Como ninguém apareceu até agora, cá vai...
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Yuu fechou a porta atrás de si, enquanto admirava o amplo espaço que constituía o escritório do Raikage. À sua frente encontrava-se uma parede totalmente feita em vidro, mas a paisagem não parecia ser muito interessante já que se avistava apenas o pico de uma outra montanha. Ainda à sua frente encontrava-se um sofá negro de 3 lugares, com uma montanha de pêlo castanho no topo.
-Põe-te à vontade.
Sobressaltada pela súbita voz masculina que irrompeu pelo silêncio, Yuu deu por si a dar um leve salto de susto. Do seu lado direito encontrava-se uma larga secretária, atrás da qual se encontrava o seu interlocutor: um homem de tez escura, olhos avermelhados, cabelo loiro muito claro, roupas negras e um colete (que segundo Yuu sabia, era o típico colete que Chuunins e Jounins utilizavam em Kumogakure) de tons claros. Entre os dentes, o homem tinha preso aquilo que parecia ser uma palhinha.
-Erm… - Tentou Yuu começar, mas foi parada quando o olhar do homem se fixou nela.
-Sabes… Se ficas demasiado tempo de pé ainda ganhas carizes. Senta-te. Mas… - Yuu deteve-se. Dirigira-se já para o sofá à sua frente, que parecia ser o único local onde se poderia sentar. – Também não fiques demasiado tempo sentada. Para além de também te poder dar varizes, começas a ficar preguiçosa e ficas obesa. E se ficas obesa…
Yuu já nem sequer escutava o que o homem pronunciava. Limitou-se a abanar a cabeça negativamente e a prosseguir o seu caminho para o sofá. O homem, que começava a desmembrar mais e mais as consequências do estar sentado, estar de pé e ser obeso, havia rodado a cadeira de modo a fixar a janela, ficando o seu olhar longe da rapariga. Esta, por sua vez, quando se sentiu no sofá, apanhou novo susto. Mal o seu peso se abateu sobre o couro negro do sofá, a montanha de pêlo que até agora estivera muito quieta moveu-se e ameaçou-a com uma fileira de dentes pontiagudos e afiados, e um hálito de cair para o lado. Com este novo susto inesperado, Yuu caiu do sofá abaixo.
-Fumikiri, pára de te meter com a menina, possas! Qualquer dia essa tua mania de assustar pessoas vai fazer com que alguém tenha um ataque cardíaco. E se alguém tiver um ataque cardíaco…
-Será muito incómodo pedir para falar com o Raikage? – Cortou Yuu, começando a ficar irritada com tudo aquilo. Seriam todos os habitantes de Kumogakure assim tão desaparafusados?
-Raikage-sama? – Inquiriu o homem, ficando com o rosto neutro. – Anda algures por aí, a espairecer.
Yuu bufou.
-Disseram-me que ele precisava de falar comigo.
-Qual é o teu nome mesmo? – Inquiriu ele, olhando para ela desconfiado.
-Yuu. Tenjouno Yuu.
-Aaaah… És filha daquele homem que veio da Vila da Pedra, certo? – Yuu anuiu. Entretanto o homem levantara-se e acercou-se dela.– Podias ter dito mais cedo. Eu sou Omoi, e vou ser teu sensei provisório enquanto andares por aqui.
Yuu aceitou a mão que Omoi lhe estendia, levantando-se com alguma dificuldade. Olhou novamente para o ‘animal’ de nome Fumiki, uma espécie de texugo gigante, e este já tinha o focinho a descair da borda do sofá, os olhos fechados e uma expressão leve. Agora até parecia inofensivo.
-E para começar em beleza… - Omoi retirou um pergaminho da sua bolsa de armamento básico e desenrolou-o à frente do rosto de Yuu, mostrando-lhe o seu conteúdo.
