Shikamaru passou um bom tempo a procurar indícios, mas não encontrou nada que pudesse ajudar-lhe. Não surpreendeu-se contudo, afinal os inimigos que atacaram a casa de sua prima eram excelentes shinobis que escondiam-se com eficiência. Mas pensou por que diabos acabou vendo aquelas duas sombras... elas o tinham visto? Sentido? Haveriam mais? Não sabia dizer. Confuso, balançou a cabeça, esperando espantar as más lembranças e concentrar-se no que realmente importava.
Enquanto isso, Tora estava a acordar, confusa por não saber onde encontrava-se. Olhou ao redor, o local era precário e escuro, algumas velas estavam acesas e percebia-se uma porta mais ao fundo. Procurou seu equipamento ninja, mas ele havia sido retirado. Tornou a examinar o quarto, havia pouca mobília, todas simples. Levantou-se da cama que estava, andou até a porta e tentou abrí-la, mas estava trancada:
- Ah, que ótimo, agora sou uma prisioneira! suspirou.
Tentou lembrar-se do que havia acontecido, mas apenas lembrava-se de estar voltando para casa com Shikamaru... Ah, seu primo, como ele estaria? Fechou os olhos e respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos e achar uma maneira de voltar à Konoha. À medida que foi acalmando-se, recordava-se do que acontecera, mas não de todo. A última imagem que conseguia ter lembrança era a de Shikamaru dizendo-lhe que confiava nela, e levando Nobuo a algum lugar. Tentou forçar um pouco, porém iniciou-se uma insuportável dor em sua cabeça, que a fez gritar em desespero. Ouviu passos e decidiu calar-se, embora a dor fosse imensurável. Os passos aproximavam-se lentamente, e pararam diante da porta ao fundo.
A garota apagou as velas e escondeu-se na escuridão, o que não era problema já que estava acostumada a treinar à noite. A porta abriu-se, mas inacreditavelmente a silhueta que lá estava seguiu exatamente na direção de Tora. Usava uma máscara semelhante às da ANBU, mas com diversos detalhes inexistentes nestas. Saía chakra de uma de suas mãos, que vinha em sua direção. Tentou desviar mas foi inútil: caiu desfalecida nos braços da silhueta, que a levou de volta à cama, trancando novamente o quarto em seguida.
Em Konoha, Shikaku desconfiava onde seu filho podia estar, e dirigiu-se à casa de seu primo Nobuo. Encontrou-o chorando, segurando alguns destroços. Falou em voz alta:
- Um shinobi não deve chorar, Shikamaru.
Ele abriu os olhos, dos quais ainda caíam algumas gotas. Limpou as lágrimas com as mãos, e respondeu-lhe:
- Como vai o tio Nobuo?
- Não desconverse. Você acha mesmo que consegue trazê-la de volta, sendo que sequer a ANBU tem idéia de onde ela esteja?
Ficou calado por um tempo. Seu pai prosseguiu:
- Só quem é cego não enxerga o quanto você ama a pequena Tora, mas agir a esmo, impulsionado pelas emoções, pode trazer mais danos, Shikamaru!
Seu tom de voz alterou-se um pouco. Seu filho encarou-o surpreso, respondendo-lhe um pouco hesitante:
- Eu e a... a Tora? Não Pai, que é isso! Ela é minha prima e é apenas uma criança, é natural que eu... preocupe-me com ela!
Shikaku olhou-o com ar de desdém e comprimiu uma risada. Por fim, falou-lhe:
- Não reprimas este sentimento... mesmo com a diferença nas idades, a Tora quer-te da mesma maneira. Como disse, só um cego não enxerga isto! E torno a repetir, agir por impulso pode trazer ainda mais problemas... Então, eu peço pela Tora: não faças nada desnecessário. Ela tornará à Konoha...
- Eu vou achá-la nem que isso seja a última coisa que faça, Pai! Por minha culpa, ela sumiu. Por minha culpa, o tio Nobuo poderá nunca mais ver sua filha... Se eu tiver de morrer para trazê-la de volta... eu o faço com muito gosto!
- Não sabemos sobre o passado dela, como nem por que ela foi abandonada em Konoha... talvez ela estivesse em perigo, talvez ela tenha algo especial que alguém esteja interessado... portanto não sabemos com quem vamos lidar, se a Tora for especial... viva, ou...
- Não vou deixar isso jamais acontecer! gritou, evitando a palavra final que cortaria-lhe a alma.
- Pois bem, sejas sensato. respondeu-lhe seu pai, afastando-se.
Shikamaru continuou fitando os destroços, completamente desesperançado. Realmente era impossível encontrar pistas, e isso torturava-o mortalmente. Lembrou-se das palavras de seu pai... Seria realmente verdade que Tora gostasse dele como ele gostava dela? Balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos, enquanto repetia mentalmente que aquilo era imaginação dele:
Pare de torturar-se Shikamaru! Não há nada que possas realmente fazer!
Konoha já tinha mobilizado esquadrões especializados em seqüestros, mas não haviam rastros. E o que mais irritava Shikamaru eram as teorias que andavam a fazer sobre o por que terem abandonado a pequena Tora na vila, surgindo mesmo alguns absurdos, como ela ter desertado.
Nesta confusão gerada por seu desaparecimento, a jovem Nara (para alguns) segurava com força um pingente em forma de meia lua preso a um cordão:
- Shikamaru, prometo-te, hei de sair daqui de algum modo! sussurrou para si mesma, com algumas lágrimas equilibrando-se em seus cílios.
- Pequena Amaya? Sinto muito pelas acomodações, mas não temos algo melhor nestes tempos de crise. dizia a pessoa com máscara semelhante à ANBU.
- Não chamo-me Amaya! Chamo-me Tora! E fique longe de mim!
- Não preocupes-te, Amaya-sama!
- Sama? perguntou Tora, visivlmente confusa.
- Bem, é chegada a hora de contarmos a verdade. Estamos esperando apenas a Tsuki-sama terminar de despistar os shinobis de Konoha, afinal apenas ela tem o direito de contar-lhe tudo!
- Konoha é meu lar, seu maldito! - gritou Tora, agarrando o homem mascarado com raiva. - Não deixarei vocês encostarem um dedo em minha família!
- Sua família somos nós, Amaya-sama. respondeu melancolicamente.
Tora, ficou sem reação. Tanto havia sonhado como seria sua família biológica, se seriam inimigos de Konoha, se voltariam atrás dela ou simplesmente não a queriam ou a temiam... Tantas dúvidas que rondaram toda a sua vida, e que podiam ser respondidas em breve... Soltou o mascarado e caiu sentada no chão devido ao choque daquelas palavras:
- Por favor, deixe-me... preciso preparar-me para essa tal Tsuki.
- Hai, pequena Amaya!
- Espere, só mais uma coisa... Se vocês são minha família, teoricamente devem entender a dor de uma separação... Konoha é a minha família. Não faça-os mal. Eles cuidaram de mim. pediu, olhando fixamente algo que apenas ela avistava.
- Isso fica a cargo da Tsuki-sama.
- Como é? virou-se, já vermelha de irritação.
- Ih, tens o mesmo temperamento da Tsuki-sama! Mas nada posso fazer, pequena Amaya!
- Vocês já mandaram o meu pai para o hospital - respondeu lentamente, com uma cara demoníaca-. Eu não vou perdoa-vos!
Deu-lhe um empurrão, mas o mascarado parecia preparado, concentrando chakra nas mãos e apagando-a novamente. Trancou-a falou a si mesmo:
- Gomen, Amaya-sama. É preciso. Tsuki-sama, por favor, volte logo! A pequena precisa saber.