Skimizu Yoshikazu
- Aruko-chan, inventei algo que vais adorar!
A morena desviou o olhar do livro para a mãe, fitando-a com um ar descrente. Já haviam passado três dias, e Tomoko-sensei ainda não voltara da missão. Morta de preocupação, Emi pediu a Atsuko que falasse com a sua mãe sobre o assunto, visto que ela falava constantemente com o Mizukage. No entanto, continuavam sem saber de nada. E isso, mesmo que revirasse os olhos com a preocupação que os outros dois demonstravam, começava a afectá-la também.
- Tcharan! – exclamou a mulher, pondo à frente do nariz da filha, um enorme bolo decorado com um creme branco e fruta.
- Incrível – retorquiu, voltando a ler o livro que tinha ao colo.
-Ok, estou farta desse livro – informou ela, pegando no livro de capa verde e lançando-o para o outro lado da sala.
- Mas que raio?!
- Estás a ler aquilo desde que acordaste e continuas na mesma página, por isso, ou herdaste a inteligência da tua tia avó ou passa-se alguma coisa.
- Vou arriscar e dizer que tenho a inteligência da minha tia avó – retorquiu, cruzando os braços.
- Minha querida, tu tens a minha inteligência, não a daquela mulher que se conseguisse fazer uma conta de somar era um milagre.
Shinju mal se virara para trás para ver quem falara e Aruko já atravessara a sala, saltando para os braços de Yoshikazu. O riso da mulher de cabelos grisalhos ecoou pela sala, enquanto apertava a rapariga num saudoso abraço. A mulher de cabelo castanho pousou o bolo acabado de fazer na mesa de madeira clara e lançou um sorriso à recém-chegada. Não se surpreendia com o entusiasmo da filha pela presença da avó. Sempre fora assim. A quase adoração cega que Aruko tinha por Yoshikazu era igual à que ela sentira pela sua mãe. O habitual nó na garganta apareceu, com a certeza que a filha nunca teria aquele tipo de amor a si. Como sempre acontecia, a sua visão tornou-se turva graças às lágrimas que se formavam.
- Não devias estar a treinar? – perguntou a mulher de cabelos grisalhos, afastando-se ligeiramente da neta.
- Marcámos para amanhã. – informou Aruko com um sorriso rasgado – Queres ir ver o lago onde costumo treinar?
- Porque não? – inquiriu a mulher, rindo.
A rapariga arrastou a avó em direcção à rua e fechou a porta atrás de si com um estrondo. Shinju sentou-se pesadamente na cadeira de madeira. O silêncio parecia mais estridente que o habitual e o som da porta a bater repetia-se nos seus ouvidos. Independentemente do tempo que passava ou do que acontecia, acabaria sempre por possuir uma casa vazia.
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- Hum.
Aruko permaneceu à espera que a avó continuasse o comentário, mas esta parecia mergulhada em pensamentos, com o olhar fixo no céu. Contara-lhe sobre Emi, a vitória sob Atsuko e a missão de Tomoko, à espera de vários “Percebo”, “Fantástico!” e “Não te preocupes, de certeza que só aproveitou um dia para descansar”, mas só recebera um único e simples “Hum”.
O que raio é que isso quer dizer, afinal?! Ao ver o seu olhar expectante, a mulher sorriu na direcção da neta – Como já deves saber, não te devias preocupar com o teu sensei, afinal, ele é um jounnin altamente qualificado. E no que toca à tua nova colega de equipa, devias dar-lhe uma oportunidade, visto que eras sempre tu que embirravas com o Atsuko por julgar as pessoas demasiado depressa, certo?
Não respondeu. Talvez a avó tivesse razão. Tomoko-sensei era um jounnin de alto nível e conseguia aguentar tudo e mais alguma coisa. E talvez a Emi fosse uma pessoa confiável. Afinal, Atsuko gostara dela e ele não costumava estar errado acerca das pessoas. Provavelmente, estava apenas a tornar-se paranóica, e a loira era capaz de ser alguém decente.
- Aruko-chan!
Ambas olharam para trás, vendo Atsuko correr em direcção a elas, esbaforido. O seu cabelo escuro estava mais despenteado do que o habitual e o manto estava ligeiramente amarrotado, como se o rapaz tivesse acordado há minutos atrás.
- Esse teu novo estilo deixa-te especialmente sensual, sabias? – gozou Aruko, com um sorriso de lado.
- Ohayou, Atsuko-kun – cumprimentou Yoshikazu, com um sorriso.
- Ohayou, Yoshikazu-san – retorquiu, antes de voltar a fitar a amiga ignorando o seu comentário – O Tomoko-sensei disse para te vir buscar, vamos ter treino agora.
- Ele já cá está? - perguntou Aruko surpreendida, fazendo o rapaz sorrir divertido.
- Não, apenas recebi uma mensagem telepática, em que ele me disse para te fazer treinar.
A rapariga riu secamente antes de cruzar os braços - Ele sabe que eu ainda nem sequer almocei? – reclamou, fazendo a avó rir e lhe colocar a mão no ombro.
- Tens que ir, minha querida. A menos que queiras provar que a tua mãe tem razão
Antes que pudesse comentar, Atsuko foi puxado a toda a velocidade pela morena, que se despediu da avó com um "Até logo". Quando viu os dois desaparecerem, Yoshikazu iniciou o trajecto de volta a casa, com um sorriso divertido nos lábios e entregue aos seus próprios pensamentos.
Simples Taijutsu...