-Uma… Missão? – Omoi acenou afirmativamente, enquanto Yuu começava a entrar em pânico. – Mas ainda agora aqui cheguei! E… E… E não tenho experiência nenhu…
-Shh! – Omoi tapou-lhe a boca. – Nada de ‘mas’. Vens e ponto final, ordens superiores.
-Excelente. – Bufou Yuu, enquanto se virava de costas para Omoi. Quando o fez, viu à sua frente a mesma velha que encontrara naquela mesma manhã, a caminho do local onde se encontrava agora. Sentiu o seu corpo ser percorrido por suores frios. – O que é que ela faz aqui?
-Quem? – Omoi olhou para o local para onde Yuu estava virada, e em seguida olhou em volta pelo resto da sala.
-Aquela! – Disse Yuu, apontando para a velha que rasgou um sorriso trocista e satisfeito.
-Se estás com alucinações, deves ter apanhado demasiado sol. – Disse-lhe Omoi, pousando-lhe uma mão na cabeça. – Vamos lá embora.
E com isto, abriu a porta e saiu, deixando-a aberta para que Yuu pudesse fazer o mesmo. Mas a rapariga ficara no mesmo local, olhando inquisitoriamente para a velha. Estaria Omoi a aldrabá-la, ou realmente não conseguia ver aquela mulher? Tentando ignorar a figura da velha, que cada vez mais a perturbava, Yuu começou a afastar-se para perto da porta ainda aberta. Vendo que a velha não fazia menções de a seguir, a jovem começou a correr e fechou a porta atrás de si.

Yuu descia apressadamente as escadas que ligavam o escritório do Raikage ao exterior, fazendo os possíveis para acompanhar as passadas largas de Omoi. Ocasionalmente ia olhando para trás, ainda preocupada pela velha que parecia assombrada. Quando já se encontrava perto da porta que dava para o exterior, Yuu pensava que ficaria mais calma por não voltar a ver sinais daquela estranha mulher. Mas, pelo contrário, parecia ter ficado ainda mais inquieta.
-Bem, agora ficas por tua conta.
-Ãh? – Yuu mal teve tempo de reagir quando Omoi, sem sequer olhar para ela, lhe atirou o pergaminho com os detalhes da missão para a mão. – Mas… Sozinha?
-Duh… - Yuu continuava a olhar para o Jounin de forma incrédula, enquanto ele retorcia a ‘palhinha’ na boca. – Quero ver como te desenrascas sozinha. Se eu for contigo as coisas perdem piada.
-Mas… Eh pah. - Yuu bateu com a mão na testa, sentindo-se incompreendida. – Como é que é suposto eu… Encontrar o tal estudante que fugiu com o Livro dos Kages, quando nem sequer vocês Jounins conseguem fazê-lo, hmm? – Inquiriu ela, após ler por alto as palavras inscritas no pergaminho.
-E quem disse que não conseguíamos? – Disse ele, agora com os dedos das mãos entrelaçados por trás da nuca, virando o rosto lentamente para a kunoichi. – Para gente como eu uma missão dessas faz-se a brincar, porque é que achas que tem um rank tão baixo? Jeesh, vocês Gennins estão cada vez piores… Até parece que nunca na vida realizaste uma missão do género. – Omoi calou-se por momentos, e o seu rosto esbugalhou-se quando a rapariga abanou a cabeça num sinal negativo. – Oh, bonito…
Yuu revirou os olhos, vendo-se em seguida obrigada a, novamente, aconchegar a gola da capa para mais perto do pescoço. Apesar de o dia já ter avançado ligeiramente e de o céu já se apresentar um pouco mais limpo que antes, a diferença que se notava no frio era quase inexistente. Perguntava-se como raio Omoi conseguia andar só com aquelas roupas…
-Bem, problema teu. – Finalizou Omoi, voltando costas à rapariga novamente. – Não te metas é em problemas, porque se te metes em problemas…
-Sim, como queira. – Cortou Yuu, começando a ficar irritada com todo o pessimismo daquele homem. – Diga-me só por onde devo começar.
