O jogo
A chuva teimava em cair copiosamente. Não que isso a incomodasse particularmente. Trinta e um. Trinta e dois. Trinta e três. Os seus braços tremiam sempre que a rapariga impulsionava o seu corpo para cima, voltando em seguida para baixo, formando um ângulo de 90 graus com os braços. Trinta e quatro. Trinta e cinco. Os seus dentes permaneciam firmemente cerrados e o seu cabelo repousava, encharcado, nas costas, não atrapalhando a série de flexões.
Assim que completou as quarenta flexões, deixou que o seu corpo embatesse contra o chão de relva molhada, de olhos fechados e respiração ofegante. Tinha a ligeira sensação de que no dia seguinte os seus braços iam ficar completamente doridos, mas a ideia de parar naquele momento, não lhe era de forma alguma aliciante. Levantou-se com dificuldade e caminhou até a uma das inúmeras árvores à sua volta.
Esticou os braços, e com um salto, pendurou-se num dos ramos da árvore. Respirando fundo, forçou o seu corpo para cima, fazendo o pescoço subir acima do nível do ramo, voltando de novo para baixo. Ao fim de vinte e duas elevações, deixou-se cair de joelhos, sem conseguir ignorar a dor nos músculos dos braços.
- Estás a tentar matar-te ou és só masoquista?
- Desde quando é que treinar é sinal de masoquismo? – perguntou Aruko em voz baixa, tentando absorver a maior quantidade de oxigénio possível pela boca.
- Quando de livre e espontânea vontade começas a fazer elevações, é porque estás completamente –
Antes de conseguir terminar, foi obrigado a desviar-se do murro desferido pela aluna, que se havia posto agilmente em pé. Recompondo-se, acertou-lhe com um murro no estômago, fazendo-a perder o ar e cambalear para trás. O homem fitava-a com um sorriso triste, não se surpreendendo quando ela voltou a correr na sua direcção e tentou acertar-lhe com um pontapé. Imobilizou a perna dela com a mão e concentrando chakra no outro punho, e acertou-lhe três vezes, fazendo-a embater fortemente contra o tronco de uma árvore.
A morena arfou antes de se deixar cair na relva. A dor no estômago e nas costas fizeram que as lágrimas escorressem dos seus olhos, irritando-a.
- Aruko-chan, – chamou em voz baixa, baixando-se ao seu lado – é normal estares stressada e com as emoções à flor da pele, depois do que aconteceu.
Ignorando as lágrimas, empurrou o professor na tentativa de derrubá-lo, recebendo outro murro no estômago. – Assim não vais a lado nenhum, Aruko-chan.
Lançou-lhe um olhar irritado antes de se levantar com dificuldade. Assim que teve a certeza que não corria riscos de cair a qualquer momento, deu meia volta, começando a caminhar em direcção à saída da floresta. Uma kunai passou de raspão ao rosto da rapariga, cravando-se no tronco da árvore em frente a ela. Olhou por cima do ombro, encontrando Tomoko sentado descontraidamente no mesmo sítio em que ela estivera.
- O teu treino ainda não acabou.
- Acabou para mim. – retorquiu, fazendo-o arquear a sobrancelha, descrente.
Tal como o seu, o cabelo negro e as roupas do homem estavam encharcados, não parecendo incomodá-lo minimamente. Fitou-o com um ar de desafio, fazendo-o sorrir divertido. Antes que ela pudesse dizer o que quer que fosse, Tomoko lançou dez kunais na direcção dela, obrigando-a a concentrar chakra nos pés, antes de saltar agilmente para cima de um dos ramos, de forma a não escorregar.
- O teu treino ainda não acabou – repetiu o moreno.
Levantando-se num salto e começou a atirar uma série de kunais que a obrigaram a saltar de ramo em ramo, o mais rapidamente que podia. Estava a desviar-se da última, quando num piscar de olhos o professor apareceu ao seu lado e lhe deu um pontapé que a fez desequilibrar-se. Bateu no chão com um estrondo, sentindo uma dor aguda atravessar-lhe o braço.
- Não baixes a tua guarda, Aruko-chan. – aconselhou, encostando-se ao tronco da árvore. Ao ver que a rapariga não se levantava, suspirou cansado. – Eu sei que te ensinei melhor que isto.
