O carrinho entulhado de minérios de estanho e cobre era custosamente empurrado pela combinação de forças de ambos os braços de Vlad pelos carris no sombrio corredor. Mais um dia de trabalho forçado para o corpo em desenvolvimento do minerador e este podia, a cada dia, sentir a sua força aumentar consideravelmente. Já era capaz de carregar carrinhos pesados quando, dias atrás, não conseguia mover do sítio.
Aproximava-se da saída, pelo que o próximo caminho era uma subida consideravelmente íngreme e da qual Vlad tinha sempre um certo pavor. Pensava nela como um último obstáculo antes de poder sair da mina, pelo que inspirou fundo, aglomerou chakra nos músculos dos seus braços e abusou de toda a sua força para empurrar o carrinho. O ínicio foi forçoso, arracando alguns gemidos de dor e esforço por parte do minerador, mas depressa este criou um ritmo capaz de tornar a subida relativamente fácil. A meio da subida, o carrinho dava alguns solavancos devido ao mau estado dos carris, exigindo uma melhor coordenação da força dos seus braços para poder equilibrá-la quando necessário. O ritmo foi constante e Vlad podia distinguir, ao longue, o luz da entrada da mina. Tão perto...
- Cuidado! Desabamento! – Gritou um de dezenas de mineradores naquela área da mina, à beira da entrada para onde Vlad se dirigia – DESABAMENTO!
Vlad só ouviu o aviso ao segundo grito, quando já era demasiado tarde. O chão começou a tremer; aos primeiros segundos ligeiramente mas aumentando gradualmente de intensidade, até que o carrinho saiu da linha dos carris, perdendo controlo. Apesar de desequilibrado, Vlad manteve-se firme na sua força, desta vez também abusando das pernas, aguentando com o impacto do carrinho com todo o seu corpo e soltando um grito de dor. Nunca o conseguiria empurrar mais e não teria força nem equilíbrio suficiente para colocá-lo novamente na linha dos carris. Também não seria necessário, mais um potente tremor fez o pé direito de Vlad escorregar numas pequenas rochas, estatelando-o no solo e deixando o carrinho sem dono que se preparava para atropelar o estatelado minerador. Este teve os rápidos reflexos de rebolar para o lado, evitando que o carrinho lhe pisasse o tronco mas sem evitar que este esmagasse, e consequentemente tropeçasse, na sua perna a meio da esquiva. A dor foi indescrítivel, abafada pelos ruídos de pedras a caírem por todo lado e do minério e estanho a deslizarem pela descida com o carrinho, totalmente descontrolado, a embater contra parede, rochas e algumas colunas de madeira, continuando pelo corredor até ser engolido pela escuridão.
- SAIAM RÁPIDO! – A mesma voz do primeiro aviso – É PERIGOSO, RÁPIDO!
Vlad tentou erguer-se, mas a perna esmagada protestava com espasmos de dor e impedia-o de mover-se. Reuniu as forças que lhe restavam nos braços para arrastar-se até a parede mais próxima, apercebendo-se então que algumas pedras pequenas começavam a cair do teto acima de si. Era sinal que as maiores logo as seguiriam e que, portanto, Vlad devia sair dali o quanto antes.
- Dói-me tanto a perna, como raios vou sair daqui? – Perguntava-se, olhando para a subida que levava para a entrada – Nunca vou conseguir subir, estou demasiado fraco – Analisou então a descida que o conduzia para as entranhas da mina – Única solução, pode ser que o resto da mina não esteja desabar... – Apanhou com o olhar, por fim, uma de muitas colunas de madeira que suportavam o teto da mina, contendo uma pequena saliência que fez Vlad pensar num plano.
Concentrou chakra no seu braço direito e fez a sua Kusarigama surgir na mão. Rodopiando a pequena foice rapidamente, arremessou na tentativa que esta se agarrasse à pequena saliência, falhando o alvo por metros. Super nervoso com a situação e reparando que algumas pedras que tombavam perto da entrada se encontravam a derrapar pela descida onde Vlad estava imobilizado, este apressou-se a puxar a corrente até ter a sua foice consigo, voltando a rodopia-la de novo. A meio de preces, e alguma sorte, arremessou-a e conseguiu que esta atravessasse a saliência e envolve-se um dos cabos da coluna com um abraço metálico, muito resistente.
- Sim, porra! – Gritou Vlad, animado. Ergueu-se a grande custo, mancando ligeiramente por causa da perna magoada e puxou a corrente para si para ver se aguentava com o seu peso – Será que... – Não terminou a frase, uma pedra desabou incrivelmente perto de si, fazendo o seu coração disparar devido ao susto e o seu cérebro parar de raciocinar.
À medida que o teto ia desabando, Vlad projetou o seu corpo em frente sem pensar nas consequências, tendo a sua Kusarigama amarrada à coluna como apoio. O seu corpo percorreu uma larga distância em pleno ar, afastando-se rapidamente do desabamento. Contudo, a coluna não aguentava o peso de Vlad, talvez devido à sua madeira estar demasiado gasta (possível razão do teto estar a desabar), pelo que rachou e acabou por tombar, trazendo consigo a Kusarigama e, consequentemente, fazendo o corpo inerte de Vlad bater violentamente contra o solo. Antes de poder sentir as dores do impacto, a foice da Kusarigama cravou-se desajeitadamente nas suas costas (com a sorte de não ser um golpe muito profundo) e ainda levando com alguns pedaços de madeira da coluna, cujas dores eram insignificantes se comparadas com a da Kusarigama ou da queda.
