Jogo esquecido

Ela pousou a mão na testa do amigo. — Pensei que só era possível alucinar quando tínhamos febre.
— Não gozes, Aruko! — explodiu, afastando bruscamente a mão da rapariga. — Eu sei perfeitamente o que vi! Ela estava AQUI!
— Atsuko, não está aqui nada.
O rapaz afastou-se dela, percorrendo novamente o caminho de terra batida, deixando-a para trás. Aruko suspirou, encostando-se a uma das árvores ao seu redor. Assim que Atsuko acabara de falar, puxara-a de novo recomeçando a correr, sem que desta vez ela o tentasse parar. No entanto, assim que chegaram ao local que ele tinha indicado, não havia corpo, nem sangue, nem ramos partidos devido a uma hipotética luta. Nada. Suspirou, fechando os olhos em concentração. O rapaz não lhe estava a pregar uma partida (ele estava demasiado perturbado para estar a fingir; principalmente se tivesse em conta a péssima capacidade de dramatização do amigo). Mas não havia qualquer sinal de uma luta, e a Aruko duvidava seriamente que a Emi morreria sem tentar, pelo menos, defender-se.
— Como é que é possível teres tão má memória?
A rapariga manteve os olhos fechados, não precisado de os abrir para descobrir a quem pertencia a voz. — Como é que é possível encontrares-me sempre que te apetece?
— É mais fácil do que imaginas.
Ouviu a outra aproximar-se de si. — Lamento desapontar-te, mas neste momento tenho problemas maiores do que te aturar.
— Era tudo muito mais simples se me ouvisses.
Aruko abriu os olhos, fitando a rapariga de cabelos negros, de sobrancelha arqueada. — Muito bem, tens toda a minha atenção. — informou cinicamente.
A outra não pareceu minimamente incomodada com o seu comportamento. Era como se já o esperasse. Com um sorriso leve, escondeu ambas as mãos atrás das costas, antes de estendê-las e, antes que a morena pudesse escolher uma delas, abriu a mão direita. Vazia.
— És má neste jogo. Devia ser eu a escolher uma delas. — argumentou Aruko, revirando os olhos.
A outra suspirou, repetindo o gesto. E outra vez. E outra. Quando já estava prestes a gritar para que ela parasse, ouviu o amigo aproximar-se. Pelos vistos, não foi a única. A rapariga de cabelos negros virou-se na direcção do rapaz, antes de se aproximar da outra, ficando a centímetros do seu rosto.
— Usa o teu cérebro uma vez na vida e lembra-te. — exigiu friamente, frisando a última palavra, antes de desaparecer num piscar de olhos.
A Aruko ficou especada, sem se virar quando o rapaz surgiu ao seu lado. Lembrar-me de quê?!
— Desisto. Não consigo encontrar o que quer que seja. Isto é tão frustrante! Temos que falar com o Tomoko-sensei, e já! Ele vai saber o que fazer. Exacto. — concluiu, mais para si do que para a amiga, começando a andar na mesma direcção por onde viera, parando, quando não a ouviu atrás de si. — Vens?
Durante segundos não obteve resposta, até que a rapariga se desencostou da árvore, caminhando ao lado dele, não trocando qualquer palavra. Apesar de saber que a mente do amigo girava em volta da Emi, não conseguia evitar que a sua se limitasse à conversa com a estranha que lhe era cada vez mais familiar.

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O seu corpo estava gelado devido ao contacto directo com o chão de pedra, mas não tinha qualquer intenção de se mexer. Os seus olhos mantinham-se fechados, numa demonstração da concentração que dedicava a ignorar a dor que lhe dilacerava o corpo. O sabor a ferro devido ao sangue enojava-a, mas uma parte da sua mente já estava habituada a resistir à ânsia de vomitar quando o sabor familiar a visitava. As vozes da sala ao lado ecoavam nos seus ouvidos, permitindo-lhe apanhar palavras soltas. O tema, do que ela acreditava ser uma discussão, era o tempo. Engoliu em seco. Cada segundo que passava, a ameaça era maior, e o tempo que eles estavam a gastar era cada vez mais precioso. Se não recuperassem os documentos e eles chegassem às mãos erradas… Arrepiou-se.
Nesse momento, a dor que a envolvia parecia extremamente agradável, perante a possibilidade de ele agir. Tinham duas semanas, antes que ele tomasse medidas, e o ambiente estava cada vez mais tenso. Abriu os olhos, vendo o quarto vazio totalmente desfocado. Ela ia recuperar aqueles documentos. Independentemente dos meios.

