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Isto é oficialmente um filler para começar uma nova saga para Itari e Kentai, revelando ao poucos coisas que aconteceram em fillers passados. Não é necessário ler nada mais antigo, todos os detalhes sobre Itari que sejam precisos saber iram ser apresentados com tempo.
Itari sempre considerara o seu tipo de vida meio peculiar. Desde que se lembrava, sempre teve Kentai a seu lado. Apesar de apenas terem começado a partilhar o mesmo corpo desde há uma meia dúzia de anos atrás, a presença de Kentai sempre foi algo com que Itari podia contar - alguém que lá estava a toda a hora. Devido a isso, Itari conhece Kentai melhor do que qualquer outra pessoa: um indivíduo que se sente roubado da própria vida, e que se sente meio frustrado com o mundo. Alguém que tinha uma visão sobre aquilo que o mundo deveria ser, e que perdeu a chance de a pôr em prática.
Itari sabia muito pouco sobre o passado de Kentai. Tudo o que conhecia eram pequenos fragmentos de informação que este último, por vezes, deixava escapar em dias de maior nostalgia ou dormência. Sabia que Kentai era, originalmente, um ninja médico de Iwagakure. Que durante a sua carreira ninja fôra um estratega pouco ortodoxo mas eficaz, cuja versatilidade permitia ao mesmo ocupar qualquer papel em missões complexas. Planeamento, espionagem, suporte. Kentai nunca fôra o tipo de ninja que se centrava na força bruta, e tinha sempre uma visão grandiosa e vasta das coisas. Como alguém que consegue visualizar uma tela na sua totalidade, em vez de gotas de tinta separadas.
Sabia também, finalmente, que a vida de Kentai acabou no momento em que salvou a sua vida em Iwa. Itari não sabia muito sobre o seu próprio passado. Honestamente, pouco se importava com isso. Mas sabia que Kentai se havia sacrificado para selar os fragmentos de um meteoro que se encontravam alojados no seu braço esquerdo, salvando-lhe assim a vida.
A partir daí, qualquer detalhe é confuso e encontra-se perdido na mente de Itari. Tinha sido adoptado por um vendedor ambulante, e este foi morto um par de anos depois por bandidos. Itari e Kentai fugiram então para Kumo, a vila mais próxima do local do incidente. E aí começou a vida de Itari, desta vez “sozinho”.
-Isto é tudo?
O momento nostálgico de Itari, tal como o silêncio que abraçava a sala, foi interrompido pelo som da voz de um homem na casa dos 40 anos. Itari encontrava-se numa sala fechada, a olhar para o seu próprio corpo que, neste momento, se encontrava sob o controlo de Kentai. Em frente deste encontrava-se uma mesa pequena e, para lá dela, o homem do qual a voz era proveniente.
-Estavas à espera de mais? - Respondeu Kentai.
O homem tirou o seu olhar dos documentos que segurava na mão esquerda para se focar na cara de quem pensava ser Itari. Itari, que se encontrava em forma de espírito e invisível para o homem, sentiu-se ameaçado com o olhar que este envergava - olhar esse que nem era dirigido a ele. O homem, Hyun, e Itari (e por consequência, Kentai) tinham, no final de contas… Historial.
O par não sabia muito sobre Hyun. Sabiam que ele era originário de Iwagakure, e que era o lider do clã Tenjouno: um clã que possui uma familia extensa, composta por vários ramos e sub-divisões. Como tal, Hyun era um homem que, desde cedo, foi preparado para se tornar num líder nato e eficaz. Infelizmente, na actualidade, tudo isso no mau sentido.
Hyun é uma pessoa com recursos quase infinitos. Sabia que pedaços de informação e “favores” tinham muito mais poder do que dinheiro e burocracias. Como tal, desde que tomou a liderança do clã e se viu forçado a mover-se para Kumo, Hyun usara o seu título para se tornar num dos homens mais influentes da vila. Era impossível pisar uma formiga nas redondezas sem que Hyun tivesse conhecimento disso. E isso afectava Kentai de maneiras que Itari não conseguia perceber ou descrever.
-Foste a 4 vilas diferentes. Esperava algo mais… Completo.
-E eu esperava não ter de te ver outra vez. Mas a vida é injusta.
Dois guardas que se encontravam estacionados junto da porta deram um passo em frente, sendo rapidamente detidos e recuando por um ligeiro gesto de mão da parte de Hyun. Kentai sentia-se sempre irritado pela forma indiferente com que Hyun encarava os seus insultos e ameaças - quase como se os encarasse como infantis e patéticos, insignificantes e vazios. Itari sempre havia considerado Kentai como a pessoa mais inteligente que conhecia; alguém com conhecimentos avançados sobre a “psyche” humana, e que era portador de uma capacidade de raciocínio sem competição. Contudo, perto de Hyun e da influência do mesmo, não havia muito que Kentai conseguisse fazer.
