Vlad ergueu a picareta acima da sua cabeça e, concentrando todas as suas forças nos braços e, consequentemente, no equipamento, fez o cabo pontiagudo bater violentamente contra as saliências acinzentadas da rocha. Os seus braços tremeram bruscamente devido ao ricochete da força, esticando e causando alguma dor nas articulações dos ossos, tal dor que Vlad aguentou ao trincar a língua e semicerrar os olhos. Voltou a erguer a picareta e, reunindo mais uma vez todas as suas forças braçais, bateu na pedra à sua frente, ouvindo o som de algo a estalar. A saliência acinzentada moveu-se ligeiramente, deixando pequenos grãos de estanho escorregarem pela superfície e perderem-se no solo, soltando a picareta, deixando-a escorregar como os grãos de estanho até a sua ponta espetar-se tenuemente no pé de Vlad. Nem trincando a língua o minerador conseguiu suster o grito agonizante de dor, afastando de imediato a ferramenta e olhando para o seu pé; estava limpo, protegido pela armadura que não foi suficiente para afastar a dor do seu portador. Todavia, o que importava agora é que uma pequena fileira de estanho estava deslocada.
- Muito bem, com calma!
Aproximou-se e analisou cuidadosamente toda a superfície da fileira de estanho. Algumas partes ainda encontravam-se presas à rocha, as quais deviam ser prontamente eliminadas. Agarrando firmemente no cabo da sua picareta e inspirando como se se preparasse, Vlad reuniu todas as suas forças nos braços e fez a picareta descer. Não atingiu o local exato, uns centímetros ao lado, e a picareta embateu contra a sólida rocha. O ricochete de força repetiu-se e Vlad viu-se a trincar novamente a língua para aguentar a dor, puxando a picareta para perto de si e elevando-a. Numa última concentração de força, por fim a pontiaguda picareta conseguira separar os laços entre a fileira de estanho e a sua rocha-mãe, deslizando até ao solo e nele espalhando-se atabalhoadamente.
- Por fim, estanho!
Vlad apressou-se a reunir o seu balde, apanhando as pequenas rochas de estanho e enchendo rapidamente o recipiente vazio. Sentia-se realizado por ter encontrado uma boa porção de estanho, maior que o costume, em pouco tempo, podendo assim aproveitar o restante para explorar melhor o cobre. Agarrou no balde para depressa sentir o quão pesado este estava. Vlad nunca pensou que estanho seria assim tão pesado, pelo que voltou a abusar da força dos seus braços para conseguir arrastar o balde até o seu carrinho de mão. Findo o trabalho, passou a mão pela testa suada e deu-se ao prazer de suspirar de alívio.
- Não acredito! – Uma voz grunhiu na penumbra do corredor onde Vlad acabara de ganhar o dia – Aquele morcão acabou de nos gamar!
- Que morcão? – Uma segunda voz fez-se ouvir, mas Vlad não conseguia distinguir nenhum dos sujeitos – Aquele palhaço ali? O gajo levou-nos o estanho todo!
Apesar de não conseguir vê-los, depressa Vlad conseguiu adivinhar o seu tipo. Mineradores preguiçosos que preferiam roubar o espólio dos outros do que arranjar o seu próprio. Não é a primeira vez que teria de lidar com este tipo de escumalha, razão pelo qual traz sempre a sua katana consigo.
- Deve ser um palhaço de um novato que ainda não sabe as regras – Disse um deles, batendo com um cano de metal na mão e aproximando-se devagar – É melhor ensinar-lhe que aquele é nosso! – Elevou o tom de voz, apontando com o cano de metal para o carrinho-de-mão onde Vlad acabara de despejar o estanho.
A katana já se encontrava na sua mão, à espera que o inimigo se movesse primeiro, mas estes não pareciam assim tão apressados. Na verdade, afastaram-se um do outro, tentando cercar Vlad para fazer a luta ainda mais injusta. Um deles andava com um cano de metal, pelo que já pudera comprovar, mas o outro usava uma picareta que, pelo que podia ver nas pontas ensanguentadas, era usada para muitas coisas menos minerar.
