Clica-me - SOUNDTRACK
Um brilho ofuscou a visão de Seyur que entrava agora numa sala, em passos curtos. O rapaz colocou a sua mão direita à frente dos seus olhos na tentativa de ganhar noção do espaço onde se encontrava.
- Ora bem, ora bem. Parece que temos um novo convidado! - ecoou uma voz familiar pela sala inteira de forma poderosa. O rapaz permaneceu calado, tudo estava turvo, não fazia a mínima ideia de onde estava. –Seyur, vou-te mostrar que és aquilo que mais odeias.
Um manto negro abateu-se.
A única luz era aquela que brilhava na sua mão, o símbolo do Iseeshon emitia um azul que fazia com que a cara do pequeno rapaz ganhasse um tom azul, à imagem do selo. Selo? A busca pela imortalidade sempre foi um objectivo humano, ninguém quer morrer, só quem conquistou a vida se sente pronto, mas há sempre tanto a fazer – nunca ninguém verdadeiramente sente que a conquistou, apenas está farto de tentar. E desistem. Ao aceitar o Iseeshon, selo da família, e enquanto o clã continuasse a existir, enquanto um portador do Iseeshon existisse, então, seriam sempre imortais. O portador adquiria o conhecimento do antecessor, que tinha adquirido do seu predecessor e assim sucessivamente, viveriam, de certa forma no seu descendente, era a base do Iseeshon - a alma continuaria viva dentro dessa pessoa.
Mas e quando esse que suporta a tal imortalidade, não é mais que um mortal e quando dentro de si várias almas são demais para alguém como… Eu. Não queremos que ninguém morra mas o que acontece é demais. A nossa cabeça é como uma garrafa de água com areia, através da meditação – da calma, a areia desce para o fundo e a água torna-se transparente e conseguimos pensar bem, somos cientes. Ao carregarmos a alma dos nossos antecessores, carregamos informações de uma vida, memórias. A nossa cabeça passa a ser uma garrafa em constante movimento, ninguém a consegue parar, a areia ocupa a garrafa inteira e não há maneira de a parar.
- Bem vindos aos sentenciados, sentenciados por quem perguntam vocês? Olhem para a vossa mão! – riu-se num tom irónico – Queriam imortalidade não era verdade? Pois aí têm! Equilíbrio meus senhores. Mas eu posso vos ajudar com isso. Tal e qual como o Iseeshon consegue absorver a memória, as ideias, a alma dos vossos antecessores, eu consigo reverter o processo!
Seyur ainda se encontrava dentro de um cubículo escuro, a luz mostrava paredes e uma porta de metal - pareciam pelo menos. A sua visão continuava turva e não conseguia ordenar bem ideias na sua cabeça.
- Ora bem, até vos podia ajudar a todos. Mas vocês trouxeram isto a vocês mesmos, qual era a justiça do mundo em que vivêssemos se não houvesse repercussões devido às nossas acções? – pausou – Exacto, nenhumas.
A porta de metal abrira-se, Seyur colocava-se em pé com a ajuda das paredes. Em passos curtos saía da pequena sala.
- Vou tornar-vos naquilo que vocês mais odeiam, os que aguentarem, os que conseguirem achar algo que consiga manter a vossa mente sã no meio de tudo, serão provavelmente aqueles que irão sobreviver? Ou talvez não, é muito com vocês. – riu-se novamente a voz
Novamente uma luz ofuscou-o. Olhou em volta. Parecia estar numa pequena cela, ao seu lado – à sua volta – dezenas iguais. De todas saía de lá alguém no mesmo estado que o pequeno rapaz de Kumo. Que se passava? Que era aquilo? Um grande recinto no meio do edifício, ostentado por pilares. No meio estava algo, parecia uma caixa, mas novamente – a sua visão ainda se estava a adaptar ao nível de luz.
- Devem-se estar a perguntar onde estou? Ora bem, eu sou vocês! Ah calma, não, estou só a foder com a vossa cabeça! – riu-se novamente – Eu sou alguém, que vos vai levar à loucura. – pausou – Sim parece-me bem. Dizia isto à minha mulher todas as noites antes de a ter de matar um dia. É fudido é fudido sim senhor, mas tinha de ser feito, estava no exacto estado em que vocês estão agora.– a voz era algo melódica, doce mas ao mesmo tempo era traçada por rouquidão o que lhe conferia uma singularidade especial.
- Bem meninos, o jogo é muito simples. Há uma caixa no meio com um punhal, basta agarrarem com a mão que sustenta o símbolo do clã e perfurar a mão de qualquer um dos outros presentes e vóila! Acaba-se a dor de cabeça!
Neste momento, alguns dos outros vultos que saíram das celas começaram a correr em direcção à caixa do meio, Seyur continuava a dar os seus passos lentos. Ainda não estava em si. O primeiro vulto que chegou à caixa agarrou no que parecia ser um punhal, agarrou no rapaz que estava mais próximo de si. A sua visão começava a recuperar e conseguia ver tudo claramente. Um rapaz pegava no outro que tentava ripostar – mas que porém não tinha forças – colocando uma mão numa perna e outra no abdómen e lançando-o ao chão. Agarrou-lhe com força no braço, esticou-o. “Abre a merda da mão! ABRE-A!” – Vociferava o que estava em cima com o punhal. “Abre-a ou mato-te!”
De um segundo para o outro o Chibi começou a correr, lançando-se ao rapaz que dominava a batalha. Desferiu um pontapé que embora fraco lançou o outro alguns metros para trás. O rapaz que se encontrava em baixo no momento da luta começou a fugir, indo de uma posição de gatas tentando-se colocar em pé e correndo ao mesmo tempo, algo sem jeito, numa tentativa desesperada de sair dali.
- TU NÃO TINHAS O DIREITO! – gritou ele após se levantar do pontapé, lançou-se a Seyur que lhe agarrou no braço e num movimento com classe rodou-o até um ponto não suportado pelo corpo humano. O punhal caiu.
- Anda Seyur fá-lo e deixarás de ouvir estas vozes na tua cabeça. – Disse a voz – Seyur agarrou no punhal, esticou a mão do rapaz que se submetia. - Fá-lo
Ouviu-se um grito na sala, todos os presentes deram alguns passos atrás. Estava finalmente silêncio?
Não.
- Bem bem Seyur, que feio da tua parte teres morto alguém que te era próximo. – o rapaz que tinha uma aparência completamente diferente tornava-se agora num dos seus irmãos mais novos, desprovido de vida. O Chibi estava em estado de choque – E que feio da minha em te ter mentido. Mas bem, assim é a vida, se calhar não é tão simples quanto isso deixar de me ouvir. Aliás, pensavas mesmo que espetando uma faquinha e estava feito? Nem parece teu…