Fazia apenas um dia. Apenas um dia que Isamu tinha assumido, claramente, que iria estar longe da sua família e iria aproximar-se o máximo possível da organização para manter a salvo a sua família, o seu clã. Tinha sido complicado para Airi dormir, remexia-se entre lençóis procurando o sono, sem sucesso. Até que, quase o sol nascendo, o cansaço venceu e os olhos de Airi fecharam-se. Estranhamente, naquela manhã, ninguém tinha ido até ao quarto de Airi acordar a kunoichi. Limitaram-se a deixa-la dormir. A garota abriu os olhos e sentiu a sua boca seca. Vagarosamente saiu da cama, caminhando ainda mais lentamente, vestindo um casaco para descer até a cozinha. A porta do quarto abriu-se, o silêncio era total. Airi não sabia que horas eram, não fazia ideia se era hora do lanche ou do almoço, simplesmente estava perdida temporalmente. Desceu as escadas e viu o seu pai, Taichi, encostado a janela observando o horizonte, isto é, observando Kirigakure. Airi, silenciosamente, caminhou até a cozinha e pegou um copo de água. Bebia cuidadosamente enquanto focava-se no seu pai. Os ombros, anteriormente altos e positivos, estavam caídos e sem esperança. A ida de Isamu era complicada, ainda para mais para quem não sabia a verdade. Airi tentou dizer bom dia, quando o seu pai olhou, mas limitou-se a sorrir recebendo um sorriso de volta. Foi novamente para cima, de volta ao seu quarto, antes de entrar no mesmo ouviu pequenos passos atrás de si. Era o irmão mais novo Taiti, de cabelo vermelho forte, olhos molhados de lágrimas. - Airi. - Emitiu ele, com a voz trémula.

- onii-chan -  Disse Airi abrindo os braços. O pequeno Taiti correu e abraçou a irmã com todas as forças. Percebera ela, naquele momento, que todos estavam esquecidos dos sentimos do pequeno Taiti, o que deveria estar a sofrer mais. Um pequeno de 6 anos que estava a sofrer bastante, mais do que Airi poderia estar a pensar. - Que se passa? - Perguntou Airi, claramente sabendo a resposta. Mas mesmo assim ficava bem perguntar. Ambos entraram no quarto de Airi e com cuidado Taiti sentou-se na cama, sendo que Airi ficou de joelhos bem perto da face branca do seu irmão mais novo.

- Isamu não vai voltar? - Aquela pergunta era a mais óbvia, mas mesmo sabendo, Airi não sabia como deveria responder. Quão mal faria uma criança saber dos planos do irmão? Ele poderia guardar segredo e acima de tudo ficaria mais calmo. Contudo, por outra parte, Airi sabia que era demasiada pressão para um pequeno guardar tamanho segredo. Limitou-se a respirar, dar o maior sorriso que podia, focando os olhos do seu irmão: Com um ar súbtil

- Ele vai voltar. - Respondeu. Deixando Taiti com uma expressão de quem não estava a perceber mais nada, mas Airi não queria mais falar. Abraçou o pequeno, espremendo a sua cabeça sobre o peito. Sim, era aquela a maneira de Airi demonstrar amor sobre os mais pequenos, esmagar o crânio sobre os seus seios. Soltou o irmão mais pequeno - Vai ali a secretária e na terceira gaveta tem uma prenda para ti. Por te aguentares tão bem e seres um homem grande. - Comentou Airi, sabendo perfeitamente que na terceira gaveta: Estava um chocolate. Taiti também sabia, pois era normal Airi guardar lá doces, sejam qual eles forem, aquela gaveta era dedicada para os doces da kunoichi. Que por vezes sofriam uns pequenos furtos de Taiti.

