Tora não sabia o que fazer. Bem, estava na chuva mesmo, agora tinha de molhar-se. Se havia tido coragem suficiente para fugir de casa, teria de arrumar um pouco mais para prosseguir em sua busca. É verdade, agira impulsivamente. Como membro do clã Nara, deveria ter pesado mais as conseqüências, mas agora era tarde demais para recuar. Aceitou a sugestão daquele desconhecido, e ele disse-lhe que no outro dia a levaria até certo lugar. O dia amanhecia, a chuva que caía era apenas uma fina garoa. Tora acordava na hospedaria que o homem havia indicado-lhe, notando o mesmo a segurar sua bandana de Konoha. Assustada, perguntou-lhe quem havia dado-lhe permissão para invadir seu quarto, e ele nada respondia, apenas fitava-a fixamente. Após um tempo, ele decide falar:
- Konohanin... Realmente não esperava. Então isso só justifica que o que a velha Junko dizia... Era a mais completa verdade!
Tora fitava-o, incrédula. Não sabia o que ele poderia fazer com ela, e seu corpo já preparava-se para um combate em que certamente, ela perderia. Kyoichi encarava-a com olhos vazios, parecia perdido em pensamentos. Ao notar a postura da kunoichi, ele apenas respondia:
- Mudança de planos. Veremos duas pessoas. Konohanin... Será que realmente o resto procede? – ele realmente estava mergulhado em pensamentos. – Vamos, arrume-se! – ele dizia, notando a garota ainda imóvel.
- E quem é a primeira pessoa que veremos?
- O filho do líder da época em que os Chinmoku’s rebelaram-se.
Tora estava um pouco temerosa, mas novamente decidiu seguir adiante. Podia invocar suas corujas, mas isso só traria mais problemas, pois decerto elas contariam à Shinji e Tsuki. Um pouco contrariada por encontrar-se sem opções, a não ser confiar naquele estranho, pediu a ele um pouco de privacidade para vestir-se. Kyoichi sumia dali num shunshin, enquanto ela rapidamente trocava sua roupa, colocando a hitaiate de Konoha no fundo da mochila.
Abria a porta da hospedaria, enquanto o rapaz esperava encostado à parede com os braços cruzados. Ele oferecia uma capa de chuva à gennin, enquanto vestia-se habilmente com outra. Caminharam por algum tempo, afastando-se progressivamente do centro da vila. Kyoichi ia à frente, e logo parava num pequeno casebre perto dos portões de Ame. Bateu, enquanto uma voz masculina dava permissão de entrada.
Ambos adentraram, prontamente retirando as capas de chuva e pousando-as num cabide ali próximo, usado para este fim. Um homem bebia chá um pouco mais ao longe, e ordenava que eles aproximassem:
- Ora, meu caro Kyoichi, há quanto tempo! E quem é esta bela jovem... de cabelos azuis?! – o homem perguntava surpreso, começando a notar melhor as feições da kunoichi. – Não me diga que...
- Para falar a verdade, eu não sei senpai. Mas ao que tudo indica, sim, ela pertence ao nosso clã.
- Aproxime-se, querida. Ora, és bem jovem, não deves ter mais que quinze anos... Então és uma das crianças que conseguiram fugir da pequena guerra civil! Fico realmente feliz que meu pai tenha tido aquela sábia decisão... – dizia, em tom nostálgico.
- O Kyoichi-san falou-me brevemente da história do clã, mas não foi exclusivamente sobre isso que eu vim saber. Preciso de informações sobre Chinmoku Aoshi.
- Aoshi-san? Que queres saber dele? – o homem pousava a chávena na mesa e encarava a gennin.
- Permita-me Nagashi-senpai... – o jovem amenin interrompia – Acho que o que a velha Junko dizia não tem nada de loucura. Pretendo visitá-la assim que sair daqui, mas... Esta parece ser a pequena Amaya. E pude comprovar, ela tem uma hitaiate de Konoha
- Amaya, filha de Sayo? E espera, konohanin? Céus... E ainda duvidamos da velha Junko! – dizia, arregalando seus olhos.
- Querem fazer o favor de explicarem-me tudo? A mais interessada nesta história sou eu! – dizia uma impaciente kunoichi.
- Bem, é uma longa história, que nunca demos os devidos créditos por acreditar que Junko-sama era louca. Ela dizia que tínhamos um traidor entre nós, e que era Aoshi, o marido de Sayo-sama, filha do antigo líder do clã. Este líder foi morto sob circunstâncias que nunca foram devidamente esclarecidas, mas sempre duvidamos da versão de sua irmã por simplesmente a pessoa a quem ela acusava ser um jounin pouco habilidoso... Para falar a verdade, nem sei como ele foi promovido naquela época, e por conta disso, chamávamos Junko-sama de louca, afinal, não havia o mínimo sentido no que ela dizia.
