Na manhã de mais um dia, Kimura alongou-se em frente a sua casa após ter tomado um grande desjejum que sua mãe havia preparado. Estava empolgado em começar, afinal, precisava ficar forte para treinar com seu irmão que havia lhe convidado na noite anterior. Respirando fundo e apertando a faixa em seu kimono, ele começou a correr em alta velocidade pelos becos e ruas de Kirigakure. Pulava, balançava e arqueava o corpo para fugir dos obstáculos. Muitas vezes, quando os obstáculos se tornavam intransponíveis, como uma turba de comerciantes, indo e vindo, nas ruas principais, Kimura forçava seu corpo e, realizando o Shunshin no Jutsu, rapidamente escapava para cima dos telhados, onde recomeçava a correr e saltar. Então, para descer, viu uma calha ideal para realizar uma manobra que há tempos queria fazer. Saltando, ele pôs a mão no início da calha como apoio e só então a desceu em alta velocidade, mas antes de chegar ao solo, pondo os pés na parede e os impulsionando, ele deu um “backflip” e concentrou seu chakra nas solas dos pés, fazendo-o grudar verticalmente na parede oposta. Sucesso. Deixando de concentrar o chakra, Kimura caiu e fez um rolamento no seu retorno ao chão. Então, já ofegante e suado, resolveu não recomeçar a correr e sim, andar até o campo de treino.
Após trinta minutos de caminhada, notou que seu corpo começava a esfriar, resolveu então correr em média velocidade até seu destino. Faltava apenas um quilômetro, o que o fez poupar energia de explosão tomando cuidado em manter a velocidade suficiente para não deixar o corpo esfriar novamente. Graças a isso, percorreu esse quilômetro em cerca de vinte minutos. Assim, uma vez chegando ao destino, largou a mochila no chão, respirou por alguns minutos e logo de dirigiu até os pinheiros secos que usava para treinar seu controle de chakra. Com uma kunai à mão, Kimura concentrou-se há cerca de cinco metros do pinheiro central. Sentiu seu chakra fluindo no seu corpo e só então iniciou a corrida até dar um pequeno salto em direção ao tronco. Controlando seu chakra, acelerando o fluxo e o enviando para as solas dos pés, Kimura conseguiu grudar pé esquerdo na madeira, seguido do segundo passo, onde sentiu escorregar, mas aumentou o fluxo de energia e impediu a queda. Então, após três passos, sentiu que conseguiria chegar mais longe. Cinco. Seis passos. Corria em vertical até subir seis metros, um metro acima do que conseguiu no treino passado. Riscou a kunai no pinheiro, deixando sua marca, só então perdeu o controle do chakra e se precipitou até o solo, onde, para poupar suas juntas na queda, efetuou um rolamento pela lateral.
Tentou por mais duas vezes. Subia em vertical, dava seis passos, percorria os seis metros apenas, então perdia o controle, caía e ao chegar ao solo, rolava até parar. Já ofegante e cansado pelo esforço em se manter na vertical, o que fazia seus músculos abdominais enrijecer e ficassem muito doloridos, resolveu descansar à sombra do pinheiro cujas marcas em seu topo desdenhavam do jovem genin. Aquilo começou a frustrar Kimura. Estava conseguindo, mas à passos lentos demais. E isso o incomodava bastante. Assim, após alguns minutos de descanso, resolveu tentar outra vez. Dessa vez decidiu por fazer isso descalço. Talvez a proximidade de sua pele pálida com o pinheiro facilitasse a subida. Era isso que achava. Então, tomou lugar há cinco metros e correu velozmente com os pés descalços. Chegando próximo, deu um pequeno salto e, concentrando o chakra, cravou os pés e iniciou a corrida vertical. Um, dois, três, quatro passos. Então o impensável acontece. Quase ultrapassando o limite de seis metros, o suor, juntamente com a perda de controle no chakra, fizeram seus pés escorregarem. Não houve tempo para qualquer manobra. Caindo agarrado à grossa pele do pinheiro, Kimura ralou-se todo até chegar ao solo, onde caiu pesadamente.
- AH, MAIS QUE BOSTA! - Reclamou impulsivamente, logo olhando em volta para ver se alguém o escutara.
Ainda se recuperando dos arranhões, seu estômago começa a roncar. Só aí percebeu que já estava quase na hora do almoço. Então, gemendo ao se levantar, ele foi até a mochila, procurou por sua comida, mas não encontrou nada. Só então percebeu que a havia esquecido em casa, em cima da mesa da cozinha. Aquilo fez o sangue ferver no já irritado genin. Não queria retornar, pois ainda teria que treinar pela tarde. Além disso, tinha certeza de que se voltasse, sua mãe iria ocupá-lo com afazeres de casa, então, retornar não seria opção. Precisava se virar e conseguir o almoço. Assim, olhando em volta, não viu nada, mas escutou sons de água há poucos metros dali. Seguindo as pistas, Kimura encontrou um rio raso e de águas límpidas, cheio de pedras de seixo em seu fundo, onde dezenas de salmões saltavam contra a corrente à procura do lugar de sua desova. O genin sorriu pela sorte que os deuses lhe haviam trazido. Seu almoço estava ali, saltitando, como se esperasse que fosse colhido. Então, ainda com um sorriso no rosto, o jovem sacou uma kunai e andou em direção à margem do rio. Achava que seria fácil. Achava. Mas, ao se aproximar, todos os salmões mudaram sua trajetória tão rapidamente que Kimura não conseguiu ver para onde eles tinham ido.
