A barreira caíra por terra com a morte dos seus pilares, certamente, mas não podia esperar ali até que os seus reforços chegassem, nem pensar. Sentou-se um pouco a recuperar as forças e aproximou a boca da perna ferida. O sabor a sangue invadiu garganta e língua e o travo do ferro fê-lo franzir o cenho. A sua língua converteu-se numa cobra esverdeada e fincou as presas na perna ferida. Sentiu o calor espalhar-se pela perna como alguma peripécia dantesca no mais profundo inferno.
Quando se levantou o sangue pareceu estalar, escuro e rijo, mas pelo menos parara de sangrar. Fechou os olhos numa tentativa vã de descobrir vida, mas nada de similar a humanos habitava as redondezas. Então, ergueu-se da podridão e do ar abafado da floresta para os céus límpidos, até avistar a enorme mansão. Não distaria mais do que dois quilómetros em linha recta. Não era conveniente voar até lá, nem tampouco chamar atenções antes da altura apropriada.




E então, no momento seguinte encontrava-se sobre a copa de uma árvore próxima. Havia actividade, não demasiado longe. Ouvia-o na terra, sentia-o na água e cheirava-o no ar, a frustração, o desinteresse, adrenalina, medo, merda, humanos, em suma.
A desolação do lugar, ou a falta dela era deveras impressionante. A mansão apresentava uma construção velha e ultrapassada, mas não havia tinta desbotada, nem borrões nas paredes pálidas. Fechou os olhos e apurou os restantes sentidos. Meia dúzia de soldados preguiçavam num posto próximo e duas formas familiares aproximavam-se atrás de si. Kaoru e Takashi, certamente.
- É inexpugnável – disse quando os sentiu próximos o suficiente – não consigo imaginar forma de entrar subtilmente.
O Jounin ao seu lado analisou o palacete com um olhar cínico.
- Não é impossível – afirmou – Está guardado a toda a volta, é certo, mas onde achas que têm os Genins, no telhado?
Os olhos vermelhos de Kaoru refulgiram, iluminados por uma compreensão súbita que Selim ainda não atingira. No chão, estava claro, nalguma masmorra e nesse caso seria inútil invadir a casa pelo ar, mas se não o fizessem os guardas tornariam a fuga impossível. O Chuunin de olhos verdes sorriu duma forma reconfortante e um tão quanto perversa.
- Parece trabalho para mim – afirmou – Encontramo-nos onde quer que os Genins estejam, vou recrutar alguns guardas para a causa. – e com isto desfez-se em fumo, deixando-os ás suas escavações e viagens subterrâneas.

O vento exalou o seu poderio sobre as fronteiras da floresta, tornando o vulto de cócoras na árvore numa espécie de clarão brilhante. A cor desapareceu gradualmente até não restar nada, literalmente. Aproximou-se do corredor tipicamente japonês, junto ao riacho onde um guarda olhava os arredores, atento. Agachou-se atrás dele e fez meia dúzia de cobras segurá-lo firmemente, usando uma como mordaça.
- De nada te vale estrebuchar – disse-lhe com um olhar curioso enquanto lhe tirava o capacete, soltando um tufo madeixas loiras, era apenas um rapaz, como ele, não era justo matá-lo ali, ainda tinha tanto para viver – és demasiado jovem para morrer aqui, mas hoje, só hoje, podes ficar nu, só para mim? – inquiriu com o Geass a brilhar ao sol, enquanto voltava a ganhar cor e se ria da própria ousadia, como seria gozado se alguém o ouvisse!
Vestido como um autêntico soldado de manto negro sobre o kimono, o rapaz avançou para o interior do casarão, não encontrando resistência. Encontrou uma patrulha que lhe barrou o caminho, por fim, na direcção das masmorras.
- Alto! Ninguém tem acesso à arena sem a permissão d’O Chefe.


Selim olhou-os, reconheciam-no como um deles e apenas esperavam que lhes mostrasse algo. Fitou-os, preocupado com o que raio quereria ele dizer com arena. As suas memórias mais recentes perpassaram-lhe a mente num fluxo violento, deixando atrás de si um valente abanão mental. Viu o homem observar a arena. Viu aquele a quem chamavam “O Chefe”, um qualquer fidalgote envergando um traje amarelo canário. E por fim, viu a mais recente das memórias. Não teria ainda vinte minutos, talvez. O público sádico aplaudia o início da final
“O que devemos fazer, quando acabar – perguntou o soldado ao fidalgo mais próximo.
- Ora, matem-nos, de que nos servem depois? – inquiriu com um sorriso – calado agora, vai começar.”
Na arena só restava dois Genins, o foragido de Suna, esse Kamui que reconhecia de vista e… Não, não pode ser… Uchiha Hayato.

