Suspirando fundo, para apaziguar seu tédio, Daisuke pisou no parapeito de sua janela no primeiro andar da pensão e escalou os outros dois andares com grande agilidade, controlando seu chakra para mantê-lo nas extremidades e garantir sua segurança junto à parede barrenta. Gemendo pela força que utilizava nos braços para continuar numa rápida subida, ele enfim chegou ao teto onde pôde vislumbrar a Depressão e todas as ruas que passavam no entorno do imóvel. Ainda entediado, resolveu treinar para manter seu corpo pronto para a próxima missão ou luta clandestina. Então, conferindo seu uniforme, ele apertou a faixa em seu quimono e saltou na direção do solo, aterrissando na rua num longo rolamento para poupar as articulações dos joelhos e, num só movimento, começou a correr rapidamente pelos becos e ruas do vilarejo.
Usando seu chakra com sucessivos shunshins até encontrar alguns obstáculos urbanos naturais, como bancados, barracas, carroças, quando os usava para ultrapassá-los com agilidade, arqueando o corpo em manobras acrobáticas. Os transeuntes da rua tentavam acompanhá-lo com os olhos mais não conseguiam, pois o nukenin já pulava num rodopio, focalizando seu chakra nas mãos para pendurar-se numa placa suspensa, balançando-se com ajuda da inércia para inclinar o corpo e rodopiar no ar. Muitas vezes, quando os obstáculos se tornavam intransponíveis, como a multidão de comerciantes que se aglomerava nas ruas principais, Daisuke forçava seu corpo e assim, convergia seu chakra mais uma vez e realizava outro shunshin, utilizando a velocidade para ricochetear num ágil baunsubaunsu para retornar aos telhados.
Então, enquanto ziguezagueava pelos telhados, o jovem viu uma calha ideal para realizar uma manobra que há tempos queria fazer. Saltando com toda a força de suas pernas, o ninja agarrou com toda força o início da calha, utilizando-a como apoio, para então girar seu corpo bruscamente e descer o espaço entre as residências em alta velocidade. Contudo, antes de chegar ao solo, ele focalizou seu chakra novamente em seus pés, fixando-os diretamente à parede para utilizá-la como trampolim, terminando com um “backflip” para aterrissar na parede oposta, onde deslizou pela altura que restava até o chão, fazendo mais um rolamento até que enfim chegou aos limites do vilarejo. Como já vinha aquecido depois de tantos saltos e manobras, ele resolveu somente caminhar até o local onde treinava para se poupar, pois seu desejo era treinar pesado neste dia que deveria ser de descanso.
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Não posso facilitar. - Encorajava-se. Assim, após dez minutos, não demorou muito para chegar onde queria. Pendurando a marmita que trazia num cacto, o nukenin se alongou para iniciar os exercícios de força que estava acostumado a fazer. Jogando o corpo no chão, ele parou sua queda utilizando a força de seus musculosos braços, mantendo-se ereto na posição de flexões, quando começou a subir e descer de forma lenta e forçada. Seu suor já pingava de sua testa, para compensar o calor do sol do deserto, molhando o solo. Como queria saber até onde ele aguentaria fazendo flexões sem parar, Daisuke continuou o movimento, forçando seu corpo ao máximo para então desabar ofegante no chão após suas mil flexões. Com os braços queimando pelo esforço, o loiro praticamente cambaleou até o cacto mais próximo, onde usou seu chakra mais uma vez para trazer uma kunai às mãos.
Sedento, ele golpeou o vegetal na sua base e se posicionou para não perder uma só gota d´água que vazou do cacto quando retirou sua lâmina, sorvendo e matando sua sede momentânea, descansando por mais dez minutos. Então, seguindo o plano de treino, Hiroshi se deitou à sombra de um grande pedregulho que testemunhava seus exercícios para então começar as abdominais da mesma forma que realizara as flexões: -
Sem parar! - Gritou ao iniciar o movimento que contraiu seu abdome com força. Subindo e descendo ele respirava para não perder o precioso oxigênio. Contudo, apesar de achar o exercício exagerado, ficou satisfeito consigo mesmo quando terminou a milésima abdominal. Exausto, Daisuke se levantou com dificuldade para arrastar-se até a beira da rocha, onde se recostou para ganhar um pouco de ar em seus pulmões, observando a paisagem infernal que só o deserto mostrava.
Não demorou muito até se sentir pronto para continuar. Dessa vez, ele se levantou com grande entusiasmo e juntou as mãos ao fazer alguns selos e moldar seu chakra fuuton para formar um discreto colchão de ar, o qual saltou dentro com agilidade e como esperado foi expulso à grande altura no céu. Chegando à altura desejada, o ninja enviou sua energia em pulsos rápidos e cadenciados para as tatuagens que começaram a invocar kunais e shurikens que eram velozmente arremessados contra um cacto mais afastado. Nesse momento ele notou que seus braços estavam mais lentos devido ao esforço anterior, mas mesmo assim, forçou-os ainda mais com o intuito de arremessar os projéteis com todo seu poder para que atravessassem o vegetal. Dito e feito. Os projéteis zuniram e atravessaram o alvo com certa facilidade até que o jovem aterrissou num ágil rolamento para não machucar os tornozelos.
