O sangue subia-lhe às têmporas, a cabeça latejava a cada respiração e as pernas tremiam de cansaço. Escondido pelas folhas de um arbusto Shiro tentava recuperar o seu fôlego, a cavidade torácica expandia-se e retraia-se a cada respiração enquanto transpiração corria pela sua face marcada pelo vermelho da exaustão.
No meio do silêncio três vultos apareceram, as vozes dos pássaros voaram com as suas asas, apanhados de surpresa pelos sunshins dos ninjas. Apenas restava o som do vento que soprava por entre as copas das árvores.
-Ele deve estar por aqui, encontrem-no. – Com esta ordem os três ninjas dispersaram pela área.
“Não posso deixar que me apanhem, tenho o que eles precisam para acabar o exame. No entanto não sei se eles têm o que eu preciso.” –Um sorriso percorreu a face de Shiro. “No entanto acho que não faz mal perguntar. Um, dois, três. Qual deles vou perseguir.”
Num instante os olhos do ninja olharam para a esquerda e o seu corpo voou nesse mesmo instante, levando o seu corpo do pequeno arbusto para a copa de uma árvore.
“Preciso de um ponto de vantagem, e ele não pode estar longe.” –Os seus pensamentos voavam a medida que se movia por entre os ramos, até o seu olhar encontrar quem procurava.
Alguns metros em baixo um corpo movia-se por entre os troncos da floresta, cabelo castanho, casaco branco e uns calções negros. Na sua mão repousava uma kunai pronta a atacar o que se movesse.
“Que o jogo comece.” –Com isto uma kunai voou da mão de Shiro.
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Capítulo 1
O jogo da apanhada
-Shiro! Shiro! –Três pancadas soaram pelo pequeno quarto. No meio da escuridão um raio de sol surgiu iluminando todo o espaço. De pé estava Watanabe Shiro, cabelo branco, piercings e um ninja prestes a acabar o seu treino na academia ninja.
-Shiro! Já estás atrasado, sabes que dia é hoje! –A voz voltou a aparecer.
No meio do seu sono, o rapaz dirigiu-se ao calendário pendurado numa das paredes do seu quarto e por entre os olhos ainda cerrados, o seu cérebro despertou, marcado a vermelho estava aquele mesmo dia, o dia da sua graduação. Como um raio silencioso o corpo do ninja moveu-se pelo quarto, procurando as suas roupas e pondo-as imediatamente sobre o seu corpo acabado de acordar.
A porta de madeira abriu-se violentamente atirando a voz ao chão enquanto Shiro corria pelas escadas abaixo dirigindo-se para a cozinha. Em cima da mesa esperavam-lhe duas torradas e um copo de leite. Levando primeiro o copo á boca, o leite desapareceu num instante e uma das torradas seguiu-se enquanto o rapaz mastigava violentamente.
-Shiro! Devias ter mais cuidado, ou pelo menos avisar que vais abrir a porta. Devias ter mais cuidado com a tua mãe. –A voz que antes parecia zangada tinha agora amolecido, tornando-se numa doce melodia, tão doce como a geleia que cobria o pão.
-Já te preparei tudo o que precisas para hoje, a tua mochila está à entrada. –As mãos delicadas da mulher moveram-se por entre os cabelos brancos do rapaz. -O teu pai já saiu, mas deixou-te uma mensagem de boa sorte para hoje, sabes como ele é, sempre atrasado, faz-me lembrar alguém. –Um sorriso preencheu a cara da mulher, enquanto as mãos teciam o cabelo do rapaz.
-Obrigado. –A voz do rapaz surgiu por entre uma boca cheia de pão.
-Vá, não estejas tão nervoso é só a cerimonia de graduação, a partir de hoje vais ser oficialmente um gennin de Takigakure. –A voz soou cheia de emoção, enquanto as mãos acabavam o topknot no ninja. –Tudo pronto.
Aquelas palavras puseram o ninja em alerta, fazendo-o saltar da cadeira e correr para a porta, na sua boca balançava a segunda torrada. Pondo a mochila as costas, Shiro abriu a porta de casa e saiu a correr.
