Pausa

Resumidamente, estava morta. Cada músculo, tendão e osso, se unia à orquestra de protesto contra o tratamento que o seu corpo havia sofrido nos últimos tempos. Inspirou profundamente, o rosto contra a maciez da almofada. Ainda só tinham passado três rondas e já estava pronta para ir para casa.
— Pronta para desistires?
Aruko resmungou contra a almofada, fazendo Yori sorrir e desencostar-se da ombreira da porta. Pousou a caixa de primeiros socorros ao lado dela antes de se ajoelhar. O clique do metal fez com que ela virasse o rosto, fitando-o enquanto ele retirava ligaduras e álcool do interior da caixa branca. Sem dizer uma palavra, levantou-lhe a camisola escura até meio das costas. O protesto da rapariga morreu-lhe na garganta, sendo substituído por um sibilo de dor quando o álcool gelado se encontrou com o corte.
Quando o moreno se contentou com o estado de limpeza da ferida, o álcool foi substituído por um creme quente imediatamente acompanhado pela textura da ligadura. O tecido negro tapou de novo a pele descoberta.
— Estás a portar-te bem. — confessou Yori, repondo todos os elementos de volta na caixa.
— Perdi a última ronda de forma desastrosa.
— As primeiras duas contra-balançam.
Aruko sorriu, esboçando de imediato uma expressão de dor quando se tentou virar.
— Se eu morrer por causa disto, vou reencarnar só para te matar. — ameaçou, fazendo-o erguer uma sobrancelha, descrente.
— Se morreres por causa disto, não tens grande futuro como ninja.
Ela revirou os olhos. — Tens um grande talento para me levantares a moral.
— Não precisas de agradecer. — retorquiu, um sorriso de gozo nos lábios.
A morena afundou de novo o rosto na almofada, fazendo-o rir.

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O lápis negro delineou na perfeição o contorno dos seus olhos, aliando-se com a sombra escura. Os lábios gelados tocaram-lhe o pescoço fazendo-a revirar os olhos.
— Lá por tu não levares o teu trabalho a sério, não quer dizer que eu faça o mesmo. — informou friamente, sendo de imediato virada na direcção dele.
A mão calosa rodeou-lhe o pescoço, obrigando-a a fitá-lo. Qualquer réstia de entusiasmo que a situação lhe poderia causar, era anulada pelo facto do seu corpo exigir a adrenalina que só o seu trabalho lhe trazia; que só a caça lhe proporcionava.
— Não penses que és fantástica só porque foste a escolhida.
A ruiva riu, as gargalhadas defeituosas pela falta de oxigénio e a pressão na traqueia. — Eu sou fantástica, com ou sem esta missão.
Os lábios dele atacaram-lhe o pescoço e a mão livre deslizou por baixo do tecido do vestido. As mãos dela afundaram-se no cabelo negro antes de o puxar com violência, libertando a pele alva da boca possessiva. Num movimento ágil, derrubou-o, as suas costas embatendo com o chão de madeira. Ajoelhou-se por cima dele, cada perna de um lado da anca do moreno, as suas mãos pressionando-lhe os braços contra os defeitos do soalho.
— Pareces ter uma ideia muito errada do teu papel nisto. — começou suavemente, o seu hálito embatendo contra a orelha esquerda do homem e o seu nariz acariciando-lhe os fios negros — Tu nãos és especial, tu não és insubstituível. És tão fraco... Ridiculamente fraco. — baixou o rosto até à base do pescoço claro, a sua voz baixa — No momento em que eu me fartar de ti, acabou-se. Tu és o que eu quero que sejas. — sentou-se em cima dele, a excitação por parte do homem mais do que óbvia — Não penses, nem por um segundo, que tens algum tipo de poder. E se alguma vez questionares o meu trabalho — os dentes cortaram-lhe a pele, fazendo-o arquear as costas de dor. A língua dela provou o sangue comum e sugou-o sem rasgo de interesse — vais perceber porque é que eu, ao contrário de ti, sou importante.
Ergueu-se num salto e, sem olhar para trás, saiu do quarto.

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Ajoelhou-se na terra batida, o tecido absorvendo de imediato a cor escura do solo. O nevoeiro insistente perturbava-lhe a visão, mas não o suficiente para ela abdicar da sua visita diária.
Colocou as suas mãos na posição exacta, a temperatura gelada da lápide acalmando-lhe os nervos. Estava perdida há mais de uma semana e tudo aquilo a estava a corroer. Inspirou profundamente, o cheiro a terra acalmando-a. Encostou a testa à pedra, a cascada de cabelo negro protegendo-lhe o rosto.
Disse as palavras que sabia de cor a uma audiência invisível, antes de contar até trinta e se levantar. Sacudiu delicadamente a terra do vestido branco e virou costas ao cemitério sem olhar para trás, o seu cabelo longo aliando-se à dança que a brisa gelada teimava em ensaiar. A pele pálida estava enregelada e o pavimento, agora de pedra irregular, contra os seus pés descalços não ajudava a remediar a situação.
Os seus olhos negros focaram-se no céu acima de si mesma, o alívio que obterá há minutos atrás esvaindo-se a passos largos. Como é que ela a perdera de vista?! Abanou a cabeça. Volta depressa, Aruko-chan.

Nice Filler! Contudo, acho que a segunda parte foi muito.. weird

Tens uma boa escrita and a like it! A relação entre Aruko e Yori é, claramente, muito boa

Continua ^^

Finalmente, estou a par da tua história ^^

Aquela parte final deixou-me a pensar numa nova teoria para a rapariga de cabelos negros...