Sussurros abafados e estalos irreconhecíveis atravessavam com dificuldade o entulho de rochas que cerravam a caverna na escuridão, onde centenas de morcegos se agitavam como se soubessem o que aconteceria logo mais, revoando em conjunto numa massa uniforme e barulhenta na direção do fundo da cavidade. Desesperados, eles se espremiam por uma pequena abertura de ar escondida por nos arbustos, tentando escapar da morte certa. "Vai explodirrr..." - Gritou um desconhecido quando se ouviu o chiado do pavio aceso e os passos apressados do jovem soldado que ganhava distância para não ser afetado pela destruição. Não demorou muito até ele se juntar ao seu grupo de demolição que se protegia atrás de uma encosta rochosa, esperando o resultado de horas de trabalho árduo. Suados e cansados, a equipe teve dificuldade em escavar os pontos para colocar os explosivos. Não podiam falhar.
Essa expectativa os deixava ansiosos e tensos, tanto que se assustaram com a chegada de seu companheiro que escorregara em alguns seixos, caindo por cima de todos numa grande confusão. -
Para com isso, idiota! Não está vendo que o comandante nos observa?! - Retrucou um deles, esforçando-se para retirar de seu rosto o pé do novato que acabara de chegar. Ao ouvir estas palavras, o soldado aprumou seu corpo e se agachou como pôde até que o chão tremeu com o grande ruído. Pequenas rochas ganharam o ar numa velocidade incrível e estilhaçavam árvores com poder destruidor. Poeira e entulho cobriram o local e por um momento a equipe de demolição pensou que talvez tivessem exagerado na potência de seus artefatos, mas logo que a poeira baixou, puderam ver a entrada da caverna totalmente aberta. Enfim obtiveram sucesso e a estrutura não havia desmoronado.
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Parece que eles conseguiram, Coronel. - Comentou o tenente, retraindo a luneta, colocando-a dentro da jaqueta.
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Muito bem, vamos ver se nossos informantes estavam certos. - Comemorou Nero, tentando esconder sua ansiedade.
"Yahhh!" - Gritou o homem, atiçando sua montaria pressionando os calcanhares nas ancas do animal. O cavalo negro se agitou e num relincho de reclamação, começou a trotar na direção da caverna recém-aberta, acompanhado pelos outros cavalos da segurança pessoal do coronel. Vendo que o comandante se aproximava, a equipe de demolição interrompeu sua comemoração para entrar numa formação perfilada e orgulhosa, ansiosos para ver a reação de seu comandante por mais uma demolição bem-sucedida. Estavam nessa missão secreta há cerca de seis meses e apesar dos constantes "becos-sem-saída", uma recente informação os levou às fronteiras do País dos Ventos onde suspeitavam que o covil do criminoso estivesse escondido. "Tem que ser esse!" - Torcia Nero ao esporar ainda mais seu cavalo para tomar a frente de seus subordinados.
O vento chicoteava seu rosto à medida que se aproximava cada vez mais da entrada da caverna quando o cheiro pútrido alcançou suas narinas. Seu corpo gelou. Sabia que cheiro era aquele. Aquilo o fez frear sua ansiedade, obrigando-o a diminuir seu avanço para agradecer os trabalhos da equipe num gesto formal. -
À vontade homens. - Terminou o cumprimento para que eles pudessem proteger suas narinas do fedor horrível de morte que agora exalava a escura catacumba. Descendo de seu cavalo, Nero esticou seu uniforme como sempre fazia e sacou seu sabre ao olhar para seus guardas que repetiram o gesto. Agarrando algumas tochas nas mãos livres, Nero e seu time escalaram vagarosamente a depressão rochosa até alcançarem seu objetivo. O fedor era quase insuportável, mas mesmo assim, os corajosos adentraram na escuridão quando se depararam com uma cena aterrorizante.
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Co... Comandante, eles foram enterrados vivos? - Balbuciou seu imediato, enojado com o que via.
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Parece que chegamos onde queríamos. - Comemorou o coronel, pisoteando os corpos para entrar.
Seguido pelos soldados, Nero começava a descer os degraus que os levavam até o estreito corredor, por onde suas tochas iluminavam dezenas de corpos com deformações estendidos pelo chão como se estivessem ali há um bom tempo. "Aqui a esperança se perdeu." - Dizia um escrito na parede rochosa, parecendo ter sido escrito em sangue. Os corpos não tinham marca de violência. Pareciam que havia morrido de inanição, pois seus rostos cadavéricos olhavam o vazio num silêncio fúnebre. -
Coronel! Veja! - Chamou um dos soldados, apontando para a marca que tanto procuravam. E algo parecido com um selo tatuado no peito de um dos mortos reacendeu a esperança de que enfim teriam achado o covil do Orochimaru. Enfim suas pesquisas teriam um avanço. Assim, acenando positivamente, Nero continuou sua caminhada pelo longo corredor, enquanto seus homens utilizavam suas tochas para acender as lamparinas fixadas nas laterais das paredes.
Passados alguns minutos de caminhada, o grupo encontrou um grande salão escavado na pedra. Fazendo um sinal com o sabre, o coronel comandou aos seus homens que procurassem por outras lamparinas para que pudessem ver todo o conteúdo do salão. Os soldados obedeceram e logo todo o local ressurgiu com sua horrível desgraça. Perfilados em grupos de cinco, os tubos continham pessoas deformadas ainda presas à cabos e alimentação. No canto ao norte, um pequeno trono de pedra sob um elevado parecia indicar que seu benfeitor gostava de passar algum tempo observando os espécimes de suas experiências. Nero fingiu não se importar com o número de leis que aquele laboratório tinha infringido e pelas vidas que havia destruído. Ele queria apenas uma coisa: O segredo do selo amaldiçoado.
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Procurem por tudo homens. Tem que estar aqui! - Concluiu com sua voz rouca, ecoando pelo salão.
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Acho que encontrei senhor! Aqui, na esquerda! - Indicou seu imediato.
Seu coração acelerou de maneira nunca vista. Nero se aproximou ao ponto indicado numa determinação nunca vista, para então dar de cara com uma parede. Uma simples parede. -
Espero que isto não seja uma brincadeira. - Retrucou ao seu imediato com seriedade, mas logo sua feição mudou quando a iluminação permitiu que ele visse a poeira adentrar por estreitas frestas naquela parede. Frestas quase invisíveis que não seriam notadas se todas as lamparinas estivessem acesas. "Um compartimento secreto." - Pensou ao mesmo tempo em que largou a tocha ao chão e espetou os dedos nas pequenas aberturas. Vendo o esforço de seu comandante, os soldados o imitaram, jogando-se contra a parede para que - depois de minutos de luta - toda a passagem secreta fosse revelada num corredor estreito.
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Vamos. - Disse o homem, entrando sem pestanejar naquele cômodo que terminava numa saleta onde vários pergaminhos enfileirados numa grande estante de madeira. Aquela visão fez as pernas de Nero tremer. Parecia que tinham conseguido sucesso em sua missão secreta. -
Ajudem-me homens, parece que nossa missão chegou ao fim. - Concluiu ao se prostrar diante do móvel para buscar o primeiro pergaminho. Agora seria o início do equilíbrio que tanto procuravam. Agora, o mundo ninja não mais ameaçaria os ditames dos Daimiô e seu poder bélico não seria mais uma moeda de troca... E enfim teriam paz. Mas isso num futuro próximo, pois Nero sabia que aquele conhecimento era só o começo de seus estudos. Logo, o País do Vento não precisará da Vila da Areia.
CONTINUA...