O sol raiava cedo . Estava pronto, mas não ansioso. Fui sozinho, como fazia todos os domingos, para o cemitério onde prestava homenagem a minha irmã. Não na sua campa, uma vez que não tinha uma, mas sim rendido a uma delicada árvore jovem que lá existia. Foi por baixo dela que foram despojadas as cinzas do seu delicado corpo. Não estava sozinho, e o facto de me ajoelhar a uma árvore não fazia muito sentido para a maioria das pessoas a não ser para aquele rapaz jovem ao longe que se parecia comigo. Ele entendia, e sei-o porque li no seu rosto.

Todos os dias agarrando o precioso colar que ela me tinha oferecido pensava ‘como tudo seria se ainda fosses tu a dona desta flor... minha irmã.’ Por vezes ficava triste, outras nem por isso. Cicatrizes.
E apesar de não estares ali em corpo estavas ali em espírito ou em alma ou outra coisa qualquer. Pelo menos assim decidi acreditar. À coisas que nunca entenderemos por agora... E uma dessas coisas era o facto de o corpo ter sido queimado. Não era normal e assim foi decidido em concelho, e dado como absoluto para a periferia do clã onde eu estava inserido. Ninguém se opôs à decisão dos líderes e apesar de haver dúvidas da sua motivação nunca houve realmente uma pergunta. E se algum dia houvesse a resposta seria certamente ‘Um dia saberás, por enquanto não podes entender’.

Passei a tarde na loja de flores da família na vila. Calma era a palavra de ordem e todos os seres pareciam obedecer. Não seria de esperar a loja aberta aos domingos... E não estava, mas eu adorava passar lá o tempo. Sentir a força daqueles caules tão ténues... Normalmente ninguém vê o caule de uma flor pelo simples facto de haver uma explosão de cor logo acima... Pois sem ele não haveria cor, cheiro ou magia. E caules como estes há muitos, em todo o lado. Caída a noite alguém abriu a porta devagar...

Levantei-me para avisar que estava fechada, mas antes disso pensei ‘Quem vem comprar flores num domingo à noite?’ Exacto! Agi rapidamente, num movimento rápido como aqueles que tinha treinado com meu pai. As pétalas todas voaram em espirais colorindo o espaço . Numa fracção de segundo estava atrás do intruso que me golpeou forte com o cotovelo projectando-me através da porta, para a rua vazia. Quando me levantei já ele vinha para um novo golpe que eu consegui defender com a minha katana cortando-lhe o polegar direito.
‘Que estás a fazer aqui?’
O criminoso de cara vendada apenas mostrava os olhos. Como resposta recebi apenas um olhar forte. Duvidei do facto de ele ser um ninja, provavelmente era apenas um bandido tentando arranjar trocos para a família ou para o vício. Mas não podia estar mais errado.
Vi minha irmã aparecer a seu lado com uma kunai, dirigindo-se a mim. Conseguia ver nos seus olhos o desejo de me matar. Percebi que era um genjutso mas para mim era tarde demais. Os meus braços não se mexiam e não conseguia libertar-me. Nestas situações costumamos ser salvos por alguém. Mas eu estava sozinho. Os seus pés batiam no chão e marcavam o ritmo, como um relógio para a minha morte. Toc, toc, toc, e cada vez sentia mais o medo, toc, toc, toc, e cada vez mais ela se aproximava de mim na rua e eu dela no céu. Gritei do fundo do meu desespero não sei se para ela, se para ele, se para os dois:

‘Larga-me, deixo-te ficar com tudo, por favor!!!’

Os seus passos estavam cada vez mais próximos. Uma lágrima correu o meu rosto enquanto eu olhava para o céu e depois para a rosa de prata no meu pescoço. Foi tudo tão calmo e tão lento... Comecei a sentir uma fraqueza nas forças que me prendiam, como que uma racha numa parede e soube que era o meu momento... De quebrar o genjutso
Interrompi o seu jutso atravessando o meu corpo por uma corrente de chakra. Minha irmã continuava andando para mim mas tinha libertado o meu corpo. Fitei-o nos seus olhos de surpresa, claramente tinha reconhecido meu colar e isso deixou-o desconcentrado, o que me permitira uma libertação parcial do seu jutso.
Corri para ele rapidamente com a minha katana em punho atacando com convicção num corte paralelo ao chão para a direita e posteriormente uma diagonal com alvo no seu ombro direito. Ele esquivou os meus dois golpes e fugiu. Corri atrás dele, mas meu pai apareceu e deteu-me. ‘Já fizeste o que devias’ disse ele agachado com a sua mão esquerda na frente do meu corpo. Dito isto desapareceu pela vila fora.
Esperei em casa pelo meu pai. Tinha passado muito tempo, mas ele chegou.
‘Então pai, quem era ele?’ – Perguntei eu.
‘Não te preocupes, procurava apenas dinheiro, nada mais. Entregue-o ao Hokage.’- esperou um pouco – ‘Filho, tu ias matando aquele homem. Já te expliquei que mortes devem ser evitadas. Não era preciso elimina-lo.’
Falava com amor, como uma pai ensina o seu filho ao longo do seu percurso. Ainda assim não podia ficar satisfeito. Era óbvio que algo me estava a ser escondido. Desde há muito tempo. Ficou claro que quem me atacou reconheceu o colar que eu usava. Era óbvio que o meu pai lhe tinha lido a mente. E tornava-se agora muito claro que eu estava a ser protegido ou enganado ou ambos.


Todas as ligações pressupõem confiança e espaço. Mas um elemento pode usar esse espaço para enganar outro. E então aí deixa de fazer sentido a ligação uma vez que deixa de ser possível a confiança. Quantas ligações temos nós na nossa vida? Quantas delas farão sentido e quantas não?


Acredito que meu pai me escondeu algo. Acredito que o faça para me proteger. Ainda assim, quero saber a verdade por trás da mentira. E por isso escolho o preto em vez do branco, o ver em vez do acreditar, o mar em vez do céu. Posso nunca saber se foi a decisão certa. Ou posso até vir a descobrir que decisões certas não existem. Hoje parto rumo à minha história. Pegarei na pá, escavarei a verdade e no fim estarei livre. Por favor ouve, tu que me escutas, não tenciono vingar a tua morte, mas vou contar ao mundo a tua história, minha irmã.

Spoiler:

Continuação - Capitulo 2 - parte 1

Filler muito interessante somado a uma boa escrita e uma boa história , o resultado dessa combinação é: Manda o próximo, pois quero saber quem é o meliante. Gostei do filler, continua!

Muito obrigado
Não faltará muito para o próximo

Adorei , está muito interessante , manda vir mais ;D

Uma boa escrita, com um mistério cativante. De certeza que lerei o próximo, continua

E como esperado, este foi também, muito interessante e cativante. Tou bastante curioso sobre como a tua história se vai desenvolver. Dá-lhe!