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Enfim, consegui! – Comemorava Kimura, enquanto sentava ofegante para recuperar-se do esforço. Havia acordado muito cedo para acabar a construção de uma nova área de treino, que acabara de aprontar. Ele vislumbrava seus arredores do centro do lago, focalizando chakra nos pés para não afundar, suspirando com orgulho ao ver seus alvos que fixou em toda a extensão da margem do espelho d´água. Eram trinta ao todo. Feitos de madeira, eles tinham o formato quadrado e o tamanho de uma pequena bandeja, e todos foram pichados com cores chamativas para contrastar com o verde da floresta, e assim facilitaria suas identificações. Kimura fez questão de que eles fossem miúdos o bastante, para que a dificuldade de seu treinamento aumentasse consideravelmente. –
De vocês, trato depois. – Comentou. E assim, após breves momentos de reflexão, o chuunin se levantou e efetuou um rápido shunshin até uma imensa rocha que havia arrastado da floresta até a clareira, disposto a começar a treinar com seu novo “equipamento” de treino.
O tamanho da rocha era descomunal. Chegava a ter o mesmo peso que uma pequena carroça vazia. Mesmo assim, isso não o intimidou. Focalizando chakra nas tatuagens, ele invocou uma gama de linhas shinobi para então passá-las no entorno da pedra e então a amarrou firmemente nas costas. Lembrando-se do esforço que fez ao trazê-la até aquele local, ele a puxou com toda sua força de seu corpo. A tensão das linhas-shinobi começou a ferir seus ombros, mas não o impediram de continuar. Concentrado, e mesmo até ter focalizado chakra nós pés para não cair, vacilou um pouco e o joelho foi ao chão. –
Merda! Vamos! – Gritou num esforço maior, desta vez inclinando-se para frente em busca de toda força que possuía. Então, após segundos de luta, conseguiu puxar a rocha para amarrá-la nas suas costas, quando suas pernas tremeram ao sentirem todo o seu peso, até que em mais num gemido de esforço e deu os primeiros passos até a margem do lago.
Em poucos e sofridos passos, sentiu os músculos arderem e tremerem. Kimura levou alguns segundos para acostumar-se com sua carga pesada para então concentrar chakra na sola dos pés para caminhar pesadamente para dentro do lago. Dando o primeiro passo na água, sentiu que conseguia equilibrar-se na superfície. Mas quando deu o segundo passo, seu peso começou a surtir efeito e começou a afundar. Com determinação, o Endo aumentou o fluxo de energia, mas não foi suficiente para mantê-lo e de súbito afundou até a cintura nas águas geladas do calmo lago. –
Tenho... que... conseguir... – Disse determinado e ofegante. Então, procurando a quantidade certa de chakra para poder ficar na superfície, ele concentrou chakra nas mãos, apoiando-se para elevar-se sobre as águas novamente. Kimura gemia pela força exercida até que se viu de pé novamente. Entretanto, quando deu por si, havia deslizado para a área mais profunda do lago, aumentando o risco de seu desafio de força.
Sentindo a pressão de seus músculos ao mesmo tempo em que controlava o fluxo de chakra, preocupado pelo risco desnecessário que lidava, o chuunin começou a penosa luta para retornar para a parte mais rasa do lago. Passo após passo, seu temor por afundar começava a incomodar. Sentia as pernas tremerem de frio e esforço, sua respiração estava ofegante e seus pés brilhavam com a quantidade de energia para mantê-lo na superfície. Até que, há poucos metros do local mais raso, seu pé afundou poucos centímetros. Aguardando um pouco, ele se concentrou e assim que sentiu firmeza, deu o próximo passo. Conseguindo manter o outro pé na superfície, puxando com toda força o outro e começou a caminhar novamente deixando para trás apenas pesados distúrbios na água gelada. Enfim na parte rasa, Kimura não sabia se por causa da adrenalina ou se por causa do costume, o peso da rocha estava incomodando menos, então decidiu permanecer andando por alguns minutos.
A serpente andou com esforço por toda a margem do lago, preocupado sempre em manter o fluxo certo de chakra. Ainda sentia que tinha uma boa reserva de energia, e por um impulso juvenil, ele se aventurou novamente pelas águas profundas. Foi quando tudo começou a dar errado. Pois assim que adentrou nas águas mais profundas do lago, seu chakra começou a dar sinais de falha. Seu esforço para manter a rocha às costas também cobrava o preço naquele momento. Mesmo assim, fisicamente sentia que poderia continuar por alguns momentos, pelo menos até retornar a parte rasa. Seu suor já gotejava com muita intensidade e já não conseguia conduzir o fluxo correto. Ora flutuava, ora deslizava e ora afundava alguns centímetros. Algumas vezes sua perna fraquejava e afundava até os joelhos, só então concentrava chakra nas mãos e usava toda sua força novamente para elevar-se e sair das profundezas.
Vendo que estava se aproximando do limite, Kimura ainda tentou soltar-se da rocha antes que seu chakra falhasse. Mas foi tarde demais, pois no meio do caminho para a margem, seu chakra falhou, e logo ele e a rocha foram jogados rapidamente para o fundo do lago. Focalizando suas últimas energias ao misturar seu chakra fuuton enquanto inspirava institivamente o ar, ele comprimiu o oxigênio para garantir-lhe algum tempo submerso. Contudo, não houve tempo para inspirar muito ar e seu jutsu não lhe forneceria ar suficiente da maneira como estava acostumado. Sentiu o impacto da rocha no leito do lago que logo reverberou contra suas costas, machucando-se um pouco. Estava enrascado a há cerca de cinco metros de profundidade. Tentando se desamarrar, Kimura percebeu que as amarras e os nós estavam bastante firmes a suas costas, principalmente porque, com o contato com a água, as linhas haviam dilatado, contribuindo para que os nós ficassem muito mais firmes.