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— Tomoko-sensei!
O homem virou-se para trás, deparando-se com os dois alunos a correrem na sua direcção. Pararam ambos a poucos passos de si, antes que o moreno o agarrasse pelos braços, totalmente ofegante e com ar desesperado.
— A Emi morreu! — gritou, fazendo com que o professor ficasse perplexo.
— O quê?
— Eu estava na floresta a treinar, quando a vi ao longe. Então fui atrás dela para perguntar se ela me podia ajudar no meu genjutsu, que tu sabes que é uma treta. Mas quando lá cheguei ela foi atacada do nada! Eu sei que a devia ter ajudado mas entrei em pânico! Só a vi cair, e havia sangue por todo o lado, e ela gritou, e eu comecei a correr para pedir ajuda, mas depois quando voltámos lá não havia nem corpo, nem sangue, nem sinal que o corpo tivesse sido arrastado, nem havia terra revirada, por isso ninguém a enterrou, nem absolutamente NADA! — explicou o rapaz de uma só vez, sem parar para respirar.
Tomoko olhou para a rapariga que lhe lançou um olhar de “também não faço ideia do que se passa”, antes de fitar novamente o rapaz que parecia ainda mais ofegante que antes.
— Atsuko-kun, acalma-te. Pode ter sido apenas um truque da tua mente. Andas a treinar demasiado. — disse o homem, lançando-lhe um sorriso afectuoso.
— Não foi uma partida da minha cabeça! E não, não estou a alucinar. — completou, deitando um olhar acusador à amiga.
O professor riu-se, antes de se baixar, de forma a ficar à mesma altura do aluno. — Fazemos assim, hoje vou a casa da Emi, assegurar-me que ela está bem. Se tiver acontecido alguma coisa, eu digo-te imediatamente. Ok?
Atsuko pareceu ponderar durante uns segundos, antes de sorrir e acenar afirmativamente com a cabeça, recebendo um sorriso em resposta. — Então está decidido. — concluiu Tomoko, levantando-se. — Agora vocês os dois vão para casa, e tu — acrescentou, apontando para o rapaz — vais deixar de treinar tanto.
O moreno revirou os olhos antes de se despedir e arrastar a amiga em direcção ao restaurante de sushi, deixando Tomoko para trás.