Taiti num salto colocou-se no chão. Caminhou rápido para a terceira gaveta, sabendo perfeitamente que iria encontrar o chocolate e naquele momento, enquanto caminhava, o coração de Airi parou. Respirou fundo três vezes, pois aquela imagem era sem sombra de dúvida uma imagem forte. Pois antes de Taiti, Isamu já tinha roubado bastantes vezes chocolate e aquele momento tinha começado com Isamu e não com Taiti. O coração de Airi estava apertado, não sabia o que Isamu estava a fazer e esperava que estivesse bem e não estivesse arriscar demasiado a sua vida, a sua valiosa vida. Quando Taiti ia sair do quarto - Pequeno. - Chamou Airi, atraindo atenção do pequeno Nakajima. - Amo-te. - Declarou todo o seu amor, fazendo com que Taiti corasse e saísse ainda mais rápido do quarto. Airi sorriu, eram rapazes, eles reagiam todos da mesma maneira ao amor das irmãs. Era natural, tal como Isamu, Taiti fazia o mesmo. E tal como Taiti, Isamu também tinha o amor de Airi.

As roupas de dormir caíram aos pés de Airi. Num segundo foi do seu quarto até a pequena casa de banho que tinha lá dentro, sim dentro do seu quarto, o banho foi rápido. Em meras dezenas de minutos Airi estava pronta, sabia perfeitamente agora que não faltava muito para o almoço. Não havia sinal da sua mãe e provavelmente teria de ser ela a começar a cozinhar. Saiu do seu quarto, sem colocar uma única vez olhos na Kusanagi, espada que dormia no topo da sua secretária. Desceu as escadas e o seu pai estava agora sentado no sofá, a ler um jornal, com o mesmo ar cansado. A sua barba estava descuidada, a sua apresentação também, aquele não era o pai que Airi tinha conhecido. As aparências eram importantes para o pai de Airi, sobretudo dentro do clã, mas agora estava perdido e rejeitava por completo sair de casa. A kunoichi foi cuidadosamente até ao sofá e olhou por momentos para o jornal, tentando dar algum assunto, para falar pela primeira vez com o seu pai. Tentando fugir ao assunto, Taichi não deixou. - Felizmente não treinaste comigo. - Comentou o líder do clã. Referindo-se ao facto que Isamu treinou com ele e talvez fosse esse o motivo que ele agora estava assim. - Tanta raiva que coloquei naquele coração. - A história que o pai de Airi sabia era que Isamu tinha fugido para conseguir, de uma maneira ou outra, a Kusanagi. O que não era verdade. Mas Airi sentia dentro de si que não poderia contar, mantinha-se calada, ouvindo as lamúrias do seu pai. - Felizmente minha filha. -

- Se tiver de apontar o dedo. - Começava Airi a falar, de olhos sérios, colocados no pai - Apenas tenho de o acusar de falta de tempo para mim. Não treinou comigo e esqueceu-se que era meu pai. - Brincava Airi, mostrando também alguma seriedade. Pois num certo momento Airi foi colocada em segundo plano, foi colocada posta de parte pois Taichi queria que Isamu assumisse a responsabilidade do clã e assumiu a sua educação, pessoal e ninja. - Não me olhe assim. - Respondia Airi a um olhar de gato morte por parte do seu pai. Sinceramente, ela não sabia o que dizer, não sabia o que falar apenas queria alegrar o mood daquela casa, alegrar o seu pai e tentou ser algo que ela nunca tinha sido para Nakajima Taichi: Mandona. - Vejamos, treinou tanto tempo para o bem do clã e um erro de percurso faz com que o enorme Taichi, o ENOOOOOORME NAKAJIMA TAICHI, fique neste estado. - Comentou Airi tentando afastar por completo a ideia que Isamu afastar-se era um grande problema. No fundo era, mas ela nem queria pensar nisso. - Você ensinou-me sobre grandes shinobis, grandes personalidades do mundo que sofreram e foram atrás dos seus objectivos - Taichi tinha o hobbie da história, um historiador nato que procurava sempre contar aos seus mais chegados o quanto era importante aprender com a história. De Jiraiya, Kakashi, Naruto, Sasuke e muitos outros. Eis que agora Airi usava aquele trunfo.