Hyun virava as paginas dos documentos, voltando a olhar para os mesmo e ignorando Kentai.
-Suponho que isto chegue. - Suspirou Hyun. O desprezo que o homem demonstrava tocava em nervos que nem Kentai sabia que tinha.
-É tão bom ser reconhecido pelo trabalho árduo. Podemos parar com as dancinhas e falar-mos do que realmente interessa?
-Ah sim, claro. O teu requerimento. Queres ser transferido para Konoha… Bem, de acordo com o pacto entre vilas isso é possível. Afinal de contas, ninjas do teu calibre ainda podem ser considerados como apenas forças militares, já que não possuis ligações políticas ou familiares que te prendam a Kumo, nem deténs nenhuma informação de interesse para a vila. Contudo… - A expressão de Kentai mudou por completo ao ouvir aquela pequena palavra de Hyun. Um rosto que até ali demonstrara uma atitude de gozão e de alguém que se sentia confortável com o fluxo da conversa rapidamente foi substituído por uma expressão preocupada e pálida. Com apenas uma palavra.
-Contudo?
-O processo é tudo menos simples, existe uma fila de espera enorme. Ficarias cá pelo menos… Talvez uns 5, 6 anos, até sequer considerarem o teu pedido de transferência. Mas como é claro, eu posso mais uma vez oferecer-te uma troca… Justa, de serviços.
-Assina seja o que for que tens de assinar, fala com quem quer que seja que tenhas de falar, beija o rabo da merda do Raikage se for preciso. No final desta semana, eu
vou estar fora de Kumo.
Sem perder tempo os guardas reagiram ao tom de voz e às palavras agressivas de Kentai com um avanço brusco, parando apenas ao verem a mão de Hyun levantada e dando-lhes o sinal para saírem da sala. A dupla prontamente acatou as ordens. Em seguida Hyun retirou um conjunto de papéis presos por um clip do interior do seu kimono, atirando-os para cima da mesa.
-A semana passada um dos meus melhores homens foi assassinado a sangue frio. A culpada é filha de uma família de traidores e criminosos. Honestamente, era apenas uma questão de tempo até ela comprometer a segurança da vila. Apenas lamento não a ter parado mais cedo.
Kentai folheava as páginas rapidamente, tentando encurtar o máximo possível aquela interacção com Hyun. A ideia de ter de continuar em Kumo era uma que não conseguia sequer entreter. Infelizmente para ele, mais problemas apareciam ao virar de cada uma das páginas daquela ficha.
-Preferia que metade destas frases não estivessem riscadas.
-Não posso propriamente dar-te informação classificada assim tão facilmente. Nem seria conveniente dadas as tuas intenções de ser transferido da vila, correcto? O que é relevante e essencial está aí. Alguma pergunta?
-Várias. Uma delas é, como é que consegues dormir de noite. Prefiro não saber a resposta. A segunda, o que é que queres que faça com isto? - Inquiriu Kentai, abanando o ficheiro no ar.
-Fazer? Não percebo qual é a dúvida. O alvo é uma nukenin em fuga, claramente perigosa visto que assassinou alguém antes de fugir. É preciso explicar-te o que se faz com traidores?
Mais uma vez, o tom de Hyun irritava Kentai. O mesmo tentou conter-se, mas preferia ouvir exactamente o que o homem pretendia palavra por palavra para evitar deixar detalhes em termos ambíguos que pudessem ser usados pelo homem contra si. Hyun sempre havia usado Itari para missões de captura ou de recolha de informação. Capturar um indivíduo não fugia muito dos pedidos usuais dele.
-Morta ou viva, sim. Conheço o conceito.
-Não falei
nada sobre viva ou morta. O alvo em questão é uma chunnin que numa questão de meses, talvez semanas, poderia muito bem ter-se tornado jounin. E é altamente perigosa. Não posso arriscar a segurança desta vila trazendo-a para cá viva.
Kentai olhou incrédulo para Hyun. Uma simples reunião de boa fé, para confirmar um procedimento que lhe tinha sido prometido, acabou a tornar-se num “debriefing” para um assassinato. Para Kentai, era apenas mais uma prova sobre o tipo de homem que Hyun era na realidade. Mais uma confirmação de que tinha de sair de Kumo, juntamente com Itari,
o mais rápido possível.Por fim Kentai atirou os papéis para cima da mesa, baixando a cabeça em derrosa.
“Vou acabar este último trabalho e sair daqui. Não tenho outra hipótese.” Levantou ligeiramente a cabeça, pretendendo propôr uma última questão a Hyun antes de sair dali.
-Muito bem. Quando é que me encontro com a minha equipa para a missão?
Hyun cruzou os dedos das mãos, parecendo estar a conter um sorriso deleitado.
-Vês mais alguém aqui na sala?
CONTINUA.
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