A mulher responsável por nos ajudar na arrumação era realmente atraente, o que respondia a atitude do homem e do meu sorriso, que era o segundo desde minha entrada na vila. Por mais que meu companheiro tenha sido um boca aberta, gostei do passei por Konoha, que como Utena tinha descrito, era linda. O cão do garoto era extremamente fofo, mas como já tinha ouvido uma vez, devia ser de batalha, por ter acompanhado o moreno até aqui e também pelas marcas no rosto do rapaz.

- Primeiramente, levantem as prateleiras que assim será mais fácil organizar os livros e papelada toda. – Disse a mulher, noz conduzindo. Acenei com a cabeça e começamos a erguer as estantes que estavam caídas como dominós, não eram pesadas e terminamos rapidamente.

- Bom acho que você deve começar pelos ornamentos, arrume o que puder ser arrumado e junte o resto e varra tudo. – Falou para o Inuzuka, que com um sorriso agarrou a vassoura e foi cumprir a ordem. – Já você, venha comigo. – Me puxou pelo braço e fomos ao fim da sala, onde estava uma pilha de livros. – Os livros estavam organizados por ordem alfabética e temas, então faça pilhas nessa classificação e irei te ajudando a colocá-los nas estantes. 

Até que eu estava contente com a missão, como o sensei me explicará, se eu conseguisse encontrar o livro que ele pediu, poderia aprender técnicas novas e isso recompensava não estar na missão com Shiemi e Igarashi. Pus-me a pegar os livros e separá-los conforme fora orientada, seguindo a ordem alfabética e as temáticas, literatura, botânica, culinária, ninja, saúde e outros que não tinham um tema na capa.

O pó constantemente me fazia espirrar o que era logo respondido com um “Saúde!” do Inuzuka que estava do outro lado do recinto, ele realmente era um entusiasmado falador. A primeira montanha de livros já havia sido desfeita então partimos para colocá-los nas prateleiras. A garota havia dito que ia me ajudar, mas tudo que ela falava era “Esse é aqui, esse vem antes, esse está na pilha errada...” Mas o trabalho estava sendo feito. Andei por toda a sala diversas vezes com um grande número de livros nos braços enquanto ela ia os guardando. Quando terminamos o garoto já estava varrendo toda a sala e separando os papéis em pilhas que deveriam ser analisadas pela ajudante. Não hesitei também e me atirei na outra montanha, fazendo todo o processo novamente. Konoha tinha um acervo impressionante de livros, isto que ainda era uma biblioteca pública e não uma reservada a ninjas. Com o tempo comecei a separá-los de uma forma mais prática, visto que cada tema possui uma cor própria, que era estampada nas capas. Procurei atentamente nos livros de ninja o título que o sensei me dissera, mas acabei por achá-lo numa capa meio amarelada, que estava junto com as diversas capas verdes de botânica. – As Danças das Flores. Moça posso ficar com esse livro? Aí devolvo assim que voltar pra Konoha em outra missão ou não sei, mando por alguém? – Perguntei pra mulher que só deu uma breve olhada na capa do livro e consentiu, dizendo que havia mais desse e que os livros de botânica não eram tão requisitados.

O livro não era muito grosso e na primeira página tinha gravado o nome que eu ouvia desde pequena, Kaguya Kimimaro. Definitivamente não era um livro de botânica. Guardei-o na mochila e continuei com o trabalho. A cada livro tirado parecia que dez entravam na bagunça e aquilo nunca tinha fim. Já havia passado boa parte da manhã e estávamos com os mesmos movimentos ainda no piso superior, mas agora o garoto me ajudava, só que em outra montanha de livros. Volta e meia Yujin corria em minha direção e eu acariciava seus pelos, mas ele logo era repreendido por seu dono e voltava a ajudá-lo, empurrando livros com a cabeça.

Achei que a missão iria ser apenas isso e era não era estava tão desconfortável como eu imaginei, até encontrar manchas vermelhas que lembram sangue seco, uma faca e uma colher de madeira, cobertas por livros. Parece que uma luta aconteceu aqui.

- Ei, animador de festa infantil, veja o que encontrei. – Gritei para o Inuzuka, esperando uma resposta sobre aquilo, talvez ele tivesse sido informado sobre algo e eu não.

Acho que não teremos mais problemas com esses dois. – A luta havia sido curta e cansativa. Shefu tampava o nariz tentando parar o sangue enquanto o outro permanecia deitado, agora recobrando a consciência.
- Então garotos, que merda de livro é esse que vocês destruíram a biblioteca pra achar?
- Como uma garota estúpida fosse entender. Vai começar o torneio de Curry do País do Fogo e óbvio que eu irei ganhar, mas preciso do livro Takafu Curry. E.. – Antes que Shefu pudesse continuar, fora interrompido por Tatakai que tentava se levantar e era segurado por Young.
- Aquele livro pertence a mim Shefu. Eu sou o melhor cozinheiro da vila e o melhor Curry Será feito por mim. – Por uns segundos os dois grandalhões ficaram se encarando enquanto eu e Young fazíamos o mesmo, sem entender nada do que estava acontecendo;
- Vocês destruíram toda uma biblioteca por causa de uma rivalidade de cozinheiros? – O garoto perguntou soltando Tatakai que não mostrava mais resistência.
- É algo de família. Como vocês, estúpidos shinobis, querem ser cada vez mais poderosos, pra nós, cozinhar é tudo.

