Segui cautelosamente os passos de Okashii-sama, percorrendo longos corredores, frios e com ocasionáveis pingos de água a escorrerem pelas paredes, ajudando na criação da imagem de um laboratório secreto. E, sinceramente, era o que até hoje eu pensava que fosse.
Há dois dias, o Mizukage trouxe-me até esta pequena e compacta sala, onde me obrigou a lutar contra uma enorme invocação sua: um caranguejo. Nessa mesma luta, a robusta carapaça do animal obrigou-me a usar a minha arma mais assustadora (da qual até eu tenho medo), o Futton. O resultado, ao final daquele embate, fora a corrosão de grande parte da minha pele nos braços, tendo já sorte por ter modificado o meu corpo com o Suika e assim absorvendo mais de três quartos dos danos reais. O próprio Okashii-sama fazia intenção de repetir “Senão fosse o Suika… Nem quero imaginar no estado em que estarias…”, só contribuindo para o aumento dos meus nervos.
O controlo do meu Futton tinha de continuar, tal como iriam continuar estes pequenos descontrolos até dominar por completo este selvagem elemento. O Kage afastou-se de mim, dando a clara indicação para eu não sair de onde estava.
- É escusado repetir as regras, certo? - Perguntava com uma voz amistosa, debruçando-se à minha frente e mordendo o polegar até que um pequeno fio de sangue jorrasse, passando-o depois pela palma da mão - Um mestre do Futton consegue controlar os danos causados pelo seu ácido. Sendo mais específico, consegue amenizar os seus efeitos para que o seu elemento nem sempre seja tão mortal. O teu objetivo é esse, Katsu. A próxima invocação não pode morrer, contudo, vais ter de usar o Futton. Boa sorte… - Explicou batendo fortemente com a palma da mão no solo e assim espalhando o seu chakra num círculo ao seu redor, registando-se por kanjis que apressadamente criam uma densa nuvem de fumo.
Mantive-me concentrado, fechando os punhos com ímpeto e vendo um enorme vulto a erguer-se atrás da cortina. Recordo-me constantemente das palavras do meu líder, da forma que tinha de controlar o meu elemento para que este não matasse o… o que é aquilo? Olho, estupidamente, para todo o corpo da nova invocação. Uma espécie de uma lesma, muito mais gelatinosa e verde, que se abanava constantemente sem dar indícios de capacidade de locomoção, ou sequer de possuir cinco sentidos. Olhando com mais pormenor, nem sabia como é que o meu ácido era capaz de matar aquela coisa…
Não tive tempo para apreciar mais a criatura. Esta, após um estranho abanão, cuspia, de áreas aleatórias, pequenos pedaços verdes e gosmosos do seu corpo. Esquivei-me do primeiro, que embate violentamente contra o solo, e depressa me vi ameaçado por um segundo, recorrendo a um rápido Sunshin para a frente e assim esquivando. Atrás de mim, mais daquelas bolas nojentas colavam-se ao chão com potentes impactos, nenhuma a ameaçar-me mais.
-Okashii… o que é esta coisa? - Perguntei-me ao ver a pasta verde a abanar-se ainda mais, parecendo-me que me olhava, de certa forma.
Espalho rapidamente chakra ao longo dos meus braços, condensando a humidade à minha volta para criar duas súbitas espadas líquidas. Movi-me agilmente em frente, distribuindo estocadas e dilacerações ao longo do corpo gosmento, este que absorvia, semelhante ao movimento da gelatina, todos os impactos sem qualquer tipo de rasgão. Continuei, desesperadamente, a minha vaga de ataques a uma velocidade cada vez mais alta, mas mesmo quando eu concentrava os meus ataques em um único sítio, este parecia não era danificado pois as minhas espadas trespassavam a gosma como se nada fosse.
A invocação acabou por se fartar da minha estúpida ousadia, criando um chicote num dos flancos do seu corpo e afastando-me com uma chicotada no dorso que me arrastava alguns metros para trás, com um ferimento ao peito. O chicote recolhe-se para perto do seu corpo, voltando a esticar-se e assim tentando outro ataque na minha direção, obrigando-me a uma esquiva apertada para a direita.
