--O Sol já havia escondido faz tempo, e o frio rondava Kumogakure como sempre. Todos estavam embaixo da coberta dormindo, ou simplesmente se aquecendo – Eu não estava. Já era de madrugada, mas eu me encontrava muito animado pra minha missão no dia seguinte, portanto não conseguia dormir. Como meus pais têm um sono bem pesado, não importava o barulho que eu fizesse, eles não iriam acordar. Sempre foi assim, mesmo quando eu acordava a noite e ia à cozinha pegar um pão para saciar a fome, ninguém acordava. Decidi então sair de casa para refletir. Agasalhei-me bem, pois a brisa estava muito gelada, e sair sem usar muitas roupas poderia me deixar doente por vários dias, não deixando então, eu fazer a tão esperada missão. Arrumei a cama, abri a janela ao lado dela e pulei do segundo andar. Meus pais podiam não acordar fácil, mas alguns vizinhos chatos por lá podiam reclamar, como sempre faziam. Quando eu jogava bola com uns colegas da academia, muito tempo atrás, eles sempre reclamavam. Nós nunca quebramos nada da casa deles ou algo do tipo, mas qualquer barulho era motivo de reclamações. Eles eram bem rabugentos. Por isso, peguei parte de uma reserva de chakra, e a enviei para as solas dos pés, deixando-a estável. Ainda não dominava perfeitamente o controle de chakra, mas conseguia pelo menos, amenizar um pouco do som. Após algumas acrobacias, aterrizei agilmente no chão, fazendo um som quase imperceptível. Não sabia se tinha sido sorte ou se meu novo estilo de treino havia realmente me ajudado a ficar mais forte. Com as mãos no bolso, fui andando sem rumo pela vila.
  Após um tempo de caminhada, havia pensado sobre várias coisas. Minha missão era amanhã e eu ainda não tinha arrumado um objetivo como ninja, lógico, como todos os outros, queria servir a minha vila, mas como? Não possuo nada de especial para subir o nome de Kumogakure. Várias questões como essa passaram pela minha cabeça, e vários passos no chão me levaram a um lugar um tanto quanto diferente... Enquanto as luzes da vila estavam apagadas, havia somente um lugar que estava com a luz acesa. Ouvi uns barulhos abafados pela arquitetura do lugar que me pareciam muito com os barulhos que eu ouvia quando treinava com o antigo saco de pancadas do meu pai. Aproximei cautelosamente, tentando não demonstrar que eu estava espiando o que é que estava ali. Avistei uma janela, comum, com feixes de luz saindo de suas aberturas, talvez para refrescar a temperatura abafada lá dentro. Subi em umas caixas e tentei enxergar o que estava acontecendo por lá.
  O barulho que estava ouvindo era mesmo o de golpes em um saco de pancadas! Mas era um pouco diferente. Eram movimentos “estranhos”, mas sutis. O velho homem de barba branca e um longo cabelo preso, com rabo de cavalo, que os estava executando. Ele não parecia ser nenhum ninja, de modo algum. Não havia nenhum equipamento ninja, e logicamente, ele não usava uma bandana ou algo do tipo. E para me deixar ainda mais curioso, eu não sentia nenhuma presença de chakra. Então indaguei:

     __ Se ele não é um ninja e não usa chakra, como que ele pode executar movimentos de batalha e defesa tão sincronizados e sutis? Até onde eu sei só os ninjas tem capacidade de lutar desse modo.

  Perguntas como aquelas rondavam a minha cabeça de segundo a segundo, e a cada golpe, eu via uma estranha semelhança: Seus movimentos pareciam com os de animais. O bote de uma serpente, as garras do tigre e do leopardo, a agilidade do gafanhoto e vários outros. Passei muito tempo no campo de treinamento, e pude presenciar o movimento desses animais, e eram realmente bem parecidos. Ele baseava suas técnicas de luta de acordo com bichos? Que estilo de luta estranho! – Pensei.  Eu sou um pouco alto, mas nem tanto, as caixas não me davam altura o suficiente pra enxergar claramente os movimentos daquele cara.

    __ E... Se eu tentar subir... Aqui... Ugh! – Gritei de susto. Por conta da minha tentativa de enxergar mais, uma das caixas saíram do lugar e eu acabei caindo no chão. – Droga! Agora o velho irá saber que eu estou aqui. É melhor eu correr – Pensei.

