Caçador de Apuros
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A mão agarrou-se-lhe ao instrumento de madeira. É agora... Encho o estômago para o dia todo, rejubilou Mamoru, basta levá-lo para o sítio certo...
O rapaz atirou-se para o javali como uma águia à sua presa. A arma de madeira ressoou no chão, assustando o animal e criando assim um cometa castanho arruivado a correr para Norte.

Isso! Corre, é tudo o que os cobardes sabem fazer. Está na natureza deles fugir das dificuldades, das emoções fortes, das aventuras e de tudo o que põe o seu corpo ao limite. Corre! Vá, só mais um pouco...

Os cascos do bicho não paravam de produzir aquele ruído característico de uma corrida em fúria. Atravessou arbustos de amoras silvestres, carvalhos que pareciam engolir o céu de um só trago e também não parou para farejar o que o devia preocupar. Não deixou o seu próprio olfacto notar que o cheiro do seu atacante inundava aquela parte da floresta, o sinal notório da preparação do predador.
— Agora! — Gritou o rapaz. Acocorado, fez um selo que bastou para explodir meia dezena de metros de mato grosso, solo e com sorte javali, dos gordos por sinal. As calças largas do rapaz raspavam entre si criando um ruído irritante para os ouvidos do natural de Kusagakure. O cabelo dele era farto, negro como o carvão e igual ao tom que o seu olhar usava desde que nascera. A pele tinha sido queimada pelo sol desde a sua partida de casa e largara a sua palidez natural para aceitar um tom mais moreno.
Quando chegou à área que queimou com o seu explosivo, a sua cara manteve-se com as feições de sempre. Mostravam puro desagrado, mesmo quando ele não desejava tal, era uma desgraça que a genética lhe tinha dado. Árvores mais velhas que o rapaz tinham-se deixado cair com a força da explosão. Por cima do tronco de uma delas, um gato das montanhas gigante abocanhava com esforço a pele acastanhada do javali. Nenhum mostrava sinais do fogo, talvez algum pedaço de pele aquecida aqui ou acolá na pele do animal que sangrava, mas nada de mais.
— Lei do mais forte... Ou será do mais rápido? — A ferocidade da besta maravilhava-o ao mesmo tempo que o enchia de medo: aquelas garras, a magnificência do seu pêlo selvagem e o focinho, agudo e cheio de raiva, era o símbolo ideal para o que ele procurava com aquela fuga. As palavras foram nada mais que ar para a fera negra e esta continuou o seu caminho.

Mais uma refeição de roedor...

Detestava ter uma refeição daquelas... Bagas, nabos-silvestres, cogumelos daqui e dali e algum animal pequeno que fosse ingénuo o suficiente para se aproximar dele. Sim, um esquilo assado era o que lhe apetecia, mantinha o estômago pronto para a próxima caçada e eram fáceis de lhes tirar a pele se se tivesse a lâmina certa. E ele tinha a lâmina certa. A própria natureza ensinara-o nas primeiras semanas depois de se lhe acabar a comida. "Algum pão, queijo, carne seca e peixe já salgado. Fósforos para fazer uma fogueira, uma faca para me desenrascar... Ah! E alguns bolinhos de mel.", fora o que ele pensara ser suficiente para chegar à povoação mais próxima onde, com certeza conseguiria algum trabalho menor e arranjar dinheiro para mais.
— És o pior aspirante a shinobi a pensar em fugas. — Repetia para si próprio casualmente. — Reza para que nunca tenhas que as fazer quando andares em missões.
A procura pela floresta era já fácil para o moreno. Ao segundo mês só sobrevive aquele que observa e vê. Já conhecia as árvores que criavam melhor ambiente para os cogumelos que não lhe davam aquelas dores excruciantes, o tom de um verde escuro e húmido dos arbustos com as bagas mais saborosas e doces e finalmente aprendera a apanhar os nabos sem os estragar. Recolhera bastantes quando encontrou uma pequena e rara árvore de fruto. Era formosa apesar da sua pequenez e as raízes torciam-se por vários metros no solo. A folhagem, apesar de espessa, não conseguia esconder os frutos de topo azul e final afunilado com tons creme. Já os tinha provado antes e classificara-os como uma iguaria digna de ser guardada para boas refeições. Não era a ocasião, mas guardaria-as com certeza.
Esticou a mão para agarrar na mais próxima quando a viu desaparecer a poucos centímetros dos seus dedos. Alarmado, mas pouco preocupado voltou-se para a seguinte que estava um pouco mais à esquerda. Também esta desaparecia! E outra... e outra... e mais outra!
— Qu'é'sta merda? Mas quem anda a gozar comigo? — Pausou. — Mostra-te sua besta quadrada!
Uma cabeça fina e redonda apareceu pelas folhas da planta. O rapaz afastou a folhagem com a mão esquerda para mostrar um pequeno bicho, esguio e de pêlo macio e ruivo manchado por uma mancha enorme de castanho no seu peito. Segurava com as suas pequenas patas os quatro frutos desaparecidos e com a sua pequena boca mordiscava o quinto.

Até os roedores gozam comigo! Devo ser motivo de risota por estes lados... O "bobo da floresta de nenhures" vai ser como me chamarão quando descobrirem os meus ossos por aqui perdidos. É QUE NEM PENSEM!

— Dá cá isso sua doninha! — De um salto largava as bagas e nabos recolhidos e tentava apanhar o esguio animal. — Carne de fuinha é quase o mesmo que carne de esquilo. E essa pele deve ser bem boa para me aquecer o pescoço à noite!
Irado, o rapaz perseguia o animal que já corria pelo chão repleto de ervas daninhas. Nenhum tropeçava nas raízes das árvores cercantes, apenas lhes interessava correr, um para fugir outro para apanhar.
— Apanhei-te! — Declarou ao capturar o bicho com as mãos. A travagem porém não era das melhores e uma rocha desequilibrava-o e fazia descer uma ribanceira íngreme. Trambolhão atrás de trambolhão, rodou sobre si próprio, sempre agarrado ao corpo fino e quente da fuínha. Acabou por cair de costas no chão, atordoado pela pancada entre a cabeça e o chão. O bicho esgueirou-se pelas suas mãos que nem manteiga e pôde ouvir a voz de um homem algo rouco pela idade.

— Que surpresa nos trazes hoje Wyzz?