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Vou morrer afogado... – Pensou com um princípio de pânico. Ele sabia que teria que ser rápido enquanto seu jutsu mantinha o oxigênio circulando, ou então morreria mesmo. Concentrando-se novamente, procurou por vestígios de seu chakra e encontrou, apesar da recente falha. Então, concentrando-se sua energia nas amarras, ele fez um rápido selo com as mãos, tentando realizar o Nawanuke no Jutsu. E para seu alívio, os nós se desprenderam para que Kimura nadasse desesperadamente para a superfície. –
Mas que droga... cof... cof! - Esbravejava ofegante, enquanto nadava para a margem do lago. Quase havia morrido por causa de sua impulsividade. Deitou-se sob o pouco de sol que atravessava a névoa para se aquecer, convencido de que devia continuar.
Depois deste breve descanso, o jovem se dirigiu a um monte de pedras menores, do tamanho do punho. Abrindo a mochila que trouxera, começou a enchê-la com os pedregulhos até quando não mais cabiam rochas. Terminou rapidamente e com um gemido de esforço, usou a força de seus músculos para por a mochila nas costas, começando a se concentrar. Em relação à rocha anterior, o peso atual era muito menor, assim Kimura previu que não haveria dificuldade no restante do exercício. Levando seu chakra aos pés, ele se apressou para dar o primeiro passo, até que boiou na superfície da água novamente. –
Aqui vamos nós! – Gritou, começando a deslizar nas águas, preocupando-se em manter o fluxo certo de chakra para evitar afundar. Enquanto a velocidade aumentava, Kimura começava a sentir o peso das rochas incomodando seus ombros machucados, enquanto movia os braços para invocar alguns shurikens de suas tatuagens.
Deslizando nas águas calmas do lago, Kimura se esforçava para manter a velocidade em diversos shunshins, percorrendo toda a margem, em busca dos primeiros alvos para alvejar. –
Aí está! – Gritou ansioso, girando o braço para arremessar três shurikens em direção ao alvo. Num alto silvo, os projéteis cortaram o ar e repousaram fundo na madeira, num som abafado. –
Isso! – Comemorava, enquanto aumentava a velocidade, ao ver ao longe outros cinco alvos. Pegando mais um shuriken, seu kashikogan calculou a trajetória correta em instantes para então atirar um único shuriken com toda força. O projétil atravessou a distância em apenas um segundo, mas foi o suficiente para que o ninja fizesse os selos necessários após focalizar seu chakra, gritando: -
Shuriken Kage Bunshin no Jutsu.
E infindáveis shurikens surgiram do nada. Todos em direção aos cinco alvos, que acertaram com precisão, cravando-se firmemente na madeira dos cinco. Passando rapidamente por eles, Kimura só teve tempo de olhar para trás e comemorar o acerto. Voltando sua atenção para os próximos alvos, ele corria em disparada. O vento estava forte e a paisagem passava velozmente, mesmo assim o ninja pôde ver as cores berrantes dos alvos seguintes. Esquecendo o cansaço, da dor em seus ombros e da força recorrentes das rochas presas às costas, ele cruzou as duas mãos sob os braços, focalizando seu chakra para invocar mais dois shurikens, jogando-os para o alto. Os fios transparentes brilham ao passar pelo sol. O ninja então os puxou com toda força para que adquirissem uma trajetória descendente, tentando errar propositalmente. Os shurikens obedeceram e se atiraram numa velocidade vertiginosa, só então ele focalizou seu chakra fuuton e fez os selos necessários, gritando: -
Kaiten Shuriken!.
Logo seu chakra fuuton acertou a trajetória dos shurikens desgarrados, acertando os alvos com precisão. Tudo isso em segundos, enquanto o ninja passou em disparada, terminando num veloz shunshin, saindo da água numa pequena explosão de fumaça, ressurgindo por trás dos alvos outrora vistos, onde algumas pedras foram jogadas para fora da mochila, resvalando em seu cotovelo. Mas a dor não o abateu. E com as mãos nuas, começou a esmurrar os alvos com toda força. Eram cinco alvos. Pequenos como pratos e fixados por grossas estacas. Kimura girou o corpo e enquanto elevava o braço, atingindo o primeiro com um direto de esquerda, já saltando agilmente para trás, aprumando-se ao efetuar uma forte voadora no segundo alvo, fazendo a estaca quebrar da força do golpe. Faltavam outros três e o chuunin estava ansioso para acertar os outros.
Correndo a toda para o próximo alvo, ele acertou uma certeira joelhada no terceiro, e assim que o alvo pendeu para trás, o ninja o utilizou para apoio, jogando suas costas por cima do obstáculo. A manobra foi suficiente para que ficasse em posição de ataque contra os últimos dois. Lançando-se por sobre os indefesos alvos, Kimura desferiu um chute alto tão forte que arrancou as duas estacas que fixavam os alvos de uma vez, fazendo-os cair na água gelada do lago. Assim, vendo que seu treino havia chegado ao fim, bateu uma mão na outra para tirar a poeira, despedindo-se de mais um dia de treinamento. Satisfeito por ter conseguido construir tudo aquilo com as próprias mãos. Ele saiu ofegante em direção à trilha de volta para casa.
FIM