Karui – Filler 1
'Madrugada'
A lua lá bem no alto iluminava toda a planicie, excepto no bosque denso que havia no meio desse mesmo lugar. Dessa forma, e admito, corria de tronco em tronco com alguma dificuldade. Os meus olhos não conseguiam ver nada para além de escuridão e eu abria-os o mais que podia, em vão, tentando aclarar a minha visão.
Se não fosse um ninja, talvez já tivesse caído. Sentia por vezes os meus pés a escorregar depois de tentarem adivinhar se estavam a pisar um tronco, mas graças a técnicas ninja não caía, o Kinobiri no Jutsu para ser mais preciso. Ao avançar rapidamente, reparei numa ténue luz que estava ao fundo do bosque. Essa fraca luminosidade indicava que o fim das árvores estava próximo e por isso acelerei o passo.
-- Anda rápido! - Gritava-me a companheira que corria a meu lado.
Sabia que ela estava à minha esquerda por isso virei a cara.
-- Arata, estou a ser o mais rápido que consigo não achas? - Disse-lhe abruptamente.
Ela sabia que eu ia dar o máximo, no final de contas estava-mos ambos a fugir de um assalto com os bens roubados numa mochila. Como era óbvio em tais circunstâncias, tinha de correr o meu máximo.
-- ‘Tá! - Disse com secura.
No término do diálogo chegamos passamos a ultima árvore do bosque, ficando expostos na planicie. Consegui finalmente voltar a ver aqueles olhos azuis lindos, à luz branca da lua, eram maravilhosos. Atrapalhei-me e quando dei por mim tinha dado uma queda aparatosa.
-- Que parvo. - Ela gargalhava lá à frente do meu magnifico tralho.
-- Finalmente te arranco um gargalhada.
-- Sim, pois. - A sua cabeça abanou para a esquerda, como se tivesse pressentido algo. - Anda rápido, eles vêm aí.
A sua suposição foi confirmada quando nos apercebemos de tochas amarelas, como pirilampos dentro da pequena floresta. Vi uma arma a reluzir na direcção da Arata e só tive tempo de tirar o meu arco e disparara uma flecha muito rapidamente. A flecha penetrava o ar com a ajuda do seu bico triangular e embateu em cheio numa kunai.
-- Obrigado, vamos! Corre. - Ordenou-me ela.
O nosso destino, eram as montanhas em frente. Ficavam a menos de cinco quilómetros e teríamos de ser rápidos. Lá, com a ajuda dela, os aldeões nunca nos iriam apanhar. A Arata conhecia aquelas bandas desde muito pequena pelo que me contou, e os esconderijos estavam num mapa presente na sua mente. As labaredas das tochas iam ficando menos nítidas atrás de nós, sinal que os estavamos a despistar. Mas a verdade é que eu cada vez estava a ficar mais cansado, achei que eles também o deviam estar.
Em menos de uma hora percorremos a distância que nos separava do nosso objectivo. A Arata rapidamente me encaminhou para um dos seus esconderijos. Depois de várias curvas, para evitar mato denso ou rochas dificeis de escalar, lá me mostrou uma pequena gruta. A entrada estava muito bem escondida por uma ramagem, e com uma pequena porta pré-preparada por ela própria selamos a entrada de vez.
-- Acende isto. - Disse-me ao passar-me umas folhas secas.
Usei a pedreneira que tinha roubado e fiz faísca com a ponta de uma das minhas setas. Uma chama inicialmente azul, e depois laranja aceundeu-se ali clareando o interior da grupo. Muito rochoso no tecto, mas claramente escavado no chão e daí, suave.
-- Eu durmo ali. - Apressei-me a escolher o meu sítio esquecendo qualquer regra de cavalheirismo, só depois me apercebi. - Ah, desculpa escolhe tu primeiro.
-- Não faz mal Karui, de qualquer das maneiras eu ia escolher o outro sitio. - Sorriu.
Abri a boca, com uma expressão irónica.
-- Um sorriso, já à muito tem... - Uma mão pesada e fechada batia-me mesmo no topo da cabeça impedindo-me de acabar a frase.
-- Vá vai dormir. - Disse-me.
Soprei nos ramos e coloquei-me na posição fetal, para me aquecer usei o meu manto de viagem. Ouvi um ronronar doce, era Arata a preparar-se para adormecer, mas depois soltou um pequeno gemido. Queria claramente dizer-me algo.
-- Diz. - Pedi-lhe com um tom calmo e apaziguante.
-- Nunca me disseste, porque foste expulso de Kumogakure.
-- Ah... apontei o arco a um colega.
-- Só isso? - Questionou admirada.
-- Naquelas circunstâncias... - Pausei para reflectir, não a conhecia o suficiente para ter tanta confiança a ponto de lhe contar isto. - Vá vai dormir. - E sorri sendo doce, como se ela me estivesse a ver, ou como se percebesse pelo som das minhas palavras que lhe sorria.