Redondezas
F1 - Caçador de Apuros << | >> T1 - Utilidades
A minha cabeça...A cabeça latejava. O corpo estava dorido de todos as rochas, terra e raízes que conhecera durante a descida atribulada. A voz de um homem apanhou-o de sobressalto, soando-lhe mais grave e distante do que na realidade.
— Que surpresa nos trazes hoje Wyzz?
Abriu os olhos. Lentamente. A cabeça ainda estava a misturar ideias, sensações e memórias que guardava no seu interior. Viu o brilho do sol atrás de si, uma auréola de árvores delineava o local. Abriu e fechou a mão para apanhar a terra por baixo de si. Era mais áspera e menos solta que a que estava habituado. Terra batida pelo tempo, pelos animais e pelas pessoas.
Uma clareira... Talvez um caminho entre povoações.Sentia o cheiro a fumo, cinza e comida. Ouvia o arder de um fogo enfornado e o bater incessante no metal. Conseguia apanhar o murmúrio de vozes distantes, femininas, masculinas, até crianças. Mas aquela primeira voz desaparecera. Todo um resto de ruídos foi reconhecido pelo rapaz a um ritmo lento...
Um acampamento. Onde vim parar?Levantou-se e ao fazê-lo viu finalmente o que o rodeava. Era mesmo um acampamento, mas mais trabalhado do que as simples tendas de quem se move a cada sol. À sua frente tinha um casebre de pedras amontoadas e cimentadas por lama. Notava-se a desgastada chaminé de metal, enegrecido pelo tempo e pela cinza que deitava. As marteladas vinham de lá. Batidas fortes e duras.
Rodou a cabeça e ao seu redor. Pequenas casas de argila e palha, enriquecidas na base por algumas rochas mais pequenas e com o topo a ser auxiliado por largos troncos. Viu os habitantes, pessoas normais, ofícios normais, problemas normais. Apenas um se tinha interessado pela figura estranha que ele era e estava de pé a seu lado. Olhou para ele. Calvo e alto, a idade encurvara-lhe as costas e dera-lhe um tom branco como a neve à barba. As vestes eram simples. Uma capa cinzenta cobria-lhe o corpo todo e era apertada por um simples cinto de corda. A sombra do sol não deixava ver os seus olhos nem a boca, mas Mamoru conseguiu dar-lhe uma identidade quando ele falou.
— Estás bem? — O rapaz deu-lhe instintivamente a alcunha de "Voz Grossa", apesar de ter sido mais baixa e rouca do que a primeira vez que a ouvira. — Estás bem rapaz?
Com a segunda pergunta seguiu-se um puxão pelo ombro para o levantar. O rapaz pôs-se de pé sem hesitar apesar das tonturas que sentiu. Era mesmo um acampamento no meio da floresta. Não estava num caminho, mas sim numa clareira como pensara originalmente.
— Sim, estou. — Mentiu. — Onde estou? Quem são vocês?
— Perguntas a mais, vindas da fonte errada. Primeiro eu, depois tu.
— Um de cada vez então. Tenhamos equilíbrio de poderes. — Respondeu Mamoru com um tom trocista.
— Quem és?
— Ma... — Começou o rapaz. -
Espera! Fugiste de Kusa. Não sabes quem esta gente é nem o que faz. Pensa em ti, pensa no que o teu sobrenome significa para o mundo... - Makoto. Makoto Ko. — Completou, mentindo.
— Makoto Ko? Bom nome, um bom presságio. — O homem pausou. Deu uma palmada no rapaz para ele andar, encaminhando-o com a mão esquerda a apoiar-se no ombro magro do Uchiha. — É a tua vez.
— Ahn? Ah certo... — Lembrou-se do acordo. — Onde estou?
— No meio da floresta.
— Isso não ajudou muito...
— Informação é poder.
— E a ignorância uma dádiva, já dizia o meu avô. Podia ser na mesma mais honesto. -
Como se tu tivesses sido, não é?— Como queiras. Estás no meio da floresta que faz a fronteira entre Takigakure e o País do Fogo. Para ser ainda mais preciso, no acampamento de uma tribo de nómadas. — O homem continuou a passear o rapaz pelo acampamento. Mais casas de argila e palha apareciam ao longo de um vasto corredor. Para uma tribo de nómadas, ainda tinha um número considerável de pessoas. — Vem, Makoto Ko. Deixa-me apresentar-te quem encontraste.
O velho levara-o às casas de várias pessoas. Todas elas se vestiam de uma maneira simples, tal que os trapos já esburacados e velhos do Uchiha pareciam próprios do local. Não havia nada muito tratado. De vez em quando encontrava habitantes trajados com tecidos que se notava serem comprados em vilas. Um a um, todos se apresentaram a Makoto Ko, um rapaz órfão de família e vila, ambos destruídos pela recente guerra entre os shinobis do mundo. Shidoki Rinkashime, o ferreiro da aglomeração, com a sua mulher e dois filhos, Quorra, Oshai e Karlit, respectivamente. Kaku Kushikeshi, o líder dos caçadores. Rinmeru Meluka, a cozinheira e dona da única taberna do sítio. Entre muitos outros. Quantas mais pessoas lhe eram apresentadas, maior a fila de gente que o seguia para todo o lado. Todos indicavam algo novo, no que traziam consigo, no que os rodeava ou marcavam locais que não devia ir por um ou outro motivo. O último a lhe ser apresentado foi uma figura que o rapaz se lembrava de ver nos livros que os seus pais lhes mostrava. Um samurai, à moda antiga por sinal, com as suas várias peças de armadura trabalhada e arranjada.
— Quem é esta criança, Tarin? — Perguntou Xa Tibox ao velho. Mamoru não gostou do tom empregado pelo samurai.
— A criança é Makoto Ko. — Respondeu o rapaz. — E sinceramente não gosta que seja chamada de criança.
— Uma criança é uma criança. Não recuses o que és, pode vir a fazer-te falta. — Não gostava dos olhos negros do homem. Nem do bigode, nem do cabelo grisalho. Não gostava nada além da sua armadura e do simbolismo dela. A animosidade entre os dois passava despercebida a muitos que os rodearam e continuaram nas suas múltiplas conversas. — Chega destas palhaçadas. Eu sei bem o que queres, Fonza. — Dirigiu aquelas palavras ao velho que se mantinha passivo. — Anda lingrinhas. Segue-me. — O samurai de armadura aos pedaços puxou o rapaz pelo colarinho para fora de toda aquela confusão.
_________________
Quero é fazer treinos T.T