Esquecendo àqueles, Vendo mais salmões subindo o rio, o jovem se posicionou no meio do raso, onde aguardou. Um salmão passou próximo a seus pés, ele rapidamente atacou com sua kunai, fazendo a água espirrar. Mais uma vez o salmão escapara de suas mãos. Notando que com uma kunai ele não conseguiria pegá-los a tempo, resolveu mudar de estratégia. Devolvendo a kunai à mochila, Kimura abriu as pernas e com as duas mãos rentes à superfície do lago, aguardava o momento para pegar algum salmão desavisado. E lá veio um, saltando contra a corrente, parecia não perceber Kimura, então, no momento que achava certo, Kimura velozmente enfiou as mãos na água, mas ambas voltaram vazias. Tentou mais uma vez e não conseguiu. Já estava cansado. Seus braços ardiam do esforço e seus dedos doíam, pois muitas vezes resvalavam nos seixos do fundo. E os salmões ainda nadavam como se caçoassem do humano que os caçava. Mais uma vez Kimura pensou. Uma nova estratégia. "- Olhe o terreno todo..." - Dizia seu pai. Então Kimura viu um velho tronco que boiava à margem. Correndo até lá, o ninja começou a arrastá-lo até onde estava anteriormente. Os seixos não facilitaram sua vida. O tronco enganchava-se e às vezes era levado pela correnteza. Mas Kimura não desistia. Suava e gemia, usando sua força para arrastar o tronco até onde desejava.
Até que conseguiu por o tronco em transversal, estreitando a passagem dos salmões e consequentemente teria mais chance de pescá-los. Mas, ao aguardar atrás do tronco, Kimura percebeu que esses não eram tão acéfalos assim, ao invés de passagem pela passagem estreita criada por ele, eles saltavam velozmente por sobre o tronco. Kimura tentava pegá-los em pleno ar, mas eram muitos escorregadios e rápidos. O genin golpeava no vazio. Era veloz, mas os salmões eram muito mais velozes. O som de seus murros no ar indicava a força que utilizava. Estava cansando. Mas preferia cansar a ter que ficar sem comida. E lá ia ele, seus braços percorriam o vazio com rapidez, mas sempre perdia o alvo por milésimos de segundos. Até que sua insistência foi recompensada. Um dos salmões chocou-se com outro e caiu em cima do tronco. Era um salmão diferente. Ele possuía uma grande mancha negra em seu torso. Kimura estranhou, mas se alegrou, e quando foi pegá-lo, o salmão deu-lhe uma mordida no dedo indicador, tirando sangue e gritos do genin. Desesperado para tirá-lo, Kimura balançou o dedo até que o salmão soltou e caiu de volta na água, fugindo em disparada.
- AH, MAIS QUE BOSTA! - Reclamou outra vez.
Furioso Kimura concentrou seu chakra na sola dos pés e começou a perseguir o salmão que o ferira, utilizando o Mizu no Kinobiri. Ele deslizava sobre as águas mansas à procura do infeliz que quase lhe arrancara o dedo. Patinava, fazia círculos, até que o encontrou. O salmão estava parado contra a corrente. Parecia descansar e ao ver o ninja retomou a natação. Kimura o perseguia velozmente. Não queria outros salmões, queria aquele, só aquele. Os dois deslizavam contra a corrente. O salmão era rápido, mas Kimura, sem obstáculos no caminho, aproximou-se perigosamente. Uma vez dentro do alcance, Kimura sacou algumas senbous e as arremessou com velocidade. As agulhas perfuraram o leito do rio quase não espalhando a água, o que fazia Kimura nunca perder o peixe de vista. Arremessava e errava. Uma, duas, cinco, seus braços ainda reclamavam e as agulhas não conseguiam acertar o animal. O salmão aumentou a velocidade. Kimura, não olhando em volta, apenas para o bicho, também a aumentou. As águas do rio começavam a ficar turvas. Só então Kimura percebeu que, ao nadar contra a corrente, o salmão teria que saltar por sobre uma pequena queda d’água à frente.
- He, he, he, agora te peguei! - Exclamou.
O salmão saltou alto. Estava contra o sol, mas seu salto juntamente com a água espirrada, criou um espetáculo ímpar de luz e beleza. Vindo logo atrás, Kimura concentrou seu chakra no braço esquerdo, fez mira e o esticou à toda velocidade. Seu braço percorreu a diferença entre eles, o salmão estava no ar em pleno salto. Suspense em câmara lenta. Kimura conseguiu pegá-lo enquanto ainda estava no ar. Girando o braço, ele o arremessou até a margem ao mesmo tempo em que girou o corpo por cima da pequena queda d’água para não se chocar. O salmão começou a se debater na margem à procura de água, quase escapando novamente, mas Kimura foi mais rápido, já vinha segurando uma senbou, então, arremessando-a, ele acertou, trespassando o peixe que parou de se mexer instantaneamente. O genin não conseguiu esconder sua alegria, sentando sobre água, ofegante e exausto. Arrastou-se para a margem onde o peixe jazia. Pegou a kunai na mochila e começou a tratá-lo lá mesmo. Seu dedo mordido ainda sangrava um pouco, mas não ligou, estava preparando o almoço. Assim, após vinte minutos, Kimura comia o saboroso peixe com ar de vitória. Mas, pensou bem, já estava exausto, além disso, sua roupa estava toda molhada. Então após comer e cochilar um pouco, ele tomou rumo de volta para casa.
FIM.