-Hmm… O miúdo encontrava-se na câmara de Kumogakure à coisa de 15 minutos atrás, mas duvido que ainda esteja lá sentado à tua espera… - Yuu revirou os olhos de uma vez. – Bah, não interessa. Pensa como um miúdo pequeno, de certeza que vais chegar a uma conclusão.
Yuu ia começar a protestar, mas nesse momento Omoi desapareceu envolto numa nuvem de fumo esbranquiçado e poeira. A jovem ficou parada durante algum tempo, a olhar para o local onde antes se encontrara o Jounin. Não demorou muito até um novo suspiro se soltar dos seus lábios.
-Muito bem, pensar como um miúdo pequeno… Não deve ser tão complicado quanto isso.- Murmurava ela para si própria, enquanto desenrolava o pergaminho com os detalhes da missão.
Enquanto relia com atenção as palavras inscritas no papel amarelado mais uma vez, Yuu tentava pensar no que deveria fazer a seguir. Não podia tentar pensar como um miúdo: pelo menos não como um miúdo normal, já que a sua vivência era completamente diferente do rapaz que procurava (ou pelo menos era isso que ela calculava). Passara toda a sua vida fechada em casa, e quando não estava lá encontrava-se nos terrenos circundantes. Parecia que, afinal de contas, o ter vivido segundo as leis do seu clã e dos seus pais acabava por a prejudicar em vez do inverso.
Tentou relembrar-se dos treinos com o seu avô, mas não se lembrava de ele alguma vez lhe ter dito como encontrar um miúdo fugido. Afastando então o avô dos pensamentos, tentou encontrar outra solução. Que deveria fazer a seguir? A sua corrente de pensamentos foi interrompida por algo a agitar-se junto das bainhas dos seus corsários. Ao dirigir o seu olhar para baixo avistou um pequeno cão, de rabo curto a abanar alegremente, com pelo negro e olhos chorosos. O animal ainda a farejou durante algum tempo, mas mal o bicho detectou os olhos de Yuu tocarem-no, fugiu. Yuu observava-o a fugir quando algo invadiu a sua mente.
-É isso! – Exclamou ela, batendo com a parte inferior do seu punho direito (que ainda segurava o pergaminho) na palma da mão esquerda.
Dirigindo-se para a Câmara de Kumogakure, Yuu não pôde evitar rir-se de si própria. Como pudera não se lembrar imediatamente de algo tão óbvio?
Ao ver aquele cão, que a cheirava freneticamente numa tentativa de reconhecer um odor que, para ele, era completamente novo e desconhecido, Yuu lembrou-se dos cães usados para rastreamento. Segundo se lembrava, esses cães seguiam o odor daquilo que buscavam para o conseguirem encontrar, e para o conseguirem fazer necessitavam de uma amostra desse mesmo odor que deveriam seguir. Yuu não tencionava de modo algum tentar seguir o rapazinho pelo cheiro. Mas era bastante provável que conseguisse encontrar indícios que lhe indicassem para onde ele tinha ido na Câmara de Kumo. Ou, pelo menos, algo que lhe permitisse identificar o rapaz caso o avistasse. De qualquer das maneiras, parecia-lhe que a sua primeira paragem deveria ser, sem qualquer sombra de dúvidas, o último local conhecido onde o rapaz estivera.