O homem do cano foi o primeiro a mover-se, tentando atingir a nuca de Vlad, porém fora facilmente intercetado com uma varredela da espada. Metal chocou contra metal e Vlad sentiu os seus braços tremerem devido à força empregada, tão doloroso quanto os ricochetes das rochas na sua picareta. Podia assim comprovar que já não estava acostumado a estas situações de luta, mas faria o seu melhor sem esquecer-se dos ensinamentos do seu mestre. O seu oponente viu que Vlad se distraíra, atingindo-o com uma rasteira e vendo-o a colidir contra o solo rochoso de costas. Grunhiu de dor, mas moveu-se agilmente para evitar a estocada de um cano perto da sua cabeça, rodopiando para a direita e erguendo-se lentamente. A espada nas suas mãos incitou, impacientemente, a Vlad para acabar rapidamente com o primeiro homem enquanto este se recuperava do seu ataque fracassado, contudo uma picareta surgiu das sombras na tentativa de cravar-se no seu peito. O portador da espada fora ágil o suficiente para agachar-se, sentindo apenas o metal ensanguentado da picareta a rasar nos seus cabelos grisalhos, e posteriormente rodopiando com a sua perna rente ao chão, atingindo o portador com um “Konoha: Reppu” e colocando-o imediatamente ao chão. Vlad ergueu-se seguidamente, rodopiando a espada na sua mão e apressando-se para colocar aquele homem fora do combate, se não fosse o primeiro a atingir-lhe no peito com uma perfeita placagem, arremessando-o para longe do inimigo no chão e dificultando-lhe a respiração por alguns segundos. Não teve muito tempo para descansar pois o portador do cano, ao invés de preocupar-se com o seu companheiro, varria o ar com o seu cano zangado, encurtando a distância entre si e Vlad numa corrida não muito rápida.
- São dois contra um, nunca estive numa situação como estas! – Pensava o minerador, erguendo-se e evitando uma estocada do cano, aproveitando a abertura para atingir com uma potente joelhada no peito do seu adversário, fazendo-o curvar-se – Quando vou a acabar com um... – Olhou de soslaio, prevendo corretamente que o homem com a picareta já estava de pé e com a sua arma esticada para desferir o golpe final em Vlad – Aparece o outro para impedir-me... – Vlad bloqueou o ataque rapidamente com a sua espada, sentindo outro choque de metal, desta vez sem ricochete. Aproveitou esse tempo de empate para afastar-se, com uma rápida concentração de chakra transformada num Sunshin, do homem do cano antes que este se recuperasse – Pelo que vejo, dou conta dos dois – O da picareta ficara momentaneamente atónito pelo rápido desaparecimento de Vlad, mas preferira pensar na morte dele em vez do que era capaz ou não, apressando-se a correr em sua direção com vontade de continuar a luta – Mas não tenho ideia de como os derrotar...
A picareta desceu em forma de estocado e Vlad conseguiu rebolar para a direita de forma a evitar o ataque. Ouviu o embate da ponta de metal contra o solo rochoso e recuperou rapidamente posição para atingir com um pontapé no peito do seu adversário, erguendo-o de ligeiro no ar, para de seguida atingir com outro pontapé violento nas suas costas.
- Konoha Daisenpu! – Vociferou o minerador após o medíocre ataque, arremessando o corpo do seu alvo uns escassos metros de distância – Venham lá, malditos! Assim não vão ganhar nada!
Ambos os homens recuperavam as suas poses de combate lentamente; a soma das suas feridas era vastamente superior as de Vlad (na verdade as suas dores eram mais por causa da prévia mineração do que o combate em si), pelo que este sabia que o duelo vertia para seu favor e seria uma questão de tempo até ser vencedor. A questão agora seria... Matava-os ou não?