  Quando me levantava para correr, já ouvi um barulho vindo dos fundos da casa, provavelmente era o de uma porta sendo aberta. Apressei-me, mas quando comecei a correr, esbarrei em algo. Era o velho.

    __ Oi... É... Está frio hoje, não? Bom, já vou indo para casa, meus pais talvez estejam sentindo a minha falta, bom, tchau! – Disse ao velho, tentando escapar da vergonhosa situação.

  O velho não disse nada, só continuou parado.

    __ Com licença, o senhor poderia me deixar passar? – Pedi, usando uma voz bem baixa, com medo que aquilo me causasse algum problema depois.
    __ Mas é claro, só que você terá de me responder uma pergunta antes. – Disse o velho, abrindo a boca pela primeira vez.

  Sua voz era diferente de todas as pessoas que eu conheci, ela impunha medo, respeito e espanto. Era grossa, mas suave, forte, mas sutil. E o mais estranho, ela acalmava as dúvidas que eu tinha sobre o que seguir. Por um momento pensei “eu quero ser como esse cara”. Mas esse pensamento logo fugiu da minha cabeça, não tinha sentido. Eu nem o conhecia, e muito menos sabia o que ele fazia, prossegui, dizendo:

    __ Uma pergunta? É... Tudo bem, eu posso responder uma pergunta, qual seria ela? – Perguntei, não fazendo ideia do objetivo do velho.
    __ Sim, é uma pergunta simples, mas de complicada e é claro, variada resposta. A pergunta é a seguinte: Quem é você? – Disse o velho.

  Pensei: Que pergunta estranha, como assim quem sou eu? Ele quer saber o meu nome, é isso?

    __ Não irá me responder? – Ressaltou o velho, aumentando o tom de voz, talvez para me pressionar.
    __ Ah sim, claro... Eu sou Kaichou Jaeggar, um recém-formado Gennin na academia de Kumogakure. É isso que você quer saber? – Estava com medo dessa pergunta, que pergunta mais sem nexo, qual o sentido disso tudo?
    __ Não, não é isso. Eu quero saber quem é você aqui, o que você quer ser, ou melhor, quem você realmente é por dentro. – Disse o velho cutucando o canto esquerdo do meu peito, provavelmente se referindo ao meu coração.
    __ Eu sou só uma pessoa normal, não sei se consigo responder essa resposta, senhor. Posso ir agora? – Apontei a saída do beco.
    __ Essa escolha é simplesmente sua. Diga-me, você quer ter um objetivo na vida? Você quer ser alguém diferente, não seguindo os padrões da sociedade de hoje em dia? Deixarei você ir, mas se algum dia quiser alguma coisa que eu disse, ou alguma resposta para as minhas perguntas, me procure a qualquer hora, nesse mesmo lugar, eu irei te ajudar. – Disse o velho, abrindo passagem para eu ir embora.
  __ Tá... Bom... Obrigado, eu acho hehe. Até mais! – Acenei um pouco abismado com o que o homem disse.

  Tudo aquilo era muito estranho, era difícil entender o que aquele velho queria, mas mais difícil ainda, era não ficar curioso e entretido com o discurso do homem. Bom, ele podia ser só um doido, ou... Alguém que me ajudaria a trilhar meu caminho como shinobi, e era disso que eu precisava.

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Link para a parte I: http://www.narutoportugalrpg.com/t12359-filler-i-o-comeco#138805
Link para a parte III: http://www.narutoportugalrpg.com/t12537-filler-iii-shujinko
Link para a parte IV: http://www.narutoportugalrpg.com/t12544-filler-iv-o-grande-monge-wu-shu#138846

Gostei bastante da sua escrita em primeira pessoa focando nos sentimentos de seu personagem, como deve ser. Parece que encontrou um tipo de Sensei ou Mentor para trilhar seu caminho ninja, conseguindo assim criar um bom objetivo sendo mais especifico no que almeja.

Continua irmão

Como Bruno observou, você escreve muito bem. Em nenhum momento cheguei a me cansar ou algo do tipo. E o seu personagem segue uma linha de raciocínio diferente das que se costuma observar por aqui. Realmente gosto disso. Continue, rapaz!