Yuu olhou em volta, sentindo-se mais perdida que antes à medida que tentava encontrar no mapa o local em que se encontrava naquele momento. A passagem pela Câmara de Kumogakure havia-se revelado uma desilusão quase total. Ao contrário do que esperara, não encontrara qualquer prova física de que o estudante passara por lá. No entanto, um homem baixo com cabelos grisalhos que se encontrava na Câmara de Kumogakure naquela altura deu-lhe uma descrição superficial do último rapaz que passara por ali e arranjara-lhe um mapa da vila, de modo a que ela pudesse ter uma melhor ideia de onde se encontrava e para onde se deveria dirigir. No entanto, agora que se encontrava parada no centro do mercado com o mapa na mão, parecia-lhe que aquele pedaço de papel não lhe valeria de muito. Olhou mais uma vez em volta, procurando algo que a ajudasse a localizar-se. Cansada, Yuu sentou-se na borda de uma pequena fonte que se encontrava ali perto, e que parecia estar seca há já alguns anos. Pelo ar daquele local, podia assumir que se encontrava numa das zonas mais pobres de Kumogakure. Tal fazia com que uma fonte sem água não parecesse tão inadequada quanto isso.
Olhando em volta, sentindo a sua visão já ligeiramente turva devido à fome que a invadia lentamente, tentava novamente perceber o que deveria fazer a seguir. Nem sequer sabia se o rapaz era daquela zona. E não se queria atrever a perguntar a quem passava, já que a descrição que lhe havia sido dada era demasiado vaga. Yuu suspirou. O aborrecimento começava a tomar conta do seu corpo, à medida que as suas hipóteses se esgotavam diante dos seus olhos.
-Talvez não seja má ideia procurares junto da academia...
Yuu sobressaltou-se. Sentada à sua beira encontrava-se novamente a mesma velha que a abordara de manhã quando saíra de casa, e que havia também aparecido no escritório do Raikage. A mesma velha que Omoi não conseguira ver.
-Não te assustes menina... - Sossegou-a a velha, olhando em frente. - Como te disse de manhã, apenas quero ajudar.
Yuu não respondeu, limitando-se a dirigir o olhar para o seu colo. Já começara a dobrar o mapa, de modo a que este encaixasse na sua bolsa de armamento básico. Apesar das palavras calmantes da velha e do seu olhar calmo, não conseguia tranquilizar-se.
-Como poderei não me assustar? - Contrapôs Yuu, sentindo o seu braço arrepiar-se quando o ar frio de Kumogakure penetrou pela pequena abertura da sua capa. - Aparece-me do nada... E pelos vistos sou a única que a consegue ver...
A última sentença de Yuu parecia confirmar-se cada vez mais. Enquanto algumas pessoas passavam pela rapariga olhavam-na confusas, provavelmente procurando o motivo pelo qual a rapariga falava sozinha.
-Quanto a isso não te posso esclarecer, pelo menos não já. - Disse a velha, sorrindo ao de leve. - Hás-de descobrir por ti própria. Mas devias preocupar-te em encontrar o rapazinho, julgo eu...
-Sim, o rapaz... - Lamentou-se Yuu, batendo com o mapa (que ainda não havia guardado) na testa. - Mas não faço ideia do que fazer a seguir.
-Tenta procurá-lo em locais que ele frequente.
-Como? Não sei nada sobre ele... - Lamentou-se Yuu, olhando fixamente a velha. Esta mal se movia.
-Sabes que é um estudante da academia. Como tal, faz sentido que vás procurar na...
-Academia... - Concluiu Yuu, afagando o queixo enquanto o seu rosto segurava uma expressão ausente. - Mas e se ele não estiver lá?
Quando Yuu moveu o seu rosto em direcção ao local onde a velha se encontrava, esta já lá não estava. Yuu ergueu uma sobrancelha confusa, enquanto tentava compreender o que se passava ali. Em Iwagakure não aconteciam esquisitices destas...
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Yuu observava o céu limpar-se lentamente, enquanto o vento lhe fazia cócegas no nariz. Encontrava-se sentada sobre um muro alto, e desse local conseguia avistar perfeitamente a entrada da Academia, bem como monitorizar discretamente quem entrava e quem saía. Mal chegara ao local deu uma volta completa ao edifício, mas nem sinal do miúdo ladrão ou do próprio Livro dos Kages. Mas, tal como a velha lhe dissera, o rapaz era um estudante da Academia. Assim sendo, mais cedo ou mais tarde teria de comparecer naquele local. E Yuu já se decidira: enquanto não o avistasse, não arredaria pé daquele muro. Independentemente do tempo que levasse.
