Convites
~ A praia ~
- Ayame?
A rapariga, escondida atrás de uma árvore com chakra verde a brilhar-lhe nas mãos, engoliu em seco quando ouviu a voz do sensei. Fora ingénua a pensar que conseguia enganar um médico. E logo aquele médico. Ele provavelmente sentia o cheiro do sangue e ela aproximara-se demais. Acabou por se sentir mal por não ter tido o cuidado de se afastar de todos.
- Ayame, eu sei que estás aí.
- Vai embora. Está tudo bem – mentiu ela. Ela iria resolver tudo sozinha. Não ia causar problemas para ninguém. Aquele Shirou tivera muito atrevimento, mas sabia o que adviria se eles fizessem uma cena.
Ele surgiu de repente à frente dela, utilizando um shunshin, e, agarrando-lhe os pulsos, afastou-os do pescoço que ela tentara esconder com tanto afinco. A rapariga dos olhos verdes ainda tentara lutar contra ele para fugir, mas em vão. A força dele aumentara consideravelmente ou teria sido impressão dela? Ele sempre fora assim tão forte e ela não sabia?
Hikaru olhou para o ainda aberto corte naquela pele de alabastro e o sangue rubro que escorrera e quase lhe manchava o vestido. Sacou rapidamente do seu lenço para lhe limpar a ferida e manteve um pulso dela preso na sua mão, tudo com uma frieza incrível. Ela tentaria escapar-se. Já a conhecia bem para saber que o faria. Sem utilizar qualquer selo, chakra verde surgiu na mão direita dele e ele fechou-lhe o corte devidamente e com mais rapidez que ela conseguiria.
- Quem foi o cabrão que te fez isso? Ou a cabra – perguntou ele, rispidamente.
O seu semblante era assustador. A raiva tinha-se apoderado subtilmente dele; o homem que sempre fora tão controlado. Dava para reparar pelas sobrancelhas, pelos olhos raiados e até pela falta de expressividade. Aquele ambiente e a personalidade de muitos deviam tê-lo deixado quase no limite do seu controlo e aquela fora a gota de água. O racismo era ridículo, mas ameaçar em público e salvar-se era ainda mais absurdo.
Perante o silêncio dela, ele virou costas para entrar novamente na mansão, pronto a partir os dedos (e a cabeça) do idiota que se atrevera a pisar o risco e levar aquilo mais além. Sabia que ela era uma rapariga capaz de aguentar o sofrimento pela família, mas nunca esperara que alguém se atrevesse a fazer-lhe mal. Ayame não conhecia aquele lado dele.
- Não. Não faças isso. Está tudo bem. Por favor, Hikaru… O que for necessário fazer, fá-lo-ei em campo de batalha. Não vamos descer ao nível dele!
O ruivo parou a meio do caminho e sacudiu a cabeça. Por uns segundos, pareceu sem reacção, completamente estático, para logo depois se desmanchar a rir, ainda sem se voltar para ela.
- Oh Ayame, só tu! Está bem. Tens razão. Tens toda a razão. Vamos mostrar a estes finórios todos que não se devem meter com a minha aluna favorita.
- Eu sou a tua única aluna.
Foi então que ele que ele se virou para ela e agora com um sorriso malandro e os olhos azuis a brilhar.
- E é por isso mesmo que és a favorita. E a melhor. E a mais talentosa.
- Parvo – comentou ela, não resistindo a sorrir. – Vamos voltar. Tenho mais gente para cumprimentar para depois voltarmos para casa. Estou farta de lidar com finórios, como tu lhes chamas. Estou a precisar de voltar a “nós” e depressa.
- Às suas ordens, sua “alteza” – gozou ele, colocando um braço à volta dos ombros dela e recebendo logo de seguida um murro no braço por ter feito tal insinuação, que o obrigou a tirar o braço para o esfregar. Ayame sabia que ele estava a brincar e até se rira, mas não ia aceitar que ele dissesse tal coisa sem pagar por isso.
