seu pedigree enquanto nobreza descer e, de acordo com Shirou Umehara, ter “sangue de lama”. Naqueles tempos, ainda havia pessoas com uma educação que parara há centenas de anos atrás e eram suficientemente hipócritas para se considerarem a si mesmos como evoluídos.
- Então a família expulsa tinha uma kekkei genkai. Como nós… - murmurou Ayame. Significava então que eles poderiam ter sido responsabilizados de uma possível expulsão dos Sakuragi, caso esta tivesse acontecido. Dificilmente aconteceria agora, tendo em conta as circunstâncias, se é que a Kugeka se manteria. Quanto mais se envolvia com eles, mais se sentia a sufocar num mar de maldade. Talvez as coisas mudassem a partir daquele momento. Esperava que sim, pelo bem das crianças inocentes. Não tinham culpa do negrume do coração dos seus familiares.
- Claro que agora faz sentido o ódio que imperava entre as famílias sobre kekkei genkai. Foi influência daquele velhaco, que estava entre nós desde que me lembro.
As palavras de Kazuhiro alertaram os restantes. Era aquilo que esperavam ouvir.
- Desculpe, mas está a dizer que Kami já cá estava na altura? Quando a outra família ainda estava por cá? – questionou a jovem iryo-nin, surpreendida.
O ancião anuiu lentamente, pensativo.
- Podia ser criança, mas sim, recordo-me de um mordomo que se dava pelo mesmo nome que ele usava e que trabalhava na mansão do Daimyou de Cha no Kuni. Era mais jovem na altura, certamente, mas era ele, daí que nunca tivéssemos desconfiado dele e facilmente ele se infiltrou. Muitos anos a trabalhar para a mesma casa. Há muito que ele plantava sementes venenosas entre nós – pausou por um momento, reflectindo. – Não o posso afirmar porque, como disse, não estive envolvido na decisão, mas ele poderá ter tido algum papel na expulsão daquela família. É uma hipótese válida, analisando o comportamento dele.
Ayame levantou-se de repente, colocando as mãos na mesa com alguma violência. Só depois se apercebera que sobressaltara a família e sorriu de forma embaraçada como que a pedir desculpas.
- Há algum registo dessa família? – inquiriu ela.
O avô gesticulou para Setsuna, que se levantou para procurar um livro que estava numa estante perto de si. Não tardou para encontrar um dossier amarelado, imaculadamente limpo, e estendeu-o ao marido.
- Este dossier foi escrito pelo meu avô, que gostava de manter provas dos acontecimentos. Se existir algo, estará aqui – explicou ele.
Colocou os óculos de leitura, abriu o documento e começou a procurar alguma informação. Sentia a impaciência, a curiosidade e a surpresa sobre os seus ombros. Não podia censura-los. Aquele raciocínio fora até uma novidade para si mesmo. Apesar de não ser muito, não tardou para encontrar o que procuravam.
- Eram representantes de Tanigakure, pelos vistos. Encontrei aqui o registo da justificação da sua expulsão. Pelos vistos, a única filha e descendente da tal família casara com alguém oriundo de uma família pobre, com autorização dos pais. Está inclusive aqui a nota da possibilidade de ser um órfão que procurava estabilidade e dinheiro, algo que seria um tabu na altura. Casar com alguém sem qualquer background era um grande não. Continuando… Tiveram filhos que possuíam uma kekkei genkai, herdada pelo lado do pai, e que só foi revelada à Kugeka aquando da idade de participação do mais velho deles. Pelos vistos, a kekkei genkai lidava com… - Kazuhiro calou-se subitamente. Aquilo era coincidência a mais. Não era possível…
- Querido? Que se passa? – questionou Setsuna, estranhando o silêncio do marido. Aproximou-se dele para tentar ler o que o teria chocado de tal forma.
- Ele... – hesitou. Não sabia se haveria de o dizer. Os olhares penetrantes dos netos forçaram-no a revelar a informação que ficara retida na sua garganta. - Manifestou um poder que controlava vegetação… Como os Midori.

Spoiler:

Mas eu até gostei. Embora não tenhas avançado muito com a história em si, achei essencial considerando o quão infiltrado já estava o Kami na trama. Provavelmente ainda estavam os primeiros Midori a fornicar e o Kami a observar, agradado ahah.

Admito que o final foi o que acabou por me interessar mais. Dá para criar algumas teorias, mas ainda nada em concreto. Acima de tudo, não consigo perceber a obsessão do Kami com a Kugeka...

Continua ^^

Citação :

Bem, sei que esta parte em particular não está grande coisa.

Stop... just stop

Gostei bastante da ideia das famílias serem expulsas do torneio por manifestarem KG's novas. De facto, o ódio contra os portadores de linhagem é um tema bastante mencionado na história original, mas que desapareceu quase por completo no NRPG. (Apesar do verdadeiro problema aqui ser o cruzamento com outras famílias e não a genkai em si)

Ainda me falta muita informação para compreender a tua história e tecer melhor comentário, mas a tua escrita é realmente boa, o ritmo da narrativa flui muito naturalmente e as transições entre diálogo e descrição são perfeitas. Estou curioso por ler cenas tuas com mais acção... não quero dizer que fillers de conversa como este são chatos, apenas estou curioso

Sangues de lama, kek.

Ponto 1, tenho mesmo de ler o que está para trás porque fiquei completamente perdida e não percebi uma boa parte do que li D:
Ponto 2, estes dois fillers que na práctica são só um foram o suficiente para atiçar a minha curiosidade sobre o que já se passou e o que está para vir. Portanto definitivamente vou pôr a minha leitura em dia.
Ponto 3, "sangues de lama" por momentos fez-me questionar porque raio estavas a incluir bestialidade na tua história. Talvez seja altura de ir dormir.

Fico à espera do próximo \o/