-Oi! Posso saber o que fazes aí em cima?
Yuu dirigiu o seu olhar para o fundo do muro, procurando o seu interlocutor. Lá em baixo, não maior que um caniche médio, encontrava-se aquilo que aparentava ser um dos professores da Academia. Yuu sentiu uma onda de calafrios percorrer a sua espinha: com certeza estava metida em sarilhos. Por momentos considerou a hipótese de se levantar rapidamente e fugir do local, mas receou que isso ainda piorasse mais as coisas para o seu lado. Assim sendo, decidiu que talvez fosse melhor descer e explicar a situação ao homem lá em baixo.
Gritando um aviso para que o homem se afastasse, Yuu deixou-se cair do muro em direcção ao solo, aterrando delicadamente na poeira que cobria o caminho. Enquanto se recompunha do salto, tentava arranjar modo de explicar ao homem que se encontrava à sua frente o porquê de se encontrar naquele local.
-Então? Posso saber porque estavas ali em cima? - Inquiriu o jovem com uma voz autoritária, olhando desconfiadamente para a inexperiente kunoichi.
-Peço desculpa. - Perdoou-se Yuu atabalhoadamente, enquanto uma expressão embaraçada acompanhou a cortês e ligeira vénia que apresentou ao professor que tinha em frente a si. - Sou Tenjouno Yuu, cheguei há pouco tempo à vila. Estou em missão, por isso é que me instalei ali em cima.
A acompanhar estas palavras, Yuu estendeu ao Chuunin o pergaminho que continha os detalhes da sua missão. Enquanto este o lia por alto, Yuu entreteve-se a observar mais atentamente os longos fios amarelados que lhe escorriam pelo rosto, vindos do seu couro cabeludo, que lhe escondiam parcialmente um par de olhos escuros. Agora que se encontrava no solo, Yuu reparou também que o homem era muito maior que um caniche médio: de facto, não se espantaria se lhe tivessem dito que ele possuía o dobro da altura dela.
-Nesse caso eu é que peço desculpa. - Disse o homem, desta vez num tom claramente mais cordial e ameno. - Não tinha conhecimento que um dos estudantes havia causado um incómodo desses. Se tiveres uma descrição pode ser que te consiga ajudar...
-Hmm... Suponho que seja um rapazinho baixo, de cabelo e olhos escuros, pele muito clara, usa uma espécie de boina cinzenta, casaco branco, calças azuis... - Recapitulava Yuu, tentando recordar-se com precisão da descrição que o homem na câmara de Kumogakure lhe havia dado. Para seu espanto, o Chuunin à sua frente soltou uma gargalhada. - Qual é a piada?
-A piada... É que não estás à procura de um rapaz, mas de uma rapariga! - Esclareceu o shinobi, lutando por não se rir. - Yowai Shio. Apesar de ser bastante jovem já está na Academia há bastante tempo, e é muito conhecida por se estar sempre a meter em problemas. Se bem que nunca antes houve a necessidade de criar missões por causa dela... - O Chuunin parou por momentos, provavelmente pensando em algo. - Se bem me lembro ela não tem vindo nestes últimos dias, pelo que ouvi dizer a mãe dela está doente. Que dizes de dar um saltinho lá dentro a um dos arquivos? Arranjo-te o ficheiro dela, assim talvez a possas reconhecer caso a vejas.
-Por favor. - Pediu Yuu, com um sorriso de agradecimento.