 
- Me deixa explicar pra vocês como as coisas funcionam. Se eu estiver com fome e passar na frente do teu estabelecimento Shefu, irei comer a tua comida. Se por acaso estivesse na frente do restaurante de Tatakai, comeria lá. Entendem? Ninguém se importa com essa briga estúpida de vocês. – Interrompi o loiro que ainda tampava o rosto onde já tinha uma crosta de sangue seco.
- Nos arrumamos toda a biblioteca e não tem nenhum livro com esse nome aqui, certo Young? – O garoto consentiu sem saber se era verdade ou não, visto que se encarregou por maior parte do tempo com outras tarefas enquanto fiquei por separar os livros.
- Vocês estão mentindo pra mim! – Os homens gritaram ao mesmo tempo, fazendo um grande eco no local iluminado. Felizmente a luta não derrubou nenhuma prateleira e não estragou nenhuma mobília do local, só havia manchas de sangue e armas espalhadas pelo chão.
- Eles estão falando a verdade, o livro não está aqui. – Uma terceira voz soou no local, só que mais roca e fraca. Um senhor de aparentemente cinqüenta anos adentrava na biblioteca acompanhado por uma muleta. O pouco cabelo que tinha já estava grisalho assim como sua longa barba.

- Vovô? – Os cozinheiros perguntaram, deixando a mim e ao Young ainda mais chocados com a história. Nada fazia sentido. Eles eram parentes, eles destruíram toda uma biblioteca atrás de um livro e eles são cozinheiros, não tinha como ficar mais estranho.
- Vocês nunca entenderam nada do que vos ensinei? Não é com um livro que conseguiram fazer o melhor curry do país, não são torneios de culinária que irão eleger vocês como o melhor, nada disso importa. – O velho começou a explicar, entrando no meio da sala segurando um pano que usou pra limpar o sangue do rosto de Shefu, logo após o ajudou a levantar e também o fez com o Tatakai. Como o clima agora era completamente diferente do começo, não atacamos nenhum dos dois, ficamos apenas observando o desenrolar daquela história cômica.
- Mas vovô, o senhor disse... – Gaguejou Tatakai, deixando escapar algumas lágrimas. – o senhor disse que só iria se orgulhar do neto que fosse o melhor cozinheiro.
- Eu não poderia deixar o primo Tatakai, que nunca foi bom na cozinha, ser melhor que eu. – Shefu atacava o outro que como descobrimos, era seu primo. O senhor mais uma vez interrompeu os dois e tentou apaziguar.
- Vocês se lembram o último Takafu Curry que eu fiz? Foi quando meu irmão meu morreu. Eu nunca mais consegui fazer outro porque todos que eu tinha feito foram junto com o meu irmão e é sobre isso que o Takafu trata. Não é sobre quem é o melhor ou quem é o pior, é quando dois talentos se juntam e formam algo espetacular.

- Meu deus todo mundo é pirado nesse lugar. – Tudo se tratava sobre amor, como o senhor retratou e isso me deixou ainda mais perdida. 
- Você não entende garota, como é importante honrar quem a gente ama. Por isso nós fizemos tudo que fizemos, tudo foi pra provar pro senhor, vovô, que nós somos motivos de orgulho. – Tatakai explicou apontando pra Shefu que concordou com a cabeça. Nesse momento, o senhor se colocou na frente dos dois e acariciou o rosto de ambos, aproximando-os de si.
- Mas vocês podem fazer isso juntos, meus netos, e vocês me honraram mais do que pensam.

Quando terminou a frase o senhor se retirou do meio dos dois homens, que após alguns segundos de desconforto, se abraçaram e se desculparam, chorando.
- Ok garotas podem parar. Fico contente que vocês acabaram com a richa ridícula, mas infelizmente vocês terão que nos acompanhar até a sala do Hokage pra responderem por seus atos. – Coloquei as tonfas na mochila e retirei a faca e a colher dos homens, entregando cada uma a seu respectivo dono. 
- Por aqui. – Disse o Inuzuka que sustentava seu cachorro no ombro, acompanhando os três que se abraçavam, choravam e riam, enquanto fui apagar a luz. Eu estava impressionada com a loucura dos cozinheiros, mas mais ainda pelas habilidades do meu companheiro, que se mostraram muito a frente de mim. “Ryuji, é melhor que esse livro me ajude mesmo. Não aguento mais ficar atrás de todos.”

Seguimos em direção do escritório do Hokage, que era incrivelmente grande e bonito. Os homens nos acompanharam sem pestanejar e o senhor até nos ofereceu Curry pra quando sairmos do escritório, o que era definitivamente uma boa idéia.