Consideravelmente farto da situação em seu redor e com o corpo completamente dorido, a mão de Vlad apalpou as costas até achar a corrente fria, apartando-o para retirar a foice cravada nas suas costas, salpicando a camisa suja com algumas insignificantes gotas de sangue. Ergueu-se, o seu corpo parecia cada vez mais pesado, e fez desaparecer a Kusarigama da sua mão com uma pequena descarga de chakra. Teve, após tanto, alguns segundos onde pode relaxar e respirar com conforto. Seguidamente interrompido pelo som de mais colapsos perto de si. Virou a cabeça e viu, por fim, o teto desabar sobre a descida onde este ficara preso, vendo agora que numa outra dimensão podia estar a ser esmagado brutalmente...
Não podia pensar no que não aconteceu, já que algumas dessas pedras do desabo eram persistentes ao ponto de quererem livrar-se de Vlad, pois ainda tinham balanço para rebolar e ameçar esmagar o único minerador ali preso. Limitado pelas dores, principalmente pela perna esmagada pelo carrinho, Vlad temia que essa precisasse de cuidados intensivos, o minerador desafiava toda a sua agilidade para atirar-se em frente e evitar a passagem do pedregulho, que tremia ainda mais com o solo. Mais dois se aproximavam, de tamanhos iguais ao primeiro, pelo que Vlad teve a presença de espírito de rebolar desajeitadamente até à rocha mais próxima, escondendo-se atrás dela. Por sorte, a rocha era suficientemente resistente para aguentar os impactos com os decadentes pedregulhos, conseguindo proteger Vlad com eficácia por longos minutos.
- Eu também quero comer... – Rosnava Vlad, aglomerando chakra nas mãos para invocar duas Aian Kiba`s, o seu comportamento ficando animalesco após horas presos na mina desabada, faminto e sedento, tentando roubar ao primeiro humano que vira, igualmente preso como ele – Dá-me a comida!
- Maldito, não me vou sacrificar por um ladrão como tu! – Vociferou, desembainhando uma katana e colocando-se entre Vlad e a carne que o ladrão tanto ansiava – Vou-te matar e, se tiver sorte, ainda aproveito a tua carne para sobreviver!
Vlad rosniu como um animal ameaçado, nem reparando que o seu adversário apresentava uma posse de luta de um samurai consideravelmente hábil, talvez um oponente de respeito. Não, estava demasiado faminto para esse tipo de análises, investindo com os seus instintos, e falta de raciocínio, em pesados cortes com as suas garras que eram facilmente bloqueados pela espada do seu advesário.
- Não podes deixar que a raiva te domime, maldito! – Tentava ensinar o samurai, bloqueando facilmente todos os ataques de Vlad – Vou dar cabo de ti, tão facilmente...
A sua katana desenhou um arco horizontal quando viu que Vlad deixara uma pequena abertura, mas o minerador surpreendeu-o ao rebolar em frente, deixando assim o samurai exposto.
- Tokken! – Gritou o minerador ao embater violentamente com o ombro no peito do samurai, descoberto por armadura, talvez por este só vir para a mina para minerar, e erguendo as garras para trespassá-lo enquanto estava desprotegido. Todavia, o samurai também era hábil, erguendo rapidamente a katana e intersetando o ataque das garras, levando Vlad a responder com uma veloz joelhada na sua barriga – Shōshitsu! – Erguendo o seu oponente um pouco no ar, desprotegido o suficiente para que as suas garras desenham-se rápidos, porém pouco profundos, cortes nos seus braços, seguido então por um pontapé que o afastava para longe de si, arremessando-o contra o solo – Dá-me a comida!
O samurai ergueu-se, tentando conter gemidos de dor com um semblante impressionado pela habilidade de luta do seu oponente. Apesar de ferido, não perdeu a postura de combate que lhe dava ar de um samurai relativamente experiente.
- Seu animal, aproxima-te!
Vlad obedeceu, regido pelos instintos, atirando-se loucamente ao seu adversário de garras em riste. As suas garras, tão sedentas por sangue quanto o dono, cortavam o ar à medida que o samurai se esquivava, expectante por alguma abertura. Esta encontrou-se quando a garra direita de Vlad embateu contra a parede rochosa, vibrando com o impacto e chicoteando o seu braço, causando-lhe alguma dor. O samurai não esperou, erguendo a katana e dando intenções de privar Vlad do seu braço. Vlad reagiu mais depressa, esticando a perna num chute ao dorso do samurai, fazendo-o cambalear para trás, e reunindo todas as forças do braço para, por fim, retirar a garra cravada da parede.
Deu alguns saltos para trás e encarou o seu oponente.
Assunto: Treino II - Desabamento! 
Dom 24 Nov 2013 - 18:19