A jovem kunoichi ia abordando esta e aquela pessoa ocasionalmente pelo caminho, tentando encontrar a rota certa em direcção à rua que estava inscrita no ficheiro de Shio como sendo a morada da estudante. Começava a fartar-se de andar às voltas sem qualquer resultado: a tarde já havia avançado, pelo menos, até meio, e Yuu sentia-se cada vez mais exausta. Ao fixar o rosto sereno que se encontrava eternizado na foto que tinha entre mãos, enquanto percorria mais algumas ruas com aspecto de labirinto, Yuu sentiu o coração afundar-se-lhe no seu peito. Apesar de o Chuunin que a ajudara lhe ter dito que aquela rapariga só se metia em problemas, havia algo no seu rosto que fazia com que Yuu sentisse uma espécie de pena. Abanou a cabeça, tentando afastar esse sentimento para longe. Poderia ser só efeito da fotografia. Aliás, não poderia deixar que nada interferisse com a missão, nem mesmo os seus sentimentos: muito menos quando já sentia que se encontrava tão próxima de cumprir o seu objectivo. Finalmente...
Mais uma esquina dobrada, mas um trausente inocente inquirido sobre onde ficava aquela rua de nome estranho e desconhecido. A cada passo que dava, Yuu sentia que se encontrava mais perto. Estaria realmente, ou seria novamente só impressão sua?
Um grave 'EI' foi lançado ao ar, juntamente com o ruído ensurdecedor de uma pilha de panelas de metal a colapsarem, a embaterem umas contra as outras, amolgando-se mais ainda. Yuu foi atraída pelo ruído, e no momento em que se preparava para o seguir viu aquilo que procurava correr à sua frente: um vulto pequeno, com pouco mais de um metro de altura, com algo debaixo do seu braço direito. Algo demasiado parecido com um livro. Yuu precisou de fazer uso do seu olhar atento por mais alguns segundos para se aperceber de que aquele vulto era, na realidade, a rapariga que procurava desde essa manhã. Poderia, tal como o dono das panelas que haviam sido derrubadas há pouco, ter chamado pela miúda com um berro e começado a correr atrás dela: mas pareceu-lhe que uma abordagem mais discreta e repentina seria mais indicada para a situação que tinha entre mãos.
Enfiando a fotografia da jovem estudante na sua bolsa de armamento básico de modo atabalhoado, Yuu apressou-se a subir para um dos telhados mais próximos. Não só lhe seria muito mais fácil seguir a pequena se o fizesse num plano superior, como também teria mais hipóteses de a surpreender e de não se perder no emaranhado de ruas. No entanto a tarefa não foi tão simples como ela havia julgado: mesmo com a vantagem que encontrara, Yuu tinha alguma dificuldade em seguir Shio. A jovem estudante não só era tão ou mais rápida que a kunoichi de Iwagakure, como também se movia pelas ruas labirínticas com um à-vontade (pelo menos do ponto de vista de Yuu) sobre-humano. Yuu apercebeu-se de que se não apanhasse Shio agora, provavelmente não conseguiria fazê-lo tão cedo. E sabia exactamente como iria recuperar o Livro dos Kages: mas para isso precisava que Shio parasse, pelo menos por alguns segundos...
Shio corria apressadamente por entre as ruas e vielas que conhecia tão bem, numa esperança vaga de ficar totalmente livre de perigo. Olhou várias vezes para trás à espera de ver alguém, e ninguém a seguia. Mas algo no seu instinto não a deixava abrandar. Continua a correr... Apesar de não saber o porquê de tal ordem por parte do seu organismo, Shio limitou-se a obedecer. Já lhe haviam acontecido situações parecidas no passado, e de todas essas vezes acabava por se safar bem quando obedecia aos seus instintos.
No entanto viu-se obrigada a desobedecer ao seu corpo um pouco mais à frente. Ao dobrar a esquina à sua esquerda, uma afiada e rápida kunai fincou-se no solo, a meros centímetros do seu corpo. Sentiu o seu corpo parar por completo enquanto a sua cabeça perscrutava ansiosamente o espaço em redor, procurando pelo indivíduo que se atrevera a interferir na sua rota. Seria outra vez algum dos rapazes daquele grupo metediço da sua classe?