- Katon: Goukakyuu Chakra no Jutsu! - Vocifero após a dose de chakra e sequência de selos acertadas, cuspindo uma gigante bola de fogo que irrompia pelo local e explodia perto do corpo da gosma, incendiando-a de imediato em meios de urros guturais e estranhos.
Não pensei de imediato que havia vencido, afinal, aquele “animal” era estranho e, sendo-me desconhecido, não sabia os truques que ainda tinha por apresentar.
Como esperado, a área da gosma havia ficado queimada, passando de um tom verde para algo mais cinza e malcheiroso, mas sem cessar-lhe a vontade de me atacar. Numa rápida convulsão no seu corpo, esta disparava velozmente uma parte do seu corpo, exatamente do meu tamanho, que me apanha desprevenido e se agarra a mim, arrastando-me até colidir com as costas numa das paredes, rangendo os dentes de dor. Mesmo com o sofrimento, tento avançar com as pernas, mas logo vejo que uma espécie de cola me restringia os movimentos, levando-me a olhar para baixo e ver a gosma a agarrar-me contra a parede, impedindo cada um dos meus membros de se movimentarem.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi de aglomerar chakra ao longo do corpo, modificando o meu corpo até que este se tornasse em água, dando-me assim a liberdade daquela pasta. Contudo, o plano não correra como esperado. Depressa percebo que esta prisão não só restringia os meus movimentos, mas também o meu chakra.
-“Ganda” filha da… - Acalmo o meu espirito antes de acabar a frase. Analiso rapidamente a minha situação, tornando-se claro que teria de recorrer unicamente à força para sair desta coisa.
Acompanhado por um grito de esforço, empurro todo o meu corpo para a frente com extrema força e peso, cedendo, por momentos, a defesa da pasta. Esta afastava-se da parede, esticando-se ao máximo como se fosse uma pastilha elástica, mediante eu continuava com a minha força absurda, já notando-se a cara vermelha e algumas veias na testa a sobressaírem-se. O problema foi de não ter aguentado, cedendo à pressão das gomas que agora se contraía, catapultando-me violentamente contra a parede, prendendo-me a ela de novo. Grunhi de raiva, retornando a empurrá-la, com mais afinco e ainda com mais força. Noto que ela se voltava a esticar, mas nunca sem me largar. Percebo que, caso deixasse de fazer força, a elasticidade dela retornar-me-ia contra a parede.
Focalizo chakra a meio do meu esforço sobre-humano, esquecendo-me que esta não surtiria efeito devido à técnica da invocação. Porém, o meu chakra parece fluir normalmente, permitindo-me a criação de uma rápida espada líquida, que agora desfazia a gosma em duas, soltando-me e levando-me a cair de barriga contra o solo devido à inércia.
- Entendo… - Concluo após esta experiência, levantando-me e olhando de frente para o meu oponente - A gosma perde qualidade quando esticada…
A invocação volta a esticar o seu chicote mal eu saíra da sua prisão, lançando-o na minha direção. Sem cancelar a minha espada de água no braço direito, coloco-me de lado (com o braço esquerdo mais à frente) e salto na direção do chicote com o ombro esquerdo em riste.
-Erubo! - Anunciou, colidindo com o “braço” da invocação com o meu ombro. Como esperado, o meu Taijutsu não surte efeito, porém, o chicote enrola-se à volta do meu braço, prendendo-me de imediato - Agora vens comigo pequena porra!
Quando os meus pés se encontram com o solo, rapidamente começam a recuar. Abusando de novo com a minha força, obrigado a que o chicote da invocação, com uma clara força inferior à minha, a esticar-se ao máximo, até ser incapaz de soltar-se. Percebo o seu momento de fraqueza, tal como planeado, e rapidamente corto o chicote do resto do corpo com a minha lâmina de água, desfazendo-o em pedaços.
A criatura verde contorce-se em espasmos dolorosos, mas nem isso parecia suficiente para pará-la…