Parece que tinha dado resultado, Taichi estava a sorrir.

A conversa continuou, até que Airi abandonou o seu pai para colocar as mãos na cozinha. Taichi por momentos parou de pensar na miséria que os Nakajima passavam no momento e respirou tentando afogar as mágoas num dos seus livros. Enquanto preparava o caldo para mais um cozinhado da sua mãe Momo, que estava prestes a chegar, um pequeno bater na porta fez-se ouvir. - Sim. - Disse Airi, limpando as mãos a um pano, olhando de imediato para a porta: Colocando-se o mais cordial possível. Do outro lado estava Oda Sadako. Uma das jounins que mais de próximo tinha acompanhado a situação de Isamu, uma das jounins que recentemente tinha chegado perto da confiança do Nanadaime Mizukage. Oda era uma garota bonita, feições sérias, mas mesmo assim bonita. Entrou pela a casa, com a sua educação, levantando uns papeis que tinha na sua mão - O que é isso? - Perguntou Airi.

- Informações sobre Isamu. - Retorquiu.

Airi não queria saber de mais nada, apenas não queria falar ali no meio. Rapidamente encaminhou Oda Sadako até o topo das escadas, mostrando o seu quarto. Oda entrou, ainda com as feições sérias, parando por momentos a olhar para a Kusanagi que ali estava parada. - Bebe alguma coisa? - Perguntou Airi, tentando fechar a porta do seu quarto, o quanto antes para ninguém perceber que estava prestes a falar-se de Isamu. O nome mais complicado de se falar naquela casa no últimos dias. Oda rejeitou, educadamente, a oferta de bebida e rapidamente começou a tirar as folhas para fora do envelope castanho sujo que trazia. A primeira folha mostrava uma carpa, bonita colorida, com alguns detalhes em laranja e azul. Era uma carpa bonita com umas ondas que preenchiam o desenho. Sem palavras, Airi percebeu que aquele pudesse ser a imagem daquela organização.

- Hiretsukan - Era aquele o nome da organização. Um nome que significava Desgraçado e/ou Bastardo. - Eles são uma organização lideradas por uma cara oculta - O que mais metia medo é que aquele monstro Shimpei não era o lider, alguém estava por cima dele, alguém mais poderoso - Eles acima de tudo são contratados por outras pessoas para reaver, roubar, itens valiosos. Itens que se pode trocar por muito ouro, no mercado negro ou em outro lado qualquer. Eles conseguiram, em pouco tempo, reunir um grupo interessante de shinobis. - A questão começava aparecer na mente de Airi, como é que Isamu os tinha conhecido. - Não sabemos onde eles fazem reuniões, não sabemos quantos são, mas conseguimos pelo menos confirmar 6 membros desta organização. 6 membros em que alguns são considerados Nunkenin das classes mais altas. - O nome Nunkenin e Isamu pareciam não conduzir. O olhar de Airi rapidamente perguntou a Oda, se Isamu era considerado um criminoso naquele momento, se naquele momento já se poderia considerar um Nunkenin - Não. - Respondeu Oda friamente, para felicidade de Airi, - Contudo não vai tardar muito. Okashii-sama, por respeito à familia, esta a tentar atrasar. Mas os altos cargos da nossa Kirigakure, atacam constatemente e reprovam a atitude dele no passado dia. - Era de esperar, não tardava e Isamu era Nukenin, tal como ele estava a espera.

Mas aquilo apenas intrigava mais a Kunoichi. Como é que Okashii-sama não sabia do sucedido, qual seria a razão pela a qual Isamu e o seu avô estarem a conspirar longe de tudo e de todos? Era o próximo passo, visitar o seu avô e perguntar razões. Airi precisava de respostas e mal Oda saísse daquela casa, o hospital era o próximo destino.