O único sensor do grupo que guardava o acesso à arena retesou-se assustado. A fúria inundou o rapaz e o seu chakra exalou descontrolado, em borbotões azulados e outros negros, corruptos, desagradáveis até. Com um puxão livrou-se do manto negro que tinha roubado. As suas pupilas pareceram ficar mais finas aos olhos dos soldados, mas com o Geass sobreposto não podiam ter a certeza. O kimono branco esvoaçou, sobre os seus ombros.
- Aquilo no braço dele são… - balbuciou um deles.
“Escamas”, teria dito, mas uma cobra já lhe dilacerara a garganta.
- Como se atrevem – murmurou enfurecido com a katana, Asura, na mão enquanto os outros ninjas voavam sobre ele – Como se atrevem a magoá-los?! – gritou, toda a sua voz gelo, enquanto os soldados passavam através da sua ilusão. Desfê-la e todos eles se acharam do lado errado da sala. – Obedeçam-me, escumalha! – O seu grito ressoou no corredor, juntamente com os passos ordenados dos fantoches humanos.



- Bem bem – parece que a diversão chegou ao fim – exclamou o fidalgo de amarelo berrante – Mat…
Um estrondo ensurdecedor e o corredor de acesso foi invadido por labaredas que lamberam até a guarda de honra da arena. No corredor chamuscado, uma vintena de homens surgiu, desembainhando as espadas num faiscar de estrelas, formando um corredor abobadado. O rapaz de branco entrou, num passo calmo e confiante, com o kimono a flutuar levemente atrás de si, e a sua katana de gumes negros na mão.
- O meu nome é Selim Puraido – declarou – A minha devoção é o domínio, o meu dom a palavra, o meu poder a liderança e a minha força aqueles que amo. – continuou enquanto avançava, vendo os ataques inimigos atravessarem-no – É inútil – gritou – a vossa realidade é criado por mim e vocês obedecer-me-ão!
O líder dos inimigos não parecia perturbado nos seus trajes amarelos, quando lhe perguntou em tom arrogante, enquanto recuava a passos largos.
- E o que temos a temer de ti, Selim Puraido?
O rapaz de branco riu-se.
- Essa pergunta só mostra falta de conhecimento. O vosso erro é assumir que estou só.
Duas mãos envoltas em metal negros ascenderam do tecto e decapitaram dois dos seus guardas, enquanto os seus ataques pareciam passar através dele, uma vez mais e sem hesitar destruiu outros dois. Assustado, o nobre começou a sua debandada, os seus mercenários, cuja lealdade comprara com ouro fugiram e abandonaram-no e no momento seguinte uma lâmina atravessou-o de um lado ao outro. A ilusão quebrou-se e todos recuperaram o seu sentido de orientação.
- Chamam ilusionistas àqueles que iludem os sentidos – sussurrou ao ouvido do nobre moribundo – mas um verdadeiro ilusionista recria a realidade, não a distorce – declarou enquanto o cadáver caía ao chão.
Ao longe, Kaoru desencadeou uma noiva explosão e os alicerces da casa ruíram, afundando-a lentamente e desequilibrando os ninjas que sustinham a barreira, que caiu com eles. Selim saltou para o centro da arena onde Uchiha Hayato se sentava perto de um outro rapaz inconsciente, ao lado. Uma cobra deslizou da sua manga até uma ferida do seu companheiro, trincando-o.
- Foste um herói aqui, Hayato, todos vocês aliás – assegurou-lhe sorrindo – temos de os ajudar a sair antes que a casa afunde demais. – continuou até ver o seu olhar preocupado – não te preocupes, Takashi não permitirá que se usem Genins como reféns, agora vamos, um rasgo de liberdade não fará mal a nenhum deles – assegurou-o enquanto lhe estendia uma mão.

wow, muito bom filler, escrita em alta e um nivel bem agradável de descrições parabens