Kimura não estava muito a fim de treinar. Havia acordado atrasado e com preguiça. Mas uma força interior o fez cair da cama e se aprontar para mais um dia de treino. Ele correu os três quilômetros do caminho de ida, mantendo a velocidade confortável, médio-lenta, fazendo-o chegar ao antigo campo de treino já aquecido para os exercícios seguintes. Logo jogando a mochila no chão, saltou com destreza, girando seu corpo até alcançar o alto de uma velha mesa de piquenique. Deixando seu corpo cair na horizontal, Kimura pôs os pés apoiados no longo banco de madeira fixo à terra batida. Começou por fazer quinze repetições, seus braços contraíam toda vez que descia e subia. Como seus pés elevados obrigavam-no a forçar mais, conseguiu com todo esforço fazer apenas treze flexões. Descansou por mais um minuto e reiniciou as repetições, onde, forçando e gemendo, atingiu a marca das quinze repetições que faltava.

Ele descansou por mais quinze minutos, quando percebeu a presença de um senhor idoso que, recostado a uma árvore, observava-o sem dizer uma palavra. Kimura estranhou já que sempre treinava sozinho, mas resolveu continuar na esperança de que o velho fosse embora. Então, resolvendo continuar o treino, após alguns minutos, o genin foi até uma trave de metal, com seu travessão suspenso há cerca de três metros de altura e tinha sete metros de largura. Sua superfície estava um pouco escorregadia e enferrujada. Kimura sabia que era perigoso, entretanto, sua impulsividade falou mais alto. Concentrando-se no alto da trave, Kimura dá dois passos para trás e inicia uma corrida rápida até adquirir a velocidade necessária para alcançar a altura que desejava. Seu corpo se enrijeceu e só então saltou até o travessão, onde pousou com certa dificuldade, tentando equilibrar-se, acabou por escorregar e cair, mas antes, conseguiu agarrar-se no travessão com a mão esquerda.

Agarrando-se mais firmemente, Kimura faz força e agarra o travessão com a mão direita. Então, com esforço, ele puxou seu corpo para cima. Concentrando o chakra nas extremidades, o genin conseguiu subir na estreita superfície, onde se dirigiu até a quina esquerda onde se preparou para fazer alguns exercícios de agilidade. Respirou fundo, concentrou-se no que iria fazer e correu por três passos, quando girou o corpo com velocidade, fechando as duas mãos na trave, retornando os pés ao metal escorregadio, aprumando-se. Sentiu dificuldade no equilíbrio, mas conseguiu controlar elevando seus braços para as laterais. Mais uma vez Kimura voltou ao canto esquerdo e mais uma vez efetuou alguns saltos mortais e backflips. Caindo algumas vezes, o jovem ninja subia e reiniciava. Não sabia por que, mas naquele dia Kimura estava mais teimoso do que nunca. Após ter caído algumas vezes, conseguindo alguns arranhões, dessa vez tentou fazer manobras mais longas.

Pondo-se em posição, Kimura correu pela trave. Jogou seu corpo para cima, apoiando as mãos na trave, girando e pousando os pés firmemente, logo repetiu a manobra, Kimura girou e girou, dando repetidas cambalhotas frontais, terminando por girar o corpo trezentos e sessenta graus no ar antes de retornar ao solo, onde escorregou num musgo e caiu estatelado no chão, ofegante e cansado. Seu corpo já doía e seu estômago já dizia que a hora do almoço havia chegado. Então se levantou com dificuldade e começou a comer ramen de carne com fatias de camarão grelhado preparado por sua mãe. O cheiro se espalhava com o vento. Kimura não deixou de perceber que o velho ainda estava lá, parado, olhando o vazio como se esperasse algo que não chegaria. O garoto sentiu-se mal pelo estado do idoso e após alguns momentos de reflexão, aproximou-se e, sem dizer qualquer palavra, dividiu seu almoço num prato que extra que havia trazido, entregando ao senhor. Então, sem esboçar qualquer agradecimento, pegou o prato e comeu. Kimura não esperava pelo agradecimento ou algo assim. Ele então sorriu e retornou ao banco que usava como mesa improvisada.

Terminado o almoço e após alguns minutos de cochilo, o genin reiniciou seu treino. Aquecendo-se com duas sessões de quinze flexões e mais duas de polichinelos, Kimura se dirigiu até o saco de areia que havia consertado após tê-lo derrubado no dia anterior. Estalado os dedos, ele se pôs em posição e começou a esmurrar o saco. Os ruídos de seus golpes acordaram o velho que ainda repousava embaixo da árvore. Socava com a esquerda, com a direita. Chutava com a direita e a esquerda. Seus movimentos repetitivos o deixaram ofegante, mas ainda tinha energia para treinar mais. Terminando as primeiras repetições de golpes, Kimura retornou a sua mochila e retira alguns linquotes de cobre que seu pai comprara. Pelo menos ele não teria que roubar as dobradiças do portão novamente. Assim, amarrou-os nos antebraços e canelas, a fim de dificultar seus movimentos. Só então retornou ao saco de pancada. Havia cerca de dois quilos em cada membro, o que o fazia ranger os dentes para manter os punhos levantados em guarda.