-Este rapaz é sempre o mesmo. –Soltando um pequeno gracejo, a porta fechou-se encobrindo a mão de Shiro.
O local da graduação tinha sido marcado na entrada da floresta ninja de Takigakure, um imenso de árvores plantadas com o simples propósito de criar um campo de treino real dentro da vila, cercada por vedações a floresta estava sempre restrita e apenas era usada em treinos de ninjas mais fortes. Aquilo já tinha despertado a atenção de Shiro no dia anterior, por que razão estavam os diretores da Academia a marcar uma cerimónia de graduação na floresta de treino. Imensas possibilidades passavam pela cabeça de Shiro enquanto se movimentava pelas ruas de Takigakure.
Minutos depois de ter saído de casa Shiro encontrava-se no sítio marcado, um palco tinha sido montado em frente da entrada para a floresta. Cadeiras preenchiam a frente do palco, onde muitos estudantes já se encontravam sentados. Olhando à sua volta, Shiro tentou procurar um espaço vazio onde se sentar, entre cumprimentos acabou por encontrar um sítio. Shiro não era um rapaz de muitas palavras e era conhecido como mudo na academia por passar grande parte do tempo em silêncio.
O sol já brilhava alto no céu e o ribombar de uma cascata na distância percorria o ar, não o suficiente para abafar os sons dos ninjas que ali estavam e que se sentavam impacientes à espera da graduação começar, mas o aparecimento do diretor da academia foi suficiente para fazer descer o silêncio sobre toda a gente.
Um ninja nos seus quarenta e tal anos assumiu o púlpito colocado no centro do palco improvisado.
-Bom dia a todos e a todas queria começar por dar os meus parabéns a todos os alunos que conseguiram chegar até aqui e que estão a breves momentos de se tornarem ninjas. Vocês todos, aqui presentes são a geração futura de Takigakure e espero que almejem o topo como ninjas, que sirvam a vila e façam o nosso Kage orgulhoso. A nossa vila nunca foi conhecida por albergar ninjas poderosos, mas eu acredito que esta nova geração tenha a garra e a vontade de acabar com essa ideia. E é por isso que hoje no dia da vossa graduação, todos os professores se juntaram para criar um último desafio para vocês, pois este dia simboliza a passagem de mero aluno para o mundo dos ninjas.
Aquela afirmação apanhou grande parte dos presentes de surpresa, Shiro manteve-se sereno, já tinha pensado naquilo durante o caminho para ali, uma cerimónia de graduação é algo burocrático e não fazia sentido nenhum ser na entrada na floresta de treino, algo estava errado e Shiro estava certo sobre isso.
-Tenham calma, o teste que preparamos para todos vocês é algo muito simples e pode ser visto como uma espécie de jogo da apanhada. Por baixo do assento da vossa cadeira vão encontrar um envelope que irão abrir quando eu der a ordem. Dentro desse envelope vão encontra um destes dois objetos. –A mão do instrutor levantou-se mostrando um lenço e a chapa metálica com a marca de Takigakure. –O vosso objetivo é simples, conseguir o objeto que vos faltar e sair da floresta com o vosso símbolo de ninja. No entanto existem limites ao que se pode fazer dentro da floresta. Jutsus ofensivos estão estritamente proibidos assim como jutsus elementais, ou que possam provocar danos severos nos vossos companheiros. Podem iniciar combate corpo a corpo, desde que os danos não cheguem a um ponto muito severo para o corpo do companheiro que estão a enfrentar. Qualquer quebra nestas regras dá direito a uma reprovação imediata e não se preocupem vão estar instrutores espalhados pela floresta a observar. Por fim o vosso objeto tem de estar a descoberto e num local onde possa ser acessível por outros de modo a poder ser roubado. São agora dez horas da manhã, a partir de agora tem seis horas para apanhar e sair o objeto que vos faltar. PODEM ABRIR OS ENVELOPES!
Assim que a ordem foi dada uma nuvem de fumo preencheu o local onde os alunos estavam e assim que se dissipou não havia sinal deles, todos foram transportados por um jutsu de teletransporte para dentro da floresta.
-Que os jogos comecem!