Mas, para sua surpresa, quem aterrou à sua frente não foi um rapaz, muito menos alguém que conhecesse da academia. Perante a sua pequena e frágil figura encontrava-se uma rapariga pelo menos dez centímetros mais alta que ela, com uma franja longa e de uma tonalidade castanha intensa a emoldurar-lhe o rosto jovem, com uma longa e espessa capa beje a cobrir-lhe o corpo, e uns olhos (que nesse momento eram atingidos de frente pela luz do sol) de uma tonalidade tão clara que se poderia comparar a dourado. Shio não se sentiu minimamente intimidada pela estranha: tinha uma aparência digna de 'não-me-toques', e parecia tudo menos experiente em combate. Mesmo tendo o hitai-ate firmemente amarrado à volta da testa, Shio tinha a sensação de que aquela rapariga não deveria ser muito mais poderosa do que ela.
-Que queres de mim? - Inquiriu Shio num tom autoritário, colocando-se numa posição que lhe permitiria fugir ou atacar rapidamente.
-Sou Tenjouno Yuu, e vim atrás de ti porque penso que tens algo que não te pertence. E quer-me parecer que esse algo está mesmo debaixo do teu braço.
Shio rangeu os dentes enquanto Yuu proferia tais palavras num tom de voz quase neutro e bastante sério.
-E o que é que tens a ver com isso? - Berrou Shio, ainda concentrada na figura à sua frente.
Yuu suspirou, fixando a rapariga de modo intenso.
-Fui incumbida de recuperar esse livro. Peço-te que mo entregues e evites mais problemas.
-Problemas? - Shio sorriu de modo sarcástico. - Não sabes o que são problemas.
Sem mais palavras, Shio arremessou cerca de 4 kunais contra a kunoichi à sua frente. Tendo em conta a curta distância entre elas e a velocidade a que as shurikens iam, era impossível falhar - enquanto constatava isto, Shio sentiu um sorriso vitorioso condecorar-lhe o rosto. No entanto, não esperava que, quando as shurikens atingissem o seu alvo, fizessem com que este se transformasse numa nuvem de fumo. Shio ficou alguns segundos a olhar para o fumo enquanto ele se desvanecia, tentando perceber o que se passava. Antes que pudesse tirar algum sentido do que acabara de visualizar, sentiu algo prender-se fortemente ao seu tornozelo. Quando olhou para baixo, viu-o envolvido por uma luva negra.
Perplexa e incrédula com o que os seus olhos captavam, Shio foi incapaz de reagir imediatamente. E, antes que desse por isso, já estava a ser puxada para baixo. Quando já estava 'enterrada' até à cintura sentiu uma figura abandonar o solo (mesmo por baixo dela), e sentiu o Livro dos Kages a ser-lhe arrancado das mãos. Quando já estava enterrada até ao pescoço olhou para cima, e viu Yuu com o livro nas mãos.
-Mas como...?
-Tive a sensação de que não me irias entregar o livro de livre vontade, e que provavelmente me tentarias atacar de algum modo. Por isso em vez de te confrontar directamente 'enviei' um clone para te distrair, e enquanto a tua atenção e ataque se concentraram nele usei o Shinjuu Zanshu (técnica de decapitação do duplo suicídio). E o resto já tu sabes.
Shio deixou a sua cabeça descair para a frente, claramente abatida. Yuu sentiu um suspiro abandonar os seus lábios, acompanhado por um sorriso cansado e compreensivo para com a jovem estudante. Sabia que provavelmente levara as coisas longe demais ao usar ninjutsu elemental contra uma estudante, mas sabia bem que de outra forma nunca a teria conseguido apanhar. Não com o seu poder actual.