O feitiço da sereia
O luar entrava pelas janelas entreabertas do quarto. Os lençóis brancos revolveram e produziram um solitário som. Ele parecia inquieto no seu sono, como se sonhasse algo perturbador. Acabou por despertar e perceber que não era um sonho. Inconscientemente, ficara incomodado com o aroma das árvores a florescer. Sempre adorara a primavera, talvez até ainda mais depois de a conhecer. Ela cheirava a primavera, a flores e a frutas desesperadamente doces. O aroma vindo do exterior entorpecia-lhe os pensamentos e só conseguia pensar nela. Ayame.
Ayame. Repetiu o nome mentalmente, como se fosse uma palavra mágica que traria a bela jovem até si. Ela era aquela que, na sua genuína inocência, o seduzira, como que com palavras cantadas por uma sereia. Era o seu pequeno segredo. Ela não o sabia, na sua doce ingenuidade. Só ele e a sua mente conspurcada, indigna da pureza da mais bela das flores, a quem o seu corpo gritava desesperadamente por desejo. Ela era apenas sua no mais íntimo da sua privacidade: nos seus sonhos.
Poderia perder-se em pensamentos dela toda a noite, como acontecera em tantas outras noites passadas em branco. Ela era uma criatura fascinante aos seus olhos. Meiga, de personalidade forte e convicta, genuinamente bondosa sem esperar nada em troca. Apaixonara-se perdidamente por ela; não podia nega-lo.
Suspirou. Precisava de descansar. Não iria passar outra noite a sonhar alto com impossibilidades. Voltou-se para o outro lado, convencido de que iria dormir.
Naquele preciso instante, a campainha tocou. Ele amaldiçoou quem quer que fosse. Era de madrugada. Não era hora de incomodar alguém que certamente iria querer dormir.
Levantou-se, puxando o lençol que o cobria para o lado, e vestiu um roupão. Ainda murmurava injúrias quando rodou a chave da porta e calou-se apenas no momento anterior a abri-la. Mesmo que não o tivesse feito, o que viu fá-lo-ia perder o pio. Ayame encontrava-se no exterior com um roupão vermelho, tal e qual como estaria no mais louco dos seus sonhos. Ele desejou beliscar-se para garantir que era realidade, que a sua princesa tinha vindo à sua procura, mas estava demasiado chocado para conseguir.
- Posso entrar? – perguntou ela, numa voz doce e contrastantemente desafiadora.
A sua voz não saía para responder. Então ela tomou a iniciativa. Entrou e, sem tirar os olhos dele, fechou a porta atrás de si, trancando-a habilmente, exactamente como num filme.
- Que… Que fazes aqui? – balbuciou ele quando finalmente conseguiu pronunciar alguma coisa.
Ela não respondeu. Olhou para o lado, pensativa, e riu-se suavemente. Voltou novamente a olhar para ele e cravou os seus poderosos olhos verdes nos dele.
O olhar dela era irresistível. Neles dançava uma leoa que ele nunca vira. Era capaz de a agarrar naquele momento e raptá-la para a ter só para si. Foi então que reparou no sorriso lascivo que se desenhava na face dela e percebeu: ela estava a tentar seduzi-lo.
Ainda antes que ele tivesse tempo de digerir esse pensamento, Ayame lançou-se para ele, roubando-lhe os lábios, ávida e delicadamente. Os lábios dela eram suaves, frescos e doces como pêssegos. As mãos dele tocaram na face dela de forma inconsciente. Há muito que ele desejava aquele momento e ela proporcionara-o. Encostou-a contra a parede e Ayame enlaçou os seus braços no seu pescoço, saltando para envolver as suas pernas à volta do seu tronco. A sofreguidão dela excitou-o e ele perdeu a cabeça. Nunca imaginara que ela se oferecesse assim, que lhe exigisse e implorasse pelo seu corpo como naquele momento. Roçou a sua cara na dela, descendo para o seu pescoço. Ela soltou um suspiro trémulo quando ele o beijou, rendida ao seu amante.