Mordeu o lábio, impedindo-se de chorar de dor. Ouviu o tilintar de kunais, obrigando-a a saltar agilmente para o cimo de uma árvore, o mais longe do homem de cabelos negros. O seu braço doía-lhe horrivelmente, sendo impossível ignorá-lo. Fitava fixamente o professor apesar da visão estar enevoada com lágrimas.
- Vamos fazer um jogo. – incentivou ele. – Tens que fugir para eu não te tocar.
- E se eu falhar? – questionou com uma voz trémula.
O homem riu divertido – Esperemos que isso não aconteça.
Viu-o levar a mão ao bolso, e retirar uma nova série de kunais. Engoliu em seco, obrigando-se a correr em direcção ao coração da floresta. Concentrou chakra nos pés de forma a ganhar mais velocidade, tentando ao máximo não fazer qualquer som, mas as folhas caídas estalavam sob os seus pés. Segurava firmemente no braço ferido, para se certificar que o movimento não piorava a dor que a percorria de cima a baixo.
O som de passos que não eram os seus, fez com que saltasse para uma das árvores, apoiando-se nos ramos, concentrando-se em manter o fluxo de chakra presente, para ter a certeza que não caía novamente. A sua respiração parecia estranhamente amplificada e a sua garganta demasiado seca. Olhou para trás, para confirmar a sua solidão. Fechou os olhos, tentando regularizar o batimento cardíaco.
- Mais descansada?
Abriu os olhos num ápice, vendo a rapariga do dia anterior saltar de ramo em ramo ao seu lado. Tirou uma kunai da bolsa, atirando-lha de imediato, mas a morena limitou-se a desviar-se com um sorriso sarcástico.
- Também estou felicíssima por te ver.
Aruko saltou para o chão, concentrando chakra nas mãos executando um conjunto de selos. Ninpou, Kirigakure no Jutsu!
Uma névoa densa abateu-se sobre ambas, fazendo-a agradecer profundamente o nível de humidade.
- Achas que isso te vai ajudar? – questionou a outra sarcasticamente. – Se fosse eu, saltava.
Antes que pudesse dizer o que quer que fosse, sentiu o metal gelado rasgar-lhe a pele do rosto, antes de desaparecer de novo na névoa. Sentiu o sangue escorrer-lhe pelo rosto, antes de saltar de novo para o ramo, evitando um pontapé certeiro do professor.
- Eu avisei. – disse a rapariga de cabelos negros, que descansava sentada no ramo ao lado dela. – A névoa denunciou-te. – explicou com um encolher de ombros.
Sentiu o estômago revirar-se. A chegada dela tinha-a feito esquecer completamente o “jogo” de Tomoko. Reuniu chakra na mão até que a espada de água surgiu na sua posse.
- O Mizu Kuri no Yaiba não te vai salvar desta vez.
Ignorou-a, empunhando ainda mais convictamente a arma, o que fez a outra suspirar derrotada. Outro conjunto de kunais, unidas por um fio, foi lançado na sua direcção, fazendo-a saltar no ar e investir contra o local de onde as kunais tinham sido lançadas. Rasgando a névoa com a espada, foi parada com uma espada igual feita pelo professor, que sorria.
Olhou para cima de relance, vendo a outra a observar o combate e a apontar para a direita. O som seco preenchia-lhe os ouvidos, por cada vez que as espadas se encontravam, fazendo-a arfar de cansaço e dor. O sangue libertado pelo corte tocou-lhe os lábios em união com a chuva que caía de forma constante. A ponta da espada desfez-se, assinalando a diminuição da quantidade de chakra que possuia. Levantou a arma no ar e desferiu um golpe em direcção ao corpo do homem à sua frente, vendo-a a ser travada pela mão do professor.
Um golpe firme na parte de trás do seu pescoço, fez com que os seus olhos se abrissem em choque, antes de se sentir cair no chão lamacento. As pálpebras fecharam-se lentamente, deixando-a ver que o ramo da árvore onde estivera, se encontrava agora vazio. O vulto de Tomoko estava parado ao seu lado, destruindo o clone de água, com que ela estivera a lutar, com um golpe rápido. Ele viera pela direita.
![[Treino 5] O Jogo EJWNGUN](https://i.imgur.com/eJWNGUN.png)
Assunto: [Treino 5] O Jogo ![[Treino 5] O Jogo Icon_minitime](https://2img.net/i/fa/icon_minitime.gif){kind=icon}
Sáb 12 Dez 2009 - 22:59
![[Treino 5] O Jogo 853192](/users/2512/15/70/72/smiles/853192.gif)
