Era nítido, como se tivesse sido ontem.

O robusto corpo de Zenosuke, as suas feições e aspecto em geral convertem-se, de repente, numa criança de 13 anos e meio. O que se tinha passado? Bem, nada mais, nada menos do que uma memória… muito boa, de facto. O local rodeante permanecera inalterado, incluindo, claro, a casa, embora existisse uma diferença de 3 anos. O ‘pequeno’ rapaz (pequeno sendo susceptível, uma vez que Kurogane nunca fora propriamente baixo), ao contrário da disposição alegre e confiante da sua juventude, demonstrava agora uma face enegrecida, escurecida até. Olhava friamente o céu, como quem olha para um abismo. Sentia-se vazio, solitário… e isto tudo por uma razão…
Zenosuke caminha em passos pesados, sem qualquer emoção. Os seus olhos olham para todas as direcções… mas sem nenhuma razão em particular. Olhava só por olhar. De momento, nada lhe interessava. O mundo era apenas um monte cheio de nada. Toda a diversão e alegria estavam somente na sua cabeça.


Mas… porquê?


Simples… Zenosuke era anti social. Não porque quisesse, mas porque a sua condição o obrigava. O rapaz, ao passar por um pequeno grupo de rapazes da sua idade, é rapidamente bombardeado com olhares de desdém. Segredam entre si o quão idiota e estranho o rapaz era. Isto demonstrava a causa dos problemas sociais de Kurogane. Ninguém o levava a sério, ninguém queria saber, niguém se importava um segundo com ele. Na verdade, ele tinha até a alcunha de “Sombra”, o que poderia ser engraçado, visto que o rapaz vestia-se sempre de preto. Mas, como é obvio, a própria alcunha doí-a ao pobre rapaz, fora tudo o resto. Ignorado os rapazes, Zenosuke acelera ligeiramente o passo. Já pensara tentas vezes em morrer, desaparecer, e em como ninguém faria caso.

Sem dar pelo tempo passar, Zenosuke chega á Academia de Kumogakure, local onde se concentrava um grande número de pais, acompanhados dos seus respectivos filhos até á entrada da Academia. Era normal, este comportamento por parte dos pais quanto aos seus filhos, mas seria bom que eles tivessem um pouco mais de autonomia, de vez em quando…

Pouco a pouco, os pais afastam-se, alguns acenando vivamente aos seus filhos antes de virarem costas. A primeira aula dos futuros Gennins estava prestes a começar. A multidão de crianças rapidamente se desloca para os interiores da Academia, no meio de conversas paralelas e risos ao acaso. Zenosuke preparava-se para fazer o mesmo, antes de ouvir um grito abafado vindo por detrás dele. Virando-se num relance, Kurogane avista um grupo de 3 rapazes á entrada da Academia, de volta de uma jovem rapariga. Zenosuke aproxima-se em passos largos, a conversa tornando-se progressivamente mais nítida.

-Hahahaha, eu sabia. O “rato da Biblioteca” foi o único a passar no exame. – diz o primeiro rapaz num tom trocista. Tinha um aspecto óbvio de delinquente, assim como os outros dois. Provavelmente eram estudantes que tinham chumbado o exame.

-Mas pra que precisam eles de uma feia como ela? Só serve para os livros, nunca vai passar de Gennin, se é que chegar a tanto... – graceja o outro, enquanto os três se afastam a rir á gargalhada, deixando a rapariga empoeirada no meio do chão, juntamente com uma pequena pilha de livros.

Á medida que os delinquentes se afastam, Zenosuke aproxima-se rapidamente, agachando-se ao lado da rapariga imóvel.

-Ei, estás bem? Magoaste-te? – pergunta o rapaz, num tom preocupado e, ao mesmo tempo, amável.
A rapariga levanta-se, devagar, pegando nos seus óculos. De seguida, volta a amontoar os seus livros. Tudo isto sem dizer uma única palavra. Tinha um ferimento bem visível na testa, e era possível ver lágrimas escorrer-lhe pelo rosto, o que impressiona Zenosuke. A rapariga range os dentes de raiva, e desata a correr para dentro da Academia, sem dirigir uma única palavra.

-ESPERA! – grita o rapaz, sem sucesso, ficando estupefacto a olhá-la. O mesmo permanece ajoelhado por um tempo, antes de se recompor. Quem seria esta rapariga… o que poderia fazer para ajudá-la? Era incerto, o jovem Kurogane passava por uma situação semelhante, e nem a ele próprio conseguia ajudar. O rapaz retoma a sua marcha para dentro da Academia, com um olhar entristecido. Ele iria definitivamente encontrar e ajudar aquela rapariga, custe o que custasse…