- És uma tola. Dares a tua inocência a alguém como eu – disse ele, aninhado no pescoço dela.
- É uma escolha minha – respondeu Ayame, com a respiração entrecortada de prazer. – E eu escolhi-te.
- És a minha tola favorita.
A kunoichi deu uma gargalhada curta e divertida, encostando-se a ele para saborear o momento. Algo crescia entre eles, algo intenso que ambos queriam.
Uma respiração fresca no pescoço dela fê-la estremecer, ligando novamente a magia que serpenteava nas redondezas. As mãos dele resvalaram pelo corpo ainda vestido de Ayame, ansiosas por sentir a suavidade que a caracterizava. Pousou-as na anca dela para lhe dar segurança enquanto pegava na doce jovem enlaçada no seu corpo para a levar para o seu quarto. Ela amarrou-se ainda mais a ele, um pequeno gesto que, com certeza, ela não imaginaria o quão provocante era. Fechou a porta atrás de si e largou a rapariga na cama.
Os seus olhos cruzaram-se. A necessidade voltou a instalar-se, forte e fogosa. E ela puxou-o para si, acabando com a distância entre eles e com os sensuais arfares de desejo ao cobrir a boca dele com a sua num beijo quente, que lhes enevoou a mente e crepitou no sangue.
Ele tocou-lhe no rosto, na pele exposta do pescoço e desejou ardentemente por tocar no corpo dela. Lendo a ânsia no ar, ela desapertou o cinto do roupão e abriu-o, mostrando a sua lingerie vermelha rendada e a sua imaculada pele sedosa, digna do mais grave dos pecados. Não dava para lhe resistir. As mãos dele desceram para os seus delicados ombros, para o seu abastado peito, coberto por uma camada de renda sugestiva.
O fogo despertou nela e, desesperada, cravou as suas mãos nos ombros dele, abrindo o seu roupão e revelando o seu tronco desnudado. Deslizou um dedo pelo peito dele, sentindo-o estremecer de prazer. O calor do toque de ambos era intenso, fazendo ambos perguntarem-se se não soltariam algum jutsu katon pelas mãos. Embeberam-se um do outro, em beijos ávidos, separando-se para ouvir as sugestivas arfadas. As respirações misturaram-se e os corações sincronizaram. Fora um momento inesquecível e inesgotável, mergulhando de seguida um no outro. Ambos sentiam aquele friozinho na barriga, qual contraste para demonstrar o desejo que sentiam um pelo outro.
Ele contornou as formas dela enquanto a beijava uma outra vez. Os opulentos seios, a cintura fina, as ancas curvilíneas e deteve-se novamente nos primeiros. Ambos se entregaram ao momento, sentindo-se derreter naquele instante. Ele desapertou então o soutien dela e tirou-o, despindo a deusa dos seus sonhos. Ela era tudo o que ele imaginara e muito mais. Passou as mãos pelo corpo dela, delicado e macio, que gemeu e arqueou com uma leve carícia no seu peito firme. Percorreu o seu tronco e pousou no triângulo de sedutora renda vermelha, pressionando por cima dela. De novo, a rapariga gemeu de prazer, incentivando aquela provocação erótica. Então ele pressionou debaixo da renda e as unhas dela cravaram-se na pele dele com a explosão que lhe causara.
- Quero-te… - murmurou ela num suave gemido, agitado pelo prazer.
Ele debateu-se com a restante roupa de ambos, deixando-os carne contra carne, e rendeu-se ao feitiço da doce sereia que o puxava para a cama. Faminta, deixou que os seus lábios se apoderassem dos dele, enquanto a excitação pulsava entre os dois. E ele possuiu-a, conduzindo-os como um louco até ambos ficarem esgotados.
A manhã não tardou a chegar. Ele acabara por não dormir, distraído pela beleza daquela que o acompanhava, enquanto ela se aninhara no seu peito, satisfeita. Ao primeiro raio de sol, a doce ilusão, que cheirava a flores de cerejeira, desfez-se em pequenos pontos de luz. E ele acordou sobressaltado, com o mais profundo desejo de que não tivesse sido um sonho.