Decidido a não parar, ele olhou a sua volta e viu um conjunto de rochas medianas desordenadas na areia e resolveu reuni-las para ajudá-lo a treinar. Escolhendo as três maiores e aparentemente mais resistentes, ele usou chakra para grudar suas mãos na primeira e logo as queimou na superfície quase incandescente. -
Ai, ai, ai! - Reclamou ao balançar as mãos já avermelhadas pela queimadura. -
Ok, plano B. - Concluiu ao rasgar seu kimono e enrolar os pedaços de tecido em suas mãos para tentar elevar as pedras novamente. Assim, posicionando-se em frente a primeira, ele flexionou os joelhos e espalhou chakra pelo corpo para lhe garantir mais força, agarrando a pedra novamente ele usou toda força de seu corpo para levantar o pesado objeto que não resistiu tanto e saiu de seu lugar.
Direcionando a pedra na posição correta, ele gemeu de esforço até que liberou o objeto onde queria, voltando-se para a segunda rocha. Tudo aquilo demorou cerca de trinta minutos, e finalmente as rochas estavam perfiladas como queria. Bebendo um pouco mais de água, ele limpou a sujeira em seu uniforme e decidiu treinar arremessos para melhorar a pontaria. Realizando três ágeis saltos mortais num longo recuo, Daisuke focalizou chakra novamente nas tatuagens e trouxe às suas mãos três shurikens, os quais pretendia acertar a pedra através da estreita abertura entre as outras duas que havia posicionado. Jogando o primeiro, o segundo e o terceiro projétil rapidamente, ele comemoraram quando todos eles rasparam dentro da passagem, mas acertaram o última rocha como pretendia. Repetindo a operação, agora com kunais, ele invocou mais três e as arremessou com toda força, atingindo o alvo precisamente. "Tédio!" - Reclamou consigo, resolvendo parar com os arremessos e começar algo que lhe traria grande prazer: Pancadaria.
Usando sua energia mais uma vez, ele invocou sua tonfa e num veloz shunshin circundou as duas pedras para alcançar a última que usava como alvo, já chegando para golpear a rocha num movimento lateral. A tonfa vibrou ao atingir o pedregulho que não rachou, apesar da força que utilizara no golpe. Imaginando que a rocha era um inimigo fictício, Daisuke gingou como se esquivasse de um golpe em seu joelho, respondendo com outro giro de sua tonfa para atingir a outra extremidade do objeto. A arma mais uma vez vibrou e retornou a posição inicial com mais força que previa, terminando por machucar a lateral de seu cotovelo no processo. -
Porra! - Reclamou, mas nada que o impedisse de continuar. Seus golpes continuaram precisos e fortes. O metal da arma brilhava ao sol com os golpes de direita e esquerda, depois um giro no alto e efetuar uma veloz rasteira que levantou areia há alguns centímetros do solo, para então realizar um rolamento e golpear a pedra num golpe ascendente.
Nisso, o rochedo começou a ficar cheio de rachaduras irregularidades. -
Justamente como eu quero! - Sussurrou ao parar o exercício. Largando a tonfa, ele aproveitou as faixar que usava para não queimar as mãos e as apertou com firmeza. Retornando à pedra com a superfície totalmente alterada e irregular, ele recomeçou o exercício com um direto de direita. A pedra rangeu, mas não cedeu. "você vai quebrar." - Teimou, girando o punho num golpe de esquerda, depois direita, “jab” e cruzado. Suas rápidas mãos golpeavam a pedra que tremia com a força de cada ataque. Atingia a pedra mais uma vez, com um chute para então agarrá-la com as mãos, utilizando como apoio para golpeá-la bastante com os joelhos. Afastando-se agilmente com várias piruetas, ele retornou ao alvo com um chute lateral, frontal, descendente e ascendente.
Daisuke criava combos velozes para surpreender os inimigos. E quando seu sangue escorreu das faixas, a adrenalina adormeceu a dor e seus golpes ficaram ainda mais furiosos. Chutava, socava. Usava os cotovelos com ferocidade, para então cair no chão exausto e ofegante. Ele estava feliz ao ver que a pedra agora estava completamente esmigalhada, com diversas pequenas crateras pela força que exercia em cada golpe. Contudo, quando começou a descansar, sua ousadia cobrou o preço. Sentindo dores em todas as extremidades, ele desenrolou as ataduras e viu suas mãos ensanguentadas. -
Acho que exagerei. - Brincou no momento em que procurava alguns curativos na bolsa que trazia. Sabendo que não poderia mais treinar fisicamente.
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Só me resta ninjutsu. - Concluiu ao juntar as mãos para tentar fazer um selo e quando conseguiu, a energia do raiton cruzou seu pulso e pousou em seus dedos. O brilho logo se dirigiu à rocha e crepitou ao acertar o pedregulho em cheio. Já danificada, a rocha não suportou o ninjutsu e se desfez em vários pedaços menores que caíram como uma pequena avalanche. Escapando de qualquer dano, Daisuke saltou em recuo ofegante, satisfeito com aquela sessão de treino. Agora conseguiria dormir após tantos exercícios e finalmente apaziguaram sua ansiedade.
FIM