Sentada com a cabeça enterrada nos livros, Ivy lê quase sem pestanejar os caracteres nele escritos, alguns pareciam-lhe ainda estranhos e tinha que procurar muito na sua memória onde já os tinha lido e o que queriam dizer. Era em momentos assim que conseguia ter alguma paz, em que não tinha os seus professores ou seus pais em cima a dizer-lhe o que fazer ou como se comportar, naquele pequeno quarto quase sem luz sem ser a que ela usava para ler, podia-se sentir como ela própria. Lembrava os seus tempos da academia, em que era a aluna ideal, melhores notas em quase todas as disciplinas, o que às vezes fazia invejar seus colegas. Daquela época não colecciona nem uma amizade, pelo que não sente muito a falta dela, nem gostava muito de recordar, nem sabe por que raio a sua cabeça foi dar tantas voltas que foi dar aí.
- Pareces muito desconcentrada hoje, que raio se passa contigo? – o grande ser olhou por cima do ombro de Ivy para ver o que ela fazia – Não devias estar a estudar neste momento? – voltou a falar, mas já não era a mesma voz. – Não foi para isso que te mandaram para aqui, calona? – mais uma vez, outra voz.
-Deixa-me em paz mas é – a rapariga responde – não devias aprender a controlar essas cabeçorras que passeias para aí também?
-Woow acordamos do lado errado da cama hoje, não foi? – a criatura riu-se
-Cala-te, Hydra!
Hydra, uma criatura grande, com oito cabeças que guardava Valeria, era, por muito triste que isso possa parecer, o único ser que conhecia a verdadeira natureza da rapariga e acabou por se tornar, de alguma maneira, na sua única amiga (ou amigas se contarmos com todas as outras cabeça). Conheceram-se à 4 anos, quando os pais de Ivy resolveram que ela já estava preparada para estudar com ela. A primeira impressão não foi a melhor de parte a parte, Ivy aterrada de medo da criatura, e a criatura, com todas as suas 8 cabeças e tentar assusta-la ainda mais tirando algum divertimento disso. Passado algum tempo conheceram-se um pouco melhor e ai Ivy ia visita-la várias vezes, trazendo-lhe alguns petiscos, quando se sentia mais só e cansada de fingir.
-Não andas a vir cá muitas vezes ultimamente? – o ser retrocou - algum problema com um rapaz – uma voz diferente soou novamente, era a mais irritante e a que Ivy mais detestava em Hydra, e infelizmente a que lhe dava mais conversa..
- Olha, tenho mais que fazer, está bem? – Ivy estava a ficar irritada – tenho que acabar isto! E com aquele correrio naquela casa, toda a gente em cima de mim a ver se não espirro não ajuda!
-Devias passar mais tempo com os do teu tipo sabes? – a voz mais pacata com quem Ivy mais gostava de conversar falou – será saudável só te dares com um monstro de 8 cabeças que cada vez que abre a boca tem uma voz diferente?
- Se é a única pessoa… coisa…ser com quem consigo falar que seja!
-E que vais fazer com ele? – o ser respondeu referindo-se ao rapaz de cabelos negros inconsciente a quem a puseram a cargo de vigiar.
-Que queres que eu faça? Que tenha conversas sobre politica com ele? Talvez seja menos saudável falar com alguém que não responde, do que alguém que responde por 8, ao menos sempre tenho conversa
-O que é que há de tão importante nele para te porem a ti a vigia-lo? – uma das vozes perguntou
-Ele é o herdeiro de um clã,Zetsubuo creio, com o emergir da guerra veio estudar a arvore da vida como muitos outros e sabes como aquilo começa, não é bonito… como sou a herdeira do clã Tsumi, que está em tréguas com eles decidiram pôr-me aqui, tanto melhor, digo-te! Aqui na minha com os meus livros, sem que me chateiem. E espero que fique a dormir por mais um tempo! - Ivy lembra-se do rapaz, ele conheceram-se algures no passado, ela sabe que ele não responde ao nome Zetsubuo, mas Matsuri, que o seu primeiro nome é Zehel, e que era, como muitos outros, irritante. Tinham 8 anos quando se conheceram pela primeira vez, o avô de Zehel tinha uns negócios com o pai de Ivy e tinha-o trazido. Brincaram durante o pouco, até Ivy se cansar, mas fora a primeira e seria a ultima vez que tinha brincado.
ate agora