Tora parecia hipnotizada, dada sua tamanha atenção à narrativa daquele homem. Ele bebeu mais um gole de chá, tossindo discretamente, enquanto respirava fundo para prosseguir:
- É claro que ela irritava-se facilmente, mas acabou colocando aquilo na cabeça, e dizem os boatos que ela jurou vingar a morte do seu irmão, planeando o seqüestro do tesouro da família naquela época, a pequena Amaya. Assim, ela vingava-se do Aoshi, por “ter matado” o líder, e de Sayo, que teria aceitado a morte de seu pai passivamente. Eu particularmente tinha mais com o que preocupar-me, como o prenúncio da guerra civil. Meu pai mandou que todas as famílias que possuíssem crianças que ainda não fossem ninjas fugissem de Ame, mas até onde sei, Junko-sama ficou paranóica com essa história, e mandou seu próprio filho realizar essa “missão”.
O homem novamente pausava, para respirar e tomar mais um gole de seu chá. Tora permanecia calada, bem como Kyoichi. Nagashi olhava entediado ao redor, percebendo que teria de contar toda a história, algo que não apetecia-lhe fazer no momento. Respirou fundo, a tensão continuava, e então resolveu prosseguir:
- É claro que ela nunca traria a garota de volta a Ame, apesar de irritada, Junko sabia que não era seguro. Só que algo correu mal: o seu filho que era um mercenário já procurado por Ame, descontrolou-se e acabou por matar Aoki, irmão gêmeo de Aoshi, e logo depois sua prima. Bem, a história oficial é de ele acabou surtando, mas a versão de Junko-sama não é esta. Segundo ela, quem matou-o foram ANBU’s amenins, tendo seqüestrado a criança e deixado Sayo viva. Ela teria seguido-os por algum tempo, quando o tal primo acabou encontrando-a. Ela implorou-lhe que recuperasse sua filha, e foi o que fez, mas é claro que sob ordens de sua mãe, ele não a devolveria. Por ser um shinobi e não ter condições de criar uma criança, acabou fazendo uma armação, abandonando-a na vila que ele secretamente servia: Konoha. Assim podia estar sempre de olho nela, e aproveitando-se da KG, deixou-a nos portões, sumindo de seguida. Ele teria relatado isso a Junko pouco antes de acabar sendo preso – e posteriormente morto – por Ame, sendo ela a única a saber do paradeiro de Amaya. Porém, com a morte de seu filho, ela tornou-se uma pessoa totalmente desconhecida para nós, e extremamente violenta, sendo diagnosticada com loucura.
- Que triste...
- Hai. Ame iria executá-la, mas um antigo membro da ANBU era amigo pessoal dela, e com sua influência no Alto Conselho, conseguiu que ela tivesse a vida poupada, sendo apenas internada num hospício. Outros do clã também sobreviveram, rendendo-se e implorando pela vida no auge do desespero. Foi aí que surgiu o selo da lealdade, onde aquele que traísse Ame, acabaria morto. As autoridades aceitaram, afinal o Yoru no eria é realmente uma kekkei genkai muito prática para infiltrações. O que foi a sorte para uns poucos, como eu ou o Kyoichi.
- Este selo não deveria ser activo já que estás a falar com uma desconhecida? – Tora inquiria.
- Não garotinha, o selo é apenas para traição a Ame, ou seja, informações sigilosas. As autoridades não ligam para a história de nosso clã, muitos até sequer lembram do massacre, então falar disto desde que não envolva planos para golpes à vila, venda/obtenção de segredos de Estado para outras aldeias e coisas indesejáveis do gênero, não activa o selo.
- Esta história é tão... confusa.
- Não imaginas o caos que havia cá quando eras um bebê – o homem terminava de engolir o chá. – Então, konohanin... Há uma boa chance de Junko-sama estar correcta. Eu ainda duvido um tanto, é verdade, mas só de saber que vieste de Konoha... És bastante jovem para saberes esta história, mas poderias facilmente ser manipulada por alguém...
- Mas é claro que não! – Tora gritava. – Gomen, não quis gritar senhor... – desculpava-se rapidamente.
- Tudo bem. Só tem uma maneira de saberes se és realmente do nosso clã – o homem levantava-se, e apagava as poucas velas que iluminavam o local, deixando o casebre totalmente às escuras. – Quantos dedos estou colocando? – perguntava.
- Sete.
- E agora?
- Nove.
- E agora?
- Três?
- E agora?
- Zero. Hey, pare de fazer caretas! – reclamava a kunoichi.
- Tsc, sem dúvidas que possuis o Yoru no eria. Se és Amaya, eu não sei, mas talvez Junko-sama ajude. Mas lembre-se que nem tudo o que ela falar pode ser verdade... É uma faca de dois gumes.
- Vamos visitá-la agora, queres vir conosco, senpai? – Kyoichi pronunciava-se, depois de tanto tempo em silêncio.
- Não, podem ir. Conheço as histórias dela melhor que ninguém. – terminava por fim, bebericando o que restava daquele delicioso chá.
- Spoiler:
Eis que depois de tanto tempo, mais um filler! Sorry, é que eu me enrolei um pouco na história (típico meu hahaha
), mas acho que agora me reencontrei \o/ Desculpem se ficar confuso, apesar das minhas eternas revisões, é capaz de ter algo fora do lugar, é realmente difícil eu conseguir passar o que quero D=