Começou por dar seis murros repetidos, mudando sempre a trajetória. Cima, baixo e meio. O saco de areia balançava pouco, pois os golpes saíam com pouca potência devido a força que gastava para manter a velocidade. Parou por um minuto e voltou a tentar os seus socos. Suor começou a brotar e o esforço a cada soco o fazia inclinar. Até que não conseguiu terminar a sessão, deixando os braços à mercê da gravidade, relaxou-os. Então, após alguns minutos de recuperação, levantou os braços novamente em postura defensiva, mas começou a usar apenas as pernas dessa vez. Tentava chutar a parte de cima, mas não conseguia. Chutava fraco o meio e com um pouco de força a parte baixa do saco. Novamente, os pesos faziam diferença. Porém continuou com a série de seis chutes, seis em cada altura. Descansou e com a outra perna, tentou os outros seis chutes em cada altura, mas não conseguiu completar, caindo exausto no solo. Pôde ver com sua visão periférica, o velho rindo de seu esforço.

"Uma atitude no mínimo deselegante." - Pensou Kimura. Mas sua timidez o impediu de reclamar do comportamento do homem que fitava cada movimento seu. Entretanto, sentiu um frio na barriga estranho. Um pressentimento que se mostrou verdadeiro quando viu dois vultos saírem das margens da floresta. O que se podia dizer era que os dois estavam vestidos com uniformes ninjas e estavam mascarados com figuras kabuki. Um deles trazia uma espada já desembainhada e o outro parecia ter apenas alguns shurikens à mão. Kimura tentou levantar-se rapidamente, mas não conseguiu. Estava cansado e com o peso extra, seus movimentos estavam muito lentos. O velho olhou para os dois e com cara de estranheza deu de ombros e voltou sua atenção para o garoto que tentava levantar-se. Kimura puxou com muita demora uma kunai. Os dois kabukis então partiram para cima dele com insultos e chacotas, ameaças de morte. O genin gelou. Começou a tentar desatar as amarras que prendiam os pesos, mas havia apertado demais. Não conseguiria até que os kabukis chegassem.

Arremessados pelo segundo kabuki, os shurikens cortaram o ar velozmente. Kimura jogou-se pesadamente ao chão, machucando a boca, e logo girou na perpendicular usando o joelho para levantar-se. Tudo muito rápido. O primeiro a chegar foi o kabuki da espada. Usando a lâmina de cima para baixo, visava o ombro do ninja, que, mais como de susto do que agilidade jogou-se novamente para o lado, esquivando-se. Tentou contratacar, mas escorregava a cada passo por causa do peso. Então girou o corpo para trás numa desengonçada cambalhota até ficar em pé novamente. Entretanto, mal se levantou e o segundo kabuki lhe acertou um forte cruzado de direita que quase lhe partiu a mandíbula. O genin cambaleou e sentou vendo tudo rodando. Enquanto isso, o kabuki com a espada já tentava atacá-lo com a lâmina. Kimura então levantou o braço institivamente e a lâmina foi aparada por um dos linquote de cobre, faiscando. O barulho do metal em choque acordou o genin, que girou as pernas e ao se levantar, tentou dar um forte pontapé ascendente no primeiro kabuki. Mas seu Konoha Shofu não deu certo. O chute saiu fraco demais.

Com a reação do genin, os dois kabukis saltaram para trás e o segundo sacou alguns shurikens e arremessou-os contra o genin, que mais uma vez deu um mortal para trás com dificuldade para esquivar-se, entretanto, os shurikens mudaram de direção ao toque de diversas linhas shinobi, terminando por amarrá-lo em pleno ar, fazendo-o cair indefeso. Os dois então se aproximaram calmamente. Eles pareciam não se importar com o velho que testemunhava a ação. O primeiro kabuki embainhou a espada e começou a gargalhar. Pegando no pescoço do garoto, deu-lhe um grande soco tirando sangue de sua boca. O segundo então o chutou repetidamente nos braços, costas e abdome, fazendo o genin chorar de dor. Kimura estava a ponto de perder a consciência. Não conseguia enxergar mais nada, e seus ouvidos zuniam de maneira que mal escutou o que seus inimigos diziam. Algo sobre a presença de sua família na vila. Sobre a traição e intriga que os boatos espalharam sobre o passado de seu clã. Entretanto, a maioria das palavras lhe fugia. Até que ouviu outra voz. Uma voz esganiçada e arrastada. Só então perdeu a consciência.


OBS> O restante será explicado mediante filler.