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À medida que se elevava no ar, o vento batia contra o seu rosto, fazendo-a sorrir brevemente. Sempre gostara de baloiços. Não sabia bem porquê, apenas gostava. Durante a sua infância, passara tardes intermináveis naquele mesmo parque, sentindo as mãos da avó empurrarem-na em direcção ao céu. O sorriso esmoreceu com a lembrança da avó, fazendo-a apertar as mãos com mais força contra as cordas e deixar que o baloiço parasse.
Sempre ouvira dizer que era mais fácil aceitar a morte de alguém que amamos se tivéssemos alguém para culpar. Alguém que fosse responsável pelo roubo de uma pessoa que ganhara um lugar único no nosso espírito. Era mais fácil culpar alguém do que simplesmente aceitar que o Universo decidira que era uma boa altura matar alguém aleatoriamente e que, por azar, tinha calhado a quem nos ajudara a seguir em frente. Mas nem isso ela podia fazer. Não tinha qualquer lógica, ela culpar o coração da avó por ter parado subitamente. Não quando ele era a parte que a fazia amá-la.
Desviou o olhar do chão, reparando em duas crianças sentadas no relvado, rindo infantilmente. Uma apanhou uma pedra e escondeu-a numa das mãos, colocando-as em seguida atrás das costas. A morena revirou os olhos. Qual é a obsessão por este jogo?! A outra rapariga fixou-se nas mãos da amiga, assim que esta as estendeu, deliberando profundamente, antes de seleccionar uma delas. Um grito de felicidade escapou dos seus lábios, quando a mão escolhida revelou a pedra, fazendo a amiga rir. Aruko sorriu com a felicidade de ambas.
— Obaachan, escolhe uma mão.
A mulher desviou a atenção do livro, fitando a neta amorosamente, antes de escolher a mão direita. Com um sorriso vitorioso, a morena abriu-a, indicando a sua vitória. — Ganhei!
O riso da avó invadiu-lhe os ouvidos, sorrindo ainda mais, escondendo de novo as mãos, para as estender de imediato. Com um sorriso, a mulher escolheu a mesma mão, obtendo o mesmo resultado. A Aruko fitou-a atentamente, repetindo o jogo, ganhando de novo, devido à mesma escolha da avó.
— Porque que é que escolhes sempre a mesma mão? — questionou seriamente — Assim ganho sempre.
Yoshikazu sorriu ternamente, inclinando-se para ficar à mesma altura da neta. — Eu quero que ganhes sempre, Aruko-chan.
— Mas assim não tem piada! Só é divertido quando estamos as duas a tentar ganhar! Qual é a piada de me deixares ganhar? — contestou, cruzando os braços
Novamente, o riso da avó atingiu-a, antes de se ver envolvida pelos braços da mulher. — Podias inventar outro jogo.
— Mas eu gosto deste. — insistiu infantilmente, recebendo um beijo na testa.
— Então eu vou continuar a jogar.
— Mas vais deixar-me ganhar!
— Yup.
A morena ponderou durante uns segundos. — E se eu só mostrar a mão esquerda?
— Nesse caso, eu não posso escolher.
— Isso não faz sentido nenhum, ‘baachan! — replicou a rapariga, zangada, recebendo um abraço ainda mais apertado, fazendo com que a sua irritação derretesse de imediato. Suspirou. — Sempre a mão direita?
A avó sorriu. — Sempre.
A sua visão voltou a focar-se nas duas amigas, no entanto, o seu olhar rapidamente mudou o seu foco. A rapariga de cabelos negros fitava-a intensamente, com um sorriso vitorioso. Aruko fitou-a, confusa, antes da outra acenar afirmativamente. Sempre.
Saiu do baloiço num salto, como se tivesse recebido um choque. Tinha a perfeita noção que a sua expressão estava hilária devido ao choque, mas não se importava minimamente com isso. A sua mente estava a mil, as palavras ditas há mais de nove anos atrás a ressoarem claramente nos seus ouvidos. Sem pensar duas vezes, virou as costas ao parque, correndo em direcção a casa.
A rapariga com o longo vestido branco viu-a partir, um sorriso vitorioso a habitar nos seus lábios suaves e gélidos.

I love the flashback *_*
muito rapido sim senhora hehe
Do que será que a Aruko, finalmente, se lembrou? *curiosa mor*

muito bom Bru, once again =D

Ei, outro filler tão depressa? Amo Vc! *__*

Adorei!

Coitado do Atsuko... D: Agora pensam que é maluco...

Estou cheia de curiosidade em relação ao que a menina se lembrou. :3
E porque é que esses documentos serão assim tão importantes. :B

Continuaaa! ;3

Epá, acho que perdi uns quantos fillers pelo caminho.
Mas este está muito bom o.o
Então o Flashback.
Mereces uma vénia ^^

Nocas escreveu:

I love the flashback *_*
muito rapido sim senhora hehe
Do que será que a Aruko, finalmente, se lembrou? *curiosa mor*

muito bom Bru, once again =D

Thanks ^^
Eu depois compro-te um chocolate por aturares as minhas crises criativas x]

Tixa escreveu:

Ei, outro filler tão depressa? Amo Vc! *__*

Adorei!

Coitado do Atsuko... D: Agora pensam que é maluco...

Estou cheia de curiosidade em relação ao que a menina se lembrou. :3
E porque é que esses documentos serão assim tão importantes. :B

Continuaaa! ;3

Ando inspirada. O que é raro
Ainda bem que gostaste

Wood escreveu:

Epá, acho que perdi uns quantos fillers pelo caminho.
Mas este está muito bom o.o
Então o Flashback.
Mereces uma vénia ^^

Espero que tenhas percebido minimamente o contexto
Ainda bem que gostaste