Ao entrarem novamente no salão, Naomi e Akemi, as duas irmãs e representantes de Yuga, apareceram a correr junto deles. A mais nova parecia bastante entusiasmada e agarrou inclusive a mão da konohanin enquanto falava.
- Ayame-chan, Ayame-chan! Já conheces aqui a vila? – dizia ela.
- Muito mal. É a minha primeira vez cá. Mas porquê? – questionou aquela chamada de íris.
As duas irmãs partilharam olhares de cumplicidado , e a mais velha continuou, com um sorriso:
- A Akemi teve a ideia de te mostrar a vila. Já foste até à praia?
- Praia? Tem aqui disso? – perguntou Ayame, confusa. Achara que a vila ainda ficava a uma distância da praia, mas, pelos vistos, estava errada.
- Claro que sim! Vens connosco! – exclamava Akemi. Ao reparar no ruivo, um gigante ao lado de uma miúda tão pequena, acrescentou: - E o teu irmão também pode vir!
Ayame sorriu e direcionou-a para a pessoa correcta, que estava a falar com um casal a alguns metros deles.
- Este é o meu sensei, querida. O meu irmão está ali.
- Não interessa, podem vir todos! A praia é pública, afinal. Vamos chamar a Satomi e a Misa e a Rina e o Yuji e o Riku! – ela bateu as mãos de contentamento. - Vai ser divertido!
- Está bem, está bem – concordou a kunoichi, sorrindo com a insistência da pequena. – Mas não vim preparada para isso. Não me lembro de alguma vez ter ido à praia.
Naomi e Akemi partilharam novamente um olhar de cumplicidade antes de se afastarem juntas.
- Isso não é um problema. Está prometido então! – disse Naomi enquanto caminhava, também feliz com a situação. Iam agora falar com os outros amigos para combinarem um dia para irem.
Hikaru ficou surpreendido com toda a cena. Afinal, ainda haviam boas pessoas entre a classe nobre.
- Bem, já arranjaste aqui amigas. Muito bem. Parecem boas miúdas.
- Parecem, não parecem? Gostei mesmo delas. E eu raramente me engano em relação às pessoas.
Ele anuiu. Não era mentira nenhuma. Ela tinha um sexto sentido muito bom quanto às pessoas.
Não tardou para que Kazuma se juntasse a eles e lhes perguntasse o que se passava. A mudança de humor naquele salão era notória. Rapidamente lhe explicaram o convite e ele sorriu.
- São boas meninas, de facto – concordou ele.
No meio de todo aquele entusiasmo, logo após as duas meninas Yurioka irem falar com uma jovem alta de cabelos curtos, esta aproximou-se do trio. Era uma rapariga muito refinada, de olhos castanhos e cabelos pretos que lhe batiam pouco abaixo do queixo. Uma beleza no mínimo diferente. Apresentou-se como Rina, a representante de Takigakure, e uma das futuras convidadas das meninas de Yuga para irem à praia.
- É muito típico delas. Elas adoram fazer amigos – explicou a kunoichi de Taki.
Ao contrário de muitos dos presentes, Rina não se vangloriava e parecia ser uma pessoa acessível, um facto que agradou a Ayame. Talvez por vir de um país mais pequeno, pensou.
Conversaram um pouco mais, um pouco sobre assuntos sem importância, mas que revelavam realmente que a impressão que tiveram da jovem não era errada. Antes de iniciar despedidas, Rina acrescentou num tom sério:
- Tem cuidado, querida. Há muita gente aqui que te quer mal. Não é o meu caso, como o teu irmão já sabe – e olhou para Kazuma, que já conhecia do torneio anterior, e esperou um reconhecimento por parte dele antes de continuar – mas…
- Spoiler:
Pois, para não variar, entusiasmei-me a escrever... Por isso tive que dividir em duas partes, até porque ainda não terminei a segunda e estou a alongar-me demais
Daqui a nada posto a segunda parte.