O homem do cano, claramente irritado pelo inesperado fluxo que o combate estava a tomar, arremessou a sua arma ante Vlad. Surpreendido, o minerador sente o metal a embater violentamente contra os seus dentes e, em questão de segundos, toda a sua cabeça vibrava e latejava com a dor do embate. Teve, todavia, a consciência de recuperar-se o mais rapidamente possível para ver, à sua frente, uma pontiaguda picareta a ameaçar trespassar-lhe o crânio. Tal fora felizmente evitado com Vlad a dar um desesperado salto à retaguarda, causando mais irritação no seu adversário.
- Para quieto, filho da mãe! – Grunhiu o bandido da picareta – Pareces a porra de um coelho, sempre aos pulos!
Vlad não se sentiu ofendido. Na verdade, nem teve muito tempo pois a sua espada acabara de bloquear outro ataque da picareta inimigo. O seu corpo já começava a ficar exausto e, reparando apenas agora, os braços, os seus membros mais gastos, clamavam por algum descanso e para ser colocado um rápido fim nesta futilidade. Disposto a ganhar de uma vez, Vlad usufruiu-se da sua força, e da proximidade da picareta com a katana, para afastar a arma do seu oponente repentinamente. Este surpreendeu-se pela descarga de energia do seu inimigo, não conseguindo impedir que a espada lhe fizesse dois cortes rápidos, mas superficiais, no seu tronco.
- Hadan! – Gritou o minerador, aproveitando que o seu oponente ainda não se recuperara da dor para atingi-lo com um chute na cara seguido por uma joelhada desajeitada, pois Vlad não estava tão habituado a estes movimentos de corpo rápidos, no seu peito que o fizera tombar no chão – Finalmente, um a menos!
- Mas que... – O último bandido, agora desarmado e incapaz de reaver o seu cano pois Vlad intercetava-lhe o caminho, estava atónito após ver o seu companheiro tombar no solo, sem saber se estava morto – Já vais ver, palhaço!
Era claro que ele não estava a ler bem a situação. Vlad estava armado com uma espada e aquele homem queria lutá-lo com apenas os seus punhos. A gravidade da situação não o fazia raciocinar corretamente e seria estúpido se o minerador não se aproveitasse da situação.
Duas tentativas de murros foram facilmente evitadas por Vlad, este que apenas dava curtos e perfeitos saltos de esquiva enquanto zombava do seu oponente a suar desnecessariamente em pleno desespero. A espada fora embainhada e, de vez em quando, o minerador bloqueava os ataques do seu oponente com iguais murros ou pontapés, causando-lhe alguma dor devido ao bandido possuir considerável força, mas nada em especial.
- Luta como um homem, caralho! – Gritou o desesperado homem após ver que um dos seus socos havia sido esquivado e o posterior facilmente bloqueado – Porra!
Por fim, após alguma dança com o seu oponente, Vlad sentiu pena dele. Num veloz movimento de espada, um fio de sangue rompeu no pescoço do bandido. Este nem vira a espada a ser desembainhada, assustando-se com tal feito e recuando com o medo. Tropeçou em algumas pedras, caindo atabalhoadamente sobre o solo rochoso e sentido novas ondas de dor nas suas costas ao sentir pequenas pedras esmagarem-se violentamente contra a sua carne.
- Isto é para aprenderem a não ME roubarem mais... – Vlad aproximara-se do homem com um sorriso largo e semblante convencido – Pega lá no teu amigo e saiam do meu canto depressa... Rápido!
Não era preciso dizer duas vezes. A meio de desculpas e de algum choro, o bandido agarrou no seu amigo, colocando-o ao ombro, e apressou-se a afastar-se do local o mais depressa que as suas pernas lhe permitiam. Vlad, por sua vez, deixou-se cair de costas contra a parede, exausto pela luta e dando, por fim, atenção a enorme dor que sentia nos braços...